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2.6 MORINGA OLEÍFERA PARA TRATAMENTO DA ÁGUA

No documento Tecnologias Sociais para a Sustentabilidade (páginas 55-60)

49 2.4.1 Aspectos Gerais

2.6 MORINGA OLEÍFERA PARA TRATAMENTO DA ÁGUA

Leocádia Terezinha Cordeiro Beltrame Nívia Gabriella Rocha de Lima O uso da moringa oleífera para tratamento da água constitui-se numa técnica simples para remover os sólidos suspensos, diminuindo a turbidez, clarificando assim a água. Originária da Índia, a Moringa oleífera (Moringaceae) se adapta bem ao clima semiárido. Suas sementes maceradas provocam a sedimentação dos sólidos em suspensão na água e esta, clarificada, pode então ser submetida à desinfecção por radiação solar, eliminando os agentes patogênicos e adequando a água ao consumo humano.

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2.6.1. Aspectos Gerais

É característica do Semiárido a baixa pluviosidade e longos períodos de estiagem. Além disso, o solo predominante de baixo potencial de absorção dificulta a alimentação das reservas hídricas. Nessa região, é comum que a água não chegue às torneiras. A água disponível geralmente apresenta-se imprópria para consumo, com presença de elevada sólidos em suspensão, sendo turva, e com agentes patogênicos, o que propicia a veiculação de doenças como hepatite ou distúrbios gastrointestinais. Por se tratar de uma região onde o índice de pobreza é elevado, faz-se necessário a utilização de tecnologias de baixo custo e facilmente aplicáveis no tratamento da água. Para esse fim, a moringa oleífera, é recomendada como uma forma de tratamento preliminar da água.

A Moringa oleífera é uma planta rústica, de rápido crescimento, originária da Índia, que se adapta muito bem a zonas áridas. Numerosos usos são relatados de todas as partes da planta, como alimento humano (folhas, vagens verdes, flores e sementes torradas), forrageira (folhas, vagens, sementes), melífera, medicinal (todas as partes da planta) e uso industrial (extração de óleo, biodiesel). Um dos principais usos da moringa está no tratamento de água. Inicialmente usada no Sudão e outros países da África, no Brasil a técnica vem sendo empregada desde 1996 (BORBA, 2001).

2.6.2. Detalhamento Técnico

A turbidez da água se deve à presença de partículas em suspensão, de modo especial partículas coloidais, com tamanho e massa reduzidos. Essas partículas possuem cargas elétricas geralmente negativas, devido a alguns íons que se adsorvem em sua superfície, o que as impede de se unirem formando partículas maiores e mais pesadas, facilitando a sedimentação. Dessa forma, tendem a permanecer estáveis ou em suspensão por anos.

A fim de provocar a sedimentação das partículas, é necessário unir ou coagula-las para que possam adquirir maior massa e decantarem pela força da gravidade. Em estações de tratamento de água geralmente se utiliza o sulfato de alumínio [Al2(SO4)3] para isso. Esse sal sofre hidrólise na água e as cargas positivas do alumínio atraem as cargas negativas das partículas, coagulando-as, aumentando sua densidade e provocando a

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decantação. Entretanto, o tratamento requer certa tecnologia e alto custo, o que inviabiliza seu uso em comunidades rurais.

Como solução para este desafio a semente de moringa pode ser usada, devido a uma proteína de massa molecular de 150.000 unidades (BORBA, 2001), fazendo com que se comporte como um polieletrólito catiônico (polímero com excesso de cargas elétricas positivas) que, além de atrair as partículas, ajuda na formação de grandes aglomerados ou flocos, facilitando a decantação.

O tratamento consiste em misturar o extrato da semente de moringa com a água a ser tratada. Para tratar 20 litros de água turva são necessários 2 gramas de semente de moringa, sem casca, amassadas em pilão, equivalente a duas colheres de chá rasas ou duas tampinhas de refrigerante cheias. Prepara-se o extrato adicionando-se um pouco de água limpa à semente triturada; colocar em um recipiente (pode ser uma garrafa de refrigerante) e adicionar 200 ml de água limpa, agitando por 5 minutos. Filtrar e colocar a solução em um recipiente de 20 litros contendo a água bruta. Agitar velozmente por 2 minutos e lentamente por 10 a 15 minutos. Deixa-se em repouso e após 2 horas a água limpa sobrenadante pode ser retirada através de um sifão, descartando-se o precipitado.

Entretanto, esse tratamento não elimina os agentes patogênicos presentes na água, sendo necessário um tratamento de desinfecção. Em estações de tratamento de água, a desinfecção é obtida através da adição de cloro à água em quantidades especificamente dosadas para esse fim. Em um tratamento artesanal essas dosagens não podem ser controladas eficientemente. Além disso, o cloro apresenta um custo adicional para comunidades carentes.

