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CAPÍTULO 1. CORPO CAOS

1.3. Fim do Mundo

Por toda terra que passo me espanta tudo que vejo

A morte tece seu fio de vida feita ao avesso

O olhar que prende anda solto

O olhar que solta anda preso Mas quando eu chego eu me enredo

Nas tramas do teu desejo

O mundo todo marcado à ferro, fogo e desprezo

A vida é o fio do tempo, a morte o fim do novelo

O olhar que assusta anda morto

O olhar que avisa anda aceso

Mas quando eu chego eu me perco

Nas tranças do teu segredo A cera da vela queimando, o homem fazendo seu preço

A morte que a vida anda armando, a vida que a morte anda tendo

O olhar mais fraco anda afoito

O olhar mais forte, indefeso

Mas quando eu chego eu me enrosco

Nas cordas do seu cabelo

Ê Minas, ê Minas, é hora de partir, eu vou Vou-me embora pra bem longe...28

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Quarenta dias de fumaça e a sensação de solidão ao se indignar. Poucos falavam sobre o assunto. Além dos efeitos da fumaça em seu corpo, uma sem-gracisse tomou conta de sua vida. Salomé nunca tinha experimentado o cheiro da morte e agora ele estava impregnado em seus pulmões, colado em suas células. Um estado de apatia a abateu. Vislumbrava o fim. Esta experiência elucidou um mal-estar que já se fazia presente, uma angústia de morte, sensação de fim de mundo que se desdobrou em vários fins de vários mundos. Além da floresta em chamas e a possibilidade real do fim dos recursos naturais e da biodiversidade do planeta, uma tristeza ecoou a dor do extermínio do povo que aqui viveu e da sobrevivência cotidiana de uma gente morta-viva, reverberou em mim as minhas várias vidas, as minhas várias mortes.

Desterritorializar, desatar um território, experimentar a vida sentada a beira do abismo: sentir o frio na barriga, dar gargalhadas do absurdo, gangorrar as pernas soltas no nada, algumas vezes apenas contemplar, outras vezes deslizar, flutuar no contrassenso, deixar-se levar pela vertigem, se reconhecer no estranhamento.

Desterritorialização, fim de um mundo, fim de um plano, fim de um território. Movimento necessário operado pelas linhas de fuga, abertura para criação de novos mundos, expansão de territórios, fluxos rizomáticos. A vida se dá nesse vai e vem, em movimentos de desterritorialização e reterritorialização.

A Terra não é um elemento entre outros, ela reúne todos os elementos num mesmo abraço, mas se serve de um ou de outro para desterritorializar o território. Os movimentos de desterritorialização não são separáveis dos territórios que se abrem sobre um alhures, e os processos de reterritorialização não são separáveis da Terra que restitui territórios, são dois componentes, o território e a Terra, com suas zonas de indiscernibilidade, a desterritorialização (da Terra) e a reterritorialização da Terra ao território.29

Acometida por uma mudança brusca, por desenlaces, frente a um novo modo de existir esvaziado, a uma subjetividade endurecida, contaminada por uma vida estéril, precisei de um tempo de gestação para decifrar as forças que me atravessavam sem sucumbir à vontade de conservar um território enrijecido, seguro, mas esgotado. Aos poucos fui trocando de pele, à imagem de uma sucuri que para continuar crescendo, desliza para fora de sua pele, deixando materializada uma cobra esvaziada, mas vazando para fora, ampliando territórios, costurando um novo corpo.

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Sustentando o mal-estar, aturando um certo esvaecimento, encarando a falta de chão, habitando um deserto ilhado em meio a Floresta Amazônica, migrante, contagiada por um despovoamento, pela solidão de não pertencer, pude então reconhecer colada em mim a dor do fim do mundo de um povo, arrastado, migrado, minguado, despertencido, desterrado, de um povo que aqui viveu e ainda vive.

Parece que o deslocamento geográfico, deixar uma terra para habitar outra, deportar afetos, expatriar perceptos, me trouxe para o fim do mundo. Olhar de frente para esse tempo, embrenhar na obscuridade do agora, permanecer no vórtice parece ser a única saída não totalitária.

