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PARTE III – PESQUISA DE CAMPO, RESULTADOS E PROPOSTAS

7. RESULTADOS OBTIDOS E PROPOSTAS

A apresentação dos resultados seguirá a lógica do processo de comunicação, dividido em territórios (emissor, mensagem, canal, receptor) e em suas interações. Serão também relatadas as sobreposições entre os elementos do processo de comunicação e a governança corporativa (controles internos e transparência) e com a criação da confiança.

7.1. Entrevistas e observações

Na pesquisa de campo foram feitas as seguintes entrevistas e observações:

• Sr. Luigi Humberto Verardo, assessor técnico da ANTEAG, desde a sua fundação, em 1996. A ANTEAG é uma entidade de apoio à Economia Solidária e Autogestão, que também faz pesquisas e publicações na área; • Sr. Aguinaldo Luiz de Lima, contador, mestre em Educação pela USP,

assessor técnico da UNISOL, participa de iniciativas de incentivo e apoio à constituição de cooperativas populares no NAPES – Núcleo de Ação e Pesquisa em Economia Solidária, na Cáritas, organismo da Igreja Católica; • Sr. José Reitor Rizzardi, advogado e assessor jurídico da ANTEAG,

defensor de causas ligadas aos marcos legais do cooperativismo, fundador e primeiro presidente da Cooper Jeans (Cooperativa de Produtores de Confecções de Avaré);

• Srta. Maria de Lourdes Roder, presidente e gestora da Cooper Jeans, em Arandu, São Paulo, que é uma cooperativa oriunda de problemas com o negócio anterior, resultando na transferência de operações para a cooperativa;

• Observação do processo produtivo da Cooper Jeans (separação, costura, acabamento, qualidade etc.), que conta com 56 cooperados (costureiras, costureiros, técnico de manutenção, faxineiras, seguranças e administradores) e das informações de produção, registradas em formulários

e numa lousa, com giz, e que são compartilhadas pelos trabalhadores e trabalhadoras. A Cooper Jeans é formada, em sua maioria, por ex- empregados da empresa de confecção Staroup, que quando fechou as portas em 1996, foi recuperada pelos trabalhadores, em acordo com a empresa, sob o formato de cooperativa autogestionária, tendo sido uma das primeiras empresas a se associar à ANTEAG. A Cooper Jeans chegou a ter 400 cooperados, e após seis anos de existência, devido a divergências internas, resolveram devolver as instalações que haviam recebido, em comodato, da Staroup. Um pequeno grupo, no entanto, resolveu continuar com a cooperativa em Arandu, cidade próxima de Avaré, que abrigava uma filial da cooperativa, certos de ser a autogestão a melhor opção de trabalho, face à volta como empregados na própria Staroup, que tinha sido reativada;

• Sra. Ana Beatriz Baron Ludvig e Srta. Renildes Comandolle, da Bruscor, de Brusque-SC, que é uma empresa de autogestão, fundada em 1988, mas não é cooperativa (é Industria e Comércio Ltda.), e não tem origem na falência de um negócio anterior, mas de conjunturas econômicas desfavoráveis conjugadas com o espírito empreendedor dos associados;

• Observação do processo produtivo da Bruscor, que fabrica cordas, cordões, cadarços, elásticos, fitas etc. e que é operada e administrada pelos 16 sócios da empresa, não possuindo, via de regra, trabalhadores em regime de CLT. • Observação do caso Cooperbrim, cooperativa de produção no ramo têxtil,

que vem tendo problemas com o Ministério Público do Trabalho quanto à sua caracterização como cooperativismo autêntico. A Cooperbrim foi constituída em Julho 2005, por trabalhadores novamente demitidos pela Staroup e por trabalhadores desempregados de outras empresas, inspirados naqueles que se mantiveram na Cooper Jeans;

Foram analisadas, ainda, as seguintes pesquisas bibliográficas, que contribuíram como fontes secundárias, à medida que foram utilizadas informações constantes nessas pesquisas, mas que não foram tratadas com o enfoque dado neste trabalho:

• Cooperativa de Serviços Gerais – COOPSEG, do Município de Belém, sobre práticas contábeis adotadas (DIAS E SILVA, 2008);

• Pequenas e médias cooperativas agropecuárias da Zona da Mata Mineira, sobre o uso da informação contábil para a tomada de decisões relacionadas ao gerenciamento, controle e desenvolvimento das atividades (SILVEIRA et al., 2004);

• Empreendimentos autogestionários nas cinco regiões do Rio Grande do Sul, envolvendo 367 trabalhadores(as) de 13 empresas, sobre os aspectos organizativos / institucionais da empresa de autogestão no comportamento dos trabalhadores e sobre as eventuais mudanças de comportamento verificadas (IBASE / ANTEAG, 2004);

• Coopram – Cooperativa de Produção de Artes Metálicas, sobre a inserção da contabilidade nas empresas de autogestão (ALMEIDA, 2006).

