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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5 DESCRIÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA REGULAMENTAÇÃO FAIR-PLAY

5.1 FAIR PLAY FINANCEIRO (FPF) NA EUROPA

5.1.1 Origens e evolução

5.1.2.1 Nível permitido de perdas (ponto de equilíbrio) A UEFA entende que seria injusto punir os clubes

que tenham pequenos déficits. Assim, foi introduzido um conceito chamado de “déficit permitido do ponto de equilíbrio” (permitted Break-Even déficit) (FINANCIAL FAIR PLAY, 2015b). Como resultado, os clubes podem ter uma perda até um determinado nível, mas sem poder ultrapassar os limites permitidos a fim de manter a regra de equilíbrio do FFP. A UEFA entende, também, que devido aos contratos longos com alguns jogadores, os clubes não poderão reduzir os seus gastos em curto prazo. Por esta razão, o déficit permitido acima do ponto de equilíbrio foi fixado em um montante de 45 mi €, para o primeiro período de monitoramento (temporada 2011/12 e 2012/13), com redução gradual nos próximos períodos. A perda permitida cai para 30 milhões de euros para o 3º período monitorado (03 anos) que cobre as temporadas de

2012/13, 2013/14, 2014/15, (o que equivale a uma perda média de 10 milhões de euros por temporada) (MORROW, 2014).

5.1.2.2 Períodos de Monitoramento (art. 59)

A UEFA acredita que não seria real avaliar o resultado do ponto de equilíbrio de um clube em apenas uma temporada. Por esta razão, introduziu o conceito de períodos de monitoramento. Inicialmente, os clubes serão avaliados durante duas temporadas (2011/12 e 2012/13) combinadas, com o intuito de verificar se eles tiveram um nível aceitável de perdas. Em todos os outros períodos, exceto o primeiro, a análise será realizada por períodos de três temporadas de monitoramento. Tal situação poderá ser revelada quando da verificação dos níveis permitidos de perda junto aos clubes em cada período de monitoramento. O Quadro 42 mostra como funcionam os períodos de monitoramento, (art. 59) o acompanhamento do ponto de equilíbrio (art. 60) e os desvios permitidos por períodos de tempo – temporadas (art. 61).

Quadro 42 - Período de monitoramento do ponto de

equilíbrio.

Para clubes que apresentarem receitas ou despesas inferiores a 5 milhões €, a regra do FPF não será aplicada. Isso representa cerca de metade de todos os clubes da primeira divisão e 41% de todos os clubes que participarão das competições da UEFA (apenas 77 clubes europeus têm receitas superiores a 50 milhões €) (PEETERS; SZYMANSKI, 2014).

5.1.2.3 Criação do CFCB - Club Financial Control Body Outra medida importante introduzida pela regulamentação foi a criação de um organismo independente de controle financeiro dos clubes. A UEFA, após realizar consulta com as partes interessadas do futebol (representantes dos clubes, jogadores, ligas e federações nacionais), poderá aplicar nos regulamentos FPF a introdução de requisitos financeiros adicionais para serem monitorados por um órgão recém-criado de especialistas jurídicos e financeiros independentes, o Órgão (ou Instância) de Controle Financeiro de Clubes ou CFCB (FRANCK, 2014).

O CFCB está amparado em documentação disponível no site da entidade, as Procedural rules governing the UEFA Club Financial Control Body - Edition 2014, onde são verificados todos os procedimentos a serem adotados por este Órgão para fiscalizar os clubes participantes de competições européias organizadas pela UEFA. O Órgão é competente para:

a) determinar se os licenciadores cumpriram as suas obrigações e se os requerentes de certificados cumpriram os critérios de licenciamento definido no “Regulamento da UEFA de Licença aos clubes e FPF” no momento da concessão da licença; b) determinar se, após a

concessão da licença, os beneficiários da licença continuam a cumprir os critérios de licenciamento definidos no “Regulamento da UEFA de Licença aos clubes e FPF”; c) determinar se, após a concessão da licença, os beneficiários cumprem os requisitos para o monitoramento estabelecidos aos clubes no “Regulamento da UEFA de Licença aos clubes e FPF”; d) a imposição de medidas disciplinares previstas nestas regras em caso de não- conformidade com os requisitos definidos no “Regulamento da UEFA de Licença aos clubes e FPF”; e) determinar as questões relacionadas com a admissão de clubes em competições interclubes da UEFA nas medidas previstas pela regulamentação que regem as competições da entidade. (UEFA, 2014a) (Tradução nossa).

Além disso, o painel de controle financeiro pode exigir dos clubes que gastam mais de 70% de sua renda em custos salariais ou que têm dívidas adicionais equivalente a mais de 100% do seu volume de negócios, o envio de informações suplementares de suas finanças (DRUT, 2011).

Ao anunciar a nova legislação, o Presidente da UEFA, Michel Platini (HUBPAGES; 2014, p.4), afirmou,

Cinquenta por cento dos clubes estão perdendo dinheiro e esta é uma tendência crescente. Precisávamos parar com esta espiral descendente. Eles gastaram mais do que ganharam no passado e não pagaram suas dívidas. Nós não queremos matar ou ferir os clubes; pelo contrário, queremos ajudá-los no mercado. As equipes que jogam em nossos torneios concordaram, por unanimidade os nossos princípios quais sejam; viver com seus próprios meios é a base de contabilidade,

mas não tem sido a base do futebol por anos. Os proprietários estão pedindo regras porque eles mesmos não podem implementá-las - muitos deles tiveram despejando dinheiro em clubes e quanto mais dinheiro você colocar em clubes, mais difícil é vender com lucro. (Tradução

nossa).

O FPF começou a ser implementado em 2009 e será plenamente efetivado, a partir da temporada 2018/19. A implantação prevê um período transitório longo e tolerante, ou seja, a UEFA permitiu aos clubes um período de adaptação as condições exigidas. Nas situações em que os clubes não apresentarem as condições exigidas, terão o acesso negado nas competições. Com a assimilação da regulamentação pelos clubes e com o passar do tempo, os valores de endividamento propostos pela UEFA serão reduzidos. A decisão será tomada pelo Comitê Executivo da entidade em avaliações futuras a serem realizadas nos próximos anos.

5.2 APLICAÇÃO DO FAIR PLAY FINANCEIRO NA