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ESQUEMA E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

II. INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA E SOCIAL NA INFECÇÃO PELO HIV/SIDA

2.4 MODELOS DESENVOLVIDOS ESPECIFICAMENTE PARA O HIV/SIDA

2.4.2 Modelo Informativo-Motivacional-Comportamental na Redução do Risco da SIDA (IMC)

Um outro modelo, desenvolvido com vista a tomar em consideração a especificidade do HIV/SIDA, trata-se do modelo informativo-motivacional- comportamental na redução dos riscos da SIDA (IMC) de Fisher e Fisher (1992).

De acordo com os autores do IMC, o modelo anteriormente referido (MRRS) preocupa-se mais em clarificar os patamares da mudança (os vários estádios) do que em especificar os processos envolvidos para alcançar tais patamares. Além disto, o modelo apresenta uma série de factores que tanto podem afectar um estádio específico como mais de um estádio, característica que o torna potencialmente pouco parcimonioso, relativamente complexo de testar ou um guia difícil para a concepção de intervenções específicas com vista à redução do risco de infecção pelo HIV/SIDA (Fisher et al., 1994).

Em face destas e de outras limitações e com base numa extensa revisão de literatura sobre as intervenções para a redução do risco de infecção pelo HIV/SIDA, Fisher e Fisher (1992) desenvolveram um modelo específico para a redução do risco colocado por esta infecção. O modelo foi proposto para ultrapassar quer dificuldades relacionadas com a ausência de modelos formais enquanto guia para as intervenções, quer problemas de adaptação dos vários elementos a grupos específicos. Pretendeu ultrapassar-se o hábito de eleger comportamentos muito gerais para a intervenção, centrada primordialmente na informação e em que se descuravam elementos motivacionais e comportamentais importantes para a mudança de comportamento (Fisher e Fisher, 1993, 1996).

De acordo com o modelo, a redução do risco do HIV/SIDA depende da informação que as pessoas detêm sobre a transmissão e prevenção da doença, da sua motivação para reduzir o risco associado a esta doença e das competências comportamentais de que dispõem para desempenharem actos específicos envolvidos na redução do risco da SIDA (Fisher e Fisher, 1992) (Figura 2.7).

Embora o impacte do conhecimento na prevenção se tenha mostrado reduzido (Abraham e Sheeran, 1993; Coleman e Ford, 1996; Ross e Rosser, 1989), a

possibilidade de explicações conceptuais para tal relação, nomeadamente, o carácter mais complexo dos comportamentos preventivos envolvidos na redução do risco do HIV/SIDA, levaram os autores a considerar a informação uma condição necessária, mas não suficiente para a mudança do comportamento, devendo esta informação envolver conhecimento específico relativo aos meios de transmissão e prevenção face ao HIV/SIDA.

Figura 2.7 Modelo Informativo-Motivacional-Comportamental na Redução dos Riscos da SIDA (Adaptado de Fisher e Fisher, 1992)

No entanto, mesmo uma pessoa bem informada e com competências comportamentais tem de estar bastante motivada para iniciar e manter os comportamentos preventivos. Da revisão de literatura realizada, os autores concluem que a motivação envolvida é de natureza pessoal e social, o que equivale a afirmar não só o envolvimento de atitudes e normas subjectivas, mas também serem estes factores que mais influenciam a motivação para a protecção, sendo os elementos da teoria da acção ponderada adoptados para a compreensão da motivação no IMC (Fisher e Fisher, 1992, 1993). Mais tarde, os autores acrescentaram a percepção de vulnerabilidade, os custos e benefícios dos comportamentos preventivos e o tipo de parceiro ao conjunto de factores motivacionais responsáveis pela intenção de adoptar o comportamento protector (Fisher et al., 1994).

Informação Sobre Redução do Risco da Sida Motivação para Redução do Risco da Sida Competências Comportamentais para Redução do Risco da Sida

Comportamento Preventivo da SIDA

Para além da informação sobre o risco e da motivação para lidar com ele, certas competências comportamentais, sejam elas objectivas como as competências para comunicar e ser assertivo com um potencial parceiro sexual, sejam mais subjectivas e relacionadas com a percepção de auto-eficácia ou com a crença na sua capacidade para as utilizar, são essenciais para levar à prática a prevenção do HIV/SIDA.