7.2. Análise dos modelos de comunicação processuais

A análise dos modelos de comunicação processuais permitiu que fossem redesenhados com os termos e aspectos próprios da comunicação de informações econômico-financeiras em empresas de autogestão.

Uma adaptação do modelo tradicional de Shannon e Weaver para o tipo de comunicação e de empresa estudados nesse trabalho tem os seguintes elementos:

Ilustração 11 - Modelo de Shannon e Weaver adaptado para autogestão

O componente “transmissor”, que codifica a mensagem para sinais, e o receptor que decodifica (reconstrói) a mensagem a partir dos sinais recebidos, não foram

Mensagem

(Informações econômico-financeiras)

Fonte de ruído (Linguagem contábil, falta de formação etc.) Fonte de informação (Contador) Destino (Usuário) Canal (Publicações, reuniões, assembléias etc.)

considerados nesta adaptação por se tratarem de elementos técnicos, que, aliás, eram as preocupações do modelo original de Shannon e Weaver, antes das inúmeras derivações.

Em outro modelo, o de Newcomb, é necessário o equilíbrio dos envolvidos na comunicação em relação ao tema comum, que são as informações econômico- financeiras. Esse equilíbrio pode ser dado pela própria constituição do empreendimento e pelas garantias do profissional de contabilidade, sujeito à regulamentação.

Ilustração 12 – Modelo de Newcomb aplicado às empresas de autogestão

O modelo de Westley e MacLean (Fiske, 2005, p.50), adaptado à comunicação de informações econômico-financeiras de empresas de autogestão, pode ser usado não tanto pelo tratamento do mass media, mas por lidar com a necessidade social de informação e ter o formato linear e centrado no processo.

A figura a seguir mostra o modelo de Westley e MacLean aplicado à comunicação contábil:

Ilustração 13 – Modelo de Westley e MacLean adaptado à informação contábil Informações econômico-financeiras Gestão Trabalhadores X1 A X2 X3 C B X1 X2 X3 X3M X

X

- fCA X3C -fBC - fBA Função editorial- comunicativa (contador) Sistema contábil Fatos contábeis

A função editorial-comunicativa, que decide o quê e como comunicar, é exercida pelo contador, que estabelece o plano de contas, é responsável pela classificação e lançamento dos fatos contábeis, elabora os demonstrativos e os expõe nas assembléias e comitês, embora esteja limitado pela regulamentação cada vez mais exigente e padronizada (evidenciação rigorosa). Na visão desse modelo, o emissor tem função dominante, estando o receptor à mercê dele. Nas empresas de autogestão deve-se evitar esse modelo, que poderia trazer prejuízos à participação democrática dos cooperados.

O modelo de Jacobson (Fiske, 2005, p.55), por incluir as questões de significação e estrutura interna da mensagem, veio preencher as lacunas entre as escolas processuais e semióticas.

Neste trabalho, o foco são os fatores constitutivos da comunicação, apontados por Jakobson (emissor, mensagem, código, contexto, contato e destinatário), que também delineia a função da linguagem associada a cada fator (emotiva ou expressiva, poética, metalingüística, referencial, fática e conativa).

Relacionando-se esses fatores ao processo de comunicação de informações econômico-financeiras, têm-se as seguintes funções da linguagem:

• Emotiva: que é a relação do emissor (contador) com a mensagem (demonstrações financeiras) e é determinada por normas nacionais e internacionais (FASB, IFRS, CFC etc.), além da regulamentação profissional. Não parece que esse tipo de mensagem possa ser pessoal, a não ser pelo entusiasmo do contador pela Ciência Contábil, por ser a linguagem dos negócios;

• Conativa: que se refere ao efeito da mensagem (demonstrações financeiras) no destinatário (associados, cooperados e outros públicos). O principal efeito de interesse deste trabalho é a confiança, que é necessária, pois as principais decisões da empresa são tomadas com base nessas demonstrações, além de também servirem de base para a remuneração dos associados (distribuição das sobras);

