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O processo de entrada no campo para a coleta de dados

4.3.1 Entrando no campo de coleta de dados - primeiro momento

Para adentrar esse universo da pesquisa no Município de Jequié/Ba, algumas estratégias foram necessárias para aproximar-me do campo da pesquisa, antes mesmo de encaminhar a solicitação para autorização da pesquisa. Inicialmente senti a necessidade de reconhecer a realidade atual da saúde do Município, uma vez que, estando afastada para estudos de pós-graduação, poderia desconhecer eventuais mudanças estruturais e organizacionais na política municipal de saúde ocorridas na minha ausência.

Assim, entre os meses de fevereiro e março de 2005 procurei agendar encontros com a Secretária Municipal de Saúde e a Coordenadora de Saúde do Município para buscar informações sobre os Programas de Atenção aos Portadores de Diabetes e o funcionamento dos Centros de Saúde. Foram agendados dois encontros com a coordenadora de saúde municipal: no primeiro, essa relatou como se encontravam os programas de atenção aos portadores de diabetes mellitus no Município. Na oportunidade, informei sobre a pesquisa pretendida e seus objetivos. Foi solicitado que apresentasse breve esboço prévio do projeto, que serviria de instrumento para um encontro com os enfermeiros coordenadores de unidades de saúde do Município.

O segundo encontro ocorreu sete dias após o primeiro, no qual foi entregue o referido projeto preliminar à Coordenadora de Saúde do Município, com um pedido à Secretaria Municipal de Saúde para o desenvolvimento da pesquisa. Decorridos cinco dias, ao retornar à Secretaria Municipal de Saúde, a convite por telefone da Coordenadora de Saúde Municipal, recebi a Declaração da Secretária Municipal de Saúde autorizando o desenvolvimento da pesquisa nas Unidades de Saúde do Município. De posse da Declaração, encaminhei o projeto de tese para o processo de Qualificação e para o Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Catarina, no mês de maio de 2005, aprovado sem ressalvas pelo Comitê de Ética em 27/06/2005 e pela Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação da UFSC em 05/07/2005.

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foi encaminhado à Secretária Municipal de Saúde do Município de Jequié com cópia do Termo de aprovação emitido pelo Comitê de Ética.

De posse do Projeto e da aprovação para a realização da pesquisa pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Catarina, a Secretária Municipal de Saúde encaminhou comunicação interna aos enfermeiros coordenadores das Unidades de Saúde do Município informando-os sobre a pesquisa e solicitando todo auxílio necessário para a sua realização.

Acredito que tenha sido uma boa estratégia para ingresso no campo: aproximou as pessoas, estreitou os laços entre instituições de serviço, ensino/pesquisa e mostrou- se necessária para “somar” saberes e contextualizar a realidade do Município no qual a pesquisa se desenvolveu.

4.3.2 Entrando no campo de coleta de dados – o segundo momento

O segundo momento de entrada no campo de estudo foia visita de apresentação da pesquisadora e do estudo aos Enfermeiros Gestores de Serviço das Unidades Básicas de Saúde: Centro de Saúde Almerinda Lomanto, Centro de Saúde Sebastião Azevedo e Centro de Saúde Júlia Magalhães. A esses enfermeiros foram explicados os objetivos do estudo, solicitando sua cooperação para identificar pessoas idosas portadoras de diabetes mellitus tipo 2 cadastradas no Programa de Atenção ao Portador de Diabetes Mellitus.

A receptividade dos enfermeiros gestores foi um ponto de extrema relevância para o estudo, pois todos os recursos necessários foram disponibilizados para identificar os prováveis participantes do estudo. Inicialmente fui encaminhada aos enfermeiros do Programa de Atenção ao Portador de Diabetes Mellitus, aos enfermeiros Instrutores/Supervisores do PACS e aos enfermeiros do PSF. Foram-lhes explicados também os objetivos da pesquisa, solicitando sua ajuda, prontamente atendida e materializada com nosso acesso ao livro de agendamento de consulta a portadores de diabetes mellitus tipo 2, aos prontuários de atendimento médico da unidade com apoio do Serviço de Arquivo Médico Estatístico para localizá-los de acordo com o número de cadastro na Unidade Básica às pessoas portadoras de diabetes

mellitus tipo 2. Tinhamos ainda o auxílio dos agentes comunitários de saúde para identificar pessoas idosas convivendo com suas famílias em sua área de abrangência segundo o PACS. Convém destaque ainda a contribuição dos enfermeiros do Programa de Atenção ao Portador de Diabetes Mellitus com a remessa da nominata de pessoas idosas portadoras de diabetes tipo 2 à pesquisadora.

