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A Associação Amigos na Cultura, dado seu histórico de atuação e a análise SWOT realizada, apresenta restrições quanto à sua capacidade de captação de recursos, no que se refere ao planejamento para tal atividade, com vistas à sua sustentabilidade. Neste sentido, investigou-se, por meio de pesquisa documental e entrevistas não-estruturadas, quanto ao histórico de mobilização de recursos pela entidade, destacando o quantitativo de recursos arrecadados ao longo dos anos e as respectivas fontes dos financiamentos. Não foi possível identificar informações comprobatórias quanto aos recursos arrecadados no primeiro ano de atividade da ONG, pelo fato de a organização não disponibilizar dados referentes a este período.

Gráfico 16 - Montante de Recursos Financeiros Recebidos entre 2005 e 2014

Fonte: Dados da Pesquisa Elaborado pelo autor

O gráfico acima mostra a evolução da captação de recursos na organização, dividida por quatro categorias de financiamento, a geração de renda própria, como a prestação de serviços ou venda de produtos; fontes privadas, como patrocínios; fontes de recursos públicos, como a execução de convênios e contratos com a administração pública; e doações a qual se refere aos dispêndios financeiros oriundos de pessoas físicas ou jurídicas a favor da causa social.

É possível perceber a expressividade dos recursos financeiros oriundos da iniciativa privada, seja para a execução de eventos ou projetos sociais de curta duração, no entanto é notável a irrelevância dos recursos provenientes da geração de renda própria, bem como das doações, que a partir do ano de 2007 não apresenta aporte financeiro algum. Observa-se ainda que dos anos de 2012 para 2013 há uma inversão quanto ao volume de recursos de natureza privada para o de caráter público. Tal período é marcado pela retirada de investimento de uma importante fonte de recurso privado e o início do convênio com a administração pública federal. Embora os recursos públicos no ano de 2013 representem maior significância em relação aos outros anos, menos de 15% deste recurso poderia ser revertido em custos administrativos para a entidade, o que comprometeu fortemente a sustentabilidade

R$- R$100.000,00 R$200.000,00 R$300.000,00 R$400.000,00 R$500.000,00 R$600.000,00 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

das ações da ONG frente as demandas socais que lhe foram incumbidas de atender. Fato que se repetiu no início do ano de 2014, porém ainda com recursos reduzidos por parte do governo federal. Os recursos da iniciativa privada captados por meio de lei de incentivo à cultura, representaram no início deste ano a complementação necessária para cobrir as despesas operacionais do período, embora tenham sido geradas despesas financeiras em termos de capital de terceiros, que impossibilitaram o superávit desejado para o referido ano.

Percebe-se ainda quanto aos poucos recursos captados nos primeiros anos de atividade da ONG, os quais não ultrapassaram mais do que R$ 60.0000,00. Este quadro pode ser explicado com base em que nos períodos mencionados, a entidade contava com a maioria de seus colaboradores executando suas atividades como voluntários, o que quase não existia despesas relacionadas com pessoal. A partir de 2009, os avanços e o sucesso dos trabalhos pressionaram por maior estabilidade da equipe no planejamento das ações a serem realizadas, o que motivou a organização a contratar parte de seus voluntários e fornecer bolsas de incentivos aos beneficiários que passavam a integrar o quadro da equipe de monitores das aulas dos projetos. Conjuntura que explica o crescimento do volume de recursos financeiros das fontes captadas a partir deste período.

Diante das considerações, fica claro identificar o percentual de recursos total captados desde a fundação na ONG até os dias atuais, separados por categoria de fonte de financiamento, como pode ser visualizado no Gráfico 17.

Gráfico 17 – Porcentagem do Total de Recursos Financeiros por Fonte entre 2005 e 2014

Fonte: Dados da pesquisa Elaborado pelo autor

Verifica-se significativa parcialidade do total de recursos financeiros arrecadados, dividindo-se por fontes de recursos públicas e privadas, enquanto a modalidade que supõe a captação de recursos por meio da geração de renda representa apenas 2,9% do capital e o recebimento de doações abriga seus ínfimos 0,1%, comprovando a ineficácia da organização na mobilização de recursos por meio desta categoria. Nota-se que 54,5% dos investimentos recebidos referem-se aos patrocínios, tanto para eventos, quanto para projetos socioculturais que compreendiam um ano de execução, o que caracteriza, neste quesito, a estabilidade dependente de recursos de fontes homogêneas de financiamento.

