Capítulo 4 – Propriedades dos filmes finos de óxido de índio e zinco
4.7. Propriedades ópticas
4.7.7. Modelação óptica
A modelação óptica foi utilizada com vista a determinar diversas propriedades dos filmes que não foram possíveis de determinar pelas medidas de espectroscopia óptica apresentadas anteriormente, de que são exemplo o índice de refracção n ou o coeficiente de extinção k, assim como outras propriedades, como a massa efectiva (m*) ou a frequência de plasma (p). Para tal, foi
considerado um modelo semelhante ao apresentado na Figura 4.38 (a) tendo a função dieléctrica sido modelada através do modelo de Drude associado ao modelo de Tauc Lorentz, ambos amplamente utilizados na modelação de TCOs.[124] Assim, a função dieléctrica dos filmes pode ser descrita através da seguinte expressão:
(4.4)
onde TL(E) e D(E) representam, respectivamente, a função dieléctrica calculada pelo modelo de Tauc Lorentz e de Drude. (Figura 4.38(b)) No que diz respeito ao modelo de Tauc Lorentz podem
ser obtidos diversos parâmetros, como o hiato óptico (ETL), a amplitude (ATL), o factor de ampliação (CTL) e a energia de pico de transição (E0).
Figura 4.38 (a) Modelo óptico utilizado para os filmes de IZO onde db,ds e dsub representam respectivamente a
espessura da camada de rugosidade, do filme de IZO e do substrato; (b) espectro obtido por elipsometria e respectivo ajuste para os filmes de IZO (%In=83 %, %O2=0,65 %; Pdep=0,20 Pa Prf=1,65 W cm
-2
). Apesar de o modelo de Tauc Lorentz ser essencial para a modelação das propriedades ópticas na região de baixo comprimento de onda, optou-se apenas pela análise da região do IVP onde a função dieléctrica é principalmente descrita pelo modelo de Drude dado por:
Γ (4.5)
onde AD e D representam a amplitude e o factor de ampliação. Sendo que pela teoria de Drude AD
se encontra relacionado com a energia de plasma (Ep) e pode ser descrito por:
(4.6)
∗ (4.7)
Sendo que se refere à constante de Planck reduzida, p à frequência angular de plasma,
q à carga do electrão, Nopt à concentração de portadores óptica,∞ a constante dieléctrica de alta
frequência e 0 a permissividade do vácuo. Por sua vez, o D pode ser descrito por:
onde a representa o factor de ampliação da frequência angular e opt a mobilidade óptica.
Na Figura 4.38 (b) encontra-se representado o espectro obtido e simulado para os filmes de IZO (depositados com %In=83 %, %O2=0,65 %, Pdep=0,20 Pa e Prf=1,65 W cm-2), onde é possível
verificar-se que o modelo proposto apresenta um excelente ajuste aos resultados experimentais, como aliás se pode confirmar pelo baixo valor de 2
apresentado na Tabela 4.1.
Tabela 4.1 Parâmetros extraídos da modelação da função dieléctrica para o filme de IZO depositados com
%In=83%, %O2=0,65 % Pdep=0,20 Pa e Prf=1,65 W cm-2. Parâmetro Valor db (nm) 0,29 ds (nm) 205 dsub (mm) 1,10 ATL(eV) 117,57 CTL (eV) 5,24 ETL (eV) 2,85 E0 (eV) 3,77 AD (eV) 1,36 D (eV) 7,80x10 -2 2 1,81 Ep (eV) 0,58 N (cm-3) 3,13x1020 H (cm 2 V-1 s-1) 44,80
Na Figura 4.39 encontra-se representada a variação do coeficiente de absorção (n) e do coeficiente de extinção (k) para os filmes de IZO depositados com diferentes %In (Figura 4.39 (a)) e diferentes %O2 (Figura 4.39 (b)) em função do comprimento de onda. O n calculado na região do
visível (400-800 nm) apresenta um valor compreendido entre os 2,00 e os 2,20, que se encontra na gama de valores reportados por outros autores para filmes de IZO depositados em diferentes condições.[44, 45, 53] Para comprimentos de onda mais elevados (>800 nm) verifica-se um decréscimo acentuado de n, que se encontra relacionado com a variação dos parâmetros de deposição estudados. Com o aumento da %In ou com a diminuição da %O2 observa-se uma redução mais
