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3.1 Pressupostos epistemológicos do pensamento sistêmico na abordagem de

3.1.3 Modelos de Sistemas

Bertalanffy (1968) desenvolveu dois modelos de sistemas: sistema aberto e sistema fechado, mas alerta que sua teoria se aplica aos sistemas abertos, pois se mantêm a si mesmos em contínua troca de matéria com o ambiente, enquanto o fechado não faz intercâmbio com o meio.

3.1.3.1 Sistema aberto

Ao apresentar seu direcionamento para o sistema aberto Bertalanffy está principalmente envolvido por sua “teoria do organismo considerado como sistema aberto”, na qual se empenha em mostrar as diferenças entre seres vivos e máquinas. Nos sistemas abertos há interação dinâmica entre seus componentes, por múltiplos processos interacionais variáveis, e não por uma estrutura mecânica do sistema com seus mecanismos de retroação: “a interação dinâmica entre muitas variáveis [...] precede a realimentação estrutural” (BERTALANFFY, 1967, p.107).

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De acordo com o próprio Bertalanffy, por definição um sistema troca ou não troca com o ambiente. Mesmo que as trocas entre os sistemas sejam mínimas, se existirem, serão suficientes para caracterizar o sistema como aberto. Nesses sistemas, as relações possíveis vão se estabelecendo à medida que vai acontecendo a interação com o ambiente. Bertalanffy (1968) salienta que as entradas no sistema só fornecem energia para a transformação e que não se pode dizer que essa transformação é devida às suas leis internas de organização, sendo apenas viabilizada, sob o ponto de vista energético, pelo input5

. Para Vasconcellos (2002, p. 210), “pode-se perceber aqui um

ponto de contato entre a afirmação de Bertalanffy e a noção de determinismo estrutural de Maturana e Varela [...], estão rejeitando o determinismo ambiental, embora Bertalanffy esteja usando o rótulo de organização”. Considero ainda importante ampliar essa compreensão de sistema aberto trazendo a interpretação de Capra (1996, p. 54-55): “os sistemas abertos se mantêm afastados do equilíbrio, nesse ‘estado estacionário’ caracterizado por fluxo e mudança contínuas [...] Berttalanffy adotou o termo alemão Fliessgleichgewich (“equilíbrio fluente”) para descrever esse estado de equilíbrio dinâmico”.

Ainda segundo Capra (1996), ao identificar as características do estado estacionário como sendo do processo do metabolismo, Bertalanffy destaca a auto- regulação como outra propriedade-chave dos sistemas abertos, ressaltando que tal idéia foi aprimorada por Ilya Prigogine trinta anos depois, por meio da auto-regulação de estruturas dissipativas. Pode-se compreender claramente um sistema aberto a partir de uma célula, a qual tem fronteiras flexíveis, permeáveis, que troca energia, matéria e informação com o meio, com a vizinhança para formar tecidos, os órgãos, os seres vivos.

Ao apresentar sua concepção de sistemas abertos na Teoria Geral de Sistemas e esta como uma “ciência da totalidade”, baseada na sua observação de princípios sistêmicos, Bertalanffy possibilitaria sua aplicação em muitos e variados campos de estudo. Tal concepção, então, foi acolhida por várias áreas do conhecimento científico,

5 Input significa entrada de energia e matéria no sistema aberto, como, por exemplo, um organismo

vivo. Segundo Vasconcellos (2002, p. 208), “ os sistemas orgânicos e os sociais seriam também sensíveis às diferenças ou à variedade que a matéria/energia carrega: seja uma variedade codificada – que é chamada informação – ou uma variedade não codificada – que é chamada de ruído”.

por exemplo, e em destaque, pelos terapeutas da família, por permitir compreender a família como um sistema aberto de relações dinâmicas. Vincent D. Foley (1990), um expoente da terapia familiar, ressalta que a abordagem sistêmica de sistemas abertos possibilitou à terapia familiar compreender os problemas de um membro individual da família a partir do relacionamento da pessoa com o seu sistema familiar, o qual é visto como decisivo para se compreender a patologia. Para Foley (1990, p. 46), “não se pode ler os princípios teóricos da terapia familiar sem um bom conhecimento da Teoria Geral dos Sistemas que chamamos de família”. Foley (1990) destaca ainda, como teóricos de sistema, os terapeutas Virgínia Santir, Don Jackson, Jay Haley e Murray Bowen, não incluindo porém Nathan Ackerman, porque este “sustentaria que a terapia familiar ainda não alcançou um nível suficiente de desenvolvimento que autorize a chamar de abordagem de sistema à patologia. Contudo, ele admitiria que a Teoria Geral dos Sistemas constituiu o principal conceito teórico do campo” (FOLEY, 1990, p. 46).

3.1.3.2 Sistema fechado

Bertalanffy (1968) esclareceu que o sistema fechado não se enquadra na sua Teoria Geral dos Sistemas, porque não troca com o meio, é como máquina, pois os processos seguem um caminho fixo e o estado final do sistema é inequivocamente determinado pelas condições iniciais.

Vasconcellos (2002) cita as características traçadas por Bertallanffy para o sistema fechado, ressaltando que ele sintetiza as dificuldades e limitações do modelo do organismo como máquina, apontando três problemas:

Primeiro, o problema da origem, pois máquinas não nascem por si mesmas na natureza; segundo, o problema da regulação, que a máquina se restringe estritamente às regulações programadas; terceiro, o problema da contínua troca de componentes do organismo vivo, garantindo sua autoconservação, o que não acontece com a máquina (VASCONCELLOS, 200, p. 228-9).

Por não interagir com o meio, por não efetuar trocas, o sistema fechado não pode ser aplicado aos sistemas vivos. Para Bertalanffy (1968), o sistema fechado não é

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capaz de responder adaptativamente às variações de seu ambiente, porque as relações de retroalimentação possíveis são predominantemente de estrutura. Assim, mesmo antes de um sistema entrar em interação com o ambiente, o tipo de interação já está determinada. Por exemplo: o funcionamento de um termostato, cuja sensibilidade ao ambiente só aparece em caso de variação de temperatura.

Ao referir-se ao sistema fechado de Bertalanffy, Capra (1996) diz que, diferentemente do sistema aberto, este se estabelece num estado de equilíbrio térmico e que, ao postular tal diferenciação, Bertalanffy “reconheceu claramente que a termodinâmica clássica, que lida com os sistemas fechados no equilíbrio ou próximos dele, não é apropriada para descrever sistemas abertos em estados estacionários afastados do equilíbrio” (CAPRA, 1996, p. 54). Bertalanffy (1968), ao considerar fechado aquele sistema que não troca ou não interage, postula que este sistema não possibilita a compreensão da complexidade. E mais: os princípios dos sistemas abertos não se aplicam aos sistemas fechados.