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Para a maioria, as principais vantagens da manipulação genética estão inscritas nas necessidades preventivas, corretivas e curativas Mas alguns entrevistados também

CULTURA BAIANA E CULTO AO CORPO

05. Para a maioria, as principais vantagens da manipulação genética estão inscritas nas necessidades preventivas, corretivas e curativas Mas alguns entrevistados também

encaminham suas análises para o domínio das vaidades.

Acho que tudo que antes era considerado como vaidade hoje já passou para o lado da necessidade. Quando se trata da produção do corpo tudo agora é necessário. Qualquer coisa que retarde o relógio biológico das pessoas não é mais vaidade, é saúde, bem viver, bem-estar (Francelina).

Em um como em outro caso o importante é o reconhecimento de que a programação diretamente nos genes aponta para a concretização de um corpo saudável, belo e vigoroso.

Eu acho, Edvaldo, que esse negócio deve ser assim. Tudo que diz respeito à questão de saúde vai ser programado. Muitos traços da aparência também vão ser. E o que vai acontecer? A pessoa vai estar dentro de um modelo global. Então, eu acredito que a manipulação genética vai solucionar muitos problemas, levantar muitas questões. Mas o homem vai continuar como sempre foi: um eterno insatisfeito consigo mesmo (Lucineide).

Muitos querem se libertar de uma estrutura física consolidada em favor da maleabilidade na qual cada vez mais um maior número de características físicas possa ser intercambiável.

Deve ser engraçado a gente programar um indivíduo do jeito que a gente imagina que é bonito e perfeito. Daí ele cresce e não gosta do resultado. Assim não dá, é preciso uma programação que pode sempre ser mudada, que a gente pode reparar, que a gente possa bulir à vontade (Genivaldo).

Essa expectativa de interferência contínua na matriz genética fragiliza receios de concentração de poder e determinação nas mãos do programador/cientista.

O cara que vai executar a manipulação genética, quando a técnica estiver disponível, será como um arquiteto. A gente quando quer uma casa expõe o desejo e ele desenha a planta. A gente diz como quer o filho e o cara programa (Rubinaldo).

Tudo que a gente não compreende direito a gente exagera e vê pelo lado negativo. Daí a gente passa a viver com medo e acha que é o fim do mundo. Mas não deve ser assim. Eu me acho meio ignorante nesse assunto, mas penso que a ciência é uma coisa séria. Não é uma coisa fuleira. Se eles (os cientistas) estão fazendo isso é porque tão vendo que podem fazer. Pra mim nada é o fim do mundo. O mundo não tem fim. A gente é que se acaba (Antonieta).

06.

Os mais entusiasmados com a técnica de manipulação do código genético são os que já conhecem experiências bem sucedidas de processos híbridos na agricultura.

A gente sabe que muitos profissionais vêm fazendo experiências com o código genético de plantas há muito tempo. Não lembro se antes isso provocou repercussão negativa. Acho que não. O cacau híbrido, que muitos fazendeiros cultivam, um pouco por imposição da Ceplac e do Banco do Brasil, desde a década de 70, é resultado de experiências desse tipo. E o que se tem? Uns grãos maiores, mais pesados. As pessoas se deixaram levar por essa chance. Então eu acho que com os humanos a coisa não vai ter grandes diferenças (Teobaldo). Os entraves desse processo de manipulação dos genes, elaboração de uma matriz e possível clonagem humana estão cada vez menos em limites técnicos. Estes são superados a cada momento. Mas mesmo animados com os avanços tecnocientíficos quase todos destacam problemas éticos como grandes desafios a serem enfrentados pela biotecnologia.

Claro que tem problemas morais aí. Saber se a gente tem o direito de interferir na constituição física do outro. É. Porque até agora quando alguém quer se construir diferente a decisão ou é do médico, em casos de doenças, ou do próprio sujeito, que se deseja de outro modo. Mas com a clonagem alguém vai decidir pelo outro. Esse é um problema sério (Gleciara).

Muitas dificuldades, enfatizam alguns, estão em instituições políticas e religiosas tradicionais.

Não é de hoje que a ciência vem fazendo experiências de manipulação genética com plantas e animais. Muita gente já sabe disso. Muita gente usa resultados disso na agricultura. Bom, se faziam com plantas e animais, não demorariam a chegar no homem, não é mesmo? Por enquanto parece coisa de “Admirável Mundo Novo”, mas um dia acertam mesmo. E o tempo que a ciência vai levar para concretizar isso também vai ser suficiente para acabar um pouco com o medo que setores sociais mais atrasados, como a igreja, vivem. Acho que quando der certo vai ser mesmo admirável (Graciliano).

Há quem preveja uma freada brusca na técnica da clonagem por causa de governos que se rendem às pressões religiosas e regram financiamentos para a pesquisa.

Muita gente de força vai estar esperneando sem sequer saber por que assim estão. Aqui no Brasil vejo isso com clareza. Lembre você que Sarney, quando era presidente, proibiu um filme no país porque um bocado de bispo da Igreja Católica pediu. Acho que muitos governos vão ceder e adiar o desenvolvimento das pesquisas com as pessoas para não comprar briga com a igreja. Daí, ao invés de um problema teremos três: a experiência científica, a Igreja e o governo. Não acho que possa sair coisa boa da confusão entre essas três coisas (Sandoval).

E conclui,

Vai ter muita confusão. Os cientistas vão ter que enfrentar muitas brigas no campo da ética e da religião. A gente ainda anda se debatendo em discussão sobre legalidade de aborto e uso de métodos anticoncepcionais. O Papa anda condenando até o uso da camisinha. Imagine então com a questão da clonagem! Isso vai dar uma reviravolta tamanha no mundo. Maior do que o fato de que a terra não é o centro do universo. Acho que a religião católica deve estar se preparando para uma nova forma de inquisição. Acho que é assim que ela vai enfrentar essas discussões, na brutalidade e ignorância, como sempre fez. Agora é verdade que a questão é complicada. Os problemas jurídicos vão ser imensos, paternidade, herança, etc. Eu não tenho muito mais fôlego para enfrentar essas questões tão polêmicas e muito menos para enfrentar o reacionarismo das pessoas (Sandoval).

07.

A possível elaboração de uma matriz que condense o código genético traz

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