marcada de n, e para comprimentos de onda mais baixos. Como visto na caracterização eléctrica (ponto 4.5), o aumento da %In e a diminuição da %O2 resultam num incremento de N dos filmes,
pelo que a diminuição de n pode estar relacionada com este incremento. De facto, observando-se o comportamento de k verifica-se que também existe uma relação com a %In e a %O2. Com o
aumento da %In ou a diminuição da %O2, (ou seja maior N) verifica-se uma diminuição do
onda mais baixos quando a concentração de portadores livres aumenta, o que se encontra de acordo com o modelo de Drude considerado.[53] Para baixos comprimentos de onda (<400 nm) também se verifica um aumento de k que corresponde à absorção do material. Apesar das diferenças serem menos evidentes, observa-se um deslocamento para comprimentos de onda mais baixos desse aumento de k com o incremento da %In e a diminuição da %O2. Ou seja, com o
aumento da N a absorção dos filmes dá-se para comprimentos de onda mais baixos, o que está de acordo com o incremento do Eopt observado nos pontos 4.7.1 e 4.7.2, e compatível com o efeito de
Burstein-Moss.[124, 125]
Figura 4.39 Influência dos parâmetros de deposição (%In e %O2) no n e no k dos filmes de IZO obtidos com
diferentes (a) %In; (b) %O2.
Através dos parâmetros apresentados Tabela 4.1 e utilizando-se as equações 4.7 e 4.8 é possível serem determinados diferentes parâmetros eléctricos dos filmes de IZO. Um dos parâmetros que pode ser calculado através da equação 4.7 é a m* dos filmes. Assim, considerando- se Nopt=N e ∞=4 foi possível determinar-se a m* em 0,32m0 para os filmes IZO depositados nas
condições apresentadas. Este valor encontra-se dentro da gama de valores típicos encontrados para a m* de diferentes TCOs.[124, 126] Marcel et al. [96] reportaram um valor semelhante (m*≈0,30m0)
em filmes de IZO utilizando um modelo da função dieléctrica constituído pelos modelos de Tauc Lorentz e Drude. Por forma a verificar a validade do modelo proposto foram comparados os valores de Nopt e opt, determinados através das equações 4.7 e 4.8 utilizando-se os parâmetros obtidos pelo
modelo (AD e D), com os obtidos por efeito de Hall (N e H). Na Figura 4.40 (a) encontra-se
representado o comparativo entre o Nopt e o N para os filmes de IZO obtidos com as diferentes %In e
%O2. Em termos gerais a tendência observada para o Nopt encontra-se de acordo com a variação de
N. Todavia para N>4x1020 cm-3 verifica-se que os valores obtidos para o Nopt são significativamente inferiores aos obtidos por efeito de Hall. A principal razão para esta diferença deve-se à consideração neste modelo que a m* e a ∞ se mantêm constantes com a N. Diversos autores
sugerem que estes parâmetros variam com a N, justificando assim a diferença dos valores encontrados.[112, 113, 124, 127] No que se refere à opt, (Figura 4.40 (b)) verifica-se que existe uma boa
relação entre os valores calculados e os obtidos por efeito de Hall. As únicas excepções encontram- se nos filmes depositados com uma %In=50 % e uma %O2 = 3,05 % (com a menor N) onde a opt
apresenta valores muito elevados. Observando-se a Figura 4.39 verifica-se para os filmes depositados nestas condições que o valor de k se mantém praticamente nulo, isto é, não existe absorção pelos portadores livres. Apesar de existir um excelente ajuste do modelo aos resultados experimentais, os parâmetros obtidos, nomeadamente D, não apresentam um valor coerente
(D~10 -3
eV) pelo que o modelo proposto não deverá ser utilizado para filmes depositados nestas condições.
Figura 4.40 (a) Relação entre o Nopt obtido por elipsometria e o N obtido por efeito de Hall; (b) relação da opt
obtida por elipsometria e a H obtida por efeito de Hall. Em ambos os casos foram utilizados os filmes de IZO
depositados com diferentes %In e %O2. (As linhas a tracejado são uma guia para os olhos.)