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balha mas apenas se refere ao facto de ser estudante.

2.2. Situação anterior ao projecto migratório para Portugal

Para todas as mulheres, Portugal foi o primeiro país destino do movimento migratório e também para a maioria não existe qualquer projecto de imigração para outro país. Apenas Madalena pensa um dia vir a imigrar para a Holanda ou para a Suíça. Assim, o movimento migratório tendo Portugal por destino revela -se um destino bem circunscrito e definido, e não uma etapa de uma trajectória migratória mais ampla.

A três mulheres (Sónia, Jacquelina e Alcinda) não se aplica a questão da actividade profissional em Cabo Verde por terem imigrado muito novas. As restantes mulheres trabalhavam em Cabo Verde em actividades diversas — ajudavam em casa (Madalena, Luísa), trabalhavam na agricultura (Madalena, Luísa), eram costureiras (Luísa), trabalha- vam para patroas (Madalena quando foi para a ilha do Sal, Domingas), em contabilidade (Mafalda) e Filomena era empregada num hotel. Todas as mulheres, que trabalhavam, auferiam em Cabo Verde remunerações inferiores às actuais. Apesar de ganharem mal, todas estavam satisfeitas com o seu trabalho e emigraram com o objectivo de ganharem mais ou para apoiarem uma decisão dos maridos/companheiros (Mafalda). Apesar de algumas das mulheres referirem dificuldades em trabalhos anteriores em Portugal — exigência excessiva das patroas (Madalena); horários de trabalho longos (Domingas); horas extraordinárias não pagas (Domingas); trabalhos sem direito a férias (Luísa); serem enganadas pelas patroas (Luísa e Domingas) e racismo (Domingas) —, todas se manifestam satisfeitas com os seus actuais trabalhos, tendo, inclusivamente, Sónia um trabalho com um horário de trabalho privilegiado. Não se identifica a insatisfação encontrada em duas das mulheres brasileiras e que se relacionava com a décalage entre a formação escolar e o trabalho nas limpezas. De facto, as mulheres cabo -verdianas entrevistadas têm, com excepção de Jacquelina (que também é estudante), habilitações baixas. Mesmo as mulheres que têm longos horários de trabalho (que são a maioria) referem estar satisfeitas com o seu trabalho.

2.3. Projecto migratório em Portugal

Portugal foi escolhido por algumas mulheres pela língua comum e, logo, pela maior facilidade de comunicação (Sónia, Domingas) e por influência de familiares que já estavam no país (Mafalda veio ter com o marido, Filomena veio ter com a irmã) e que, directa ou indirectamente, incentivaram estas mulheres a deixar o seu país e a vir para Portugal. Algumas emigraram pelo facto de os seus pais considerarem que seria fácil arranjar trabalho (Sónia), outras para esquecer acontecimentos tristes em Cabo Verde (Filomena para esquecer um desgosto amoroso), outras, ainda, por sentirem uma pro- ximidade em relação ao país (Domingas). Em muitos casos há mais do que um factor que motivou a vinda (Filomena veio para esquecer um desgosto de amor, mas o facto de a irmã estar cá facilitou a decisão). Nos casos em que foram os pais que tomaram a decisão de imigrar, algumas mulheres não sabem ao certo as razões que as motivaram (Jacquelina) e, no caso de Luísa, a vinda ocasional integrada num grupo carismático em peregrinação a Fátima acabou por resultar num projecto imigratório, animado pelo objectivo inicial de amealhar dinheiro para pagar à vizinha (o dinheiro que aquela lhe emprestara para a viagem).

Cinco não se recordam com precisão do dia em que chegaram — Sónia, Jacquelina e Filomena não se lembram com precisão do dia, Sónia recorda -se que foi no Verão e Filomena recorda -se que foi de noite. As demais mulheres evocam com precisão o dia em que chegaram de avião a Portugal, data que ficará para sempre marcada nas suas memórias. Esta data está presente mesmo em mulheres que emigraram há vinte anos atrás (casos de Alcinda e Domingas).

Relativamente ao tempo de estada em Portugal, três mulheres estão em Portugal há mais de trinta anos (Sónia há 36 anos, Madalena há 35 anos e Filomena há 31 anos). Filomena e Alcinda estão há 20 anos em Portugal. As restantes três mulheres estão em Portugal há 6 anos (Mafalda), há sete anos (Jacqueline) e há oito anos (Luísa).

Madalena e Filomena fizeram sozinhas a viagem, três mulheres vieram acompanhadas por familiares (Sónia veio com e mãe e com dois irmãos, juntando -se ao pai que já cá estava; Jacquelina veio com a irmã, vindo ter com os pais que já cá estavam e Mafalda veio com o marido, tendo mais tarde vindo os filhos e depois a sogra). Domingas veio com a patroa e Luísa chegou integrando um grupo carismático de cerca de cento e cinquenta pessoas.

A decisão de imigrar foi das próprias mulheres no caso de Madalena, de Alcinda, de Domingas e de Luísa. No caso de Sónia e de Jacquelina que emigraram muito novas, a decisão foi do pai. No caso de Mafalda, a decisão foi do marido e ela veio em resultado dessa decisão. Em todos os casos, as mulheres ou o elemento da família que decidiu imigrar esperavam melhorar o aspecto económico. Todas as mulheres contaram com o apoio da família (e Madalena com o apoio de uma amiga) na tomada da decisão.

Quando chegaram a Portugal quase todas ficaram na casa de elementos da família que já cá estavam. Sónia e Jacquelina foram viver com os pais. Todas mudaram de casa tendo conseguido viver em casas melhores do que as iniciais. Madalena e Luísa viviam numa barraca e Mafalda num bairro social, vivendo actualmente em casas melhores. Algumas conseguiram adquirir casa própria, tendo contraído empréstimos à banca para as adquirir, empréstimos esses que vão sendo pagos com parte das suas remunerações.

2.4. redes migratórias

Todas as mulheres, excepto Jacquelina e Alcinda, contaram com uma rede de apoio no país, rede essa essencialmente composta por familiares e, em menor número, por amigos. Não se trata de redes muito extensas, sendo apenas constituídas por dois ou três elementos. Todas entraram no país com um visto turístico de três meses, excepto Filomena que refere ter vindo sem visto por Cabo Verde ser, na altura, uma colónia portuguesa,6 estando todas legalizadas o que faz com que usufruam dos direitos de cidadãos portugueses como acesso gratuito ao serviço nacional de saúde.

6 a história de Filomena remete