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2.2 GOVERNANÇA CORPORATIVA

2.2.2 Modelos de governança no mundo

Leal e Camuri (2008) destacam que há cinco modelos clássicos de governança corporativa no mundo: (i) o anglo-saxão, que está presente nos Estados Unidos e no Reino Unido; (ii) o alemão; (iii) o japonês; (iv) o latino-europeu, em países como a França e Itália, e; (v) o latino-americano, que é o modelo das empresas brasileiras.

No modelo anglo-saxão, a estrutura da propriedade é difusa, há uma clara separação entre a propriedade e o controle dessa propriedade (gestão), os gestores dominam os conselhos de administração, o que torna os acionistas relativamente fracos em comparação aos executivos. Nessa forma de governança, o conflito de agência ocorre entre os acionistas e os executivos (HITT; IRELAND; HOSKISON, 2008).

A adoção das melhores práticas de governança corporativa pelos países que adotam o modelo anglo-saxão é resultante de forças externas que se mobilizaram para prevenir os conflitos de agência gerados e as ações para monitorar os gestores e bloquear as práticas de gestão que contrariam o interesse dos acionistas (ROSSETTI; ANDRADE, 2011).

Leal e Camuri (2008) consideram que no modelo anglo-saxão o mercado de capitais é a principal fonte de recursos para as organizações. Cumpre mencionar ainda que, nesse modelo, as empresas são cotadas também pelo critério de governança corporativa, motivo pelo qual as práticas de governabilidade devem ser realizadas com cuidado, gerando resultados significativos. Rossetti e Andrade (2011) informam que esse modelo é fortemente orientado para o mercado, além de outros controles externos relevantes, como a estrutura regulatória dos acionistas.

O modelo alemão tem características diferentes do modelo anglo-saxão, tendo em vista que, na Alemanha, o objetivo primordial das empresas é o equilíbrio entre os interesses dos stakeholders, ao invés da maximização da riqueza dos acionistas. Os bancos são a base da estrutura de governança corporativa e há uma gestão coletiva das empresas, onde o proprietário e o gestor podem ser a mesma pessoa (SILVEIRA, 2002; HITT; IRELAND; HOSKISON, 2008).

Rossetti e Andrade (2011) destacam ainda que a alternativa de alavancagem de negócios mais praticada no modelo alemão ocorre por meio dos exigíveis de longo prazo, o que resulta na presença dos bancos na estrutura de controle e nos órgãos corporativos de administração das empresas.

Ressalta-se também que, em empresas com mais de 2.000 empregados, metade dos membros do conselho supervisor deve ser composto por representantes dos empregados e

dentre as diversas atribuições desse conselho, está a prerrogativa de nomear os membros do conselho de administração (SILVEIRA, 2002; HITT; IRELAND; HOSKISON, 2008).

Da mesma forma que o modelo alemão, os bancos são os principais financiadores no modelo japonês, provendo orientação financeira, informações e diretrizes estratégicas de negócios (LEAL; CAMURI, 2008). Outra característica semelhante entre os modelos alemão e japonês é o equilíbrio dos interesses dos stakeholders, contudo, no Japão também há a preocupação pela garantia do emprego vitalício para os funcionários. O conselho de administração no Japão é composto apenas por executivos da companhia. Há também a existência do keiretsus, que são uma espécie de conselhos formados por mais de 20 membros, que podem ser interpretados como um grupo de empresas associadas que têm interesse pela posse cruzada de ações (SILVEIRA, 2002; HITT; IRELAND; HOSKISON, 2008; LEAL; CAMURI, 2008).

No modelo japonês, o conselho de administração tem funções mais de observação, aconselhamento de grandes decisões e acompanhamento dos resultados corporativos, do que de intervenção. A governança do modelo japonês busca a segurança de longo prazo, fundamentada na atenção que a organização afirma a diversos grupos de interesses (ROSSETTI; ANDRADE, 2011).

No modelo latino-europeu, a principal característica é a união de empresas de grandes grupos familiares e de empresas estatais. Dessa forma, o conflito de agência existente é a expropriação, e o controle acionário é concentrado, evidenciando a sobreposição da propriedade e da gestão, o que reduz conflitos, pois reflete na composição dos conselhos de administração e as regras de seus funcionamentos (LEAL; CAMURI, 2008).

No modelo latino-americano, o conflito de agência existente ocorre entre acionistas majoritários e minoritários. A composição do conselho de administração é influenciada pela relação propriedade-gestão, tendo em vista que a maioria dos membros desse conselho está associada aos controladores por vínculos familiares (LEAL; CAMURI, 2008).

No Brasil, a estrutura de propriedade é bastante concentrada, há uma sobreposição entre propriedade e gestão. No modelo latino-americano, existe um acionista controlador, que atua como gerente ou que indica uma pessoa de sua confiança para o exercício da função, além do alto nível de utilização de ações sem direito a voto - preferenciais (SILVEIRA, 2004).

Nas empresas brasileiras, não há reconhecimento dos interesses dos acionistas minoritários, sendo esses pouco ativos. Há pouca clareza na divisão dos papéis

conselho/diretoria executiva, principalmente nas empresas familiares e a maioria dos conselheiros é externo, porém não é independente (SILVEIRA, 2004).

Rossetti e Andrade (2011) destacam também que no Brasil a proteção legal aos minoritários é fraca, a participação acionária é especulativa e oscilante, os conselhos de administração, apesar de evidências de tendência para maior efetividade, ainda têm baixa eficácia e as forças internas são as forças de controle mais atuantes. Dessa forma, a governança corporativa ainda está em evolução, tendo em vista as características estruturais do mundo corporativo brasileiro.

O Quadro 3 exibe os modelos clássicos de governança corporativa existentes no mundo.

Quadro 3 – Modelos de governança corporativa no mundo

Características

/ Modelo Anglo-saxão Alemão Japonês

Latino-

europeu Latino-americano

Estrutura da

propriedade Disperso Concentrado Concentrado Concentrado Concentrado Concentração

de propriedade Não há Bancos Bancos Governo

Maximização dos lucros Foco nos resultados Maximização do lucro do acionista Equilíbrio dos interesses dos Stakeholders Equilíbrio dos interesses dos Stakeholders Equilíbrio dos interesses dos Stakeholders Maximização dos lucros

Poder decisório Executivo

Acionistas majoritários (Bancos) Acionistas majoritários (Bancos) Conselhos de Administração e Gestão Acionistas majoritários (ações ordinárias) Mercado de

capitais Desenvolvido Incipiente Incipiente Incipiente

Em desenvolvimento (negociação de ações preferenciais) Conflito de agência Executivos x

Acionistas Não há Não há

Acionistas majoritários x acionistas minoritários Acionistas majoritários x acionistas minoritários Fonte: Adaptado de Silveira (2002), Hitt; Ireland; Hoskison (2008) e Rossetti e Andrade (2011).

Destacados os modelos clássicos de governança no mundo, discute-se sobre governança em incubadoras de empresas, parques tecnológicos e redes de incubadoras, foco desta investigação.

2.2.3 Governança em incubadoras de empresas, parques tecnológicos e redes de