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Os mais idosos não se animam muito com uma mixagem que permita uma superpotência física Eles acreditam que um aumento significativo de força poderia deixá-

CULTURA BAIANA E CULTO AO CORPO

10. Os mais idosos não se animam muito com uma mixagem que permita uma superpotência física Eles acreditam que um aumento significativo de força poderia deixá-

los numa situação constrangedora.

Você acha que eu ia querer ser biônica pra quê? Pra andar ligeiro? Você acha que seria bonito uma velha como eu subir essa Ladeira da Fonte numa carreira

desgraçada? O povo daqui da rua todo ia ficar rindo de mim. É melhor eu ser do jeito que eu sou. Eu vou remando, mas chego aonde eu quero (Lucineide). A menos que, como já se viu antes, essa possibilidade esteja no domínio da moda. “Se todo mundo é assim eu também quero ser”.

Eu só aceitaria ser biônica se todo mundo fosse. Eu não ia querer ser diferente de todo mundo. Aquela coisa de sair na rua e ficar todo mundo olhando. Agora, se todo mundo fosse assim, se estivesse na moda, seria uma coisa comum, uma coisa normal (Valdirene).

E,

Essas coisas todas não me incomodam nem um tiquinho. Como diz minha avó, elas são sinais dos tempos que a gente vive. E eu acho que a gente deve mesmo é viver o tempo que é da gente. Mas eu não ia querer ser uma das primeiras a ter um corpo assim. Eu ia esperar o negócio virar moda. Depois é que eu ia querer. Sim, porque eu não ia querer ser passada pra trás e muito menos ser testa-de- ferro (Edilourdes).

Para a maioria, quem pode impulsionar o modismo da mixagem são os artistas e outros profissionais que têm a sua imagem diretamente vinculada pela mídia.

Aqui no Brasil são os artistas de novela que devem sair na frente. Foi assim com as cirurgias plásticas. Primeiro só eles faziam. De tanto as pessoas verem os atores e as atrizes mais bonitas, mais jovens, etc., foram fazendo ou desejando fazer também. Tinham um modelo de sucesso para seguir. Acho que logo isso vai se repetir em relação a essa história do homem com a máquina. Primeiro os artistas vão se encher de próteses. Isso vai virando moda e o povo todo vai ficando louco para ter também. (Gleciara).

Ao conhecer exemplos bem sucedidos, cada um estaria mais disposto a enfrentar os desafios e a trajetória das mutações corporais nesse nível de construção do homem- eletrônico.

Quer saber de uma coisa? Eu não vejo nada demais em alguém querer ser biônica. Isso mexe com a questão da onipotência. Deve ser genial saber que se pode coisas além do que normalmente se faz. É uma questão de um novo encanto pela potência e pelo poder. É uma questão de poder ser estrela. Todo mundo nota, percebe. Esses filmes todos fazem tanto sucesso porque cada um se projeta, tem o

desejo de ser super alguma coisa. Eu mesma gostaria de ser super, super, super (Francelina).

Velocidade, força, onipotência, visual marcante. Todos esses elementos se confundem e se configuram na construção minuciosa do exercício de se imaginar, com afã, ser mais e demais, irresistivelmente além de si mesmo e de uma aparência trivial. Mas a revitalização interna do homem requer mais que implantes de micromáquinas, incrustação de chips. Ela se torna cada vez mais viável por meio da manipulação de genes, de curas cromossômicas, com a programação de indivíduos e a produção de clones. Um outro aspecto da mutação corporal que se increve na revolução genética.

A manipulação do código genético reduz o homem a um apanhado de informações contidas na matriz. O que se quer é produzir o corpo perfeito ou apenas ter uma fórmula genética perfeita sem mais corpo nenhum?

Marizete

O imaginário sobre indivíduos perfeitos, criados em laboratórios, não é novo. Remete a um velho sonho da humanidade. Mas na atualidade, a crescente manipulação do código genético aponta caminhos que podem chegar à clonagem humana, com a perspectiva de criação, duplicação e multiplicação de um ser.

Muitos dos entrevistados acreditam que a clonagem deva ser a decisiva etapa de construção do corpo ideal, uma vez que se concentra naquilo que ele tem de mais embrionário: seus genes. É uma técnica que visa atingir o ponto ínfimo no qual tudo pode ser reduzido a uma matriz artificial, a última prótese de informações, a matriz que situa o homem na fronteira entre a materialidade e a imaterialidade.

Trechos dos depoimentos -- a partir das questões “Diante da possibilidade de reprodução em série de seres humanos você encomendaria um filho a um laboratório? Para você é sedutora a possibilidade de ter um filho com características pré-definidas? Quais seriam as vantagens?” -- são agrupados neste capítulo.

O tema da clonagem ainda é recente e pouco conhecido de vários dos depoentes. Na verdade, poucos abordaram a questão e esta é a razão pela qual “as vozes” aqui citadas são de poucos.

01.

Ter filhos com características geneticamente escolhidas, manipuladas e programadas é um sonho que muitos confirmam ter.

