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CAPÍTULO III- OCUPAÇÃO ANTRÓPICA E PROBLEMAS DE ORDENAMENTO

1. ENQUADRAMENTO CIENTÍFICO

1.4. Ocupação Antrópica e Problemas de Ordenamento em Zonas de Vertente

1.4.2. Movimentos de Vertente: Fatores predisponentes e desencadeantes

vertentes onde estes movimentos são passíveis de ocorrer, apenas ocorrem ocasionalmente (Marshak, 2008). Como foi mencionado anteriormente, os movimentos de vertente resultam, em primeira instância, da ação da gravidade. Dependem, antes de mais, do balanço de forças entre a força da gravidade (Fd), que puxa para baixo e a força de resistência (Fr), que impede o movimento descendente (Figura 7). Se a força da gravidade (Fd) exceder a força de resistência (Fr), dá-se a rotura do equilíbrio, ocorrendo o movimento de vertente (Grotzinger et al., 2007).

Figura 7: Forças que atuam numa rocha numa superfície inclinada (vertente) (Marshak, 2008, p. 567).

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Apesar do papel preponderante da gravidade, existe uma série de outros fatores predisponentes, naturais ou antrópicos, que também influenciam na ocorrência deste tipo de movimentos, tais como: o declive da vertente; o sentido da inclinação dos estratos; o conteúdo/teor em água; a natureza dos materiais; a vegetação e a sobrecarga (Marshak 2008; Grotzinger et al., 2007 e Monroe & Wicander, 2001).

a) Declive da vertente – O declive (inclinação) da vertente é provavelmente das principais causas dos movimentos de massa. De um modo geral, quanto mais acentuado for o declive, mais instável se encontrará a vertente. Esta relação está diretamente relacionada com o ângulo de repouso - ângulo máximo a partir do qual a força tangencial da gravidade excede a força de resistência do material (Fr), conduzindo ao movimento do material. Existem porém superfícies onde a força de resistência é menor do que a esperada, como camadas de argilas saturadas, camadas de areia não consolidada, zonas de junção de planos de estratificação paralelos,

planos de exfoliação, entre outros (Marshak, 2008).

Existem vários processos que interferem diretamente no declive de uma vertente. Um dos mais comuns é a remoção de uma porção da parte inferior de uma vertente pela ação natural dos rios ou das ondas do mar. Igualmente comum, ainda que já a nível antrópico, é o aterrar e/ou desmantelar de vertentes para a construção de estradas, habitações, etc.

b) Sentido da inclinação dos estratos – Se os estratos estão no mesmo sentido que a inclinação da vertente, a água pode circular preferencialmente ao longo dos planos de transição entre estratos diferentes, decrescendo a coesão e a fricção na zona de junção dos estratos. Logo, é mais provável que ocorra movimento de massa nesta situação do que se os estratos estiverem horizontais ou inclinados no sentido oposto. Isto é particularmente importante quando o material de transição é composto por um nível de argila.

c) Conteúdo / teor em água – Esta característica está relacionada com a quantidade de água, proveniente da chuva ou do degelo a que o material esteve sujeito, para além de características do próprio material como a porosidade, a permeabilidade, o grau de fracturação, etc. Por norma, quanto maior for o conteúdo em água, maior será a probabilidade de ocorrência de um movimento em massa em vertente; se por um lado, ao adicionar água ao material adiciono-lhe peso, logo,

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aumento a força tangencial da gravidade (Fg), podendo este aumento ser suficiente para exceder a força de resistência (Fr), por outro, a água ao percolar ajuda a diminuir a fricção entre os grãos, contribuindo para a perda de coesão no material, o que também tende a conduzir para o desequilíbrio natural e desta feita, para a ocorrência de movimento em massa (Monroe & Wicander, 2001; Grotzinger et al., 2007).

