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6.3 Com relação ao processo de construção dos currículos e sua

6.3.2 Na voz dos diretores de escola

Nessa seção será apresentada uma análise das respostas às questões ligadas à execução dos currículos no âmbito escolar, tal como o diretor lida com as orientações oficiais prescritas e vigentes e como é feita a adaptação dessas orientações para serem colocadas em prática na sala de aula.

Entendemos que o diretor desempenha uma função pedagógica e também administrativa. Ele ocupa uma função importante na cadeia “política”, “administrativa”, de gestão, mais propriamente, na Educação. Além de o diretor gerir toda a dinâmica escolar do ponto de vista administrativo ele também, de forma, direta ou indireta, tem que se preocupar com a execução do plano político pedagógico e isso inclui o cumprimento do currículo oficial prescrito.

Na realização da entrevistas foram efetuados vários questionamentos aos diretores de escolas na tentativa de elucidar se nossa afirmação anterior de fato se revela na prática escolar. Como ponto de partida, a entrevista foi iniciada com a pergunta:

a) “Qual a relação do currículo de Matemática da escola com o PCN? A

escola segue o PCN? Em quais aspectos”?

DIRBR1: Utilizamos o PCN observando os princípios e orientações

didáticas e metodológicas. O currículo de matemática da escola precisa ter os PCN como medida uma vez que objetiva a construção do conhecimento dos alunos.É um documento nacional que a maioria das secretarias incorporam ao seu discurso. As provas de concurso para professores trazem claramente essas perspectivas contempladas, se o professor não estiver antenado com isso, ele não passará no concurso, não podendo assim, assumir o cargo. Então, “para mim está muito claro que a escola tem que seguir os PCN em todos os aspectos neles propostos. (grifo nosso)

Na fala do DIRBR1 evidencia-se que o currículo prescrito de Matemática de fato é o PCN.

DIRBR2: Deveria seguir a risca, mas existe uma grande diferença nos

conteúdos desenvolvidos nas escolas públicas e nas privadas. Nas públicas os conteúdos devem coincidir com o programa das apostilas desenvolvidas pela SEE e embasadas nos PCN. Enquanto que nas escolas privadas que são conteudistas e seguem seus materiais elaborados dentro dos PCN mas com muito mais conteúdos. Deve segui- lo na maioria de seus aspectos atendendo sempre as características de

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sua comunidade escolar, quanto à cultura, desenvolvimento educacional familiar, classe social e regional.

Na resposta do DIRBR2, revelam-se duas assertivas. Uma a de que o PCN é o currículo de Matemática prescrito e, a segunda, de que possivelmente não há o cumprimento desse currículo em sala de aula.

b) A escola tem autonomia para elaborar seu currículo de matemática?

DIRBR1: A partir das orientações dos PCN a escola tem autonomia para

escolher o currículo a ser trabalhado. Toda escola tem que ter um currículo político pedagógico que represente o ensino e aprendizagem dos alunos. A escola tem um currículo de matemática dividido em bimestre e acompanha como está sendo trabalhado e cumprido.

DIRBR2: Desde que não fuja aos PCN, as variações estão em trabalhar

conteúdos com maior ou menor ênfase.

Na fala dos dois diretores, novamente, é explicitado que o currículo prescrito são os PCN.

c) Como a escola elabora seu currículo de matemática?

DIRBR1: Aqui em São Caetano, elaboramos o currículo de Matemática

com olhar nos PCN e no currículo argentino que apresenta diversas pesquisas com sequências didáticas que foram testadas e validadas e também com base nos livros didáticos.

DIRBR2: O currículo é elaborado pelos professores da área e depois

apresentado à Coordenação e Direção, sempre embasados e estruturados nos PCN.

Novamente é enfatizado que os PCN são os aportes para a elaboração de quaisquer materiais didáticos e currículos de Matemática.

d) Quais textos/materiais didáticos são consultados para elaborar o currículo escolar/aula? Como a direção/coordenação pedagógica acompanha a execução do currículo de matemática?

