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5. Aprendizagem pela internet na formação docente continuada para a gestão

5.2. Gestão Docente da Violência na Escola: aprende-se pela internet?

5.2.1. Motivos para aprender pela internet

Cresce o desejo de dominar e utilizar as tecnologias da informação e comunicação; nesse sentido, aumenta-se a venda de computadores portáteis e o crescente uso deste aparelho reconfigura algumas ações sociais do cotidiano, é possível brincar com os jogos e aplicativos que a máquina possui, fazer programas e projetos, diminuir o tempo gasto de planejamento de contas com as planilhas do Excel e escrever, reescrever copiar e colar textos com os atalhos do teclado da máquina. Assim sendo, o computador e o uso de seus recursos têm aumentado e moldado os métodos de trabalho, agilizando outros, promovendo formas alternativas de lazer e divertimento que podem ser feitos também no computador.

O tempo nesse espaço da sociedade tecnológica se torna flexível e altamente veloz. É o correr contra o tempo: os horários de trabalho na instituição podem ser os mesmos, mas a busca de informações e novidades para o seu fazer pedagógico se torna constante – na melhor das hipóteses, motivada pelo desejo de inovar nos métodos de ensino e se manter atualizado. Para isso contribui a procura em redes e sites da internet.. A instabilidade do tempo sobre quantas horas os professores usam a internet, bem representada pela frequência e duração do acesso à internet por nossas entrevistadas,

mostra-nos que a sociedade global da informação leva-nos a uma ilusão de que a internet poderia minimizar o trabalho de pesquisa, pois nas buscas apenas digitamos o nome daquilo que queremos saber e as suas próprias ferramentas de busca agilizam o nosso trabalho; e com apenas um clique, em fração de segundos, há vários links que nos levam a janelas que contêm as informações de que necessitamos, mas também a outros links com o mesmo ou outros assuntos.

Lévy (1992) afirma que essas janelas lançadas na rede são ramificações de conhecimentos que estão espalhados, expressão do coletivo humano e suas diferentes experiências, que são compartilhadas e expostas para o mundo. Essa infinitude de buscas e de trocas torna o conhecimento em processo contínuo de formação. Nas buscas, que nos levam a outras, “temos a impressão de disponibilizarmos de tempo, mas falta-nos tempo para disponibilizarmos dele. Gianolla (2006, p. 29)”.

Santos (2001) já tinha discutido os usos da internet por docentes. Interessado tanto nas formas de leitura através da internet quanto nos processos interativos em torno dela promovidos por docentes na escola, verificou que profissionais do Distrito Federal tinham consideráveis limitações no uso da internet, especialmente no que tange a seu emprego na escola. Ora, tal constatação também se deu com as professoras entrevistadas, como pudemos perceber ao apresentarmos as quatro docentes, que, em síntese, tinham acesso quase diário à internet (Ana, Cecília e Marta), para ler e-mails, socializar-se (Ana e Marta), para cumprir suas tarefas administrativas (Clara) e, por fim (e com menor incidência), para desenvolverem conhecimentos relativos à docência (todas).

Mesmo tendo participado de um curso preparado para sua forma semipresencial, Ana, Cecília e Marta tinham pouco uso da internet quando associado à sua profissão. O conhecimento que obtêm pela internet não é específico, nem intencionalmente voltado para a docência, na maior parte das vezes. Ana, por exemplo, afirmou que: “Olhar as redes sociais, saber mais da atualidade de hoje em dia, às vezes é uma notícia, ai é com essa intenção de buscar conhecimento e também socializar”. Se, inegavelmente, o conhecimento pode advir de fontes indiretas ou mais distantes, não pode faltar o contato com as fontes mais diretas. Ora, isso revela, sobretudo no caso da formação docente continuada, a falta de rotinas associadas à autogestão do processo de capacitação contínua, no que tange à profissão – e isso pode ser explicado tanto pela relativa novidade do processo de informatização, se considerarmos o tempo de trabalhos de nossas entrevistadas (10 a 15 anos, em média); quanto pela falta de incentivos e de

políticas públicas que, acompanhando de perto docentes em formação e incorporando nas suas carreira os avanços pessoais, motivem a manter-se estudando e aprendendo.

Já Marta falou: “eu quero pesquisar meus emails, ver alguma coisa, ver as coisas da escola, [...], quero entrar no Face ou pesquisar alguma coisa aí eu também entro.” Santos (2001) acredita que a internet auxilia na aquisição de conhecimentos e se caracteriza como uma nova ferramenta do trabalho docente. Ela proporciona um aumento da interatividade entre as pessoas nos meios virtuais, favorece o diálogo e a troca de experiências e contatos, o que faz com que as pessoas participem desse meio e interajam sobre ele.

