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Na escrita, a relação do sujeito com o excedente de visão

Módulo III Atividades práticas

4 PROFESSORES EM FORMAÇÃO INICIAL CONFRONTADOS COM A PRÓPRIA ESCRITA, O ENSINO DE ESCRITA E TECNOLOGIA E ENSINO (DE ESCRITA)

4.1 A escrita e o professor em formação inicial

4.1.1 Na escrita, a relação do sujeito com o excedente de visão

A escolha de qual gênero do discurso usar em diferentes situações está relacionada, em primeiro lugar, com os destinatários. São considerados também nessa escolha: o lugar de onde o sujeito fala, a situação comunicativa, o horizonte comum do sujeito e dos destinatários e o conteúdo temático. Ainda que considerados esses outros, desenvolvo a análise nesta seção, focalizando os gestos de linguagem do escrevente, em posição exotópica, no diálogo com os diferentes destinatários, no tocante à escolha do gênero, à construção composicional, ao estilo e ao conteúdo temático. Assim sendo, para chegar à noção de cronotopo do endereçamento, um conjunto significativo de PE e de gestos de pesquisa foi necessário. O excedente de visão, como um modo de olhar do pesquisador no processo de análise e do professor no processo de ensino, requer análises progressivas e, às vezes, retroativas a fim de interpretar as hipóteses e chegar aos resultados. Ressalte-se que, à medida que novos índices precisam ser confrontados para tentar responder à hipótese de partida e a seus dois desdobramentos, hipóteses explicativas levantadas em função das pistas que vão aparecendo, mas relacionadas à inicial e a seus desdobramentos, são indicadas uma vez que, no paradigma indiciário, novas pistas podem levar o pesquisador a outras pistas, sendo necessário apontar novas hipóteses – ainda que provisórias – para definir, inclusive, a relevância ou não das novas pistas.

A relativa extensão deste Capítulo se justifica: a ausência dos dados e análises a seguir impossibilitam a compreensão da noção de cronotopo do endereçamento, de como a noção de excedente de visão é usada numa pesquisa da área da linguagem, além de inviabilizarem também a compreensão de outros resultados relevantes nesta pesquisa. Pesquisar, na área de Linguística Aplicada, é compreender também o processo, uma vez que há gestos de pesquisa que podem dialogar com o fazer docente.

Segundo Bakhtin (2011, p. 301), “cada gênero do discurso em cada campo da comunicação discursiva tem a sua concepção típica de destinatário que o determina como

gênero”. Como os escreventes participaram de um Curso de Formação, pareceria evidente que o destinatário imediato em suas PE seria a professora-pesquisadora e que a escolha do gênero decorreria do comando didático em cada atividade proposta. O caráter explicativo da análise permite afirmar que não.

O GD de Plano de Aula, ainda que fosse um esboço, foi expressamente solicitado no comando didático. Em relação às Wikis, o comando foi a elaboração de um texto colaborativo e o uso dos recursos disponíveis no moodle, tais como editar, comentar, ver histórico, criar hiperlinks e páginas novas, mas não foi nomeado o gênero do discurso. Nos Fóruns101 e no Chat,

esperavam-se PE configuradas como enunciados típicos de um fórum (debate acadêmico) em sala de aula e, no desenrolar do Curso, enunciados típicos do GD fórum acadêmico. Diferentemente do esperado, na escrita dos professores em formação inicial, vestígios de outros GD foram identificados. Essa pista encaminhou para uma hipótese provisória:102 o escrevente

escolhe o GD orientado pelos destinatários. De partida, afirmo que essa hipótese foi confirmada, como mostro mais adiante nas três seções deste capítulo, mas encaminhou para um resultado inesperado: a noção de cronotopo do endereçamento. Antes, porém, é necessário descrever os gestos de pesquisa que encaminharam para a interpretação dessa (nova) hipótese.