Este segundo momento foi de extrema importância para o ser pesquisador, pois percebia o quanto os enfermeiros de serviço precisavam conhecer a razão pela qual suas orientações aos portadores de diabetes não tinham o retorno que almejavam quanto ao controle/manutenção da normoglicemia. Minha pesquisa se mostrava oportuna para responder as suas inquietações, fato que por vezes trazia angústia porque os verbos de nosso estudo são “Desvelar e Compreender” e não seria sensato esperar respostas prontas ao questionamento daqueles dedicados profissionais. Mas compreendia-lhes a inquietude, que também era minha, pois não por acaso foi o que me motivou ao presente estudo. Era comum ouvir:

Parece que as nossas orientações não têm efeito.

Sempre chega ao serviço com o diabetes descontrolado e sempre muito nervoso porque diz que a família prepara alimentos que não pode comer. Tem idosos que sempre faltam às consultas e quando perguntamos o porquê ficam em silêncio.

4.3.3 Entrando no campo de coleta de dados – o terceiro momento

A identificação dos participantes do estudo demandou longas horas e muitos dias de pesquisa nos prontuários das pessoas cadastradas no serviço de diabetes das unidades de saúde a partir de um primeiro levantamento de casos realizado pelo profissional enfermeiro responsável pelo Programa de Atenção ao Portador de Diabetes Mellitus, como mencionado. Esse levantamento tinha como objetivo identificar pessoas idosas na faixa etária de 60 e mais anos portadoras de diabetes mellitus tipo 2. De posse dos números dos prontuários, encaminhava-os para o serviço

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de arquivo médico estatístico da instituição, que os levantava pela numeração e os colocava à minha disposição para estudo. Esse estudo era realizado por mim no próprio ambiente da unidade de saúde, devido ao aspecto ético de sigilo documental. Foram dias e dias de estudo ininterrupto no histórico de saúde de cada pessoa idosa para conhecer-lhe o estado de saúde ao longo dos anos em que freqüentavam o Programa de Atenção ao Portador de Diabetes; alguns prontuários registravam uma história de mais de 10 anos, e outros poucos em torno de 4 anos. O conhecimento de tais histórias foi fundamental para o “repport” no momento do contato direto com cada pessoa idosa e sua família. Todo o histórico foi registrado no diário de campo para subsidiar o estudo .

A primeira busca nesses cadastros e prontuários versaram sobre a identificação de pessoas idosas que residem com suas famílias. Obtida essa identificação, retornei aos profissionais enfermeiros do Programa de Atenção ao Portador de Diabetes para identificar os agentes comunitários de saúde-ACS em cuja área de atuação se encontrasse a residência de cada pessoa idosa conforme endereço retirado dos prontuários. Nessa fase foram realizados vários encontros com os ACS para explicar os objetivos do estudo e solicitar sua cooperação para identificar a localização da residência de cada família de pessoas idosas portadoras de diabetes mellitus tipo 2, e acompanhar a pesquisadora no seu primeiro encontro com essas famílias em seu domicílio. É salutar destacar que os ACS em nenhum momento opuseram qualquer resistência ao estudo, pelo contrário, sentiam-se valorizados pelo reconhecimento de seu trabalho e pela oportunidade de contribuir identificando as famílias cadastradas em sua microárea de atuação.

Após o primeiro encontro com os ACS para informá-los sobre os objetivos do estudo e explicar a forma como participariam na identificação dos endereços residenciais das famílias e na primeira visita, a pesquisadora lhes solicitava número telefônico e endereço residencial, ao tempo em que lhes fornecia o seu número telefônico para troca de informações. Assim, antes do primeiro encontro de visitação domiciliar era contactado o ACS por telefone, e passando-lhe o endereço residencial da familia a ser visitada; de posse desse endereço, o ACS contactava-a e agendava um horário de visita com a família para o encontro; feito isto era confirmada a visitação

por telefone pesquisadora-ACS e agendado o primeiro encontro de visita do estudo à família, onde prosseguiam as etapas seguintes.

As visitas subseqüentes foram agendadas diretamente entre pesquisadora e família, confome a disponibilidade familiar.