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CAPÍTULO 3 METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO REALIZADA

3.2 Metodologia do Estudo

3.2.1 Metodologia Geral

Considerou-se adequado ao trabalho da tese a utilização de métodos quantitativos e qualitativos, ou seja utilizar um método misto, pois só a combinação dos métodos quantitativos e qualitativos servem os objetivos e o interesse de investigação dada a operacionalização dos conceitos e as possibilidades de recolher a informação pertinente pretendida.

Quanto ao universo de recolha de dados, nomeadamente os relativos a Entrevistas e a um questionário de especialistas do setor da água, utilizou-se o que pode designar de informadores privilegiados, pela posição, conhecimentos e experiências que detêm.

Fundamentalmente em relação à questão das Perdas de Água, há um conjunto significativo de dados estatísticos disponíveis ao público no Portal da Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos, (ERSAR) através do Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos em Portugal (RASARP), em especial sobre o volume de água captada, distribuída e faturada e também na Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas (APDA), através da sua publicação regular “Água e Saneamento em Portugal – O Mercado e os Preços”.

Algumas destas entidades, para além de disponibilizarem dados primários, ou ainda em “bruto”, tipo: volume captado e volume vendido, disponibilizam já “indicadores”, no sentido em que eles são referidos por Carmo e Ferreira (2008), ou seja, “instrumento construído com o objetivo de revelar certos aspetos pertinentes de uma dada realidade, e outro modo não percetíveis, com o fito de a estudar, de a diagnosticar e/ou de agir sobre ela”. Assim, os indicadores são já instrumentos de trabalho agrupando normalmente um conjunto de dados estatísticos, originalmente em “bruto”, e que por si só podem já ser reveladores de uma dada situação, como por exemplo, a percentagem de Água Não Faturada por EG, bem como as intervenções anuais em manutenção e reparação de condutas.

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Ter os dados das Perdas de Água, (em valor absoluto ou em percentagem do volume captado) é importante, mas mais importante é saber as Perdas por metro linear de rede, por ramal, a sua relação com a idade dos materiais utilizados, pelas pressões da rede, etc. e a sua comparação com os investimentos efetuados (a chamada Gestão Patrimonial de Infraestruturas). Todos estes dados são importantes, mas depois ter-se-á que evoluir para uma análise mais aprofundada dos mesmos.

Quanto às funções do regulador, foi recolhida informação no quadro legal regulatório de Portugal e de outros países e depois obter opiniões sobre o quadro de Atribuições e Competências que deverá ter a ERSAR para poder ser um contributo na sustentabilidade dos sistemas de abastecimento de água e aí a informação a trabalhar será ela também mista (qualitativa e quantitativa).

Uma das questões que no ponto do Regulador se quer estudar são as formas e ações (vinculativas ou orientações) que este deverá empreender para que rapidamente as EG procedam a uma redução significativa das Perdas de Água, juntando assim os dois pontos em estudo.

No ponto anterior referiu-se já uma parte significativa das fontes de boa parte da informação quantitativa a recolher e tratar. O universo será Portugal Continental, e será também realizada alguma observação de Benchmarking66 com o que se passa relativamente

às funções do Regulador em vários países da União Europeia, com a aplicação de um questionário.

E com base nos dados trabalhados das Entrevistas realizadas no Distrito de Setúbal e nas visitas a seis EG (4 no Distrito de Setúbal, uma em Aveiro e outra no Porto) prepararam- se os dois Questionário finais (EG e Peritos). No Questionário às EG foi definida uma amostra significativa do território nacional (litoral vs. interior; grandes aglomerados populacionais vs. pequenas cidades ou vilas, aglomerados planos vs. aglomerados com forte variação de cotas altimétricas, etc.) para ter uma heterogeneidade significativa que represente o nacional.

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Esse Questionário foi distribuído a um conjunto significativo de Municípios do Continente, ou às EG que em seu nome procedem ao abastecimento de água, no caso de Serviços Municipalizados, Empresas Municipais e Intermunicipais, empresas privadas em regime de Concessão, ou nas parcerias existentes ente o Estado e vários Municípios de Aveiro, no caso concreto da AdRA.

Para além de Entidades Gestoras de todos os tipos, foi preparado um segundo questionário autónomo e complementar do questionário às EG para inquirir especialistas do setor, a título individual, para a recolha de informações e opiniões sobre a problemática das Perdas de Água, nas suas diversas dimensões. A esse grupo de especialistas, a que se chamou Peritos, o questionário foi lançado tal como o primeiro em Abril e Maio de 2017. Assim, foi definida uma amostra de conveniência com peritos intervenientes no setor, para obter as suas opiniões quanto aos dados obtidos e para perceber as razões das enormes diferenças verificadas nas Perdas de Água, que leva a captar quase o dobro da água necessária.

Para se perceber o porquê desta situação considerou-se ser relevante inquirir, por questionário, uma amostra alargada e entrevistar, uma amostra mais reduzida, no caso, os responsáveis das Entidades Gestoras do Distrito de Setúbal que foi a primeira atividade de recolha de informação desenvolvida - o que Lalanda (1998:872) chama de: “…uma relação

aprofundada com um pequeno número de atores sociais”, que se considere representativa

dos intervenientes do setor, efetuando aquilo a que também Lalanda (1998:875) considera de “A entrevista em profundidade (compreensiva)”, citando Kaufmann (1996).