• Referencial: que é a relação da mensagem com a realidade, que é prioritária no tipo de comunicação abordado neste trabalho, pois deve ser objetiva, factual, preocupada em ser verdadeira. De fato, a primeira característica da

informação contábil, apontada pela Norma Brasileira de Contabilidade NBC T 1 (CFC, 1995), é a confiabilidade;

• Fática: que consiste na manutenção dos canais de comunicação abertos, ou seja, a manutenção da relação entre o emissor e o destinatário, referindo-se ao fator contato. É nessa função que opera um dos principais requisitos para a autogestão, que é a transparência. Tem a ver com a forma como são tomadas as decisões (assembléias, comitês etc.), com a freqüência que ocorrem e com a formação dos receptores para compreender a informação; • Metalingüística: que se refere à identificação do código utilizado. O código

em questão é estabelecido pelo método das partidas dobradas, que consiste no registro das origens (crédito) e destino (débito) dos recursos. Outros componentes do código são as diversas leis e critérios utilizados para mensurar os fatos contábeis. Dependendo da utilização de jargões, de valores excessivamente agregados, de contas do tipo “diversos”, “outros”, “a classificar” etc., pode-se tornar incompreensível a informação;

• Poética: que consiste da relação da mensagem com ela mesma. Não é o caso de se falar em uma estética das demonstrações financeiras, embora apareçam como obras de arte em alguns relatórios anuais de grandes empresas. Porém, se forem utilizados gráficos ou metáforas, como a do reservatório para compreensão do fluxo de caixa, a comunicação pode soar agradável, facilitando sua compreensão.

A partir dessas entrevistas e observações, e dos modelos de processo de comunicação estudados, podem-se descrever as questões referentes à confiabilidade e confiança no processo de comunicação de informações econômico-financeiras de acordo com a seguinte ilustração:

Processo de comunicação de informações econômico-financeiras Emissor Mensagem e Canal Receptor

Confiabilidade (Governança) Confiança Controles internos Transparência Construção

Ilustração 14 – Confiabilidade e confiança no processo de comunicação

A confiabilidade (merecer confiança, ser confiável), ou governança, é obtida mediante controles internos efetivos, regulados por normas contábeis, e da transparência na comunicação das demonstrações e relatórios (seu conteúdo, forma e freqüência etc.). Trata-se do território do emissor, do canal e da mensagem.

Empresa Fatos contábeis Demonstrações e Relatórios Normas contábeis (Conteúdo / Forma / Freqüência) Públicos Contabilidade (tratamento da informação) retro alimentação Gestores operacionais Formação Confiança Fatos operacionais Compreensão retro alimentação

Economia Solidária e autogestão Garantias

Ambiente institucional Regras

Quanto à confiança (ato de confiar), que é construída no território do receptor, é resultado das garantias oferecidas pelo processo (normas contábeis utilizadas na elaboração da mensagem), da percepção do conteúdo, da forma e da freqüência das demonstrações e relatórios, da compreensão que o receptor possui do conteúdo da mensagem, potencializada pela formação adquirida, e do ambiente institucional, no caso da Economia Solidária e da Autogestão, que têm a confiança como princípio.

A análise dos resultados obtidos será feita a partir do quadro anterior, nos diversos aspectos do processo de comunicação e em outros fatores que podem gerar confiança nas informações econômico-financeiras.

7.3. O território do emissor

A comunicação de informações econômico-financeiras normalmente está entre a comunicação de massa (com pouca retroalimentação) e a comunicação pessoal (mais simétrica, com paridade entre emissor e receptor, muitas vezes buscando entendimento mútuo). Embora a “massa” receptora da comunicação econômico-financeira das empresas seja uma assembléia de associados ou acionistas, em algumas situações, como nas divulgações de fatos relevantes, de interesse do mercado, podem ter grande repercussão nos comentários econômicos.

As normas contábeis, além de regulamentar o processo de registro contábil, opera como garantia para a confiabilidade do processo e é também um componente para que o receptor impute confiança na mensagem recebida. Além disso, a profissão de contador é regulamentada (registro no CRC – Conselho Regional de Contabilidade), podendo o profissional sofrer punições, e até a cassação do direito de exercer a profissão, caso não respeite suas normas.