Sensação de que vivia dias felizes, conquistas contundentes acontecendo, de olho na multiplicidade, na diferença, na alteridade. Abertura do pensamento, possibilidades múltiplas de existência, respeito a uma vida singular. E agora, ser engolida pelo retrocesso. Não sei se era eu que ainda não conseguia enxergar na escuridão, mas o fato é que agora estou vendo.

Uma avalanche de desrespeito e direitos essenciais sendo colocados em risco. Os interesses do capital levado ao seu extremo, uma pseudodemocracia, depreciação das conquistas sociais e trabalhistas, crenças manipuladas, as pessoas servindo de marionete à interesses abstrusos, a intolerância e a violência consolidando uma sociedade do medo, o biopoder em tempos virtuais, produção de uma subjetividade zumbi. Talvez seja mesmo o fim do mundo, o fim dos tempos, o fim de um sistema, o fim da humanidade.

Resistir, confiar que todo território instaurado carrega consigo seu próprio fim e que esse recuo para um território de dominação, essa reterritorialização conservadora, um dia também entrará em colapso. Experimentar a potência investida no caos, buscar exercitar a vida, dar corpo sensível às forças, dar passagem para o que pede criação, decifrar o que me atravessa.

Operando no desconhecido, me dei conta que para viver nesse tempo, nesse espaço, preciso dar voz às forças remotas que me interpelam, experiências passadas, de um povo, de um território que agora me afetam, compreender o fim de um tempo e a origem dessa existência.

Giorgio Agabem30 coloca que a distância, e ao mesmo tempo, a proximidade que define a contemporaneidade tem o seu fundamento nessa proximidade com a origem, que

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em nenhum ponto pulsa com mais força que no presente. Ao me dar conta do agora, me distancio para conseguir enxergar o que se passa e começo a perceber as lacunas do presente, o não-vivido.

Sendo assim, além de dar nome aos incômodos, me vejo cartografando o fim do mundo, fim do mundo que para mim começou sob uma nuvem de fumaça.

Estes são apenas alguns dos vários apontamentos que o Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC)31 fez no Quinto Relatório sobre Mudanças Climáticas Globais publicado em 2013 e 2014. O IPCC foi instituído em 1988 pela World Meteorological

31 IPCC é a sigla em inglês para Intergovernmental Panel on Climate Change. O relatório na íntegra pode ser

acessado em www.ipcc.ch.

1. O aquecimento do sistema climático é inequívoco e muitas das mudanças observadas, desde os anos 1950, não têm precedentes, ao longo de décadas a milênios. A atmosfera e o oceano se aqueceram, as quantidades de neve e gelo têm diminuído, o nível do mar subiu e as concentrações de gases de efeito estufa aumentaram.

2. Cada uma das três últimas décadas tem sido sucessivamente mais quente na superfície da Terra do que qualquer década anterior desde 1850. No hemisfério Norte, é provável que o período de 1983-2012 foi o período de 30 anos mais quentes nos últimos 1400 anos.

3. A influência humana sobre o sistema climático é clara. Ela fica evidente a partir das crescentes concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera, a forçante radiativa positiva, o aquecimento observado e a compreensão do sistema climático.

4. A influência humana foi detectada no aquecimento da atmosfera e do oceano, em mudanças no ciclo hidrológico global, em reduções em neve e gelo, na média global o aumento do nível do mar, e em mudanças em alguns eventos climáticos extremos.

5. Emissões cumulativas de CO2 em grande parte determinam o aquecimento superficial médio global até o final do século 21 e além. A maioria dos aspectos das alterações climáticas vai persistir por muitos séculos, mesmo que as emissões de CO2 cessem completamente. Isso representa um comprometimento multissecular substancial das mudanças climáticas criado pelas emissões passadas, presentes e futuras de CO2.

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Organization (WMO) e pelas Nações Unidas e tem como principal objetivo reunir e divulgar informações científicas atualizadas sobre as mudanças climáticas e seus impactos no planeta, sugerindo maneiras de combater seus efeitos e riscos, auxiliando na formulação de políticas públicas.

