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1 INTRODUÇÃO

2.3 OS MOTIVOS QUE LEVARAM À MUDANÇA

O Siafi, segundo a STN (2011a), é um sistema dinâmico e em constante evolução. Podem ser apontados, como marcos dessa evolução, a implantação do subsistema Contas a Pagar e Receber, em 2004 (DANTAS, 2013) e a criação do módulo gerencial, que mais tarde veio a dar origem ao sistema Siafi Gerencial Web (SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL, 2012b).

Porém, a primeira tentativa de reconstrução tecnológica do sistema ocorreu na década de 2000, com o Projeto Siafi XXI (SERVIÇO FEDERAL DE PROCESSAMENTO DE DADOS, 2002; TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, 2009; DANTAS, 2013). Segundo o TCU (2009), o sistema planejado tinha como meta substituir completamente o Siafi, que passaria a ser operado em plataforma mais amigável ao usuário, desenvolvida, provavelmente, em ambiente Windows. O projeto de desenvolvimento foi iniciado no fim do ano 2000, sendo a implantação prevista para janeiro de 2005. No entanto, o sistema não foi implantado, apesar de terem sido gastos mais de R$ 30 milhões no projeto (CONTAS ABERTAS, 2010).

Após essa tentativa frustrada, surgiu o Projeto Novo Siafi, preconizando as seguintes diretrizes, em oposição ao projeto anterior (TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, 2009):

 Proposta de migração gradual com período de convivência entre as duas plataformas, em vez de substituição integral do sistema proposta no projeto anterior;

 Foco na migração tecnológica, limitando o escopo do novo sistema às funcionalidades existentes no Siafi Operacional;

 Manutenção da separação em exercícios sem migração dos dados de exercícios anteriores à implantação do novo sistema, permitindo a preservação do sistema anterior de consultas a dados de bases históricas. Segundo Mota (2009), o Siafi Operacional possui uma estrutura interna denominada de Árvore do Siafi, que é uma subdivisão do sistema em subsistemas, que são segregados em módulos compostos por transações. Segundo o autor, a Árvore do Siafi tem como objetivo organizar as informações do Siafi de modo a facilitar as consultas no sistema. Esta estrutura completa ainda não foi totalmente implantada no Novo Siafi, haja vista que o processo de migração será gradual. Até o momento foram implantados o subsistema Contas a Pagar e Receber (CPR), a Programação Financeira (TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, 2013a), além do módulo Comunica e a Folha de Pagamentos. Esta última funcionalidade era realizada em transação específica no Siafi Operacional e No Novo Siafi, passou a ser gerada no subsistema CPR, desde 2013 (DANTAS, 2013). Mas, por que mudar? De acordo com Camargo (2008) como ocorre com quaisquer ferramentas em TI, há uma vida útil associada ao Siafi Operacional, decorrente de diversos fatores: hardwares, políticas de informática, linguagens de programação e conhecimento técnico vinculado. A evolução constante da TI proporciona o surgimento de inovações com um intenso e contínuo processo de adoção, difusão e superação, gerando produtos com ciclos de vida cada vez menores (LASTRES et al., 2002). No entanto, o encerramento do fim da vida útil do Siafi Operacional só está ocorrendo agora, cerca de 30 anos da sua implantação.

Camargo (2008) ainda explicita que, além do fim da vida útil do sistema, as necessidades associadas ao tratamento, volume e ritmo de geração e tráfego das informações e a crescente complexidade da Administração Pública brasileira levaram o Siafi Operacional a indícios de exaustão, com custos elevados de manutenção e baixa flexibilidade no atendimento à dinâmica dos usuários. Silva, Palmeira e Quintana (2007) já enxergavam como necessária a reformulação do Siafi para adequá-lo aos novos paradigmas da TI, no intuito de atender às necessidades dos usuários.

Em 2009, o TCU realizou um relatório de inspeção de acompanhamento do Projeto Novo Siafi, em que, dentre outros aspectos, evidenciou as causas para a

mudança tecnológica do Siafi. Segundo o órgão fiscalizador, esses fatos corroboram o final do ciclo de vida do sistema atual. Abaixo são listadas as causas para as mudanças identificadas pelo TCU (2009):

Tecnologias consideradas defasadas (linguagem de programação Natural e banco de dados Adabas);

 Mão de obra qualificada escassa para lidar com essas tecnologias defasadas e, consequentemente, tornando o aumento dos custos e do tempo para mantê-lo em operação e realizar novas manutenções cada vez mais crescentes;

 Devido a fatores culturais, tecnológicos e políticos, a introdução de novas funcionalidades ao Siafi nem sempre pôde ser realizada de forma planejada e organizada;

Processamento das informações em uma única máquina, o mainframe, prejudicando a expansão de seu uso;

 Impossibilidade de integração padronizada e inteligente que possa ser utilizada por sistemas dos diversos órgãos públicos, o que limita e torna complexos quaisquer novos processos de integração.