Uma alternativa é a utilização da radiação solar (AMARAL et al., 2006), que destrói compostos e/ou espécies indesejáveis presentes em um ambiente. Na desinfecção, isto se deve tanto à radiação ultra-violeta, como à temperatura alcançada durante o período da radiação. Usa-se garrafas PET (polietileno tereftalato) incolor (PEREIRA et al., 2010), com capacidade de 2 litros. As garrafas devem ser dispostas horizontalmente em calhas ou telhas de alumínio (ou forradas com papel alumínio) para maior absorção da radiação solar por 12 horas. Amaral et al. (2006) demonstra águas altamente poluídas (com 9,9.103 UFC/100 ml de E. coli) podem ter 99,99% de redução dos patogenos após 12 horas de exposição, caracterizando água potável.

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2.6.3. Vantagens E Limitações

A moringa oleífera possui muitas vantagens no tratamento de água: diferentemente do sulfato de alumínio, pode ser usada de forma eficiente em qualquer pH da água, sem necessidade de ajustes; não é tóxica, mesmo se usada em excesso, porém nesses casos poderá alterar o sabor da água; o lodo formado pela decantação dos sólidos também não é tóxico e não possui metais, como acontece com o sulfato de alumínio. A eliminação de microrganismos pode ser realizada por fervura da água, entretanto, nesse processo há perda de oxigênio dissolvido na água, tornando-a de sabor desagradável. O mesmo não ocorre com a radiação solar em garrafas PET, uma vez que as mesmas permanecem fechadas durante o tempo de radiação.

2.6.4. Onde Encontrar Maiores Informações

Anualmente ocorre o Encontro Nacional da Moringa (ENAM), em que muitos trabalhos têm sido divulgados. Maiores informações podem ser obtidas no endereço eletrônico: www.encontromoringa.com.br.

Referências

AMARAL, L. A.; ROSSI JUNIOR, O. D.; SOARES E BARROS, L.S.; LORENZON, C. S.; NUNES, A.P. Tratamento alternativo da água utilizando extrato de semente de Moringa oleifera e radiação solar. Arq. Inst. Biol., v. 73, n. 3, p. 287 – 293, jul./set., 2006.

BORBA, L. R. Viabilidade do uso da Moringa oleifera Lan no tratamento simplificado de água para pequenas comunidades. 2001. 92f.

Dissertação. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio

Ambiente, Centro de Ciências Exatas e da Natureza, Saneamento Ambiental, Universidade Federal da Paraíba.

GAIA. Moringa; O que você deve saber sobre a árvore da Moringa oleífera. O Movimento Gaia, folheto 26. 2007. Disponível em: <http://www.gaia-

movement.org/files/Folheto%2026p%20Moringa.pdf>. Acesso em: 30 jan. 2014.

PEREIRA, A. A. C. ; LIMA, A. N. F. ; MARQUES, M. E. H. P. ;BELTRAME, L. T.

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patogênicas. Anais. 6º Encontro Internacional das Águas, 2011, Recife. Recife: Universidade Católica de Pernambuco, 2011. p. 1 – 7.

2.7 AGROECOLOGIA

Carlos Leonardo Melo Carrasco Maria Monize de Morais A agroecologia está ligada a execução de práticas para manejo adequado dos recursos naturais e redução dos impactos sociais, econômicos e ambientais negativos causados pela agricultura, através da conservação e reequilíbrio da biodiversidade, do solo, da água e de outros organismos existentes no local de implantação. Para atingir o objetivo, utiliza-se diversas técnicas, comosistemas de cultivo orgânico, plantio direto, sistemas consorciados e sistemas agroflorestais.

2.7.1. Aspectos Gerais

Em vistas ao desenvolvimento das megacidades, o agronegócio se desenvolveu em território rural, reduzindo a necessidade da força de trabalho do homem no campo, ocasionando o êxodo rural (NAREZI,2012). A partir dessa problemática, Caporal e Costabeber (2000) defendem a agroecologia como uma proposta de manejo adequado dos recursos naturais e redução dos impactos sociais, econômicos e ambientais negativos, causados pela agricultura moderna.

Segundo a Política Nacional de Agroecologia e Produtos Orgânico (PNAPO), a produção ecológica “busca otimizar a integração entre capacidade produtiva, uso e conservação da biodiversidade e dos demais recursos naturais, equilíbrio ecológico, eficiência econômica e justiça social”. No Brasil esta começou a ganhar força a partir da década de 1980, atrelada a ascensão dos movimentos sociais, sendo apresentada uma tecnologia alternativa à agricultura moderna ou agricultura convencional (TELLES apud RIBEIRO, 2013). Assim, Gliessman apud Feiden (2005) define agroecologia como o principio do desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis.

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