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O conceito de redes expõe diversos significados, pois é empregado, desde sua origem, na década de 30, por pesquisadores das diferentes áreas das Ciências Sociais. O conceito de redes é utilizado pelas áreas da psicologia, da antropologia, sendo aplicada também no âmbito das organizações, e, mais recentemente, pela ciência política (MIGUELETTO, 2001).

Balestrin (2005) evidencia sete abordagens teóricas sobre redes, conforme se observa no Quadro 1.

Quadro 1 – Síntese das perspectivas teóricas sobre redes analisadas por Balestrin (2005)

Perspectivas teóricas Potenciais contribuições para o entendimento das redes

Economia industrial Identificou diferentes classes de custos de produção, tais como economias de escala, escopo e especialização, como variáveis explicativas da eficiência das redes

Abordagem estratégica Destacou a configuração por meio de redes interorganizacionais como um fator altamente estratégico no alcance e na manutenção de vantagens competitivas Dependência de

recursos

Salientou que um dos fortes condicionantes da formação das redes interorganizacionais é o compartilhamento de recursos tangíveis e intangíveis Redes sociais Evidenciou que a posição dos atores em uma rede influencia a organização de seus

membros e as inter-relações junto à rede Marxistas e críticas

Questionou o argumento da eficiência na formação das redes e destacou que as redes são formadas por representarem poderosos instrumentos na formação de elites e classes dominantes, bem como o exercício do poder e da dominação

Custos de transação Considerou as redes como ótimas formas de reduzir a incerteza, o risco e a ineficiência das transações da empresa com seu ambiente econômico

Abordagem institucional

Constatou que as organizações buscam ganhar legitimidade no momento de pertencerem a uma determinada rede

Fonte: Balestrin (2005, p. 26).

Balestrin (2005) complementa que, mesmo não havendo unanimidade no campo dos estudos acadêmicos, as diversidades teóricas devem ser vistas como complementares para o estudo das redes. Tal visão é fundamentada, tendo em vista que a geração da rede é motivada por múltiplos fatores. Logo, a utilização de uma única perspectiva teórica limitaria o estudo desse complexo fenômeno.

Dessa forma, são apresentados diversos conceitos sobre redes, com vistas a ampliar o entendimento sobre referido tema. Verchoore Filho (2006) comenta que o propósito principal da rede é reunir os atributos organizacionais que permitam uma adaptação ao ambiente competitivo, sustentada por ações uniformizadas, que permita ganhos de escala pela união. Logo, redes são compostas por um grupo de empresas com objetivos comuns, que estão formalmente relacionadas e têm prazo ilimitado de existência. Cada membro mantém sua individualidade, participa das decisões e divide com os demais os benefícios alcançados pelos esforços coletivos (VERCHOORE FILHO, 2006).

Podolny e Page (1998) conceituam rede como uma coleção de dois ou mais atores, que estabelecem relações de troca contínua, mas que ao mesmo tempo carecem de autoridade e legitimidade para atribuir e resolver conflitos que possam ocorrem durante essa troca.

Nessa perspectiva, Migueletto (2001, p. 7) define rede como:

[...] uma estrutura organizacional formada por um conjunto de atores que se articulam com a finalidade de aliar interesses em comum, resolver um problema complexo ou amplificar os resultados de uma ação, e consideram que não podem alcançar tais objetivos isoladamente

Para Silva Filho e Magacho (2007b), as redes representam um mix de formas de organização, que respeitam a lógica de mercado, hierarquia. Nas redes, os aspetos sociais, como os vinculados a negociação e o relacionamento entre os participantes da rede, surgem com maior relevância.

Powell (1990) destaca que as partes de uma rede devem renunciar seus próprios interesses em prol dos outros. Contudo, os atores sociais mantêm sua autonomia e estabelecem múltiplos vínculos de interdependência, resultando em uma dinâmica permeada por relações de cooperação e conflitos de opinião. Esses conflitos são intrínsecos às redes, pois tratam de organizações autônomas que atuam com valores próprios e, simultaneamente, almejam conciliar ações visando a um objetivo comum (MIGUELETTO, 2001).

Corroborando com esse entendimento, Wegner, Zen e Andino (2011) afirmam que, quando as redes são formadas por várias empresas, normalmente há desajustes culturais e gerenciais entre os participantes, pois cada empresa traz consigo uma cultura própria e práticas de gestão que divergem dos demais parceiros. Essas diferenças, que ficam latentes no processo de cooperação, precisam ser ajustadas ou aceitas, para que a rede obtenha sucesso.

Segundo Zen e Wegner (2008), as redes podem constituir um espaço para a troca de conhecimento entre indivíduos, grupos e organizações. Salomão e Mattos (2002) explicam que as organizações em redes são consequência da procura da flexibilidade, da agilidade e da

inovação pelas grandes empresas. Logo, a organização em rede é utilizada para alcançar tais objetivos. Migueletto (2001) lembra que o processo de modernização, o dinamismo do ambiente globalizado e o impacto das tecnologias de informações são os fatores que favorecem a constituição de redes.

Wegner, Zen e Andino (2011) também comentam que um dos fatores decisivos para o desenvolvimento das redes é o apoio do poder público, principalmente daquelas formadas por empresas de pequeno e médio porte. A atuação do poder público pode ocorrer no momento inicial da rede, através da gestão do arranjo, fornecendo informações e orientações gerenciais na condução da rede e por meio da prospecção de membros. Ao atingir a maturidade e a capacidade de autogestão, a rede fica estruturada para ampliar o número de participantes.

