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CAPÍTULO 1 ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.8 A procura da Eficiência na Gestão dos Sistemas

1.8.1 As Perdas Reais (ILI=CARL/UARL)

Conforme definição da IWA, aceite generalizadamente em Portugal e em particular pela entidade reguladora do setor e pelas entidades gestoras nacionais, Perdas Reais é o volume que anualmente se perde através de todo os tipo de fugas, roturas e extravasamentos de condutas, reservatórios e ramais até ao ponto de entrega e medição do cliente (EPAL, 2015).

Até à normalização da terminologia proposta pela IWA, as Perdas Reais eram designadas de Perdas Físicas e as Perdas Aparentes, eram designadas de Perdas Comerciais (Farley e Trow, 2007).

As Perdas Reais, têm assim que ver diretamente com a situação das infraestruturas/ativos e há várias formas de medir e/ou apresentar as Perdas Reais.

Alegre et al. (2005) apresentam as Perdas Reais como o volume de água correspondente às perdas físicas até ao contador do cliente, quando o sistema está pressurizado. O volume anual de perdas através de todos os tipos de fissuras, roturas e extravasamentos depende da frequência, do caudal e da duração média de cada fuga.

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 Perdas base – ocorrem através de pequenas roturas, muito difíceis de detetar com os equipamentos correntes e tipicamente são caracterizadas por caudais de perda muito baixos,

 Perdas por roturas – caracterizadas por caudais elevados, de curta duração, por serem frequentemente visíveis e com estragos associados, e que correspondem a volumes moderados de perdas;

 Perdas por fugas não comunicadas – caracterizados por caudais médios, duração dependente da capacidade de deteção de perdas da EG, pois são passíveis de deteção com um regular controlo ativo de perdas.

Farley e Trow (2007), indicam uma lista de situações originando as Perdas Reais, mas a EPAL (2015) tem uma lista bem mais completa com as causas mais relevantes para a ocorrência de perdas nas infraestruturas:

 Estado das Condutas;

 Material, Idade e cuidados no assentamento (qualidade construtiva);  Número e qualidade das ligações de serviço ou ramais;

 Pressão de serviço e flutuações de pressões;

 Número e estado dos órgãos e acessórios (válvulas, ventosas, hidrantes, etc.)  Proteção contra corrosão;

 Materiais utilizados nas reparações;

 Estado das fundações, lajes de soleira e das paredes dos reservatórios;  Descargas de superfície;

 Condições geotécnicas e instabilidade dos solos;  Cargas de trafego automóvel ou outras.

Alegre et al. (2005) juntam a esta lista mais algumas possíveis causas das Perdas Reais que se acha oportuno indicar:

 A percentagem de tempo em que o sistema está pressurizado (fator muito relevante em regiões com abastecimento intermitente);

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 A localização do medidor domiciliário no ramal;  O comprimento total de condutas.

Assim as Perdas Reais serão apresentadas em litros ou m3 e normalmente são expressas para um período anual. Os mesmos autores sugerem que o volume apresentado como Perdas Reais seja calculado com base no Balanço Hídrico proposto pela IWA e já anteriormente indicado neste trabalho.

É importante ter a dimensão das Perdas Reais em Volume, mas tal como sugerem vários autores, a apresentação de Indicadores pode ser mais elucidativa da situação das Perdas (Farley e Trow, 2007; Hamilton e McKenzie, 2014; Martins, 2014; EPAL, 2015).

Após calculado o Volume das Perdas Reais no Balanço Hídrico, sempre que possível por Zona de Medição e Controlo (ZMC) e para que boa parte das Perdas Aparentes (as resultantes de Ligações Ilícitas) não vir incluído nas Perdas Reais, (EPAL, 2015; Taha, Sharma e Kennedy, 2016), sugerem que este cálculo seja efetuado com base nos Consumos mínimos noturnos, que são períodos de menores consumos autorizados e faturados e portanto os consumos não autorizados (ligações ilegais), as perdas decorrentes de erros de medição e também as perdas reais, são mais fáceis de detetar, em especial em pequenas parcelas da rede, se a mesma tiver zonamento e um isolamento hidráulico no conjunto da rede ou a divisão em ZMC ou DMA, na designação anglo-saxónica e mais utilizada (Taha, Sharma e Kennedy, 2016).