A partir do referencial teórico de governança corporativa, de contabilidade das empresas de autogestão e do processo de comunicação contábil, confrontados com o trabalho de campo, foram detectados alguns pré-requisitos para a geração de demonstrações confiáveis:

• Revisão dos processos de negócio e dos controles internos; • Implantação de um Sistema Integrado de Gestão (ERP); • Registro sistemático dos fatos;

• Custeio por atividade;

• Possibilidade de abertura dos números em níveis analíticos suficientes; • Registro multidimensional das transações;

• Utilização da contabilidade gerencial; • Certificações.

a) Revisão dos processos de negócio e dos controles internos

Todas as recomendações sobre governança corporativa mostram a importância do conhecimento dos processos de negócios, por meio do mapeamento dos processos atuais e da implantação de melhorias resultantes da revisão dos mesmos. A transparência começa pela padronização dos processos, dando-lhes condições de repetição, sem que o tratamento de transações não-rotineiras (exceções), complexas ou incomuns se torne a regra.

Deve-se aproveitar a revisão dos processos para rever também os controles internos, que serão usados para prevenir fraudes e como base para planos de contingência. A atual necessidade de conformidade (compliance) torna-se uma oportunidade para revisões de processos e controles, além de fomentar a educação contábil nas empresas.

A revisão de processos pode ser a base para a implantação de fluxos de trabalho automatizados (workflow), incluindo a definição de papéis, controle de datas, limites e disparos de atividades.

Na revisão dos processos deve-se atentar para a oportunidade das informações geradas (prazos de fechamento de balanços).

b) Implantação de um Sistemas Integrado de Gestão (ERP)

Após a revisão dos processos, a empresa está melhor preparada para a implantação de um sistema integrado de gestão (ERP – Enterprise Resource Planning).

Nesses sistemas não existe, ou é muito pequena, a possibilidade de certos tipos de lançamentos incorretos, fraudes, sonegações etc., tais como: espelhamento de notas fiscais (via do cliente com valor maior que a via da

contabilidade); contabilidade carimbada (lançamentos diretos no campo saldo); baixas irregulares de estoque; cópia do sistema em área alternativa (caixa 2) e consolidação posterior com a parte oficial para que a informação seja útil para gestão etc. Além disso, as empresas desenvolvedoras desse tipo de software também estão assumindo responsabilidades perante aos órgãos de fiscalização no sentido de não propiciar ou facilitar fraudes fiscais. O fato de a empresa partir, por necessidade de gestão, para aquisição desse tipo de sistema já a obriga a trabalhar de maneira formal. Isso significa que os sistemas ERP têm um papel importante na confiabilidade das informações. Em outras palavras, funcionam como disciplinadores.

Uma idéia que surgiu na conversa com o Sr. Luigi, da ANTEAG, quando foi mencionado um assunto muito discutido atualmente, que é a terceirização de processos de negócio (BPO – Business Process Outsourcing), foi a de um tipo de Data Center para abrigar a TI (Tecnologia da Informação) de cooperativas ou empresas de autogestão, eventualmente com software de gestão disponível, com a maior parte da contabilização preparada (parametrizada) para as necessidades específicas das empresas.

c) Registro sistemático dos fatos

A maior dificuldade para a utilização da contabilidade para gestão é a falta de registros apropriados. A existência de um sistema ERP não garante que ele será alimentado corretamente. Se houver o registro completo (o que ocorreu, quando ocorreu, qual a origem do recurso, qual o destino e qual o valor) será mais fácil derivar a contabilidade desse registro.

O Sr. Aguinaldo, da UNISOL, recomenda o registro e o acompanhamento cotidiano, mesmo sem a existência de um ERP, do Caixa (movimentações em dinheiro), da movimentação bancária e das Contas a Pagar e a Receber;

d) Custeio por atividade

Pressupõe a revisão dos processos (conjunto de atividades) para que se estabeleça o custo de cada atividade, o mais próximo da realidade. É um fator para criação de confiança, pois necessita do conhecimento de como cada um dos custos é atribuído para cada atividade. A atribuição é feita por

meio dos direcionadores de custo (área utilizada, em metros quadrados; consumo de energia, água, lubrificantes; horas de supervisão etc.), e não pelo rateio de custos indiretos.

e) Possibilidade de abertura dos números em níveis analíticos suficientes As cooperativas, em função da legislação, tiveram de reorganizar seus planos de contas e seus sistemas contábeis para que pudessem tratar as informações em diferentes níveis e tivessem seus registros segregados.

Os sistemas do tipo EIS (Executive Information System) permitem a construção de painéis de indicadores, para que se possa acompanhar os fatores críticos do empreendimento. Quando se percebe um problema em um dos indicadores (semáforo com luz vermelha ou amarela), permite-se um “mergulho” nos dados, até que se chegue na transação que está causando a distorção.

