• Nenhum resultado encontrado

2 O ENSINO SUPERIOR E A EVASÃO DE ESTUDANTES

5.2 GESTÃO DO CONHECIMENTO EM IES

5.2.1 Modelos de Gestão do Conhecimento em IES

O modelo de GC proposto por Ditzel (2005) foi desenvolvido para implantação no departamento de informática de uma ÌES e está baseado numa abordagem de Gestão por Processos, privilegiando o papel do planeamento e a busca pela melhoria contínua. Em sua proposição, Ditzel considera uma estreita relação entre o processo de planejamento estratégico e o conjunto de processos de GC e, em síntese, o modelo é composto da seguinte maneira:

• Planejamento estratégico – ponto de partida que determina à GC os objetivos a longo prazo da própria GC e da organização como um todo. Com o planejamento estratégico definido, a GC conta com indicações sobre quais direcionamentos devem ser seguidos;

• Planejamento do conhecimento – este processo integra o planejamento de cada um dos processos de negócio da organização. Nele são estabelecidos, a partir dos déficits de conhecimento, os objetivos de conhecimento e as metas para um acompanhamento dos progressos;

• Desenvolvimento do conhecimento – nele estão contempladas as atividades para a criação, aquisição e desenvolvimento do conhecimento, as quais devem integra-se ao trabalho cotidiano adequando-se às características específicas de cada processo de negócio;

• Transferência do conhecimento – trata da transferência e disponibilização do conhecimento individual e coletivo da organização a todos os seus membros, também devendo estar integrado aos processos de negócios;

• Utilização do conhecimento – foca os aspectos essenciais para a utilização e aplicação do conhecimento organizacional e, como nos demais processos, suas atividades e instrumentos devem estar integradas e serem executadas nos processos de negócios;

• Avaliação e revisão – trata do controle do conhecimento e permite comprovar a eficácia e eficiência de sua gestão, melhorando-a de forma contínua. Não são prescritos procedimentos padrões, apenas os aspectos que devem ser controlados. A avaliação e revisão do conhecimento é parte integrante do planejamento, avaliação e revisão dos processos de negócio.

A Figura 24 apresenta os processos integrantes deste modelo.

Figura 24 - Gestão por Processos e subprocessos da Gestão do Conhecimento. Fonte: Ditzel (2005).

A perspectiva de se integrar o Planejamento estratégico, com a Gestão por Processos e a GC parece ser promissora na medida em que pode ser potencializada a situação de “saber o que é interessante fazer” com o ideal de “querer fazer bem e cada vez melhor” e ainda a preocupação de “ajudar a saber fazer”. Esta pode ser considerada uma visão organizacional utópica e não parece encontrar correspondência na realidade freqüentemente encontrada nas IES.

Uma outra proposta, desenvolvida por Argón (2005), trata da GC na gestão curricular com enfoque nas competências. Para tal estabelece os seguintes objetivos:

• Gerar uma linguagem de desenvolvimento do novo modelo para facilitar a Gestão do

Conhecimento

Planejamento estratégico

Análise SWOT

Identificação de grupos de interesse Definição da missão e visão

Desenvolvimento de uma estratégia

Planejamento do conhecimento

Definição do estado desejado Análise da situação atual Déficit de conhecimento Planejamento dos objetivos

Utilização do conhecimento Mercado do conhecimento Desenvolvimento do conhecimento Técnicas de solução de problemas

Melhora contínua, lições aprendidas Seleção de pessoal, assessoramento, cooperações Avaliação e revisão Alcance de objetivos Auditorias e auto-avaliações Avaliações de registros Indicadores estatísticos Transferência do conhecimento Gestão de documentos Programa de mentores Fóruns de comunicação

Conferências, seminários, workshops Equipes de conhecimento Gestão do Conhecimento Gestão do Conhecimento Gestão do Conhecimento

comunicação visões compartilhadas (dicionários de competências, glossários, tesauros etc);

• Estabelecer o conhecimento organizacional e individual com base em normas ou padrões de qualidade fixadas em planejamentos estratégicos;

• Providenciar a formação dos diferentes colaboradores, qualificando-os com as competências necessárias, por meio de itinerários da menor para a maior complexidade de conhecimentos;

• Modificar os conteúdos atuais de conhecimento armazenado ou disponível; • Criar instrumentos para avaliar a qualidade dos processos e resultados do

sistema (critérios ou padrões de desempenho).

