• Nenhum resultado encontrado

4. Violência e a construção de uma cultura de paz na escola

4.3. O Programa Escola que Protege

Este tópico tem por objetivo descrever o Programa Escola que Protege (EqP), o que o caracteriza, e como ele pode nos ajudar a identificar casos de violência e como a escola pode auxiliar a intervir e a promover projetos e campanhas voltados para a valorização e ao respeito do outro.

O enfrentamento da violência é uma atividade que envolvem desde os professores até a direção da escola, pois projetos relacionados a essa temática enriquecem ainda mais as iniciativas das escolas na gestão da violência. Entre esses projetos identificamos o EqP, que tem por função a defesa dos direitos das crianças e adolescentes, além de estimular políticas para o enfrentamento e prevenção da violência nas escolas, tendo por propósito custear projetos para a formação continuada de professores da educação básica que lecionem na rede pública de ensino. O projeto conta ainda com um amplo material pedagógico voltado para o tema em estudo para um melhor aperfeiçoamento e clarificação desses conceitos para esses professores para que eles possam melhor intervir nos problemas relacionados à violência e assim promover relações que combatam tais problemas nas escolas.

O EqP tem esse intuito de desenvolver competências voltadas para o enfrentamento da violência, estimulando atributos no educador que o foquem no ser, na pessoa, nas habilidades do saber lidar com o outro. Além desse intuito, há outro que preza pelo rompimento da violência contra crianças e adolescentes, é por esse motivo que o projeto tem por propósito a qualificação para a capacitação de profissionais da área de educação para que eles possam intervir nessas situações e confrontar a violência através de uma cultura de paz, conscientizando os alunos dos princípios de justiça, liberdade e igualdade.

O projeto foi desenvolvido inicialmente em 2004, mas foi no ano de 2006 que estabeleceu-se o programa como prioridade básica para formação dos professores e houve essa maior vinculação em sites e em parcerias com universidades federais e estaduais do país. O EqP tem a intencionalidade partilhar conhecimentos com relação ao que se tem produzido e o que se conhece em experiências educacionais, históricas e

sociais anteriores e atuais referentes a temática da violência, já que ele aborda os diversos tipos de violência existentes, como já falamos anteriormente.

Ele também prioriza o desenvolvimento de projetos que sejam aplicados na escola, a certificação do curso para aqueles que dele fazem parte se dá pela aplicação e mostra dos resultados desses projetos exercidos nas escolas, aos quais os cursistas fazem parte.

Com o EqP, privilegiaram-se, incialmente, as instituições escolares que possuíam baixo desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), e as escolas situadas em áreas consideradas “zonas de perigo”, pelos altos índices de criminalidade, drogas, violação e/ou exploração sexual e condições precárias de forma de vida.

O EqP ancora-se nos Direitos da Criança e do Adolescente (ECA) e nos planos de enfrentamento da violência sexual infanto-juvenil, de proteção e defesa dos direitos da criança e adolescente e à convivência familiar e comunitária, enfrentamento ao tráfico de pessoas, da educação em direitos humanos, entre outros que assegurem a defesa e o direito humano e que pautam-se nos direitos universais do homem, que os direitos de liberdade, igualdade e fratern

idade.

O programa também nos ajuda a identificar os casos de violência, quando nos oferece um panorama, de forma bem resumida acerca da visão histórica, no mundo e no Brasil, sobre as formas de violência contra crianças e adolescentes: segundo o manual do programa, no Brasil o aporte teórico com que conceituamos a violência delimita-a como uma relação de poder. Isso nos lembra o que afirmam Faleiros e Faleiros (2007, p.30):

Todo poder implica a existência de uma relação, mas nem todo poder está associado à violência. O poder é violento quando se caracteriza como uma relação de força de alguém que a tem e que a exerce visando alcançar objetivos e obter vantagens (dominação, prazer sexual, lucro) previamente definidos. A relação violenta, por ser desigual, estrutura-se num processo de dominação, através do qual o dominador, utilizando-se de coação e

agressões, faz do dominado um objeto para seus “ganhos”. A relação violenta

nega os direitos do dominado e desestrutura sua identidade. O poder violento

é arbitrário ao ser “autovalidado” por quem o detém e se julga no direito de

criar suas próprias regras, muitas vezes contrárias às normas legais.

Ao longo do manual do programa (BRASIL, 2008), são indicadas também as formas de violência contra crianças e adolescentes, como se tem situado essa questão no cenário brasileiro, como podemos definir os autores e atores dessa violência e, por último, como está a situação de enfrentamento do trabalho infantil.

O manual também tem limites criticáveis: só superficialmente apresenta informações gerais, sobre os diversos tipos de violência, situando-a no campo histórico, pontuando a violência física externa que acontece fora da escola. São, no entanto, apenas observações, sem maiores aprofundamentos teóricos, nem direcionamento de como a escola poderia promover projetos para a cultura de paz.

