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A pesquisa está embasada em uma análise da história das ideias sobre o tema do desenvolvimento na ONU, fazendo um duplo movimento entre analisar o processo micro de negociações entre os Estados-membros e o Secretariado no que se refere à

incorporação da CSS, e o processo macro sobre o papel global da ONU na área da cooperação internacional para o desenvolvimento.

Os documentos oficiais da ONU são o conteúdo central de análise. A pesquisa cobre todas as resoluções da AGNU e todas as decisões do HLC-TCDC/HLC-SSC sobre o tema, de 1970 a 2015. Também cobre todos os relatórios do Secretário Geral, do HLC- TCDC/HLC-SSC e do Administrador do PNUD sobre o tema, de 1990 a 2015. Ademais, considera todos os registros transcritos das sessões públicas da AGNU sobre o tema (de abertura do debate e da fase de ação), de 1990 a 2015. Esses documentos estão organizados em uma categoria separada nas referências finais e podem ser encontrados

online, por meio de seus respectivos códigos, no Sistema de Informações Bibliográficas das Nações Unidas (UNBISnet, do inglês, United Nations Bibliographic Information

System).

A utilização desses documentos como conteúdo central de análise é de suma importância, pois eles sintetizam os debates entre os Estados-membros e as visões do Secretariado sobre o tema em questão. Entretanto, por serem documentos com uma linguagem acordada específica, isso torna a discussão hermética para aqueles que não estão familiarizados com a dinâmica interna da ONU. Mas como um dos objetivos dessa pesquisa é servir de base para as negociações sobre a CSS que ocorrem na organização, a pesquisa assume tal risco, por acreditar que é necessário aproximar mais as discussões acadêmicas brasileiras daquelas feitas na sede da ONU, em Nova York. Para lidar com o caráter hermético dos documentos da ONU, há um esforço de explicar e traduzir o linguajar e as noções específicas do sistema, tornando-os mais acessíveis ao leitor.

Outra dificuldade é a profusão de siglas e códigos utilizados pela ONU, que também tornam a compreensão da discussão mais complicada. Especialmente porque muitas das siglas são utilizadas em inglês, e, se fossem traduzidas, perderiam o sentido para aqueles que já conhecem o tema. Por exemplo, a Unidade Especial para a Cooperação Sul-Sul: se a sigla fosse traduzida, ficaria UE-CSS, e poderia confundir com o uso corrente da sigla UE (União Europeia). Para evitar esse tipo de confusão, preferiu- se manter uma mistura de siglas em português e inglês: para aquelas em que há uma versão em português popularmente conhecida (como é o caso do PNUD, da AGNU, ou do CAD-OCDE), elas foram utilizadas em português; e para aquelas em que não há um uso corrente em português, foram mantidas as siglas em inglês. A lista de abreviações e siglas contempla todos os termos usados e facilitará o acompanhamento da discussão.

Além dos documentos oficiais da ONU publicados no UNBISnet, foi realizada uma pesquisa de campo na Biblioteca da ONU Dag Hammarskjöld, localizada na sede da ONU, em Nova York. Foram coletados os relatórios do Secretário Geral, do HLC- TCDC/HLC-SSC e do Administrador do PNUD sobre a CSS referentes ao período 1970- 1991, pois esses documentos não estão disponíveis em formato digital pelo UNBISnet.

Foi também realizada uma pesquisa de campo na Seção da ONU para o Gerenciamento de Arquivos e Registros (United Nations Archives and Records

Management Section), localizada na sede da ONU, em Nova York. Os arquivos da ONU disponibilizam documentos de bastidores sobre a CSS, como notas dos funcionários de alto nível do Secretariado sobre o assunto, cartas de diplomatas encaminhadas aos Secretários-Gerais indicando os seus interesses no assunto, e relatórios preliminares escritos para a preparação das conferências globais sobre Cooperação Sul-Sul. Os capítulos da tese serão enriquecidos com a análise desses documentos inéditos no Brasil, e que não estão disponíveis online. Foram coletadas 7 mil páginas em documentos, que cobrem o período de 1960-1996, nos seguintes arquivos:

i) Arquivos do Departamento da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais; ii) Pesquisa nos Arquivos do Departamento de Registros;

iii) Arquivos do Secretário-Geral Kurt Waldheim (1972-1981);

iv) Arquivos do Secretário-Geral Javier Perez de Cuellar (1982-1991); v) Arquivos do Secretário-Geral Boutros Boutros Ghali (1992-1996); vi) Arquivos sobre Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento

(1980-1991).

A pesquisa também conta com os resultados das entrevistas realizadas com funcionários da ONU e diplomatas de diferentes países que participaram diretamente das negociações sobre Cooperação Sul-Sul. Entre setembro de 2015 a janeiro de 2016, foram conduzidas entrevistas qualitativas com 16 diplomatas, dos seguintes países/blocos: Alemanha, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Japão, México, e União Europeia. Ademais, foram entrevistados 22 funcionários da ONU, das seguintes entidades: Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD); Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (UNDESA); Escritório das Nações Unidas para a Cooperação Sul-Sul (UNOSSC); Escritório do Enviado Especial para a África; Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF); Fundo Populacional das Nações Unidas (UNFPA); Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Grupo de Desenvolvimento da ONU (UNDG).

Por fim, a pesquisa conta com as informações coletadas em duas reuniões de alto nível que ocorreram na sede da ONU em setembro de 2015: a abertura da 17ª sessão intermediária do HLC-SSC e o Encontro do Fundo IBAS (Índia, Brasil e África do Sul) para o Alívio da Fome e da Pobreza; e também no Briefing do Conselho Executivo do PNUD, UNFPA e UNOPS sobre a Estratégia do PNUD para a Cooperação Sul-Sul e Triangular, em janeiro de 2016.

A pesquisa está estruturada em três partes, divididas em 8 capítulos. A primeira parte, “O despertar do Sul”, apresenta a incorporação da ideia de CSS no SDNU. A segunda parte, “O lugar do Sul ao sol”, discute o impacto da incorporação da CSS na governança do SDNU. E a terceira parte, “A graduação do Sul”, analisa o financiamento da integração da CSS no SDNU. Por fim, a conclusão, “Para ver a Cooperação Sul-Sul, é necessário sair de Nova York”, analisa os desafios futuros do processo de incorporação da CSS ao SDNU.