Numa acepção positiva, a presença de ruínas de GD em outro GD é indicativa da atividade do sujeito em tempos e espaços diversos (CORRÊA, 2006). Na pesquisa, essa busca possibilitou compreender os gestos de linguagem do escrevente na escolha do GD, da construção composicional, do estilo e do conteúdo temático. Para mostrar como diferentes destinatários orientam a escrita do escrevente, escolhi os Fóruns por apresentarem um maior número de PE, um tempo cronológico mais visível e por permitirem observar as PE, em retomadas e antecipações, no interior dos textos, confrontando hipóteses provisórias e levantando indícios por meio da observação dos gestos de linguagem dos escreventes em fontes diretas ou indiretas. Para identificar uma PE como artigo científico observei, por exemplo, as ruínas do GD artigo científico em diferentes PE de diferentes escreventes, conforme critérios

101 Fórum, Chat e Wiki com inicial maiúscula: referência à atividade, ao recurso do moodle e ao GD. Com

minúscula e em itálico, fórum, fórum acadêmico, dissertação de vestibular e artigo científico: referência aos GD, identificados nas PE a partir de suas ruínas nos Fóruns, Chat e Wiki.

102 No paradigma indiciário, ao longo da pesquisa, são elaboradas hipóteses provisórias/explicativas à medida que

novos dados e índices são levantados. É por meio da observação e interpretação de uma hipótese provisória que o pesquisador busca pistas para confirmar ou refutar uma hipótese provisória que, por sua vez, está relacionada à hipótese de partida. Esse gesto pode implicar a reformulação total ou parcial da hipótese inicial. Ressalto que a hipótese é o meio para se chegar a um dado e possibilitar ao pesquisador a teorização, no caso do paradigma indiciário em outras áreas. Na área das Ciências da Linguagem, porém, busca-se a interpretação dos dados, índices e hipóteses. Ressalte-se que em Ginzburg (2006) a hipótese não se configura um meio para se chegar a ela mesma. Cf. Ginzburg (2006, 2008, 2012), Truzzi (2008), Sebeok e Umiker-Sebeok (2008) e Capretini (2008). A mesma ressalva se aplica a esta pesquisa.

apresentados no Capítulo 2. Por meio do excedente de visão, procurei apreender o possível olhar exotópico do escrevente. Por comparação, identificação e observação de ruínas de um GD em outro, cada PE foi nomeada como: fórum, fórum acadêmico, dissertação de vestibular,103

resenha e artigo científico. Nesse processo, levei em consideração também a utilização do espaço e a disposição do texto nos Fóruns, no Chat e Wikis.

Na figura 19, estão elencados os GD identificados nos Fóruns, Chat e Wikis a partir de suas ruínas.

Figura 19 - Gêneros do discurso identificados pelas ruínas nos Fóruns, Chat e Wikis

A análise desse primeiro mapeamento contribuiu para observar o conjunto de pistas que o escrevente deixa em cada PE, mais – ou menos – marcadas da posição exotópica em que o sujeito se põe numa relação de alteridade com seus outros (destinatários, gêneros do discurso ou discursos). Para Bakhtin (2011, p. 174), “viver significa ocupar uma posição axiológica em cada momento da vida, significa firmar-se axiologicamente” e “minha unidade é uma unidade de sentidos [...] é a unidade espaço-temporal do outro” (Ibid., p. 100), não sendo possível ao sujeito estabelecer uma posição sem relacionar a sua com a de outro(s). Dessa forma, a relação do sujeito entre o eu-para-mim, o outro-para-mim e eu-para-outro orienta: a construção composicional, o estilo e o conteúdo temático de cada GD, sendo este definido em função dos destinatários. É a partir dessa relação que o professor em formação inicial transita por diferentes

103 No Fórum 01, foi objeto de análise e discussão a redação do Enem, postada por vários escreventes. Para

distinguir a redação do Enem, postada no Fórum 01, do GD identificado a partir de ruínas, utilizo o termo

posições enunciativas, gêneros do discurso ou discursos. No caso do professor em formação inicial, o trânsito também se dá pela escola – Educação Básica e pela academia - Curso de Letras.