Vários autores (Farley e Trow 2007; Martins, 2014; Hamilton e McKenzie, 2014) constroem Indicadores e os mais utilizados são:

 Perdas em m3, por Ramal;

 Perdas em m3, por km de rede.

van den Berg e Danilenko (2011) propõem uma divisão das EG em três classes, de acordo com a Água não Faturada, classificando como Má uma EG onde a ANF é superior a 40 m3 por km de rede, por dia; Razoável, se a ANF estiver entre 10 m3 e 40 m3 por km de rede e por dia; e Boa, se a ANF estiver abaixo de 10 m3 por km de rede, por dia.

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Farley e Trow (2007) referem que estudos realizados na Alemanha e em Portugal indicam que as Perdas na rede de distribuição são várias vezes superiores às Perdas em Condutas Adutoras, apesar do maior volume de água transportado nestas últimas e normalmente da sua grande extensão. Mutikanga (2012) sem indicar exemplos refere também que o grande volume de Perdas Reais se concentra na rede de distribuição.

Assim, os km de rede podem não ser determinantes, mas o número de ramais e a sua densidade é referida por todos os autores citados neste ponto, e também pela The International Federation of Private Water Operators (AquaFed, 2011)18, como um fator determinante das Perdas Reais.

Por iniciativa da IWA foi criado um grupo de trabalho denominado “IWA Water Loss Task Force”.

Esse grupo de trabalho identificou quatro pontos básicos para a gestão das perdas reais (EPAL, 2015):

 Gerir as pressões na rede de distribuição;  A rapidez e qualidade das reparações;

 A gestão dos ativos e nomeadamente das infraestruturas da rede;  Um controlo ativo de fugas.

E propôs a utilização de um Indicador de Perdas Reais, denominado Infrasctuture Leakage Index (ILI) ou Índice Infraestrutural de Perdas de Água, na designação portuguesa. O ILI é uma relação entre as Perdas Reais, “Current Annual Real Losses” (CARL) e as consideradas “Perdas Inevitáveis” ou “Unavoidable Annual Real Losses” (UARL) para um dado Sistema e numa base anual. As perdas “CARL” são as que constam do Balanço Hídrico.

Ou seja:

ILI = CARL/UARL

As perdas “UARL” são mais difíceis de quantificar e segundo a EPAL (2015) para cada parte do sistema (ou ZMC) têm que regularmente ser realizados estudos para afinar o valor a

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utilizar como UARL, ou Perdas Inevitáveis, com a vantagem de que deste modo se poderá fazer um ranking das prioridades de intervenção em reparações ou renovações da rede.

A EPAL (2015), que é a única entidade gestora portuguesa que conhecemos a usar este índice nos seus cálculos, utilizou dados estatísticos internacionais de 27 sistemas de 20 países, uma vez que não existem dados para Portugal.

O Indicador UARL, como se disse, é calculado para um dado sistema ou ZMC, com caracter anual, em m3, e tem por base o número de litros que por ramal se perde numa hora.

Segundo EPAL (2015) a UARL pode ser apresentada como:

UARL (l/ramal/hora) = [18x(Lm/Nc)+0,8+25xLp] x Pmed/24

onde:

Lm – comprimentos da rede em Km; Nc – número de ramais;

Lp – comprimento médio dos ramais em Km;

Pmed – pressão média de operação na zona em estudo (m)

Deste modo as perdas físicas (reais) indicadas pela EPAL (2015) consideraram as seguintes constantes:

 Fugas em condutas: 18 litros por km de conduta, por dia, com uma pressão media não ultrapassando 25 m c.a (metros de coluna de água).

 Fugas em ramais: 0,8 litros, por ramal, por dia, com uma pressão de serviço não ultrapassando 25 m c.a.

 Fugas em ramais: 25 litros por km de ramal, por dia, com uma pressão de serviço não ultrapassando 25 m c.a.