O relatório em questão traz a constatação de que o clima do planeta vem sendo alterado pela ação do homem. Estamos no Antropoceno, termo difundido por Paul Crutzen (Prêmio Nobel de Química de 1995) para nomear uma nova época geológica, período em que a humanidade tem papel central na geologia e na ecologia. Apesar de haver divergências sobre a criação de uma nova idade geológica, não há dúvidas que o homem se transformou em agente geológico. Alguns pesquisadores atribuem essa transformação, o começo do Antropoceno à Revolução Industrial, coincidindo com a criação da máquina à vapor no final do século XVIII, com o início do aumento de concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, com a expansão demográfica (1 bilhão de habitantes) e expansão do uso de combustíveis fósseis. Outras pesquisas datam o início do Antropoceno por volta do ano de 1945, pós Segunda Guerra Mundial, com o surgimento da era nuclear e sua marca radioativa sobre a Terra, com a abundância e o barateamento do petróleo, o aumento do consumo de massa e o aumento exponencial da população, hoje somos mais de 7 bilhões de habitantes. Essa fase, do qual fazemos parte, vem sendo conhecida como “a grande aceleração”.32

Segundo Nobre, pesquisador do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), os últimos 50 anos testemunharam uma dramática degradação do capital natural da Terra: a cada hora, 9 mil pessoas se somam à população mundial; 4 milhões de toneladas de CO2 são emitidos; 1500 hectares de florestas são derrubadas; atividades humanas adicionam 1,7 milhões de quilogramas de nitrogênio reativo às florestas, campos agrícolas e corpos d´água; 3 espécies são extintas (1000 vezes mais do que os processos naturais).33

A “grande aceleração” deve ser destacada pela enorme expansão quantitativa da produção e do consumo e consequente mudança qualitativa da presença humana na Terra.34 O homem acelerou os processos de acumulação de capital, consequentemente acelerou a deterioração dos recursos naturais do planeta e com isso, acelerou o tempo. Parece que a forma como experimentamos o andamento do tempo, a sensação de falta de tempo, de correr

32 Dados compilados das seguintes referências: PÁDUA, J. A. 2015, p. 60-65. SANTAELLA, L. 2015, p. 46-

59. ARTAXO, P. 2014, p. 13-24.

33 NOBRE, 2010.

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atrás da hora, deixou de ser apenas uma impressão psicológica, a passagem do tempo foi alterada, estamos vivendo em um mundo em que tudo se transforma em alta velocidade.

Não se trata apenas, portanto, de uma “crise” no tempo e no espaço, mas de uma corrosão feroz do tempo e do espaço. Esse fenômeno de um colapso generalizado das escalas espaciais e temporais (o interesse contemporâneo pelos fractais não nos parece acidental) anuncia o surgimento de uma continuidade ou convergência crítica entre os ritmos da natureza e da cultura, sinal de uma iminente “mudança de fase” na experiência histórica humana. ... Assim, o tempo histórico parece a ponto de voltar a entrar em ressonância com o tempo meteorológico ou “ecológico” – mas agora não mais nos termos arcaicos dos ritmos sazonais, e sim, nos da disrupção dos ciclos e na irrupção de cataclismos. O espaço psicológico se vai tornando coextensivo ao espaço ecológico – mas agora não mais como controle mágico do ambiente, e sim como “pânico frio” suscitado pela enorme distância entre conhecimento científico e impotência política, isto é, entre nossa capacidade (científica) de imaginar o fim do mundo e nossa incapacidade (política) de imaginar o fim do capitalismo.35

Experiência sufocante frente ao tempo comprimido, patologias da velocidade, o improvável fim de um sistema, a contínua corrida por uma economia superdesenvolvida, a constatação do fim do mundo. Um modo de vida colapsado, conveniente cegueira que ignora as previsões mortíferas, na ânsia de continuar consumindo, aspirando conquistas neoliberais. Hipnose coletiva, reprodução de hábitos que só favorece uma ínfima minoria em escala mundial, comunicação de massas fabricando um consenso suicida, tiro no próprio pé. A depreciação da vida sendo esfregada nas fuças de cada um.