Quer as Entrevistas quer os Questionários colocaram questões quanto às funções do regulador e da sua possível e desejável (ou não) interferência nas perdas de água, eventualmente através de orientações vinculativas sobre uma percentagem do orçamento que deverá ser consignado à chamada Gestão Patrimonial de Infraestruturas (GPI), tal como acontece já noutros países da UE e também no Canadá.

Há já hoje alguns estudos sobre estes dois temas, quer quanto às Perdas de Água e meios de a combater, quer quanto às Perdas Reais (antes designadas de perdas físicas) ou seja água perdida nas redes, órgãos de tratamento e reservatórios, quer ainda quanto às

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Perdas Aparentes (antes designadas de perdas comerciais) ou seja, água consumida mas não paga, nomeadamente os estudos de Alegre et al. (2005) e de Almeida, Vieira e Ribeiro (2006), Martins, (2014) e EPAL (2015), mas o trabalho que foi proposto realizar visa tratar assuntos não abordados nesses estudos e pretende também atualizar alguns dos conhecimentos já divulgados anteriormente.

O setor do abastecimento de água tem tido uma progressão muito rápida e alterações constantes que conduzem a novos aspetos de estudo e investigação e nomeadamente a ligação das Perdas de Água com os seus custos ambientais e económicos.

A recente evolução do setor criou outros problemas e áreas que carecem de estudo ou aprofundamento e são essas áreas que se pretendem estudar na tese proposta, onde, para além dos pontos já acima referidos, se considerou adequado rever e propor um novo quadro de Atribuições e Competências para o Regulador e ver em que medida este poderá influenciar na redução das Perdas e portanto no aumento da Sustentabilidade e Eficiência das Entidades Gestoras e de todo o setor do Abastecimento de Água.

O tratamento de dados quantitativos teve uma análise estatística associada, com recurso ao programa IBM® SPSS® Statistics, versão 24, tendo-se aplicado aos dois últimos questionários (EG e Peritos).

Relativamente à metodologia para a recolha e tratamento dos dados qualitativos a chamada Análise de Conteúdo, descrita por Bardin (2013), e outros autores apresentou-se como adequada ao tipo de estudo proposto e aos interesses da investigação e foi aplicada para a análise mais detalhada das entrevistas aplicadas aos responsáveis das entidades gestoras do Distrito de Setúbal.

Como já acima foi referido a estratégia de análise dos dados assenta numa base mista (análise quantitativa e qualitativa), devendo proceder-se a uma triangulação, em especial “triangulação de dados” e “triangulação de investigadores”, conforme definido por Carmo e Ferreira (2008:201), citando Denzin (1978). Esta opção assenta nas vantagens referidas por Reichardt e Cook (1986).

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O percurso metodológico vai passar por 4 vetores, a saber: Revisão da Literatura, Entrevistas, Questionários e Benchmarking, e também por 4 fases: Revisão da Literatura, para assentar conceitos e especificar melhor os caminhos a percorrer, os resultados esperados e as formas de os obter, uma segunda fase de entrevistas, questionários e Benchmarking, uma terceira fase de tratamento e análise de dados, e uma última fase com o apuramento dos resultados e a possibilidade de avançar com propostas e conclusões.

Assim, os dois conceitos – Perdas de Água, em especial na sua vertente mais global de Água Não Faturada (ANF) e as Atribuições e Competências da Entidade Reguladora - serão os prioritários para aprofundar e utilizar, nas suas diversas componentes.

Na Figura 3.3 é indicado o roteiro metodológico que se considera adequado utilizar na elaboração do trabalho.

Figura 3.3 – Roteiro Metodológico

Quanto às Perdas de Água há variada documentação de qualidade produzida em Portugal, em particular pelo LNEC em conjunto com o ex-Instituto da Água (INAG) e a ERSAR (ex-IRAR) e também variados trabalhos académicos de dissertação e teses, onde esse tema é analisado e os dados disponíveis são muito significativos. Com relativa segurança se sabe quanta água é perdida em Portugal e as formas de como essas perdas podem ser

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combatidas. Mas, salvo o trabalho de Martins (2014) com a descrição de casos das Águas do Porto, Águas de Gaia e das Águas de Portugal (AdP), não há novos trabalhos em Portugal relacionados com as Perdas de Água, com dados atualizados.

O interesse do estudo, obviamente vai para além do que já existe, e é tentar saber quanto valem em m3 e Euros a Água Não Faturada (somatório das Perdas Reais, das Perdas Aparentes e da Água autorizada para consumo mas não faturada), definindo uma amostra de conveniência das EG. Depois, junto dessas mesmas EG, saber que condições necessitam reunir para, com base nos estudos e práticas já testadas, procederem à redução de perdas na sua rede.

Para além de saber a opinião dos responsáveis de EG em Portugal, e de variados outros atores do setor, importa saber quais as atribuições e competências de entidades reguladoras noutros países, em especial na UE, de acordo com a metodologia, amostra e métodos de tratamento de dados referidos nos pontos seguintes.