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3.1 O ICMS enquanto tributo não recolhido

3.1.2 Não recolhimento de ICMS regularmente declarado, deflagração da execução

execução fiscal e aspectos quanto à responsabilização e ônus ao contribuinte

A existência do dever de adimplir determinado tributo junto ao Fisco pressupõe a existência de uma obrigação tributária, que foi delineada em virtude da realização do fato imponível previsto na norma. Mais amplamente situando: seja a prestação do valor do tributo ou de penalidade pecuniária, tem-se um dever que será exigido de um credor.

Para que isso ocorra, necessária a conformação de um crédito escorreito e passível de ser exigido, e só o será se as formalidades necessárias para tanto forem cumpridas. Isso é exigível em virtude do simples fato de se estar diante de uma formalidade a ser realizada pela Administração Tributária, que por sua vez, é parte de um ente público, devendo exercer, assim, a atividade fiscalizatória e arrecadatória obedecendo os estritos ditames legais.

Para que o crédito tributário seja assim dotado, deve ele possuir os pressupostos necessários, de forma a delimitar todas os aspectos que perfazem a obrigação tributária. Por isso, não apenas o valor a ser adimplido será especificado,

12 Art. 99. Para efeito do disposto no inciso VII do § 2º do art. 155, no caso de operações e prestações

que destinem bens e serviços a consumidor final não contribuinte localizado em outro Estado, o imposto correspondente à diferença entre a alíquota interna e a interestadual será partilhado entre os Estados de origem e de destino, na seguinte proporção: [...] V - a partir do ano de 2019: 100% (cem por cento) para o Estado de destino (BRASIL, 1988, s.p.).

mas também a identificação do sujeito passivo e as circunstâncias atinentes ao fato gerador. Frise-se a abordagem de Leandro Paulsen (2020, s.p.):

Mas não se pode tirar efeitos absolutos desta correspondência, pois o CTN, em seu art. 142, dá à expressão “crédito tributário” sentido muito específico, pressupondo certeza e liquidez decorrentes da formalização do crédito tributário mediante a verificação de que o fato gerador ocorreu, a identificação do sujeito passivo e a apuração do montante devido. Nessa acepção, pode- se dizer que, enquanto a obrigação tributária surge com o fato gerador (art. 113, § 1º), o crédito tributário só se considera constituído com a produção do ato que formaliza a sua existência e lhe dá exigibilidade. Aliás, a referência à constituição do crédito tributário pelo lançamento, no art. 142 do CTN, embora imprópria, pois o crédito surge juntamente com a obrigação, quando da ocorrência do fato gerador, bem revela a intenção do legislador de que não se possa opor o crédito tributário ao contribuinte, sem que esteja representado documentalmente, com a certeza e a liquidez daí decorrentes.

Assim, para que ocorra essa formalização do crédito tributário, são utilizados métodos indicados pela legislação própria de cada tributo, levando-se em conta sua sistemática, proporção arrecadatória e o objeto sobre o qual incide. O sistema tributário brasileiro adota três específicas espécies a partir das quais se terá a devida constituição do crédito tributário, que deve ser satisfeito pelo seu sujeito passivo. Tem-se, portanto, três espécies de lançamento tributário.

A espécie que mais se funde a sistemática da maioria dos tributos é o denominado lançamento por homologação, que, em termos suscintos, atribui ao contribuinte o dever de declarar e recolher aos cofres públicos o montante devido, sendo que o cálculo e a apuração do valor a ser adimplido ficará por sua conta. Nisto, restará a Administração Tributária apenas o encargo de fiscalizar a atividade do contribuinte, podendo concordar, homologando o feito pelo contribuinte expressa ou tacitamente, ou discordar, lançando de ofício eventual diferença não adimplida.

Sobre essa atividade elaborada e formalizada pelo próprio contribuinte, tem-se verdadeira atividade longa manus do Estado a ser feita pelo sujeito passivo e, por esta razão, o ato de declarar tem o condão de constituir o crédito tributário. Assim, pela declaração resultante da apuração feita pelo próprio contribuinte, tem-se um reconhecimento do débito, com inequívoca ciência da obrigação. No caso do ICMS, essa declaração é instrumentalizada através da Guia de Apuração e Informação do ICMS (GIA). A jurisprudência consolidou esse entendimento através da redação da Súmula 436 do STJ: “A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada qualquer outra providência por parte do fisco” (BRASIL, 2010, s.p.).

Declarado o débito e vencido, o contribuinte não mais ostenta a situação de regularidade, o que faz com que o mesmo possa ser destituído do direito de obter certidão negativa de débitos. Como se sabe, essa impossibilidade faz com que a empresa não seja permitida de participar de certames públicos. Outro impacto negativo observável a partir disso quando a sua relação com o Poder Público diz respeito a concessão de benefícios fiscais. Essa questão possui abordagem em outra Súmula do STJ, a de número 446: “A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada qualquer outra providência por parte do fisco” (BRASIL, 2010, s.p.)

E mais, declarado o débito, o Fisco pode inscrevê-lo em dívida ativa, independente de qualquer ato de lançamento, o que dá azo a instauração de eventual execução fiscal caso perdure o inadimplemento. Nesta fase, os bens ou patrimônio financeiro do contribuinte será bloqueado, para que se levante o valor necessário à satisfação do débito pendente e objeto do feito executório.

Importante que se frise que o atraso no pagamento, já faz com que seja possível que incida sobre o valor de origem penalidades que intensifiquem o ônus a ser arcado pelo contribuinte. São, pois, as penalidades os meios mais legítimos em prol da cobrança de débito que não foi pago, ou mesmo pago, mas que o foi a destempo.

Desde que a sanção em forma de penalidade pecuniária seja proporcional e equivalente ao descumprimento perpetrado, justa é a sua utilidade como método de coerção ao não pagador do tributo. Sempre é importante que se volte a máxima primordial de que o tributo enquanto tal não admite sua concepção ou manipulação como forma de punir determinada prática. Do mesmo modo, a punição pura e simplesmente da não satisfação de seu valor não poderá buscar supedâneo em meios coercitivos que não sejam aqueles de cunho pecuniário. É uma questão da própria lógica tributária.