Guattari em “Caosmose” já anunciava que o mundo não muda mais de dez em dez anos, mas de ano em ano. Segundo ele, com uma velocidade de desterritorialização cada vez maior, nossos órgãos sensoriais, nossas funções orgânicas, nossos fantasmas, nossos reflexos etológicos se encontram maquinicamente ligados em um mundo técnico-científico que está realmente engajado em um crescimento louco. Guattari alerta: é urgente voltar a uma concepção animista do mundo.36

Viveiro de Castro em entrevista para Eliane Brum37 coloca que somos todos drones, como os soldados americanos que de longe apertam um botão e matam inocentes no

35 VIVEIROS DE CASTRO, E. e DANOWSKI, D. 2014, p. 30-31. 36 GUATTARI, F. 2012, p. 140-141.

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Paquistão, vivemos uma dissociação mental. Cada vez mais não sabemos exatamente o que estamos fazendo. Segundo ele, o índio que vai para o mato e tem que flechar o inimigo, tem que arcar com as consequências psicológicas, morais, simbólicas do seu ato. Em nossa sociedade, não lidamos com os efeitos da morte em massa dos bichos que comemos, nós os encontramos embalados no supermercado, sem cara de bicho. Cada vez mais, estamos distantes dos efeitos de nossas próprias ações.

Viveiros de Castro também aposta em uma forma animista de compreender o mundo. Ele aponta que os indígenas podem nos ensinar a repensar a relação com o mundo material pois acreditam que não se faz nada impunemente na Terra, todos os atos têm implicações na natureza. São eles que podem nos ensinar a viver melhor em um mundo pior, podem nos ensinar a viver com pouco e a ser tecnologicamente polivalente e flexível, em vez de depender de megamáquinas de produção de energia e de consumo de energia como nós.

Davi Kopenawa, xamã e porta-voz Yanomami, nomeia nossa sociedade, os brancos, de “povo da mercadoria”. Ele explica que as mercadorias, os objetos, podem durar muito além do que vivemos, por isso seu povo não tem o hábito de juntá-las, nunca deixam de dá- las a alguém que as pede, pois se não as dessem, continuariam existindo após nossa morte, causando tristeza aos que sobrevivem. Ele diz: “Já que somos mortais, achamos feio agarrar- se demais aos objetos que podemos vir a ter. Não queremos morrer grudados a eles por avareza”. E aponta que os brancos têm seu pensamento concentrado em seus objetos o tempo todo, não param de fabricar, matam um aos outros por dinheiro, não pensam que estão estragando a terra e o céu e que nunca vão poder recriar outros.38

Nós nascemos na mata, crescemos nela e nela nos tornamos xamãs. Ao contrário dos brancos, cuidamos dela, como nossos maiores antes de nós, porque sem ela não poderíamos viver. Por isso o espírito da fome sempre esteve longe dela. Queremos que nossos filhos e netos possam também se alimentar da floresta. Desmatamos pouco, só para abrir nossas roças. Nelas plantamos mandioca, macaxeira, bananeiras, cará, batata-doce, cana-de-açúcar, mamoeiros e pupunheiras. Depois, passado algum tempo, deixamos que cresça de novo. Então um matagal emaranhado invade nossas antigas roças e, depois, as árvores vão aos poucos crescendo de novo. Se plantarmos sempre no mesmo lugar, as plantas não dão mais. Ficam quentes demais, como a terra desmatada que perdeu seu perfume de floresta. Ficam mirradas e ressecadas. Logo nada mais brota. Por isso nossos

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antigos se deslocavam na floresta, de roça em roça, quando suas plantações se enfraqueciam e a caça rareava perto de suas casas.39 A estimativa de desmatamento, do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), no período de agosto de 2015 a julho de 2016, aponta a taxa de 7.989 km2 de corte raso, ou seja, a eliminação de toda e qualquer vegetação existente sobre uma área.40 O desmatamento na Amazônia brasileira tem como principais causas diretas a pecuária, a agricultura de larga escala e a agricultura de corte e queima. Dessas causas, a expansão da pecuária bovina é a mais importante já que exige baixos níveis de capital, pouco preparo para o solo e tem poucas restrições associadas a relevo e a áreas livres de troncos em florestas recentemente desmatadas.41