Para EPAL (2015) o ILI pretende medir a eficiência da entidade gestora na gestão de perdas reais face ao regime de pressões em que opera. Não sendo possível baixar o ILI somente com a gestão de pressões, por condicionantes do sistema, um valor mínimo de perdas só é atingido com um esforço de investimento acima dos ganhos financeiros que

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poderão ser alcançados. Entramos assim na análise custo-benefício ou neste caso concreto no Nível Económico de Perdas.

Segundo Seago, Mckenzie e Liemberger (2012), utilizando dados da IWA, o Indicador (ILI) está Excelente, até 1.5, Bom, entre 1.5 e 2.0, Razoável entre 2.0 e 2.5, Fraco de 2.5 até 3.0, Pobre de 3.0 a 3.5 e Inaceitável se está acima de 3.5. Para qualquer valor do ILI acima de 2 consideram que a EG está a usar pressões de serviço demasiado elevadas ou a rede necessita de urgente intervenção.

Para os países em desenvolvimento, com as inerentes dificuldades de manutenção, gestão de pressões e falta de condições para a renovação regular da rede, os autores referidos e também a EPAL (2015) consideram que o ILI deve ser multiplicado por 2, relativamente à escala antes indicada.

Seago, Mckenzie e Liemberger (2012), utilizando dados da IWA, indicam dados de mais de 20 países, sempre para vários sistemas de AA e são indicados alguns sistemas em Chipre e Nova Zelândia com um ILI de 1.2, para o Canadá, Inglaterra e País de Gales com 1.3, seguindo-se a Alemanha, já com 2.4, a França com 2.5, a Republica Checa com 2.6, 3.4 e 6.7, no Japão com 4.1 e temos também dados da Itália com sistemas com um ILI entre 7.1 e 15.9, na Grécia entre 9.7 e 16.1, na Polonia com 20.6, na Bulgária com 24.4 terminando o ranking dos dados conhecidos, com sistemas com ILI de 41.4 no Sri Lanka, de 46.7 na Turquia e de 70.9 na Rússia. Infelizmente, neste estudo, não são conhecidos dados para os sistemas em Portugal, até porque o ILI é relativamente pouco falado e usado entre nós.

Pelos valores indicados, pode-se ver que a questão das Perdas de Água e neste caso das Perdas Reais, é uma problemática mundial.

Pontualmente aparecem EG com um ILI inferior a 1 e neste caso estão sistemas com fortes investimentos na gestão da rede e na renovação das redes de distribuição.

Lambert et al. (2014) indicam que na Áustria, Alemanha, Croácia e Bélgica, há vários sistemas onde o ILI é inferior a 1. Neste estudo, para Portugal, só é indicado um sistema e não identificado, com um ILI de cerca de 3.0, que mesmo assim se situa claramente abaixo da média europeia, para os exemplos recolhidos.

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Na Figura 1.3 vemos a proposta de classificação do ILI para as Entidades Gestoras Australianas, retirado de Seago, Mckenzie e Liemberger (2012), com as respetivas ações que devem ser desenvolvidas de acordo com os diversos valores do Indicador ILI, começando na gestão das Pressões e numa política de renovação regular, até ações mais “pesadas”, que passam pela existência de um Controlo Ativo de Perdas, até à compra de serviços externos para a questão das Perdas de Água, culminando na elaboração e implementação de um Plano de combate às Perdas de Água, à medida que o ILI vai ficando com um valor mais expressivo.

Figura 1.3 - Proposta de classificação do ILI para as Entidades Gestoras Australianas

Fonte: Adaptado de Seago, Mckenzie e Liemberger (2012)

ILI < 1.5 1.5 < ILI < 2.0 2.0 < ILI < 2.5 2.5 < ILI < 3.0 3.0 < ILI < 3.5 ILI>3.5

Controlo de Pressões

Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Politica de Reparações

Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Simples Intervenção de Deteção

Sim Sim Sim Sim

Controlo Ativo de Perdas

Sim Sim Sim

Intervenção Externa para Controlo de

Perdas

Sim Sim Sim

Desenvolver e Aplicar um Plano de Ação

Sim Aceitável Fraco Inaceitável Medidas de Gestão Económica A sua EG precisa destas Ações?

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