Em sua pesquisa com professores da rede pública e privada, Santos percebeu que, mesmo com as instituições equipadas com computadores e laboratórios de informática os pedagogos não possuíam formação suficiente para lidar com esses equipamentos ou para a utilização criativa e contextualizado dos equipamentos tecnológicos. Monereo e Fontes (2010) dizem que ao se buscar algo na internet, o “buscador” procura algo que é relevante para si e precisa de uma resposta. O procedimento central é a busca que induz a uma resposta, o que se busca na rede, as intenções do uso. Nesse sentido, como a fala de Marta demonstra, a busca pela internet revela mais a curiosidade geral ("meus e- mails, ver alguma coisa, quero entrar no Face ou pesquisar alguma coisa"), inespecífica, a que se mescla o interesse pelas aprendizagens e pela informação ligadas ao trabalho – mas não prioritariamente, a julgar pela ordem que a palavra "escola" ocupa na série (é a última da primeira parte da citação) de motivos para acessar a internet.

Na utilização das tecnologias da informação e comunicação pelos professores, Pimentel (2007) atenta para a necessidade de propostas adequadas à realidade em que o docente se insere e de projetos inovadores, exigindo-se assim uma nova configuração do fazer pedagógico, diferente do tradicional, no qual a centralização de seu trabalho dava- se na transmissão verbal de conhecimentos em sala de aula.

Neste sentido, aplicar as TIC na escola e no uso cotidiano dos docentes é direcionar o ensinar em sua inteireza, desenvolver habilidades cognitivas para si e seus alunos, com vistas a pensar, raciocinar, refletir, compreender, escrever e reescrever as informações obtidas na rede. É esse pensar problematizador que eleva o saber e as intencionalidades do uso das redes interativas, capaz de ultrapassar a técnica e a simples ferramenta de busca.

A pergunta utilizada para coletar dados referentes a esta categoria deu-se para saber se as docentes haviam feito algum curso a distância. Como soubemos que as

professoras da rede pública receberam uma formação sobre o ProInfo, então elaboramos esta questão, a fim de sabermos se após a formação do ProInfo as docentes sentiram-se estimuladas a continuar usando as tecnologias da informação para obtenção de saberes ou realizaram outros cursos na modalidade a distância.

Para Teixeira (2008) a EAD emerge para minimizar a angústia de muitos professores que sentem a necessidade de complementar sua formação, mas não possuem tanto tempo, não dispõem de meios para se locomoverem e os horários de funcionamento podem em alguns casos se chocarem com os do trabalho. Esse aspecto aparece apenas na percepção de Clara e, por ser ela a gestora, com acesso constante à internet e muitas demandas ao longo de todo o dia relacionadas ao uso da rede mundial de computadores, supomos que tal perspectiva deva ser relativizada, se considerarmos os casos das outras docentes, que representam, no universo docente, a maioria.

Já Oliveira (2012) argumenta que a EAD é um produto da sociedade globalizada e capitalista, orientada pelas novas demandas sociais que pretende democratizar o acesso à educação. Para ele esse processo pode ser notado com as mudanças que a tecnologia impôs na sociedade, com modos e estilos de vida reconfigurados: em meio a essas mudanças, a educação começa a ser disponível também, na modalidade a distância. A EAD torna possível a aprendizagem adulta continuada, e a promoção de um ensino interativo, a aquisição de competências e habilidades diversas que a sociedade atual interconectada e globalizada cobra-nos, colaborando, direta ou indiretamente, para tal cobrança.

Desta forma, pensamos que as TIC e a EAD promovem um ensino interativo e dinâmico, no qual os próprios estudantes e docentes estimulam o seu ritmo de aprendizagem, adaptando os horários de estudos dos cursos correspondentes aos seus horários disponíveis. Entretanto, é necessário adquirir habilidade de se autogerenciar, o gerenciamento do tempo dedicado ao estudos, ao sites para procura de informações conteúdos. Os cursos estão disponíveis na rede, mas se não houver disciplina e vontade individual para finalização do curso, o estudante acaba perdendo. Além disso, é preciso atentar para o fato de que tal disponibilidade também concorre, ambiguamente, para o aumento do trabalho e a tendência a responsabilizarem-se individualmente os professores e professoras por sua própria formação, quando não foram preparados para isso nem encontram motivação (salarial e institucional) bastante para fazê-lo.

É o que percebemos nas falas das professoras: três responderam ter realizado algum curso a distância: Marta e Clara fizeram outros além do ProInfo. Um destes

cursos feitos por ambas é o de prevenção ao uso de drogas para educadores de escolas públicas, realizado na modalidade a distância, totalizando 180 horas, feito pela interação dos módulos através da internet e de conferências com professores da Universidade de Brasília, em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), o Ministério da Justiça, o MEC. Marta descreveu sua participação nesse curso, de forma a revelar que, no caso dos cursos a distância, os processos implicados na aprendizagem são distintos, posto que bem formais e previamente estipulados pela instituição promotora da formação:

Durou quase um ano, aí assim são quatro módulos, cada módulo é dividido em quatro ou cinco atividades, ai vamos supor tem o Fórum que a gente tem que debater com outros educadores de outras escolas, de outras, de outras cidades, aí você tem, ai tem a questão do esforço, ai vai juntando, o fórum você tem que entrar no mínimo três vezes, ai tinha os exercícios, três exercícios pra você responder, ai pra cada exercício tinha unidades pra gente ler, entender e responder, ai depois tinha, num tem o curso online eu num sei se você já fez um curso online, ai você clica e eles corrigem, né, ai tinha o total de pontos, você não pode vamos supor, se você responde uma pergunta errada, você não pode voltar e corrigir, não você vai clica pra ouvir e quando clica e tá errado não pode voltar mais, tá errado, ai tem o total de pontos daquele exercício e você tem que enviar, ai geralmente são três exercícios, três unidades. E também tinha atividades colaborativas que era em grupo, nosso grupo aqui eram maios ou menos treze pessoas.

Distintamente da inespecificidade e, talvez, da liberdade com que Marta acessa seus e-mails e suas redes sociais, acompanhar o curso que certifica oficialmente requer toda uma série de protocolos e tarefas percebidas como exigentes, manifestas na repetição numerosa do verbo "ter" (nove vezes no trecho) e na ênfase sobre a avaliação e, nela, sobre a impossibilidade de corrigir erros.

Sobre a aprendizagem mediada por computador, Primo (2003) fala-nos que pensar na EAD e na interação dos professores com o curso online é ir além do ensino tecnicista de abordagem de técnicas e conteúdos. Pensar em aprendizagem e na interação do homem-máquina para adquirir saberes requer a criação de um curso voltado para as dimensões humanas de aprendizagem, psicológicas, biológicas e sociais do indivíduo. Uma aprendizagem que se faz no coletivo. É nessa linha de pensamento que consideramos o processo educacional como um todo, contextualizado com as necessidades de inovação dos saberes pedagógicos e internalizando saberes, mediando as relações de aprendizagem advindas do desejo pessoal com aquelas exigidas pela formação. Daí que, para defendermos uma educação emancipadora e libertadora a distância, mediada por novas tecnologias, de nada adianta fechar as salas da escola e equipá-las com aparelhos eletroeletrônicos modernos, se não adquirimos habilidades

para lidar com essas máquinas, se não desenvolvemos a criatividade e o espírito crítico dos alunos. A EAD tem que promover esse pensar sobre a função social da escolas nestes novos tempos de globalização e alta circulação da informação.

Supomos que a intenção majoritária na elaboração do projeto seja constatar, através dos resultados obtidos com as propostas pedagógicas pensadas pelas professoras, se as docentes aprenderam com os conteúdos ministrados na formação e se farão uso dele mesmo após o seu término. Outro ponto importante citado na resposta de Marta refere-se com relação ao tempo que devemos dedicar ao curso. Sobre este tempo, pensamos que a EAD flexibiliza o tempo, entretanto é necessário um planejamento para gerenciar as atividades a serem feitas na rede.

O planejamento ajuda para que os professores não se dispersem e faz com que eles interajam com os demais usuários da plataforma sem perderem o curso. Por isso é importante a organização do tempo, um cronograma de estudos e um tempo dedicado ao curso. De tal modo que a disciplina torna-se fator essencial para participação e interação pra acompanhamento do curso. Esse processo é incentivado pelo próprio cursista que faz o seu planejamento de estudos e autogerencia o seu processo de aprendizagem, pelo cronograma, que ajuda os cursistas a definirem suas prioridades de atividades durante o dia. A responsabilidade de criação de horários, por sua vez, estimula para o crescimento da autoestima emocional dos professores.

Assim a EAD tem criado habilidades e novos comportamentos para lidar com essas tecnologias. Seu acesso tem moldado outros modos de lidar com o aprender, tem instigado os docentes a procurar formas de aprendizagem que se tornam mais acessíveis, devido a flexibilidade do ajustamento do horário, nas redes digitais.

Entretanto, se tomarmos nossas entrevistadas como amostra significativa do universo de docentes, percebemos que tais profissionais não têm utilizado muito desta ferramenta para enriquecimento dos seus saberes. Se Clara tem um desejo pessoal para conhecer mais acerca dos cursos a distância, Marta fez o curso sobre prevenção as drogas devido ao convite da gestora da escola. De acordo com Marta, esta não faria curso, pois acreditava que não teria tempo para fazê-lo.

Tais depoimentos demonstram-nos que, para tornar-se uma fonte sistemática e focada de aprendizagens ligadas às práticas pedagógicas, a internet precisa ser utilizada intencional e integradamente nas etapas de formação inicial e continuada, o que também supõe uma revisão das políticas de formação e das habilidades necessárias à autogestão formativa, e, na escola, à gestão pedagógica de conflitos relacionais, sem se esquecer da

motivação – haja vista que tal aprendizagem a distância requer esforço, disciplina e desejo pessoal para sua concretização.

Assim, registramos que a internet faz parte da vida das docentes, certamente mais por força dos processos sociais que mesmo da formação continuada ou da demanda da escola.