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3. Resultados

3.2 Dimensão Institucional

3.2.2 Município sem orçamento participativo

3.2.2.1 Fundamentos para a não adoção do orçamento participativo

Todos os entrevistados da Câmara Municipal de Loures reconheceram a importância da participação dos cidadãos na vida política do Concelho, por permitir a aproximação entre eleitos e eleitores (apontado por todos os entrevistados), melhorar a qualidade da democracia, fortalecer as decisões, melhorar a qualidade das respostas do município, aumentar a transparência e, ainda, por permitir a aproximação entre eleitos e eleitores (veja-se a tabela 8, na página 45).

Consideram, no entanto, o orçamento participativo como um instrumento pouco legítimo, devendo a legitimidade para decidir ser exclusiva dos eleitos. A decisão dos eleitos representa a vontade dos cidadãos, delegada através do voto, enquanto a decisão do cidadão pode ser manipulada ou cativada por grupos com maior poder de influência. Pode conduzir a uma distribuição injusta dos recursos, pela falta de visão de globalidade. Dado serem os mais influentes, capazes de mobilizar para o voto, aqueles que conseguem realizar as suas propostas, não é dada voz aos mais desfavorecidos. A qualidade da decisão é também condicionada por não estar sujeita ao debate nem ao confronto de ideias, dado o voto ser eletrónico.

Na tabela 9 comparam-se os fundamentos apontados para a adoção (Odivelas) e para a não adoção (Loures) do orçamento participativo. Os fundamentos para a não adoção são por parte de Loures são contrapostos por posições contrárias de Odivelas, que os conotam positivamente, como vantagens.

Orçamento Participativo

Loures: Fundamentos para a não adoção Odivelas: Fundamentos para a adoção

 Legitimidade (dos eleitos)  Lobbys e manipulação do voto

 Justiça (Promove a desigualdade, favorecendo os mais organizados e mais fortes)

 Empowerment (não dá voz aos mais desfavorecidos)

 Esforço (voto eletrónico não implica um real envolvimento)

 Participação direta dos cidadãos  Corresponsabilidade e envolvimento  Promoção da cidadania

 Empowerment (dá voz aos mais desfavorecidos)  Tecnologias de Informação e Comunicação

(TIC) como facilitadoras da participação

Tabela 9 – Comparação entre os fundamentos para adoção (Odivelas) e para a não adoção (Loures) do orçamento participativo. Fonte: autoria própria.

48 3.2.2.2 Instrumento adotado

A Câmara Municipal de Loures implementou um outro instrumento de participação na decisão: as sessões públicas. Estas têm sido dinamizadas para apresentação do Orçamento Municipal, do Plano Diretor Municipal (PDM) e ainda de algumas opções estratégicas concretas, como a revitalização dos centros urbanos do Concelho.

Estas sessões públicas são reuniões descentralizadas que são realizadas em cada uma das freguesias do Concelho. O executivo da Câmara desloca-se às várias freguesias para ir apresentar localmente os documentos estratégicos, como o orçamento ou o PDM. Nestas sessões, são apresentadas à população as linhas estratégicas, bem como as principais prioridades do executivo, não estando os documentos ainda fechados.

Em todas as sessões, após a apresentação efetuada pelo executivo, é aberto um espaço para a discussão pública, em que as pessoas colocam questões e estas são respondidas pelo executivo ou pelos técnicos presentes. São registados todos os contributos da população, que são posteriormente analisados pelo executivo.

Após análise dos contributos dos cidadãos, os documentos podem ser ajustados sempre que tal for considerado pertinente ou oportuno, sem nunca pôr em causa o projeto global ou as linhas estratégicas previamente definidas. Veja-se o relato abaixo transcrito, que se refere a uma sessão pública de apresentação de um projeto para a reabilitação de um centro urbano do Concelho:

“A Câmara (o Engenheiro que está com estes projetos) contactou e convidou vários arquitetos para apresentarem projetos, e selecionou o projeto que mais se adequava, tendo em conta os objetivos da Câmara e também a questão económica do seu financiamento. São esses pré-projetos que estão a ser discutidos com a população. São apresentados e discutidos, ainda numa fase de poderem ser alterados. Não na sua filosofia global. Aí está aquilo que eu dizia: há uma decisão da Câmara, que escolheu, e agora leva-o à discussão para que, dentro daquela escolha, possam ser feitos aperfeiçoamentos, sugestões, não pondo em causa todo o projeto.” (L-E3-GPr)

49 3.2.2.3 Tipo de comunicação

Relativamente ao tipo de comunicação estabelecido com o cidadão, há uma comunicação bidirecional, sendo recolhidos os contributos dos cidadãos, que depois são considerados pelo executivo e pelos serviços para melhorar o documento.

“Fazemos sempre um período aberto nas sessões para a participação, na qual registamos. (…) São tratadas e são vertidas num documento-síntese das participações, das quais resultam algumas para o documento em análise, ou não são inseridas por outras razões. Muitas delas são trabalhadas.” (L-E1-Vm)

A intervenção do cidadão é permitida apenas na discussão dos aspetos mais práticos e concretos do documento, nos ajustes das propostas à realidade, não lhe sendo permitido interferir nas linhas estratégicas ou na filosofia global do projeto.

