Existem diversos tipos de modelos (e.g. físicos, mentais e simbólicos) para representar a realidade em estudo, mas é necessário que os modelos formalizem, de forma concisa e sem ambigüidades, os conhecimentos relacionados a esta realidade, para que possam ser processados em computador (GUASCH et al., 2002).
Os modelos simbólicos matemáticos mapeiam as relações existentes entre as propriedades físicas do sistema que se pretende modelar em suas estruturas matemáticas correspondentes. Apesar da existência de diversas metodologias para se modelar, existe um conjunto de consideração das quais se deve tomar conta para preservar uma representação fiel da realidade (GUASCH et al., 2002).
Um modelo se desenvolve para uma finalidade específica, devendo ser formulado a partir de uma série de aproximações e hipóteses, conseqüentemente representando apenas parcialmente a realidade (GUASCH et al., 2002).
Dessa forma, um bom modelo deve representar adequadamente as características da realidade de interesse e ser uma representação abstrata e suficientemente simples para facilitar sua manutenção, adaptação e reutilização (GUASCH et al., 2002).
Apesar da vasta literatura concernente aos antecedentes à resistência a sistemas de informação, percebe-se a necessidade de realizar estudos que comprovem a aderência dos modelos propostos a dados reais, por abordagens empíricas quantitativas (KIM; KANKANHALLI, 2009).
Neste contexto, baseado no modelo apresentado por Markus (1983) e nos conhecimentos gerados por Hirschheim e Newman (1988), Joshi (1991), Martinko, Henry e Zmud (1996),
Lapointe e Rivard (2005), Joia (2007) e Gaete (2010), elaborou-se um meta-modelo identificando os fatores antecedentes à resistência a sistemas de informação (Figura 1).
Figura 1 – Meta-Modelo Teórico
Fonte: O autor, com base em Gaete (2010), Markus (1983), Joia (2007), Joshi (1991), Martinko, Henry e Zmud (1996), Lapointe e Rivard (2005), e Hirschheim e Newman (1988).
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O fator Pessoas, apresentado no modelo, refere-se às características dos indivíduos como potenciais antecedentes à resistência ao uso de sistemas de informação (MARKUS, 1983; HIRSCHHEIM; NEWMAN, 1988; LAPOINTE; RIVARD, 2005), sendo, na visão de Martinko, Henry e Zmud (1996), influenciadas por experiências negativas em processos de implantação de sistemas. Face ao exposto desenvolveu-se a seguinte hipótese:
H1: O fator Pessoas apresenta um efeito positivo sobre a resistência a sistemas ERP.
Concernente ao fator Sistemas, Markus (1983), Hirschheim e Newman (1988), Joia (2004), Lapointe e Rivard (2005) e Gaete (2010), identificaram características dos sistemas – e.g. desempenho do sistema e a adaptação de suas características ao usuário – como possíveis causas de resistência. A partir de tal definição originou-se a segunda hipótese do presente trabalho:
H2: O fator Sistemas está positivamente relacionado à resistência a sistemas ERP.
Por fim, o terceiro fator componente do modelo faz alusão ao fator Interação, definido como a interação entre o sistema e as características pessoais e organizacionais do contexto onde o sistema encontra-se inserido, representado por meio de duas variantes: variante Sócio-Técnico e variante Poder e Política19 (MARKUS, 1983; HIRSCHHEIM; NEWMAN, 1988; JOSHI, 1991; JOIA, 2004; GAETE, 2010). Conhecendo a possibilidade de tal interação anteceder a resistência a sistemas de informação, gerou-se mais uma hipótese de pesquisa:
H3: O fator Interação está positivamente relacionado à resistência a sistemas ERP.
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A compreensão dos fatores Socio-Técnico e Poder e Política, inicialmente desenvolvido por Markus (1983), foi ampliada por Lapointe e Rivard (2005) e Joshi (1991), respectivamente, conforme apresentado na seção 3.2 (Fatores Antecedentes à Resistência a Sistemas de Informação).
Conforme recomendado por Guasch et al. (2002), foram desenvolvidas a partir do referencial teórico três hipóteses de pesquisa, representadas por um meta-modelo (Figura 1), explicando a relação entre os fatores Pessoas, Sistemas e Interação e a percepção de resistência a sistemas ERP.
Como os fatores não são diretamente observáveis, foram elaborados, a partir do referencial teórico apresentado, 25 indicadores20 para mensurar cada fator do modelo. Para os fatores Pessoas, Sistemas, Sócio-Técnico, Poder e Política, e Resistência foram elaborados os indicadores relacionados no Quadro 2.
Após o desenvolvimento do meta-modelo, definiram-se, no capítulo 5, os procedimentos metodológicos da pesquisa realizada. Os indicadores e sua importância serão apresentados nas seções 5.2 (Procedimentos Estatísticos da Pesquisa) e 5.4 (Coleta de Dados).
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Quadro 2 – Fatores do Modelo e seus Respectivos Indicadores
Fator Indicadores Nome
Pessoas H1
A experiência anterior dos usuários, com este ou outros
sistemas semelhantes, ajudou no processo de implantação. pessoas1 Os usuários buscam conhecer os recursos disponíveis no
sistema de forma a descobrir novas maneiras de melhorar o trabalho do dia a dia.
pessoas2 De uma forma geral, os usuários gostam de tecnologia, de
conhecer o que há de novo e de incorporar as novidades tecnológicas as suas rotinas no trabalho.
pessoas3 O sistema facilitou a vida dos seus usuários no dia a dia. pessoas4 Considero que os usuários, de uma forma geral, se sentiram
ameaçados com a chegada do novo sistema. pessoas5 Os usuários melhoraram a sua produtividade com o uso do
sistema. pessoas6
Considero que foi necessário muito treinamento e persuasão para que os usuários aprendessem a utilizar o sistema corretamente.
pessoas7 Considero que o sistema trouxe ou trará mudança de status
para alguns grupos dentro da empresa. pessoas8
Sistemas H2
O sistema foi tecnicamente bem projetado. sistemas1 A interface do sistema é simples e fácil de usar. sistemas2 Os recursos do sistema atendem às necessidades dos usuários e
da empresa. sistemas3
O sistema é rápido, tem boa performance. sistemas4 O sistema possui relatórios e consultas adequados e suficientes. sistemas5 O sistema é flexível e se adapta com facilidade às mudanças do
negócio. sistemas6
A maior parte dos recursos existentes no sistema atende a forma de trabalhar da minha empresa e é aderente às nossas necessidades.
sistemas7
Interação Sócio-técnica
H3
Considero que nossos processos se adequaram bem ao formato do ERP, não sendo necessário um grande esforço de
redefinição de processos para que o sistema pudesse ser implantado.
soctec1 Apesar da implantação do sistema, o "jeito" de trabalhar
continuou o mesmo. soctec2
Considero que houve uma redistribuição de responsabilidades e de trabalho na organização com a entrada em operação do sistema.
soctec3
Interação Poder e Política
H3
A entrada em operação do sistema ocasionou uma
redistribuição de poder na organização. poderpo1 Considero que politicamente um indivíduo ou grupo tenha se
consolidado ou despontado com a implantação do sistema. poderpo2 Considero que ocorreram disputas políticas internas que
tenham dificultado a implantação do sistema. poderpo3 Fonte: O autor, com base em Gaete (2010), Markus (1983), Joia (2007), Joshi (1991), Martinko, Henry e Zmud (1996), Lapointe e Rivard (2005), e Hirschheim e Newman (1988).