d) Natureza dos materiais – Dependendo do tipo de material (rocha, solo, ou mistura de ambos), da sua composição mineralógica (presença ou não de minerais de argila), do grau de deformação/meteorização (fraturado, falhado, alterado, etc), e de contrastes de permeabilidade, entre outros, assim varia o comportamento da vertente, ou seja, a estabilidade da mesma.

e) Vegetação – A vegetação afeta a estabilidade das vertentes de várias maneiras: por um lado, ao absorverem a água que está no solo, reduzem o seu conteúdo em água, diminuindo a probabilidade de saturação dos mesmos. Por outro lado, as raízes das plantas ajudam a fixar as partículas do solo (Monroe & Wicander, 2001). Porém, não podemos ignorar que as raízes, no caso de substratos rochosos, tendem a facilitar o processo de fracturação dos mesmos.

g) Sobrecarga – A sobrecarga resulta maioritariamente da atividade humana, consistindo no entulhar, preencher ou empilhar com materiais/objetos uma determinada área. A sobrecarga criada pelo peso do material adicionado à vertente enfraquece a vertente, podendo mesmo conduzir à rotura de equilíbrio e à ocorrência de movimentos em massa.

Importa salientar que, embora se tenha falado dos processos anteriores separadamente, estes se interligam, influenciando-se uns aos outros, devendo por isso ser analisados no seu todo. Por exemplo, numa vertente, a inclinação (declive) máxima de estabilidade varia em função da natureza do material que a compõe (e.g. material consolidado pode ter uma inclinação maior que material não consolidado), do mesmo modo que, para uma mesma sobrecarga, dependendo da natureza do material, do declive da vertente, do conteúdo em água, etc., assim varia a estabilidade da vertente.

Para além dos fatores que predispõem mais ou menos uma vertente à ocorrência de movimentos de vertente, existe uma série de outros fatores que tendem

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a iniciar o movimento propriamente dito fatores desencadeantes. Dos fatores desencadeantes destacam-se os fatores climáticos, mais concretamente a precipitação como fator de ignição mais usual (Soares & Bateira, 2013). Como vimos anteriormente, a maioria dos deslizamentos ocorre em simultâneo ou após um período de chuvas intensas. Importa contudo salientar que embora se fale apenas em precipitação, por detrás desta estão parâmetros como a quantidade, intensidade e duração dos episódios chuvosos, que têm obrigatoriamente que ser levados em consideração (Soares & Bateira, 2013). Também as variações de temperatura (outro fator climático) podem espoletar este tipo de movimentos; o aumento da temperatura pode conduzir ao descongelar de água presente nos espaços entre os grãos, principalmente se se tratar de minerais de argila existente em superfícies de fraqueza já existentes, conduzindo para a diminuição do grau de coesão entre os grãos, a assim espoletando o movimento em massa em vertentes. Entre os fatores desencadeantes naturais, destacam-se igualmente as vibrações resultantes de atividade sísmica, a atividade vulcânica, e nas proximidades da linha de costa, o efeito das tempestades, que se reflete ao nível da energia das ondas que embatem nas vertentes, neste caso, nas arribas.

Embora se tenha dado ênfase aos fatores naturais como sendo os principais mecanismos responsáveis pelo desencadear dos movimentos em massa em vertentes, os fatores antrópicos são, de uma forma cada vez mais evidente, responsáveis pelo aparecimento e desencadeamento destes movimentos (Pedrosa & Martins, 2011). Umas vezes construindo habitações em locais que são tudo menos apropriados para a construção, outras aterrando e/ou desmontando vertentes para construção de vias, outras ainda desflorestando grandes extensões de terreno, ou utilizando técnicas agrícolas que podem também contribuir para o aumento deste tipo de movimento, o Homem tornou-se, sem sombra de dúvida, num fator potenciador deste tipo de mecanismos (Pedrosa & Martins, 2011).

1.4.3. Movimentos de Vertente: Consequências, medidas preventivas e/ou