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As pesquisas no campo do comprometimento organizacional consideram três

enfoques conceituais: afetivo, instrumental e normativo. Zanelli, Borge-Andrade e

Bastos (2004) salientam que durante mais de três décadas de pesquisa, a literatura

apresenta diversos conceitos sobre o comprometimento e que esses são baseados

na percepção do estado psicológico e dimensões sociais, que esses simbolizavam,

sobre a condição em que era desenvolvido e sobre a influencia nos resultados da

organização. Foram elaborados vários instrumentos para tentar mensurar o

comprometimento organizacional na perspectiva dos enfoques conceituais, sendo

estes investigados isoladamente por autores diferentes, onde cada autor contribuía

para cada vertente do comprometimento (Figura 8).

FIGURA 8: As três dimensões do comprometimento organizacional

Enfoques do

comprometimento Conceito

Instrumental, Calculativo

ou Continuance

Howard Becker (1960)

Fenômeno estrutural, resultado das transações materiais entre

indivíduo e organização, trocas laterais (side best). Avaliação entre

custos e benefícios associados à permanência ou não na

organização.

Afetivo

Richard T. Mowday;

Lyman T. Porter;

Richard M. Steers

(1982)

Forte crença e aceitação dos valores e objetivos da organização,

desejo de manter o vínculo organizacional e esforça-se em favor da

organização.

Normativo

Yoash Weiner (1982)

Aceitar os valores e os objetivos organizacionais e agir corretamente

em benefícios da organização porque entendem ser correto fazê-lo.

Fonte: Linzmeyer, 2009, p. 13.

O termo comprometimento ganhou destaque e notoriedade quando Becker

(1960, p. 33 apud ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2004, P.318) o definiu

como a “disposição para se engajar em consistentes linhas de atividade”. Esse

pesquisador entende que a manutenção de uma linha de ação sólida resultaria no

acumulo, em longo período de tempo, de side-bets – Expressão utilizada pelo autor

para referir algo de valor como tempo, esforço, dinheiro investido pelo indivíduo em

sua relação social ou organizacional (ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS,

2004). O enfoque instrumental – outras denominações: calculativo, continuance e

side-bests - foi elaborado por Becker. Nesse enfoque, acredita-se que o empregado

opta em permanecer na organização quando percebe os benefícios dessa escolha,

no entanto, se esse notar irregularidade nos benefícios recebidos, escolherá,

possivelmente, deixar a organização (NAVES; COLETA, 2003).

Sobre o enfoque afetivo, Medeiros (2003) ressalva que esse dominou a

literatura do comprometimento por maior parte do tempo, sob uma perspectiva

atitudinal. Essa teoria foi desenvolvida por Mowday, Porter e Steers (1982 apud

MEDEIROS, 2003, p. 36) os quais entendem que o “comprometimento vai muito

além de uma postura de lealdade passiva para com a organização, envolve também

um relacionamento ativo que busca o bem-estar da organização”. A partir desse

conceito, consta-se que indivíduos com alto grau de comprometimento, possuem de

maneira internalizada os valores e objetivos e tendem a se esforçar ao máximo para

desenvolver ações positivas para a empresa (NAVES; COLETA, 2003). Zanelli,

Borges-Andrade e Bastos (2004, p. 316) concordam ao afirmar:

Quando o individuo internaliza os valores da organização, identifica-se com

seus objetivos, se envolve com papéis de trabalho, desempenhado-os de

forma a facilitar a consecução dos objetivos do sistema, e deseja

permanecer trabalhando por ela, considera-se que foi desenvolvida uma

ligação psicológica, de natureza afetiva com a organização. Esse estilo de

vínculo é denominado comprometimento organizacional afetivo.