Outros fatores ainda podem ser apontados como causas para a mudança, significando, também, avanços possibilitados pelo novo sistema:

O Siafi Operacional, por ser baseado em mainframe e permitir o acesso apenas por meio de emulador, possui limitações características desse tipo de terminal, como a visualização de telas apenas em modo texto. A título de comparação, a implementação do Novo Siafi diretamente na plataforma

web oferece ao usuário vantagens típicas dessa tecnologia, como interface

gráfica intuitiva, uso do mouse, organização em menus e abas e ajuda on-

line integrada, recursos ausentes no antecessor (BORGES, 2013).

 A implantação do Novo Siafi trouxe melhorias significativas com relação aos aspectos de interoperabilidade – capacidade de os SI trocarem dados e informações com outros SI (CEPIK; CANABARRO, 2010) –, com a disponibilização da integração via web services seguindo os padrões estabelecidos pelo Governo Federal (e-Ping), que vêm sendo evoluídos juntamente com o sistema. Assim, as extrações foram padronizadas e houve um incremento na segurança da integração com outros SI

(SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL, entre 2012 e 2014b; SANTOS; VASCONCELOS, 2013).

No Siafi Operacional há a limitação de necessitar de um software instalado em cada computador em que o sistema é utilizado e que necessita de atualizações constantes. Trata-se do Java, que deve ser compatível com o requisitado pelo software HOD. Segundo o Serpro [entre 2009 e 2014], o HOD suporta apenas as seguintes versões do Java: Java Sun JRE de 32 bits e Java Oracle JRE de 32 bits até a versão 1.7.0_51, isto é, não suporta versões superiores. Isso causa dependência, tanto de conhecimento mais específico ligado à área de informática quanto do sistema operacional usado nos computadores que fazem uso do sistema (SANTOS; VASCONCELOS, 2013).

 Uma das premissas do Novo Siafi é abranger aspectos de segurança da informação. Visando atender aos critérios de confidencialidade, integridade e disponibilidade da informação, aspectos de segurança foram incorporados ao sistema. Dentre eles, podem ser destacados o uso do

captcha, caracteres a serem digitados pelo próprio usuário, utilizados para

inibir acesso por “robôs” maliciosos, e o protocolo HTTPS, que permite a autenticação do serviço ao usuário e uma conexão segura com confidencialidade [SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL, entre 2012 e 2014b].

O uso de software livre, isto é, com código aberto, caso do Novo Siafi, desenvolvido a partir do framework Demoiselle do Serpro, reduz os custos de software, por dispensar os gastos com licença e reduzir custos de manutenção (TIBONI; LISBOA; MOTA, 2009). Ao contrário, a operacionalização do Siafi Operacional, devido à utilização do mainframe, depende do pagamento de licenças à empresa IBM, detentora da licença do software emulador e do servidor de grande porte.

Segundo dados do Portal da Transparência (CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO, 2014a), a unidade regional do Serpro em Brasília realizou em apenas um empenho (2014NE800326) um gasto de R$ 11.706.011,44 referente a despesas de expansão e atualização tecnológica da capacidade produtiva das plataformas IBM

mainframe; o escritório regional da empresa pública em São Paulo realizou, em

despesas da mesma natureza tendo como favorecido a IBM (CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO, 2014b). Segundo dados do Portal da Transparência (CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO, 2014c), estas não foram as únicas despesas junto à IBM por parte do Serpro.

Como afirma Van Grembergen (2003), SI são, via de regra, caros para adquirir ou desenvolver, configurar e manter. Assim, pode-se afirmar que a implantação do Novo Siafi em contraposição ao Siafi Operacional, considerando fatores como o valor da licença paga à IBM para utilização e manutenção relativas aos servidores mainframe, os pagamentos referentes à mão de obra especializada para manutenção do Siafi Operacional e o desenvolvimento do novo sistema na plataforma livre do próprio Serpro (Demoiselle), geram uma grande economia de despesas, trazendo benefícios não só para os órgãos envolvidos, mas para as contas públicas do país como um todo.