DIRBR1: Como diretora, sentava com os professores e coordenadores

para analisar e decidir os ajustes do currículo. Duas vezes ao ano, observarmos se havia sido cumprido com qualidade, se atingiu as metas... Fazíamos análises dos materiais utilizados... Esse livro atendia as necessidades dos alunos? Se o livro não atendesse 75% das necessidades dos alunos, nós não adotávamos. Quanto aos livros didáticos, porém entendemos que era muito essa porcentagem, mas tínhamos que tomar um número como parâmetro para justificar se ele era ou não coerente com as propostas dos PCN.

DIRBR2: Geralmente os professores o fazem consultando os PCN,

quanto aos materiais didáticos, os livros, servem de referência. Esse trabalho de constatação do currículo em sala de aula é realizado mais pelo coordenador e/ou supervisão. O trabalho é de apoio ao professor do que de intervenção, mesmo porque nem sempre, os coordenadores ou supervisores, têm conhecimento matemático para poder intervir ou interferir.

e) Qual o papel da direção/coordenação pedagógica na elaboração do

currículo de matemática?

DIRBR1: proporcionar um espaço para reflexão, contribuindo com

materiais que sejam necessários a essas reflexões, como disponibilizando os PCN, resultados de pesquisas da área, fazendo sugestões, etc.”

DIRBR2: Normalmente tem o papel de subsidiar as pesquisas dos

professores com material de orientação e direcionamento para que os mesmos não deixem de cumprir os PCN.

As reflexões sobre as respostas obtidas pelos diretores nos conduzem a pensar que de fato os PCN são a maior referência documental oficial prescrita e vigente. Todas as iniciativas dentro da escola para a concretização do currículo de Matemática estão respaldadas nesses documentos. Mesmo trazendo informações e contribuições de outros países, como o caso da Argentina, mencionado pelo DIRBR1 de São Caetano do Sul, quaisquer inserções devem ser compreendidas nas orientações e princípios didáticos e metodológicos decorrentes dos PCN.

Na fala de Sacristán (2000), que reforça nossa análise de que “[...] Em todo sistema educativo, como consequência das regulações inexoráveis à quais está submetido, levando em conta sua significação social, existe algum tipo de prescrição ou orientação do que deve ser seu conteúdo, principalmente em relação à escolaridade obrigatória. São aspectos que atuam na ordenação do

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No Chile, não houve a oportunidade de entrevistar diretores de escola por motivo das escolas estarem em greve em nossa visita a esse país. Raimundo Olfos, no entanto, procurou esclarecer alguns questionamentos semelhantes ao que foram direcionadas aos diretores brasileiros e que foram sintetizadas a seguir.

O currículo chileno apresenta estrutura com uma base comum de conteúdos matemáticos, que devem ser obrigatoriamente cumpridos. As secretarias de Educação, de cada região, têm autonomia para agregar conhecimentos que julgarem necessários para suas comunidades. A escola e o professor também têm essa autonomia.

Como mencionado anteriormente, o SIMCE acompanha por meio de questionários de contexto e avaliações para alunos, o desempenho das escolas, que existe uma competição entre elas pleiteando subvenções por dois anos. Dentre as análises sobre o desempenho escolar que o SIMCE avalia, está a verificação do cumprimento do currículo proposto pelo ministério da Educação.

Ainda no Chile, existe o Centro de Pais e Apoderados (CPA), que tem como finalidade auxiliar alunos com dificuldades, orientá-los quanto sua postura disciplinar, inclusive a de como se vestir, higienizar-se, cortar os cabelos, etc., também acompanha o desenvolvimento curricular nas escolas.

Esses esclarecimentos permite-nos compreender que, no Chile, como existe um currículo definido e proposto pelo governo, possivelmente este esteja sendo implementado em sala de aula, pelo fato das avaliações que o SIMCE promove e ainda, pela gratificação aos quais os professores e escola passam a ter pelo período de dois anos. Acreditamos que a participação dos pais e apoderados seja, também, uma forma do governo chileno verificar se está sendo de fato cumprido o currículo de Matemática na sala de aula. Pois, caso isto não seja uma verdade as escolas, provavelmente, não atingirão o nível de “excelência” e não receberão a subvenção em peso.