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MONUMENTO: HOMENAGEM AO CACIQUE GUAIRACÁ

CAPÍTULO VI ESTRUTURAÇÃO DA CIDADE E ESPAÇO PÚBLICO

Foto 32 MONUMENTO: HOMENAGEM AO CACIQUE GUAIRACÁ

Fonte: Foto do autor (2007)

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ESQUEMA OESTE. Obra de fé: Pe. Chagas de volta, depois de 155 anos. n. 237, Ano V, Guarapuava, 4 - 10 de Dezembro de 1974, p. 1 e trabalho de campo 2006. É importante informar o leitor de que a foto referente ao monumento é de 2004 e não retrata o original inaugurando na década de 1970. Com as últimas reformas realizadas na praça no final de 2007, o monumento foi novamente

É importante destacar aqui a perspectiva analítica de Corrêa (2005, p. 11) quando trata desses elementos integrantes da paisagem no espaço urbano. Para este autor, “os monumentos apresentam forte potencial no sentido de perpetuar antigas tradições e, nesse sentido, fazer parecer antigo o que é novo e representar valores que são passados como se fossem de todos”. Essa idéia é relevante do ponto de vista da compreensão dos valores simbólicos que estão incrustados nos monumentos, valores que traduzem uma história contada geralmente a partir dos valores e ideais políticos de quem os constrói e os representa. Ou como ressalta Lefebvre (2001, p. 65 e 1999, p. 86), da “dimensão simbólica da cidade”, que de forma geral refere-se aos seus monumentos e, por conseguinte, às ideologias e instituições presentes ou passadas.

Essa ambigüidade, podemos assim dizer, é evidenciada, por exemplo, na criação do monumento em homenagem ao Cacique Guairacá. Segundo Marcondes (1998, p. 24), o lendário Cacique ficou conhecido pela expressão “COIVIOGUERECÔIARA” (Essa terra tem dono), quando reuniu outros caciques das tribos guaranis que viviam nas proximidades do Rio Paraná e caingangue da região de Guarapuava, derrotando os exércitos espanhóis que ocupavam o oeste paranaense. Os confrontos com os povos indígenas estenderam-se também durante a ocupação dos campos de Guarapuava pelos portugueses. Um território conquistado por meio da força, como verificado nos confrontos contra os povos indígenas (PADIS, 1991) e como nos mostra Marcondes (1998), já no Fortim Atalaia, primeiro local de ocupação, antes de deslocar-se para a então Freguesia de Nossa Senhor de Belém pelo Padre Chagas, local de origem da cidade.

No entanto, eis que na década de 1970, ressurge na figura do Cacique Guairacá a imagem do “herói” que, na entrada da cidade, continua a expressar a “bravura” do seu povo, mesmo que grande parte das tribos indígenas36

da região de Guarapuava tenham sido praticamente dizimadas. Como ressalta Martins (2000, p. 35), esse foi um retrato do Brasil enquanto um país de longa história de lenta ocupação territorial, que foi e tem sido, ao mesmo tempo, a história da subjugação dos povos indígenas, seja mediante sua submissão à escravidão, seja por seu

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Segundo Marcondes (1998, p. 38), quando os portugueses chegaram na região de Guarapuava encontraram aqui três tribos de Caingangues: Camé ou Kamé (tímido ou medroso) - habitavam os sertões de Guarapuava até Campo Mourão e de Palmas até o Rio Uruguai; Votorões ou Votoró – que habitavam a região aonde hoje estão os municípios vizinhos de Candói, Pinhão e Palmas; e, por fim, os Cayeres, Kañerus ou Cairukrês (apelidados de dorins ou macacos). Segundo essa autora,

extermínio. Aqueles poucos, que ainda resistem, tiveram suas características culturais totalmente alteradas em função das influências da ocupação, alguns ainda são vistos pela cidade, vendendo seus produtos artesanais ou então como pedintes.

Mas, enfim, o que queremos chamar atenção aqui é para a questão da simbologia que se expressa por meio dos monumentos espalhados pelos espaços públicos de Guarapuava. No entanto, é importante destacarmos a relação entre a representação que ambos encerram. Representações estas, que trazem em seu bojo uma relação complexa permeada pela significação de valores identitários e, ao mesmo tempo, enquanto representação do poder. Segundo Corrêa (2005, p. 15), a identidade e o poder manifestam-se de formas diferenciadas. Ressalta o autor, que “por meio da necessária espacialidade que têm, implicando localizações fixas, dotadas de longa permanência, os monumentos são poderosos meios de comunicar valores, crenças, utopias e afirmar o poder daqueles que o construíram”.

Nesse sentido, verificamos que, nas últimas décadas, essa divulgação da cidade continua priorizando as imagens que faziam alusão ao desenvolvimento ou a evolução urbana, priorizando a área central da cidade, a Catedral Nossa Senhora de Belém, a Rua XV de Novembro (Calçadão da XV), a Lagoa das Lágrimas e, também, as novas avenidas criadas pelo plano diretor, ou seja, uma ênfase aos aspectos relacionados ao progresso e à transformação das formas urbanas.

Entretanto, essa preocupação muda de foco com as novas formas e elementos que passam a constituir a paisagem urbana, com relevância sempre para aqueles locais que passam a ser de referência popular, geralmente os espaços públicos, atribuindo uma noção de progresso calcado na valorização do bem coletivo, entretanto, sempre permeado por interesses de grupos que controlam o processo de produção da cidade, notadamente o setor empresarial, comercial e imobiliário, todos estes atrelados ao poder público. Nesse contexto, podemos fazer alusão ao processo de construção e inauguração do novo calçadão da Rua XV de Novembro que passou, a partir do início da década de 1980, a ser denominado “Calçadão da XV” (Foto 33).

Aliás, por ser a principal artéria da cidade e por sua localização mais central, foi a que mais sofreu alterações no processo de busca por uma cidade “sempre nova” e em consonância com os ideais de progresso. Segundo Tembil (2007, p. 29), inspirada na Rua das Flores na capital paranaense, Curitiba, oito quadras da Rua

foram instalados bancos, nova iluminação e, como conseqüência, houve o incremento imobiliário, do comércio e de serviços.

Diante de toda uma polêmica gerada em torno dessa obra, podemos afirmar que ela mesma teve um impacto significativo do ponto de vista da circulação do cidadão pela área central da cidade e do uso do espaço público, visto que a nova configuração desse espaço público possibilitou a priorização do pedestre. Esse aspecto não pode ser considerado em si, sem se observar que, por outro lado, essa configuração seja o resultado da concentração no entorno desse espaço público do incremento imobiliário, levando a sua transformação em área mais valorizada da cidade, pela concentração em seu curso de vários edifícios, prioritariamente pelo oferecimento de serviços e do comércio, ou seja, um local voltado para o consumo, mas, que de certa forma, evidencia as diversas formas de ser e estar na cidade.