Sobre tal panorama, questionou-se aos dirigentes da ONG acerca do porquê dos poucos recursos captados através da prestação de serviços e doações. Em resposta, foi afirmado que o pouco reconhecimento da ONG na região somado a falta de profissionalismo representavam dificuldades para estruturar cartela de serviços possíveis que a entidade podia oferecer e explicaram que o amadurecimento de tal

2,9%

54,5% 42,5%

0,1%

prática veio à tona somente no ano de 2013, período de crise financeira, que forçou a tomada de medidas para conquista de maior autonomia, viabilizadas pelo ganho de legitimidade decorrente da execução do projeto realizado em convênio com o governo federal. No que se refere ao recebimento de doações, declararam o desinteresse pela realização dos pedidos pelo fato das ações da organização serem, ao longo dos anos de sua existência, excetuando-se nos três primeiros anos, orientadas pelos orçamentos para a execução dos projetos e atividades que recebiam o respectivo patrocínio.

Observou-se, frente ao contexto da mobilização de recursos na Amigos na Cultura, que os recebimentos de recursos oriundos da iniciativa privada, geraram certa acomodação de suas ações de captação, criando a dependência não só de apenas um tipo de fonte, mas ainda de somente um ou no máximo dois patrocinadores por ano. Situação essa que comprometeu e ainda coloca em risco a sustentabilidade das ações da organização em atendimento às demandas sociais, somado também à baixa autonomia na execução dos projetos que estabelecem relação direta com sua missão e visão organizacional, como é relacionado com as considerações dos autores Cruz & Estraviz (2000), Abumansur & Hardwick e Silva (2002). Nesse sentido, esclarece- se que as doações e a geração de renda, como é argumentado pelos autores como importantes elementos da sustentabilidade financeira de ONGs, não representou o foco na mobilização de recursos para a referida instituição ao longo de suas ações. A dispensa da obtenção de recursos por tais categorias de financiamento ocorreu-se pelo fato de a organização ter estruturado seu planejamento estratégico em torno dos recursos recebidos ano a ano, sem obter o efetivo alinhamento com as ações e situação financeira a longo prazo. A gestão financeira pouco estruturada, assim como visto na análise interna da organização, acabou por agravar tal conjuntura, impossibilitando a tomada de decisão por parte de seus gestores quanto às reais despesas que os projetos geravam, visto que não havia a projeção de gastos futuros.

Diagnosticou-se, portanto, que a Associação Amigos na Cultura, dado seu histórico na captação de recursos financeiros, não adotou medidas quanto ao seu planejamento estratégico voltado para a sua sustentabilidade, executando suas ações com visão de curto prazo, acomodando-se nos investimentos oriundos da iniciativa privada e poder público, além da dependência de um único financiador. Circunstâncias que, ao longo dos 10 anos de existência da organização, colocou em risco o impacto

que a mesma tem na diminuição das mazelas sociais existentes. Afirmação que foi traduzida nos gráficos que apresentaram a evolução da captação de recursos na ONG, considerando as categorias de financiamento e a porcentagem do total arrecadado por meio de cada uma delas. Informações que responderam ainda os resultados do ambiente estratégico em que a organização está inserida somada à maturidade gradual da capacidade de gestão de seus dirigentes.

Considerando as observações realizadas no referido caso, as quais elucidam a necessidade de ferramentas de gestão capazes de sistematizar os procedimentos para a captação de recursos, visando a sustentabilidade da ONG, propõe-se a construção de um Plano de Mobilização de Recursos, tendo em vista o ambiente estratégico da organização, o qual compõe a análise e discussão dos resultados deste estudo, assunto para o próximo capítulo.

5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo é apresentada a análise e discussão dos resultados coletados por meio do estudo da Associação Amigos na Cultura, direcionadas à construção do Plano de Mobilização de Recursos para a organização, visando a sustentabilidade de suas ações sociais.