“Por exemplo, vamos à freguesia da Bobadela. Há uma rua que precisa de ser asfaltada.

Nós, ainda dentro desse período da discussão pública, vamos avaliar se realmente, dentro das necessidades que temos de asfaltamentos do município, aquela rua fará sentido ser ou não asfaltada.” (L-E1-Vm)

O cidadão não tem o poder de decidir. São recolhidos os contributos para posterior análise do executivo, que poderá, ou não, considerar esses contributos.

“A população reunida (…) discordou de muitas coisas e nós, de facto, repensámos o projeto. Recolhemo-lo e vamos então ouvir estas situações, estes problemas que as pessoas levantaram, que têm premência, e vamos pensar e reformular o projeto.” (L-E2- Vf)

O cidadão não é visto em posição de igualdade, por questões de legitimidade (a legitimidade é dos eleitos), por não ter uma perspetiva de globalidade e por poder subverter as decisões em prol de interesses próprios. Logo, a comunicação é bidirecional mas não é de colaboração. O cidadão não participa efetivamente na decisão.

“No fundo, é uma questão de ganhar (até pelos incómodos que vai ter durante a obra), de ganhar a identidade das pessoas que vão usufruir, que vivem, que trabalham, que passeiam naquele espaço, e procurar, dizer “se calhar, aqui, o projeto pode ter esta vertente, ou não ter aquela.” (L-E3-GPr)

50 “Para além de irmos à rua e conversarmos com as pessoas, também temos que ter estes momentos para explicar opções. Porque é que se faz ou porque é que não se faz.”(L-E7- AssM)

3.2.2.4 Relação com o cidadão

A relação com o cidadão é centrada na responsividade, pretendendo-se estar próximo de modo a poder ajustar as soluções ao caso concreto e melhorar a qualidade da resposta em função das necessidades do cidadão-cliente.

“Na auscultação das pessoas é que nós percebemos realmente a dificuldade. Apesar de termos as ideias genéricas, as estratégias genéricas que devemos seguir, mas há o caso concreto que precisamos de saber. Ao sabermos o caso concreto, particular mesmo, estamos a perceber a realidade.” (L-E1-Vm)

“Sabemos que a democracia representativa que o nosso país tem, e as autarquias também o têm, temos responsabilidades e não abdicamos delas, naturalmente. E as decisões últimas, são nossas, porque é assim o nosso sistema democrático. Mas entendemos que ouvirmos a população, estarmos próximos da população, é uma forma de uma democracia participada que com certeza consubstancia muito melhor, as nossas decisões.” (L-E2-Vf)

No âmbito da intervenção social, a Câmara Municipal de Loures integra diversas redes locais, em que assume um papel de parceiro. A tomada de decisão é coletiva e a Câmara colabora na implementação das decisões. Neste âmbito, a relação com o cidadão é de colaboração.

“Nestes grandes temas, o que tem pautado a nossa participação e a nossa atuação é, de facto, estar muito próximo das pessoas e das instituições e, junto das mesmas, perceber quais são as suas expetativas, os seus problemas, mas também quais são as suas propostas de solução. E depois da conjugação dessas variantes, as decisões serão tomadas e são comunicadas. Mas, de uma maneira geral, pedindo sempre a colaboração das pessoas na construção das soluções, na construção não só dos planos de solução, mas também na efetivação dos mesmos, quer na educação, quer na coesão social.” (L- E2-Vf)

51 Resume-se na tabela 10 o resultado da análise da dimensão institucional:

Instrumento Tipo de comunicação Relação com cidadão

Odivelas Orçamento Participativo

Deliberativo Colaboração Loures Sessões Públicas

(orçamento, PDM…)

Bilateral Responsividade

Tabela 10 - Síntese da análise da dimensão institucional. Fonte: autoria própria.

Ainda sobre a relação com o cidadão, ambos os municípios manifestam preocupação relativamente à qualidade de resposta e eficiência do atendimento, tendo recentemente reestruturado as respetivas orgânicas para melhor poder adequar a resposta ao munícipe. Esta preocupação reflete, em ambos os municípios, uma relação de responsividade.

“Foi no âmbito da reformulação da estrutura da Câmara Municipal de Loures, em que houve algumas afinações estratégicas de algumas áreas. (…) E o atendimento ganhou um protagonismo um bocadinho diferente, mais na perspetiva da preocupação que a Câmara tem, neste momento, com a informação e no contacto que tem com os munícipes. (…). Para obter uma mesma informação às vezes tinham de correr três ou quatro serviços da Câmara.” (L-E4-Com)

“Acabamos por ter de, e cada vez mais, valorizar a comunicação bilateral, ou seja, câmara–munícipe, munícipe-câmara, sobretudo na resolução dos seus problemas. Fazemos a articulação com todas as unidades orgânicas no sentido de perceber o problema, a denúncia, a sugestão que a pessoa faz se está a ser acompanhada, qual é a fase de situação em que se acompanha o processo que apresentou.” (O-E4-Com)

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