Hoje, mais de 18% da mata nativa da Floresta Amazônica já foi destruída. Até meados do século XXI, parte da Amazônia poderá passar por um processo de substituição da floresta tropical por savana ou por floresta semidecídua (que perde parte da folhagem em determinadas estações do ano), o que pode significar um empobrecimento do ponto de vista biológico. Grandes áreas desmatadas podem contribuir para modificar o ciclo hidrológico, o que ocasiona mudanças climáticas regionais em direção a um clima mais quente e seco, favorecendo a ocorrência de incêndios, com graves consequências para a natureza e as comunidades locais.42

Muitos são os dados sobre desmatamento, queimadas, degradação da Amazônia e do planeta. Além de tomarmos ciência dos desastres ambientais que ocorrem com maior frequência a cada dia, acendeu nas últimas décadas o alerta de pesquisadores e ecologistas sobre a prática de crimes ambientais. Mesmo com o envolvimento de especialistas e líderes mundiais que debatem estratégias para minimizar os danos causados pelo homem, ainda são ínfimas as ações e políticas públicas em prática. Os hábitos ecológicos da grande maioria da população mundial estão colados às representações midiáticas, reproduzir um discurso ecológico, usar a palavra sustentabilidade, jogar seu copo plástico na lixeira correta ainda é muito pouco, muitas das lixeiras coloridas da reciclagem dispensam seu lixo nos caminhões

39 KOPENAWA, D. e ALBERT, B. 2015, p. 469-470. 40 INPE, 2016.

41 RIVERO, S. e outros, 2009.

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de lixo comum que seguem para o aterro sanitário, algumas vezes essas lixeiras só servem para que as pessoas se sintam bem em fazer sua parte.

Diante da crise planetária, surgem alguns movimentos na contramão da acumulação de bens e de um ritmo de vida acelerado, despertando para a mudança do clima e finitude dos recursos naturais, algumas pessoas começam a apresentar atitudes críticas e a inventar novas possibilidades de existência. Da esfera global para inciativas locais, vemos crescer o resgate de formas de cultivos tradicionais e a pesquisa em benefício de uma agricultura ecológica. Longe da produção em larga escala do agronegócio, crescem experiências bem- sucedidas de agrofloresta, agricultura regenerativa e agroecologia, em que árvores ou arbustos são utilizados em conjunto com a agricultura, o plantio está associado à restauração do ambiente natural, não há monocultura e sim uma diversificação de espécies cultivadas.43 A permacultura criada por Bill Mollison e David Holmgren na década de 1970, também ganhou mais adeptos nos últimos anos, pautada em métodos holísticos, visando a criação de ambientes humanos sustentáveis e produtivos em equilíbrio e harmonia com a natureza.44

Movimentos associados com o tipo e a qualidade da alimentação humana também são cada dia mais divulgados, parece crescer o número de pessoas aderindo à dietas que além de levar em consideração os benefícios para a saúde, diminuindo o consumo de alimentos ultraprocessados, prezando por alimentos orgânicos, sem agrotóxicos, sem componentes químicos, tem como principal preocupação a procedência do alimento, levando em conta o modo como foi produzido e a utilização de energias e recursos renováveis. O movimento Slow food é uma dessas reações à indústria alimentícia, fundado por Carlo Petrini em 1986, o Slow Food se tornou uma associação internacional sem fins lucrativos em 1989, manifesto contra a fast life e o fast food, opõe-se à tendência de padronização do alimento no Mundo, e defende a necessidade de que os consumidores estejam bem informados, se tornando co- produtores. A Slow food tem como premissas que o alimento além de ter bom sabor, deve ser cultivado de maneira limpa, sem prejudicar nossa saúde, o meio ambiente ou os animais e respeitando as pessoas responsáveis pela produção. Embasados em conhecimentos gastronômicos que se articulam com a política, a agricultura e o ambiente, o Slow Food tornou-se uma voz ativa na agricultura e na ecologia.45

43 PENEIREIRO, F. M e outros. 1999, p. 76. 44 HOLMGREN, D. 2013.

No documento Corpo em devir Entre a floresta e a cidade (páginas 36-44)