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“Digging up the past”:

2.7. Middleton-on-the-Wolds

A descoberta do enterramento em Middleton se deu no ano de 1888 em condições praticamente idênticas ao achado de Seamer. Novamente, o único relato bem documentado encontra-se em Mortimer (1905: 359-360), que chegou a entrevistar um dos homens que escavou o túmulo. Na ocasião, a inumação foi trazida à luz pelos operários que estavam envolvidos na construção da linha ferroviária entre Enthorpe e Middleton, quando, ao cortarem parte do solo de calcário, os homens se depararam com uma quantidade de “ossos e metais enferrujados” (MORTIMER, 1905: 360). Nenhuma nota foi tomada em relação à medida da tumba, orientação do esqueleto ou formato da cova e como era de se esperar, de acordo com o contexto de sua descoberta, os bens encontrados no interior da sepultura se tornaram espólios divididos entre os próprios operários que não chegaram, entretanto, a prestar muita atenção aos objetos. Tudo

37 parece indicar que se tratava de um enterramento com carros; diferentemente do ocorrido em Seamer, Mortimer desta vez foi capaz de ter acesso, ao menos, a uma evidência material concreta, graças a um dos operários com o qual conversou e entrevistou a respeito do achado e que, naquela circunstância, havia colocado “dois ou três objetos nos bolsos” (MORTIMER, 1905: 360). O sujeito chegou a dar para Mortimer um dos artefatos: um pino de rodas que media 135mm, com corpo de ferro e terminais trabalhados em bronze23. O artefato, além de possuir uma visível semelhança com o pino achado em Arras no “King’s barrow” (A.1), parece corroborar o relato dos trabalhadores e as suspeitas levantadas por Mortimer (1905) de que o achado em Middleton poderia, de fato, corresponder a um enterramento com carro. Mais ainda, pelas características do único objeto restante, auxilia a precisar que o enterramento pertencia seguramente à Idade do Ferro. Nenhum outro material metálico ou ósseo chegou até os dias atuais ou a Mortimer na ocasião. O pino doado pelo trabalhador teve o mesmo destino de boa parte da coleção de Mortimer e encontra-se hoje no Hull and East Riding Museum.

2.8. Hornsea

Uma nota não publicada pelo Yorkshire Museum, reproduzida por Stead (1965: 93), aponta um suposto enterramento com carros descoberto por Morfitt24 no começo de 1904 na localidade de Hornsea. De acordo com as anotações, o homem teria se deparado com um enterramento na ocasião em que estava escavando uma colina nomeada “Gravil bed”. Dentro da tumba – que jamais chegou a ser descrita quanto a seu formato, medidas e orientação – Morfitt diz ter descoberto duas pontas de lança e partes de um veículo de duas rodas: os aros das rodas e anéis de rédea, todos bastante corroídos. Nenhuma ossada foi encontrada e presume-se que isso se deva ao alto grau de decomposição dos achados. Nenhum dos artefatos mencionados chegou até os dias atuais e pouca informação útil pode ser extraída deste caso.

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Os outros dois itens se perderam e Mortimer jamais teve a oportunidade de vê-los (cf. MORTIMER, 1905: 360).

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William Morfitt (1831-1923) habitava em Atwick na zona costeira de Holderness a poucos quilômetros de Hornsea e vivia graças às rendas adquiridas no ramo da panificação. Ele se dedicou, contando com a ajuda de seus dois filhos, a diversas empreitadas arqueológicas nos arredores de onde morava e no final de sua vida sua coleção continha materiais diversos que abrangiam desde evidências geológicas a artefatos do Neolítico até o período medieval. (cf. MIESOWICZ, 1924: 57).

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2.9. Hunmanby

Fruto de escavações em busca de minerais em uma pedreira perto da estação de trem de Hunmanby, a descoberta em maio de 1907 de um enterramento com carro no local se deu por um imprevisto e foi bastante prejudicada na época por causa de um pequeno desmoronamento de terra que ocorreu em consequência das atividades dos trabalhadores. Dada à natureza dos achados, Sheppard25, com autorização de Parker – então proprietário das terras –, se encarregou prontamente do restante da operação, sendo auxiliado por C. G. Danford (cf. SHEPPARD, 1907).

Estima-se que cerca de cinquenta por cento da tumba tenha sido altamente danificada e que uma das rodas tenha chegado mesmo a tombar, na ocasião, junto com o desmoronamento. Apesar disso, Sheppard foi capaz de resgatar uma série de partes que compunham um carro de duas rodas e equipamentos de arreio como, por exemplo, os aros e porções dos anéis das rodas, pinos e rebites, uma embocadura e anéis de rédeas. Um conjunto de outros objetos de bronze também foi encontrado e um dos itens foi interpretado na época como correspondendo a uma parte de um escudo (SHEPPARD, 1907: 483-4)26; interpretação esta que permanece relativamente bem aceita (cf. STEAD, 1979: 57). Em Hunmanby, apenas alguns fragmentos de material osteológico foram encontrados e incluem partes de ossos – não há como saber se humano ou animal – com mais dois dentes que pertenciam a um cavalo. Semelhante à descoberta do King’s Barrow (A.1), o enterramento escavado por Sheppard também parece apontar para a presença de um cavalo depositado no interior da cova, próximo ao dono. Nenhum material ósseo, entretanto, restou para chegar a ser estudado posteriormente, ocultando qualquer possibilidade de considerações a respeito da pessoa enterrada.

No sítio em questão um dado singular é o de que o posicionamento das rodas aponta para o fato de que elas se encontravam na vertical e, não, deitadas no chão. Tanto Sheppard (1907) quanto Greenwell (1906) expressaram-se favoráveis à interpretação de que o veículo havia sido depositado do mesmo modo como era normalmente utilizado, isto é, sem ser desmontado. No entanto, uma vez que a

25 Thomas Sheppard (1876 – 1945) teve um importante papel em Yorkshire no ínicio do séc. XX

exercendo a função de curador desde 1901 do então “Museu Municipal” em Hull - atualmente, Hull and East Riding Museum. Sheppard além de ser um colecionador de relíquias e artefatos, tinha uma política de incentivo e preservação de bens regionais e foi um dos principais agentes envolvidos na aquisição e permanência da coleção de Mortimer no museu de Hull. (cf. PEARCE, BOUNIA, 2000: 23).

26 O mesmo argumento pode ser igualmente encontrado em um post scriptum de Greenwell (1906: 312)

que tratou de adicionar duas páginas sobre a “recém-descoberta” feita em Hunmanby, em seu texto escrito um ano antes.

39 localização e disposição da maioria dos objetos no interior da cova não puderam ser precisadas devido aos desmoronamentos de terra, não há nada que indique que essa linha interpretativa esteja correta27.

Todos os objetos foram destinados ao Hull e East Riding Museum onde Sheppard exercia, então, sua curadoria.