Devem ser evitados também saldos em contas com nomes como: “diversos”, “outros”, “transitórias” ou “a classificar”, que podem ser usadas para ocultar problemas;

f) Registro multidimensional das transações

Consiste em registrar diversos aspectos (dimensões) de cada transação, para que se possa, futuramente, enxergar a transação por meio dessas dimensões, conforme a figura a seguir:

Ilustração 15 – Modelo de contabilidade multidimensional Fonte: Morgado (1999, p. 134). Grupo de contas Plano de contas TRANSAÇÃO Canais de compras Agrupamentos de produtos Canais de vendas Componentes de custos Estrutura organizacional

O conteúdo de cada dimensão é mostrado no quadro a seguir:

Dimensão Conteúdo

Plano de contas Contas de Ativo, Passivo, Patrimônio líquido, Resultado.

Agrupamento de contas Novos códigos de contas, além dos códigos sintéticos do plano oficial, para permitir outros tipos de demonstrações financeiras (rentabilidade, ganhos e perdas financeiras, imposto de renda, etc.)

Estrutura organizacional Gerências funcionais, unidades de negócio ou grupos-tarefa, projetos, refletindo a estrutura organizacional.

Canais de venda Mercado interno e externo, atacado e varejo. Canais de compra Fornecedores nacionais e importações

Agrupamentos de produtos Catálogos, segmentos de mercado, famílias ou categorias.

Composição de custos Matéria-prima, mão-de-obra (direta e indireta) e despesas gerais (fixas e variáveis).

Quadro 5 – Dimensões contábeis e seu conteúdo Fonte: Morgado (1999, p. 134).

g) Utilização da contabilidade gerencial

Quando se tem uma base de informações confiável e uma cultura de leitura de demonstrativos econômico-financeiros, pode-se partir para a elaboração de uma contabilidade gerencial, que será usada para a tomada de decisão e para explicar o resultado e a situação patrimonial da empresa.

Na Bruscor, foi contratado um consultor para implantar a contabilidade gerencial, usando o sistema informatizado atual, que está sub-utilizado. A participação na elaboração de orçamentos, que é uma prática na Bruscor, ajuda na implantação da contabilidade gerencial, pois os associados tomam contato com o problema de explicar o resultado, de construir cenários, de tomar decisões baseadas em fatos, não só na intuição, e de perceber a necessidade de informações de qualidade.

h) Certificações

As certificações podem ser da qualidade dos processos (ISSO 9000 etc.), dos associados (certificações profissionais), para os produtos etc. Podem ser,

também, em relação à Economia Solidária e autogestão, nos moldes dos selos de responsabilidade social, “empresa verde”, “empresa amiga da criança” etc.

Na pesquisa de campo foram levantadas algumas boas práticas e algumas dificuldades dos gestores e emissores de comunicações no sentido da confiabilidade das ações e comunicações:

• A Cooper Jeans utiliza um relatório de resultados, chamado de orçamento, contendo o faturamento por cliente, as despesas por tipo, o pagamento de investimentos, a sobra e o percentual sobre os pontos de referência por função, usado para a remuneração dos cooperados. Esse relatório é usado pelos dirigentes e trabalhadores, em várias ocasiões, para discussão dos resultados no dia-a-dia, como base para planejamento e para explicar a remuneração;

O contato cotidiano dos trabalhadores da Cooper Jeans com as informações sobre os negócios da empresa é feito por meio de um mapa de produção, escrito pelos gestores, com giz, em uma lousa, contendo os detalhes dos pedidos: características, medidas, volumes, preços negociados, prazos etc. Os formulários que deram origem às informações escritas no quadro ficam ao lado, à disposição dos associados;

Existe também um relatório com os itens produzidos, com as medidas de cada lote e as eventuais diferenças em relação ao padrão esperado, que é usado para acompanhamento da produção e para fazer o controle de qualidade dos produtos. As divergências do dia-a-dia são discutidas e consertadas no mesmo momento. Os problemas mais graves, envolvendo várias pessoas ou problemas da produção são levados para os comitês de gestão (mini-assembléias) ou para a assembléia;

• O sistema de gestão informatizado da Bruscor não é utilizado para a gestão completa do estoque. Somente os produtos acabados estão no sistema, com o respectivo preço de venda. Está sendo feito um levantamento dos processos visando implantar o controle da matéria prima, dos produtos em processo e do estoque de produto acabado. Com isso, pretende-se ter mais condições de

calcular o custo dos produtos e o ponto de equilíbrio, e de responder se “têm estoque suficiente para produzir um determinado pedido”.

• A remuneração dos cooperados da Cooper Jeans é baseada na Tabela Básica de Retribuição por Função, que estabelece, para cada função dentro da