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Nível de competição Camalaú 3.0 5.4 BNC Congo 7.1 5.4 BNC Lagoa 5.7 18.8 BNC

São José do Sabogi 3.0 12.3 BNC

Santa Luzia 3.5 8.0 BNC

Belém do Brejo do Cruz 5.2 4.6 BNC

Cabaceiras 5.2 14.3 BNC Araçagi 1.8 3.5 MNC Taperoá 3.6 3.7 MNC Picuí 1.8 2.2 MNC Monteiro 1.5 2.5 MNC Teixeira 2.2 2.5 MNC Aroeiras 1.6 6.1 MNC

De acordo com as tabelas 11, 12 e 13, não encontramos uma significativa relação direta entre a quantidade de organizações religiosas disponibilizando suas propostas de religiosidade e os níveis de participação religiosa.

Em relação à tabela 11, as porcentagens dos que se declararam religiosos não apresentam uma associação clara com os níveis de competição.

No que se refere à tabela 12, o aumento do número de organizações oferecendo seus serviços e competindo por fiéis também não corresponde aos maiores índices encontrados, nem em referência à população total do município, nem quando somente referidas à população urbana.

No que concerne à tabela 13, que se relaciona com nosso esforço de analisar mais especificamente o comportamento em relação à Igreja Católica, os maiores níveis de freqüência às missas, tanto nas porcentagens referentes à população total dos municípios, quanto nas referidas à população urbana, foram encontrados em municípios com baixo nível de competição. Nossa intenção aqui era medir a influência da competição indiretamente, pensando que ela poderia influenciar a atividade da paróquia, que resultaria em maiores participação nas missas. Mais uma vez, não observamos a relação esperada.

Nossa interpretação dos dados remete para a discussão de alguns limites do modelo de Mercado Religioso. Entre estes está a dificuldade de definir mais precisamente os contornos do âmbito no qual a competição acontece efetivamente, o que pode sugerir- nos a necessidade de articular o modelo de mercado religioso com as teorias da concorrência.

No caso da nossa pesquisa, por exemplo, tentando determinar melhor em que medida os serviços religiosos são alternativas genuínas de consumo, fizemos uma distinção entre habitantes da zona rural e da zona urbana, pensando na associação existente entre urbanismo e participação religiosa165 e que a quantidade de freqüentadores das

celebrações nas cidades observadas se refeririam mais precisamente aos que moram na cidade. Mesmo assim, a dificuldade acima mencionada persistiu, já que em alguns lugares a realização de feiras de rua nos dias em que acontecem as celebrações atraem indivíduos que não residem nas cidades onde a contagem foi feita, o que pode ter sido fonte de imprecisão quando da interpretação dos números.

Dificuldades dessa natureza também podem ser encontradas nas cidades maiores, onde não sabemos com certeza que pontos de disponibilização dos serviços das organizações religiosas realmente competem entre si, já que os moradores de um bairro podem circular livremente no espaço urbano e assistir a celebrações em templos de outros. No caso da nossa amostra, mesmo retirando as populações rurais do cálculo das porcentagens, a relação entre quantidade de organizações religiosas competindo e a participação religiosa não se verificou, o que exige um esforço interpretativo.

165 Max Weber (1961) dedica uma seção do seu ensaio "Religion and Social Status" a uma pesquisa

histórica que fundamenta a generalização da idéia de que a participação religiosa é principalmente urbana.

Os motivos desses resultados podem estar ligados ao fato de que o modelo de mercado de Finke e Stark sugere a medição da mobilização religiosa em termos da participação ou presença do fiel nas atividades das igrejas. Nestes tempos de alta atividade rádio- tele-eclesiástica, todo um grupo de fiéis que prefere assistir às celebrações confortavelmente, em casa, fica de fora da avaliação166. Em pesquisas futuras talvez possamos corrigir isso com uma pesquisa quantitativa a partir de uma amostra residencial, atingindo assim também os fiéis "mais comodistas".

Outro fator a ser considerado na interpretação desses resultados dos dados apresentados nas tabelas 11,12 e 13 remete para a necessidade de incluir outras variáveis na consideração dos efeitos da competição entre organizações religiosas sobre os níveis de participação religiosa167. No caso em pauta, pensamos que pode ser

interessante pensar que a competição local atua limitadamente sobre uma organização religiosa do tipo da Igreja Católica, com uma política de tomada de decisões extremamente centralizada. Assim, seria necessário encarar a concorrência num nível mais geral do que a consideração da paróquia, ou mesmo da cidade, pode permitir. Portanto, essa característica de igreja de massas, com hierarquia altamente centralizada, cobrindo uma extensa área geográfica, com uma política centralizada de tomada decisões estratégicas, são fatores que, certamente, contribuem para diminuir o impacto da competição com outras organizações no nível observado como fator impulsionador de maior atividade, e por conseguinte, de mais altos níveis de participação religiosa. Assim, para explicar os níveis maiores de participação encontrados em lugares onde a competição religiosa é menor, seria necessário considerar outras variáveis além do nível de competição.

Embora tenhamos levantado dados que invalidam a hipótese do Paradigma de Mercado, segundo a qual maiores níveis de competição corresponderiam a maiores níveis de religiosidade, consideramos válida a aplicabilidade dos princípios da abordagem mercadológica no estudo da religião em relação a outros aspectos da dinâmica dos discursos e práticas religiosas. Nesse sentido, buscamos, através das entrevistas com os padres, entender aspectos das transformações atravessadas pela Igreja Católica, possivelmente associados com o aumento da competição entre organizações religiosas pela preferência dos fiéis, bem como a influência da lógica mais geral das mercadorias sobre a maneira pela qual as propostas de religiosidade são disponibilizadas no mercado.

3 . 4 . 2 . SOBRE A DECISÃO DE FOCALIZAR A IGREJA