De acordo com o modelo, o comportamento preventivo é afectado pela (1) informação e pela (2) motivação – ambos factores independentes -, através do impacte que estas têm nas (3) competências comportamentais, embora nalguns casos estes factores possam afectar directamente o comportamento preventivo quando não estão em causa comportamentos novos ou complexos (e.g., a informação pode afectar directamente o comportamento preventivo quando a pessoa adopta preservativos de látex ao tomar conhecimento de que estes são mais seguros na prevenção da transmissão do vírus do que os preservativos de poliuretano). Importa notar que o modelo não é o único a referir-se à importância destes três determinantes no contexto da prevenção do HIV/SIDA, mas foi o primeiro a especificar e a testar empiricamente a relação entre os vários factores (Fisher e Fisher, 1992, 1996).

As relações teorizadas entre os vários elementos do modelo foram testadas empiricamente com uma série de populações de estudantes universitários, indivíduos homossexuais e estudantes do ensino secundário. Nos primeiros estudos prospectivos com duas populações diferentes de estudantes universitários e de homossexuais, encontraram-se as relações esperadas entre informação, motivação, competências comportamentais e o comportamento preventivo (Fisher e Fisher, 1992; Fisher et al., 1994). Intervenções baseadas no IMC com estudantes universitários e realizadas pelos autores revelaram aumentos na informação, na motivação ou intenção para se envolverem nos comportamentos preventivos e nos níveis percebidos pelos próprios acerca das competências necessárias à prática do comportamento preventivo, bem como nas suas percepções de auto-eficácia. As intervenções conduziram ainda a um aumento na acessibilidade aos preservativos e na utilização do preservativo durante as relações sexuais, a curto e a longo prazo (Fisher e Fisher, 1996; Fisher, Fisher, Misovich, Kimble e Malloy, 1996). Continuam a encontrar-se efeitos benéficos no sexo seguro de intervenções baseadas neste modelo (Carey et al., 2000).

A defesa da parcimónia do IMC talvez tenha conduzido a que alguns dos factores considerados e que se mostram específicos à utilização do preservativo, como seja o tipo de relacionamento que se tem com o parceiro, não tenham sido explorados na maioria dos estudos divulgados pelos autores. Apesar de ser um modelo onde são incluídas algumas variáveis inicialmente consideradas ateóricas, acaba por não as explorar nos estudos realizados, não permitindo que se retirem conclusões no contexto do modelo.

Têm sido desenvolvidos, igualmente, outros modelos de prevenção face a esta infecção relativos à utilização do preservativo e/ou ao número de parceiros (Basen- Engquist e Parcel, 1992; Bryan et al., 1996, 1997; Goldman e Harlow, 1993; Wulfert e Wan, 1993), mas as variáveis exploradas não se revelam inovadoras e as propostas constituem habitualmente reorganizações ou conjugações de variáveis propostas nas teorias e modelos tradicionais da psicologia social atrás referidos. A percepção de auto-eficácia ganha proeminência nalgumas propostas (Wulfert e Wan, 1993), é coadjuvada noutras pelas atitudes e normas (Basen-Enquist e Parcel, 1992), pelo risco percebido e pela percepção de controlo (Goldman e Harlow, 1993) e integrada com atitudes afectivas, percepção de susceptibilidade, gravidade e benefícios noutros modelos (Bryan et al., 1996, 1997). Em termos gerais, revelam-se modelos com alguma capacidade preditora, embora não tenham sido desde então suficientemente utilizados e testados. Pelo facto de omitirem variáveis menos previsíveis, mas que se vieram a revelar importantes para a utilização do preservativo, foram preteridos na presente exploração sobre os principais modelos teóricos desenvolvidos para o HIV/SIDA.

2.4.3 Principais Limitações dos Modelos Desenvolvidos