Todas as minhas amigas que têm filhos vivem momentos de angústia para saber se a criança vai nascer com o corpo todo certinho. Eu ia usar a palavra perfeito, mas a gente já sabe que a perfeição é apenas ideal. Então, a preocupação é em saber se o bebê vai nascer certinho, com tudo no lugar adequado, sem deficiências. Ok? Então, quando eu penso em ter um filho acho que seria ótimo

poder decidir algumas coisas, algumas características, sem ter que esperar pela decisão nem sempre sábia do acaso, da natureza (Gleciara).

Existe um otimismo que envolve o tema da manipulação das informações genéticas. Um filho programado para não ter doenças, para atender ao padrão ideal de beleza, para crescer vigoroso, ser gentil, educado e um gênio? Não é isso que sempre se sonhou? Então, eu acho que quando for possível as pessoas vão cair em cima. Todo mundo vai querer (Graciliano).

Há quem explique as razões de seu entusiasmo.

Eu vou dizer uma coisa meio doida. Pra começar, eu não entendo bem como é essa história de manipular algumas coisas no corpo da pessoa. Mas eu fico achando que se for para a pessoa ser melhor deve ser uma coisa boa. A coisa doida que eu ia dizer é que fazer uma coisa dessa com um filho pode ser e pode não ser perigoso. É um experimento e a gente tem que ter a coragem de tentar porque se não for assim a gente não sabe nunca como vai ser (Valdirene).

02.

A maioria considera a manipulação genética uma manifestação típica dos nossos tempos. Essa conquista científica atende à necessidade de prever deficiências físicas e predisposições do sujeito para futuras enfermidades.

Vejo um lado muito positivo na manipulação genética. Não vejo nada de errado em alterar genes quando se percebe que alguns deles indicam uma possibilidade de deformidade anatômica ou de doenças que a pessoa vai mais tarde sofrer. Ao contrário. É um bem que a ciência faz para o sujeito, para a família e para a sociedade, que não vão ter que arcar com as consequências de um problema que poderia ter sido tecnicamente sanado (Gleciara).

Esse aspecto terapêutico é sempre visto com simpatia.

Se o cientista percebe de imediato que a pessoa vai ter alguma deficiência física então pode alterar esse fato. Se percebe que a pessoa vai estar mais inclinada a certas doenças, pode mudar isso também. A alteração no código genético é como uma plástica corretiva antecipada. Isso é bom. Eu pelo menos acho. Mas eu quase não estudei isso na faculdade (Teobaldo).

A preocupação com a aparência diante dos implantes e transplantes de micro- máquinas no organismo, como se viu no capítulo anterior, desaparece com a possibilidade

da manipulação dos genes. A razão é que muitos consideram as mudanças físicas provocadas pela programação do código genético como um processo, algo que ainda poderá ser alterada caso o sujeito queira.

Vez em quando eu vejo umas reportagens na televisão e o povo apavorado com essas coisas. Tá bom, o caso não é simples. Mas também não é nenhuma aberração querer um filho com olhos azuis quando a gente sabe ser impossível hereditariamente que ele nasça com essa cor de olhos. Um negro com olhos azuis ou verdes. Tem gente que acha um pandemônio. Eu acho lindo. E programá-lo para isso não é decidir por ele. Pois depois ele pode se reconstruir se não estiver satisfeito. Acho que muitas pessoas se estremecem porque percebem que vão estar decidindo não pelo indivíduo, mas pela natureza. É ela que dança. Mas o homem não diz que quer controlar e dominar a natureza? Sempre disse isso, não foi? Pois então, a engenharia genética é uma forma bem moderna de controle da natureza (Elenilton).

03.

A confecção de uma matriz genética é imaginada como uma colagem de genes e exclusão de outros -- considerados inadequados ou desnecessários -- capazes de assegurar as características que as pessoas desejam. São, portanto, modalidades sutis de implantes e transplantes.

Se for pra ficar mexendo e remexendo nas células, a gente vai ter um corpo como um quebra-cabeças. Tudo vai estar lá disponível e alguém vai montando como quer, fazendo suas próteses, seus enxertos, suas retiradas. Tudo isso pode até ser verdade, mas eu acho muito esquisito e nem sei direito o que eu acho dessa coisa toda. Nunca pensei nisso (Claudionei).

O processo de manipulação não causa repulsa diante de genes que são responsáveis diretamente por traços hereditários. De outro lado, muitas características humanas são reconhecidas como atributos culturais, formas de comportamentos escolhidas e aprendidas. Quando alguns imaginam que talvez seja possível programar traços tipicamente comportamentais certo incômodo se manifesta.

Acho que não se trata apenas de querer alterar detalhes da aparência física, embora já ache isso uma coisa bem boa. Mudar a cor dos olhos, a estatura, o sexo e coisas assim. Se o cientista identifica que aquela célula é responsável por um tipo de comportamento e a pessoa não quer aquilo, também pode escolher

outra. É aqui que o indivíduo vai ser resultado de uma boa escolha de características. Agora, tem muita coisa que a ciência vai ter que resolver em paralelo. Por exemplo, certos aspectos comportamentais, como opção sexual são genéticos e podem ser alterados ou são consequência de uma escolha e aprendizado cultural? (Elenilton).

Nesses casos, a preferência é que a sociedade, com seus meios educativos, continue desempenhando o papel de sugerir, induzir e fomentar os padrões e as regras básicas dos modos de ser.

04.

Ainda no domínio das necessidades existe a compreensão de que a

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