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3. Resultados

3.2 Dimensão Institucional

3.2.1 Município com orçamento participativo

3.2.1.1 Descrição do instrumento

A Câmara Municipal de Odivelas adotou o orçamento participativo em 2008, com periodicidade anual, que funcionava num modelo consultivo. Neste modelo eram recolhidas propostas da população, sendo o executivo quem decidia que propostas iriam ser executadas. Em 2015, o modelo do orçamento participativo do município foi revisto e deixou de ser consultivo para passar a ser deliberativo. Neste novo modelo, os munícipes apresentam as propostas e votam para decidir quais são as propostas vencedoras, que o executivo tem de implementar obrigatoriamente.

O orçamento participativo passou a ter um caráter bianual, sendo o primeiro ano para recolha de propostas. Sendo deliberativo, todas as propostas vencedoras têm de ser executadas no prazo de dois anos. A execução estende-se por dois anos, coincidindo o segundo ano de execução de um orçamento participativo com o período de recolha de propostas do orçamento participativo seguinte, como se ilustra na figura 7.

OP2015 Recolha Execução Execução

OP2017 Recolha Execução Execução

OP2019 Recolha Execução Execução 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Figura 7 – Esquema resumo da calendarização da recolha e execução de propostas no orçamento participativo de Odivelas. Fonte: autoria própria.

O regulamento do Orçamento Participativo foi aprovado em reunião de Câmara e o montante envolvido é de um milhão de euros, correspondendo a cerca de 5% do orçamento global de cada um dos dois anos (€500 000,00+€500 000,00). Podem participar no orçamento participativo todos os munícipes registados.

44 Há reuniões prévias de apresentação do orçamento participativo, que é explicado à população através de publicidade e em reuniões realizadas por freguesia e ainda por setores, com os jovens, com os idosos e com os bairros do Concelho.

São, depois, efetuadas assembleias comunitárias para apresentação de propostas, também por freguesias, e por setor. Os interessados inscrevem-se previamente e apresentam as suas propostas aos presentes. Estão presentes os cidadãos que participam, o executivo municipal e técnicos do município, nomeadamente os que integram a comissão de análise das propostas. A comissão de análise técnica, composta por técnicos representantes de vários setores da Câmara Municipal de Odivelas, analisa as propostas antes de serem votadas. Esta comissão analisa cada proposta quanto aos critérios previstos no regulamento, nomeadamente em relação à pertinência, exequibilidade e custo. Cada proposta não pode exceder os €100 000,00, de modo a permitir que várias propostas possam ser vencedoras.

As propostas podem ser apresentadas presencialmente (em assembleia) ou via eletrónica. A gestão das propostas e das votações é feita através de uma plataforma digital própria. Não sendo possível votar presencialmente, a votação é efetuada online, com registo prévio. Cada munícipe registado tem direito a dois votos que não podem ser usados na mesma proposta.

De acordo com os dados fornecidos pelo responsável pela implementação do orçamento participativo no município (entrevista O-E6-OP, cuja transcrição integral se encontra em anexo), no orçamento em curso foram recolhidas 217 propostas, 108 nas assembleias e 109 online. Após a análise técnica, foram colocadas para votação 58 propostas. Estiveram envolvidos neste último orçamento participativo cerca de 6000 munícipes.

3.2.1.2 Fundamentos para a adoção do orçamento participativo

Os fundamentos para a adoção do orçamento participativo apontados pelos entrevistados sintetizam-se na tabela 8. Como motivos essenciais, salientam-se a transparência, a melhoria dos serviços e da qualidade da resposta e a aproximação entre município e cidadão. Quatro entrevistados realçaram como principal fundamento a possibilidade de os cidadãos participarem ativamente na vida do município e nas decisões, e de poderem propor, por esta via, soluções para os problemas (veja-se a tabela 8).

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Odivelas Loures

Fundamentos para a adoção

(Orçamento Participativo)

(Sessões de Discussão Pública) Melhoria dos serviços

Empowerment

Accountability

Qualidade da democracia Responsividade

Promoção da cidadania

Participação direta dos cidadãos Corresponsabilidade Aproximação / Encontro 1 1 1 1 1 0 4 1 2 1 0 2 2 3 1 0 0 7

Tabela 8 – Fundamentos apontados pelos entrevistados para a adoção do orçamento participativo (em Odivelas) e das sessões de discussão pública (em Loures). Fonte: autoria própria.

3.2.1.3 Comunicação com o cidadão

O orçamento participativo adotado por Odivelas é deliberativo: permite não apenas a recolha de propostas dos cidadãos, mas também que os cidadãos sejam os responsáveis pela decisão. A Câmara aceita a votação, mesmo que contrária às suas expetativas e ideias. Desde que as propostas reúnam os critérios pré-definidos em regulamento próprio, se forem vencedoras após votação, terão de ser aceites pela Câmara que assume o compromisso de as executar no prazo de dois anos. Nas palavras dos entrevistados:

“(…) permite à população em geral dar ideias. (…) As pessoas podem dar uma ideia como ir daqui à Lua, mas depois tem que haver uma triagem e perceber se é exequível ou não, dentro dos valores que estão estipulados para cada uma das ações. Feita essa triagem, há o processo de votação, e qualquer ideia pode existir.” (O-E1-Vm)

“(…) as que tivessem maior número de votos eram as que eram efetivamente aceites. (…) O que se notou, pelo menos da minha parte com alguma frustração, é que embora os jovens tivessem feito propostas, no momento da votação não votaram. Os próprios jovens não votaram ou votaram muito pouco. (…) Nota-se que há quem leve muito a sério esta competitividade na parte do orçamento participativo. Empenha-se efetivamente. (…) Há quem se empenhe em fazer uma proposta, acredita na proposta e

46 depois mobilize em torno e defende em todas as frentes, contra todos, essa mesma proposta.”

3.2.1.4 Relação com o cidadão

No modelo de orçamento participativo adotado por Odivelas, as propostas apresentadas pelos cidadãos são, antes de irem a votação, sujeitas a uma avaliação prévia por parte de uma comissão de análise que verifica se as propostas são pertinentes e exequíveis e se o orçamento está dentro dos limites previamente definidos. Esta comissão de análise é composta exclusivamente por técnicos da Câmara que têm o poder de excluir propostas da votação. Existe, depois, um período de reclamações, em que o proponente pode reclamar da decisão de exclusão, mas a decisão final sobre que propostas vão a votação é da comissão de análise. Assim, embora a decisão final sobre que propostas devem ser executadas caiba aos munícipes, há uma decisão intermédia que é da Câmara. Há, como referido numa das entrevistas, uma corresponsabilidade entre Câmara e munícipe, que se enquadra numa relação de colaboração, em que o cidadão já tem algum poder de decisão, ainda que circunscrito:

“Há uma corresponsabilidade daquilo que é feito. (…) E assim há a interpretação, há a proposta em si, há a possibilidade de corresponder à proposta que é feita, executar efetivamente porque sendo deliberativo temos de executar. Há uma responsabilidade maior em termos de orçamento participativo por parte do executivo e a corresponsabilidade com o munícipe, em que não só faz a proposta, tem que a defender, tem que votar nela, promovê-la e depois imagino eu, creio eu, que o facto dessa mesma proposta ser executada também transparece uma mais-valia para toda a comunidade, porque nota-se que há uma causa-efeito dessa mesma participação física e é muito positiva.” (O-E2-Vf)

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