A autora considera em sua proposta o estabelecimento de três sistemas básicos e integrados que permitirão a transição da gestão curricular tradicional para a voltada a competências:

• Sistema legal – que assegura o mínimo de ordem para assegurar a viabilidade legal e a regulação normativa dos processos;

• Sistema organizacional – que dá o suporte para a execução operacional e rotineira das atividades;

• Sistema de GC – como o mais dinâmico deles, com menos restrições estruturais e burocráticas.

Os principais objetos de conhecimento a serem produzidos apresentados pela autora são os seguintes:

• Marco conceitual sobre o enfoque de competências, construído e aprendido pelos integrantes do processo;

• Banco de perfis de egressos por competências e Observatórios de empregos; • Planos de ensino construídos conforme o enfoque por competências;

• Dicionário de competências relacionadas com as estratégias e recursos correspondentes para sua aprendizagem;

• Áreas de conhecimento transversais identificadas por competências comuns aos planos de ensino;

• Bancos de recursos de aprendizagem;

• Bancos de problemas e casos; • Bancos de testes e provas;

• Dicionário de competências docentes chave; • Banco de projetos;

• Banco de competências docentes e registros de práticas habituais.

Indica também as seguintes ferramentas como algumas das passíveis de serem utilizadas:

• Mapas conceituais; • Blogs;

• Comunidades de prática;

• Ferramentas para administrar o conhecimento tácito.

Nesta proposta se destaca a intenção de que o ambiente construído para a GC contemple os valores existentes na instituição, como fator motivador para a integração necessária na direção de um desenvolvimento endógeno sustentável. Uma crítica a esta visão pode ser feita exatamente na predisposição de que o conhecimento gerado e utilizado na organização seja resultado da endogenia, pois se por um lado a empatia favorece o clima de cooperação, por outro lado restringe as possibilidades de aquisição de conhecimentos externos e os estímulos à criatividade por eles provocados.

Como referências de outros trabalhos sobre a GC em IES merecem destaque a análise crítica desenvolvida por Metcalfe (2006), abordagens sobre os aspectos culturais das organizações e a adoção da GC (COPE, COPE III e FOLSE, 2004; ROWLEY, 2000) e sobre a criação de conhecimento (HIJAZI e KELLY, 2003). Sobre a GC com ênfase em algum aspecto das IES há trabalhos sobre GC em bibliotecas universitárias (WEN, 2005; MPHIDI e SNYMAN, 2004; DUDZIAK, VILLELA e GABRIEL, 2002; JANTZ, 2001), orientação acadêmica (WANG e ARIGUZO, 2004) e orientação curricular (PIMENTEL, 2003).

A busca na literatura resultou em apenas um trabalho tratando do uso direcionado do conhecimento organizacional com o objetivo específico de promover a retenção discente (RAMSAY, ELPHINSTONE e VIVEKANANDA, 2003). Neste trabalho é relatado o desenvolvimento de um amplo programa institucional para a

retenção de estudantes na Griffith University – Austrália, uma universidade pública. Na experiência relatada é utilizada uma dinâmica cíclica de socialização dos conhecimentos existentes e produzidos na instituição, nos níveis individual, de grupo e institucional, baseada no modelo de aprendizagem organizacional proposto por Dixon (1999). Em síntese, este modelo é constituído de um ciclo de quatro fases que se repete, estimulando mudanças pelo aprendizado organizacional. A Figura 25 apresenta as fases que compõem o ciclo proposto pelo modelo.

Figura 25 - Fases do modelo de aprendizado organizacional de Dixon (1999). Fonte: Ramsay, Elphinstone, Vivekananda (2003).

Embora exista o objetivo de gerar e compartilhar o conhecimento institucional com foco na permanência discente, esta experiência visa basicamente a replicação de boas práticas e lições aprendidas pelos diferentes campi e setores da instituição. Diferentemente desta visão, esta pesquisa objetiva propor um modelo de sistema de GC que se apóia num conjunto de recursos oferecidos por um framework para a promoção da permanência. Fase 2 - Integração das novas informações no contexto organizacional Fase 1 - Geração espalhada de conhecimento

Fase 3 - As informações são interpretadas coletivamente Fase 4 - Membros

da organização são autorizados a agir conforme interpretações