Como indica Queiroz (2012), na Paraíba o EqP recebeu do Ministério da Educação a proposta de que fosse criada uma comissão gestora local constituída por diferentes áreas de atuação do poder público e dos órgãos responsáveis pela garantia dos direitos humanos e das instituições que promovem a assistência do cuidado a criança e ao adolescente. Neste sentido, oferecer um curso do programa EqP remeteu a parcerias de áreas tais como instituições de ensino superior públicas, secretarias de educação, conselho tutelar, secretaria da saúde entre outros15. O projeto teve como objetivos discutire debater sobre as propostas de violências ocorridas na escola e propor alternativas para conhecer e diminuir esses casos. Por isso a articulação dos vários setores sociais que garantissem a liberdade e a integridade da pessoa física, para mostrar que a escola e os professores não estavam sozinhos.

Para casa projeto empreendido, objetivou-se formar no mínimo 500 pessoas, com 430 da área educativa e o restante da área dos conselhos tutelares e dos órgãos de proteção aos direitos da criança e do adolescente.

O curso teve carga horária total de 80 horas e junto destas horas houve a criação de um projeto para a intervenção na realidade escolar em que o professor trabalhava, a fim de promover neste ambiente um local de reflexão e diminuição da violência. A criação desse projeto é essencial para a certificação de participação no curso.

Na Paraíba o curso foi oferecido pela UFPB em parceria com as secretarias dos municípios de João Pessoa, Bananeiras, Patos e Caaporã.

Para a execução do projeto, faz-se necessária criação e/ou implementação de uma Comissão Gestora Municipal e Estadual, a qual tem a missão de acompanhar o desenvolvimento do Projeto Escola que Protege na escola e avaliar suas ações no âmbito local e estadual (QUEIROZ, 2012, p.34). Várias são as temáticas discutidas durante a formação com vista ao enfrentamento da violência. Essa formação se dava através de oficinas e palestras para professores,

15 Para outras informações acerca das instituições e parcerias proponentes do curso, visitar a página do Ministério da Educação:

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12363%3Aescola-que- protege-&catid=307%3Aprojeto-escola-que-protege&Itemid=560

assistentes sociais, gestores, psicólogos com vista a prevenir, detectar e ensinar a estes profissionais meios de intervir na realidade escolar na intenção da diminuição da violência (QUEIROZ, 2012).

Portanto, o EqP pretendeu promover a criação de um ambiente harmonioso que está intrinsecamente relacionada à prevenção e à resolução não violenta dos conflitos, cultura essa baseada em tolerância, solidariedade e compartilhamento em base cotidiana, uma cultura que respeita os direitos civis individuais – o princípio do pluralismo que sustenta e assegura a liberdade de opinião- e que se empenha em prevenir conflitos, resolvendo-o em suas fontes, que engloba novas ameaças não- militares para a paz e para a segurança como a pobreza extrema e a degradação ambiental.

Tendo os direitos humanos como princípio fundamental o trabalho para o manejamento de conflitos e da violência procura resolver os problemas por meio do diálogo, da negociação e da mediação, de forma a tornar a guerra e a violência inviáveis. A expressão Kantiana de formar o “indivíduo esclarecido” toma o seu lugar nessa formação, concebendo-se a escola como lugar que pode ajudar a intervir e promover projetos e campanhas voltados para o respeito e valorização do outro, de entender o princípio da justiça em seu sentido social, da igualdade de direitos de todos os indivíduos perante a lei.

É esse manejo do lidar com as situações conflituosas que acontecem no ambiente escolar e da violência em todas as suas representações: a física, simbólica, estrutural e a institucional que o EqP, mesmo não ocorrendo mais na Paraíba, uma vez mantido em outros locais do Brasil, tenta focar. A sua denominação demonstra que a escola enquanto instituição acolhedora, de formadora também de cidadãos, de indivíduos socializados, tem essa função de receber esses alunos, vindos dos mais diversos ambientes sociais, culturais e familiares.

Algumas vezes não conhecemos as histórias de vida que cercam esses alunos, mas enquanto instituição escolar, o coletivo de professores, supervisores, gestores, assistentes sociais, tem a função social de acolher, de receber o aluno, de direcionar o ensino, contextualizando-o de acordo com a prática do alunado, por esses motivos precisamos conhecer a realidade social local a qual a escola é pertencente, para tomar parte do que acontece e desenvolver projetos e ações voltados para o acolhimento e boa recepção dos discentes que adentram no ambiente escolar.

Assim para Abramovay (2004), desenvolver projetos voltados para a não- violência, não é extingui-la de vez, é um processo lento, gradativo que envolve bastante diálogo e conscientização. É nesse exercício do diálogo, do manejo permanente dos conflitos que a educação para a paz deve pautar-se, numa formação que faz do processo civilizador do aluno para a vida além da escola. Assim, a ação de projetos voltados para o respeito ao outro numa cultura de paz, concebe o conhecimento e à prática educativa enquanto uma prática de reflexão, libertação e alteridade, no tocante à percepção de que o valor do outro deve ser levado em consideração para que o processo educacional flua livremente, envolvendo o ato de educar como um efeito de construção e elucidação de saberes dialogados e compartilhados.

5. Aprendizagem pela internet na formação docente continuada para a gestão