A importância das redes foi detectada por Bøllingtoft e Ulhøi (2005), que afirmaram que as redes são cruciais para os empresários. Em micro e pequenas empresas, como é o caso das empresas incubadas, Vilga et al. (2007) destacaram que têm dificuldades de modernização para operar em um mercado altamente competitivo e que as redes representam alternativas para solucionar tais dificuldades. A pesquisa desenvolvida por estes autores revelou que a organização em rede possui vantagens competitivas e ganhos coletivos para as micro e pequenas empresas.

As redes de empresas, apesar de serem cruciais, também podem fracassar, como foi destacado no estudo de Wegner, Zen e Andino (2011), que verificaram que os principais fatores que levaram ao fracasso de uma rede foram os desajustes estratégicos, o imediatismo por resultados, o número insuficiente de participantes e as dificuldades de gestão, pois culminaram em resultados inferiores aos esperados, levando à saída das empresas. Com a redução do número de participantes, houve perda do apoio do poder público e consequentemente dificuldades de expansão, o que gerou o encerramento completo das atividades da rede. Os novos tipos de rede, então, segundo Miguelitto (2001), se caracterizam pela formalidade, buscando objetivos bem definidos e autopreservação da sua estrutura.

Hansen et al. (2000) afirmam que estamos testemunhando o rápido crescimento de outro modelo organizacional: as redes de incubadoras, que têm um potencial para superar a existência de estruturas organizacionais no crescimento de novos negócios. Para os autores, as redes de incubadoras são projetadas para lançar um ótimo número de empreendimentos mais rapidamente que as empresas estabelecidas podem e para a capacidade para conectar essas pequenas empresas iniciantes que empreendimentos capitalistas.

Sobre o assunto, Etzkowitz, Mello e Almeida (2005) ressaltam que as redes de incubadoras e a cooperação entre as universidades e outras esferas institucionais têm sido a chave para o crescimento do movimento de incubação no Brasil.

Hansen et al. (2000) destacam que redes de incubadoras combinam o melhor de dois mundos: a escala e o escopo de grandes empresas estabelecidas e a dinâmica empresarial de pequenas empresas de capital de risco. Essa combinação mostra que as redes de incubadoras representam um novo modelo de organização, que é especialmente bem adequado para a criação de valor e riqueza em uma nova economia.

Corroborando com esse entendimento, Bøllingtoft e Ulhøi (2005) consideram redes de incubadoras como um novo modelo de incubadora, pois são uma forma híbrida de incubadoras de empresas, através de uma sinergia territorial, simbiose relacional e economias de escala.

Para Silva (2008), uma rede de incubadoras é conceituada como uma organização que congrega incubadoras de uma região. Essa organização tem o objetivo de trocar conhecimentos e informações, além de otimizar a utilização dos recursos.

Em seu trabalho, Hansen et al. (2000) verificaram que redes de incubadoras podem proporcionar um enorme valor para pequenas empresas iniciantes, através de conexões que ajudam a criar estratégias cruciais, parcerias, recrutar pessoas altamente talentosas e obter importantes conselhos de especialistas externos.

O estudo de Silva Filho e Magacho (2007b) sinalizou que a lógica do impacto de uma rede de incubadoras é resultado de dois fatores: a eficiência de operacionalização da rede e o conjunto de elementos participantes da rede e sua forma de organização.

Sobre a arquitetura de uma rede de incubadoras Silva Filho e Magacho (2007b) sugerem que ela é composta por três níveis, a saber: (i) o nível do consórcio; (ii) o nível das redes de incubadoras; e (iii) o nível das incubadoras e empresas incubadas, brevemente descritos a seguir.

No nível de consórcio estão as instituições que tem como objetivo comum levar adiante a iniciativa do processo de incubação. No nível das redes de incubadoras, estão envolvidos os participantes operacionais da arquitetura da rede de incubadoras. No nível das incubadoras e empresas incubadas há a responsabilidade pelos resultados percebidos pela comunidade do movimento de incubação – incubadoras e empresas incubadas e graduadas (SILVA FILHO; MAGACHO, 2007b).

No Brasil, a execução das atividades de apoio e coordenação às Redes Regionais ou Estaduais de mecanismos para a inovação é responsabilidade da ANPROTEC, tendo em vista suas finalidades precípuas (ANPROTEC, 2010).

Silva (2008) ressalta que a ANPROTEC estimulou a criação de Redes Regionais de incubadoras de empresas, com vistas a criar as Redes Estaduais. Atualmente, são 22 Redes Estaduais em 16 Estados, a saber: Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo (ANPROTEC, 2012b).

Ressalta-se que a Rede de Incubadoras do Estado do Ceará (RIC) é a unidade de análise escolhida para este estudo.

Caso uma rede agrupe incubadoras de um Estado, as estratégias de atuação destacadas por Silva (2008) para a rede são:

a) promover um ambiente favorável para a troca de experiências;

b) organizar e desenvolver sistematicamente os pleitos coletivos coordenados pela rede;

c) acompanhar sistematicamente o desempenho dos associados;

d) desenvolver planos de ações e planejamentos estratégicos de curto, médio e longo

prazo;

e) fortalecer a articulação entre os associados e os parceiros estratégicos do movimento;

e

f) disponibilizar a estrutura geral desenvolvida pela rede aos associados de forma

completa.

Neste sentido, Silva Filho e Magacho (2007b) comentam que há discussões no campo da Economia, da Estratégia Empresarial e da Teoria das Organizações de que as redes são formas de governança. Na mesma linha de raciocínio, Verchoore Filho (2006) afirma que as redes são compreendidas como um desenho organizacional único, com arcabouço formal próprio e uma estrutura de governança específica. Há um esforço, então, no âmbito das redes para se obter sucesso em seu funcionamento com eficiência e eficácia.

Com o intuito de prestar esclarecimentos sobre a governança corporativa, passa-se à apresentação dos seus componentes.