• Nenhum resultado encontrado

“Digging up the past”:

2.13. Wetwang Slack

Os achados provenientes de Wetwang Slack foram trazidos à luz no ano de 1984 graças a uma mistura de acaso e olhar atento. Na ocasião, Mick Ward, então responsável pelos trabalhos e extrações em uma pedreira, percebeu em uma dada altura de seus trabalhos – após o uso de um trator escavadeira no local – o contorno de uma possível tumba e parte de um crânio exposto. Ward, que havia presenciado às escavações de 1971 em Garton Slack e, ao longo dos anos, observado a descoberta de diversos outros enterramentos na região dos vales entre Garton e Wetwang30, buscou

30

Válido observar que exatamente entre o enterramento escavado em 1971 e o referido sítio em Wetwang Slack se encontrava um assentamento de tipo aberto acompanhado por um dos maiores cemitérios de que

45 auxílio junto às autoridades responsáveis. Após a notificação, uma equipe da Field Archaeology Unit (Humberside County Council) comandada por John Dent e com o auxílio da East Riding Archaeological Society e da Royal Corps of Transport foi enviada ao local (cf. DENT, 1985: 85).

Concentrada há pouco mais de 1km de distância do enterramento descoberto havia treze anos em Garton Slack, a nova investigação acabou por revelar a existência de cinco estruturas anexadas: uma estava vazia; quatro apresentavam uma cova escavada em seu interior, sendo que em três destas, três enterramentos acompanhados por veículos de duas rodas foram encontrados. Em sua disposição geográfica, as tumbas com carro aparecem alinhadas em sentido norte-sul e foram enumeradas como 1, 2, 3, a partir da tumba localizada na extremidade norte, onde as escavações arqueológicas se iniciaram. Ambas as partes leste-norte da tumba nº1 e norte da tumba nº3 foram severamente danificadas devido à utilização da escavadeira pelos funcionários que trabalhavam na pedreira e, portanto, parte do contorno das covas e dos materiais aí depositados foi destruída. Graças aos cuidados e técnicas utilizadas em seguida, durante o momento da escavação, uma porção considerável de ambos os enterramentos foi preservada e a tumba central (nº 2) permaneceu intacta e sem sinais de perturbação causada antes da chegada dos arqueólogos ao sítio.

Na ocasião, pôde-se constatar que todas as três tumbas continham uma inumação com o corpo em posição fletida e orientada no sentido norte-sul acompanhada por um carro desmontado e das demais partes como embocaduras, pinos de rodas e anéis de rédea. Embora a ossada encontrada em WS.1 estivesse voltada para oeste e as demais duas (WS.2 e 3) a leste, é importante observar que boa parte da configuração e disposição interna dos objetos nas três covas eram bastante semelhantes: nos três casos, as rodas estavam alinhadas ao centro, próximas ao esqueleto; o corpo do morto encontrava-se coberto pela caixa do veículo e o eixo do carro ficava localizado sempre ao sul. Além disso, todos os enterramentos estavam delimitados por uma estrutura similar de trincheira em formato quadrangular. Quanto aos mortos, uma análise osteológica permitiu identificar que os esqueletos correspondiam, respectivamente, ao de dois homens (WS.1 e 3) e uma mulher (WS.2), todos em idade adulta inicial (DENT, 1985: 87-88, 90).

se tem conhecimento (+450 inumações) que datam do séc. IV-II a.C. e que levaram mais de uma década para serem escavados (cf. CUNLIFFE, 2005: 549-550; DENT, 1982; JAY & RICHARDS, 2006: 654) .

46 Em mais de um aspecto, os achados de Wetwang Slack representaram um importante passo na renovação dos estudos direcionados às práticas mortuárias da Idade do Ferro nas Ilhas Britânicas. Não apenas foi este o primeiro – e até os dias atuais, o único (!) – caso registrado e bem documentado de três enterramentos com carros vis-à-

vis no mesmo sítio, mas, também, foi nesta ocasião em que as primeiras evidências

concretas da existência de armas no interior de enterramentos deste tipo foram encontradas. Até então, historiograficamente, inumações acompanhadas por veículos provenientes da “cultura de Arras” eram caracterizadas pela ausência de qualquer armamento depositado na tumba junto aos mortos (cf. STEAD, 1965: 5, 86). A presença de pontas de lanças de ferro espalhadas no interior da sepultura (WS.1) e de duas espadas encontradas sobre os corpos dos dois homens (WS.1 e 3) representou, portanto, uma quebra de paradigmas na ocasião. No enterramento central (WS.2), ainda que nenhuma arma tenha sido depositada, a descoberta de um espelho de ferro e de uma caixa cilíndrica de bronze [apelidada de bean-tin pelo seu formato (DENT, 1985: 90)], permitiram identificar a utilização de técnicas metalúrgicas e de decoração artística semelhantes às dos armamentos encontrados nas tumbas circunvizinhas (DENT, 1985). Os objetos, além de contarem com adornos estilizados com entrelaçados gravados no metal, possuíam ainda pequeninos botões de coral fixados em seu corpo, dando uma possível tonalidade avermelhada ao conjunto. Para além de questões artístico– tecnológicas e concernentes ao universo das armas, os achados de 1984 permitiram ainda evidenciar certa associação e construção de valores de gêneros a partir dos achados encontrados, embora essa temática não tenha sido posta em muita evidência ou destaque na época. Um dado não ignorado, no entanto, foi o de que a tumba feminina, curiosamente – além de sua posição central – era, das três, a de maiores dimensões: 9,6m traçando-se uma diagonal entre as trincheiras que delimitavam a cova, contra c.7m (WS.1) e c.6,6m (WS.3) das demais.

Após o término das escavações que se deram em dois momentos – tendo a tumba WS.3 sido escavada por último –, todos os achados foram transportados para Kingston upon Hull, onde se encontram até hoje no Hull and East Riding Museum.