O enfoque normativo foi investigado por Wiener (1982 apud NAVES;

COLETA, 2003 p.212), em sua teoria o comprometimento é visto como “o conjunto

de pressões normativas, internalizadas para que o indivíduo se comporte de acordo

com os objetivos e metas da organização”. O comprometimento normativo pode ser

definido como:

O conjunto de crenças mantidas por empregados sobre obrigações e

deveres de reciprocidade para com a empresa empregadora. Trata-se de

um conceito de cognição social, pois nele estão envolvidas crenças relativas

a regras que normalizam o convívio social e são compartilhadas (ZANELLI;

BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2004, p. 320).

O enfoque normativo é relevante para entender o comprometimento organizacional,

segundo Linzmeyer (2009, p. 17) permite que o individuo identifique os valores,

missão e objetivos organizacionais, fazendo como que haja cognição e coerência na

relação individuo e organização, sendo esses aspectos responsáveis pelo

surgimento do comprometimento, onde o trabalhador permanece na empresa

envolvido por um sentimento de obrigação moral, acreditando ser certo fazê-lo.

Meyer e Allen desenvolveram um modelo de pesquisa, aceito

internacionalmente, o qual considera as três dimensões (Afetivo, instrumental e

normativo) na construção do conceito de comprometimento organizacional e não

apenas uma como conceitualizado inicialmente por alguns autores (RAMALHO,

2008). Meyer e Allen (1990, p.3 apud NAVES; COLETA, 2003, p. 213) caracterizam

os três tipos de vínculos entre indivíduos e a organização:

Empregados com forte comprometimento afetivo permanecem na

organização, porque eles querem; aqueles com comprometimento

instrumental permanecem porque eles precisam; e aqueles com

comprometimento normativo permanecem porque eles sentem que são

obrigados.

Esse modelo tridimensional foi validado no Brasil por Medeiros (1997), Rico

(1998) e Bandeira (1999) (MEDEIROS, 2003). Os modelos multidimensionais do

comprometimento organizacional, segundo Medeiros (2006, p. 3):

Começaram a ser considerados depois que alguns pesquisadores

perceberam que os enfoques unidimensionais, mais do que tipos de

comprometimento eram componentes presentes no vínculo psicológico

entre indivíduo e organização. Assim, numa forma de descrever a presença

de mais de um componente do comprometimento, alguns autores utilizam

expressões distintas para isso.

Linzmeyer (2009) acredita que a compreensão do conceito de

comprometimento organizacional através de métodos multidimensionais, permite um

entendimento eficaz sobre as diversas razões que levam um empregado a

permanecer na empresa, buscando alto desenvolvimento e participação ativa para

obter resultados organizacionais.

Nesse sentindo, Medeiros (2003) se propôs a investigar os modelos teóricos

de conceitualização do comprometimento organizacional, na tentativa de estabelecer

dimensões presentes no construto, adaptando ao contexto cultural brasileiro. Esse

estudo considerou os resultados obtidos nas pesquisas de Medeiros (1997) e

Medeiros e Enders (1998), apesar da validação em ambas pesquisas, Medeiros, em

um estudo posterior identificou um quarto componente o qual denominou de afiliativo

(MEDEIROS, 2003). O comprometimento afiliativo denota o desejo de fazer parte –

sendo diferente do comprometimento afetivo - onde esse foi representado por três

indicadores construídos para a tese de Medeiros (2003, p. 81):

a) Sinto que meus colegas me consideram como membro da equipe de

trabalho;

b) Nesta empresa, eu sinto que faço parte do grupo;

c) Sou reconhecido por todos na empresa como um membro do grupo.

Com o objetivo de identificar o comprometimento organizacional foi

desenvolvido um instrumento multidimensional por Medeiros (2003), contendo trinta

indicadores, abordando o comprometimento afetivo, afiliativo, instrumental e

normativo, buscando trazer novos resultados e contribuir com a literatura.

Assim é possível perceber que o vínculo entre colaborador e empresa vária

de acordo com os desejos pessoais, bem como a influencia da organização sobre o

indivíduo e que esses aspectos podem induzir nos resultados alcançados pela

organização.

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