Para interpretar a hipótese e relevância dos indícios, analisei as ocorrências de ruínas de fórum, fórum acadêmico, dissertação de vestibular e artigo científico. O resultado dessa análise está nos gráficos 01, 02 e 03, cujos dados analiso em conjunto, após a apresentação deles. A partir desse gesto, em vez do termo ruínas de GD, deste ponto em diante, passo a utilizar apenas GD fórum, GD dissertação de vestibular e GD artigo científico.

Gráfico 01 – Porcentagem de ruínas de GD no Fórum 01

Gráfico 03 – Porcentagem de ruínas de GD no fórum 03

Como se observa, no gráfico 01, o GD fórum é o mais utilizado e o GD artigo científico tem pouca ocorrência. No gráfico 02, o GD fórum, o GD fórum acadêmico e o GD dissertação de vestibular tem menor ocorrência ao passo que o número de GD artigo científico começa a aumentar. No gráfico 03, ocorre uma redução significativa do GD fórum e amplia-se a ocorrência dos GD fórum acadêmico e artigo científico.

Um fato esperado e observado nos três Fóruns foi a progressiva redução da porcentagem de GD fórum (77,50%, 69,39% e 8,90% nos Fóruns 01, 02 e 03, respectivamente) e uma oscilação do número de GD fórum acadêmico (16,25%, 14,29% e 54,29% nos Fóruns 01, 02 e 03, respectivamente) por se tratar de um evento de formação docente inicial na graduação. O GD artigo científico, no Fórum 01, é de apenas 2,5%, e de 14% e 31,40% nos Fóruns 2 e 3, respectivamente. Entendo que a maior incidência de GD acadêmicos decorre do excedente de visão, ponto de observação do sujeito na exotopia, uma vez que, participando de um evento na esfera academia, o escrevente transita entre as posições enunciativas egresso do Ensino Médio e professor em formação inicial, que, dialogando com a voz social da academia principalmente, tenta se alçar ao domínio discursivo da área de Letras, conforme indiciam as análises na parte final desta seção e nas seções 4.2 e 4.3. O escrevente, na extraposição, tenta exceder à própria visão ou ocupar o lugar do outro, tenta antecipar o dizer do outro para elaborar o seu dizer. Por meio desses gestos de linguagem, o escrevente refrata o mundo, o tempo e o espaço de onde fala, os destinatários de seu texto, os GD e discursos das esferas discursivas – academia e escola – no caso desta pesquisa. Esse processo se inicia no instante em que o sujeito precisa imaginar

(e antecipar) quem são os seus possíveis destinatários, quando a situação não envolver um destinatário imediato e as possíveis réplicas ao seu dizer.

Este ponto merece destaque, porque possibilita compreender os gestos do escrevente para que professor e aluno levem em consideração a produtividade da noção de excedente de visão. Defendo que compreender princípios da dialogia e a noção de excedente de visão podem contribuir para uma reflexão sobre aspectos não materializados, mas constitutivos do texto: o presumido social, o acabamento do enunciado, certos destinatários e as sempre presentes réplicas. É evidente que não proponho a teorização e a apropriação de conceitos pelos estudantes, mas uma compreensão básica, elementar da relação do sujeito com o outro na dialogia e na exotopia.

Passo a seguir à análise de gestos de linguagem do escrevente na escrita no tocante às ruínas de GD e aos destinatários, fazendo a seguinte ressalva: as marcas linguísticas ou a disposição espacial do texto na Produção Escrita (PE) que possibilitaram definir uma PE como GD artigo científico ou fórum, por exemplo, são retomadas e apresentadas nas análises subsequentes. Nesse primeiro gesto de pesquisa, busquei realizar um mapeamento a fim de observar a ocorrência ou não de ruínas em todas as PE a fim de definir que gênero era mais ou menos recorrente uma vez que a escolha do gênero é orientada pela noção de endereçamento. Para tanto, essa análise inicial toma como referência a porcentagem de ruínas. No entanto, o mapeamento foi realizado a partir da noção de excedente de visão buscando marcas (mais ou menos explícitas) da posição exotópica do escrevente na escrita.

Escolhido o GD, o escrevente resgata a construção textual do GD a ser escrito. É na relação de alteridade com os destinatários, com os GD que lhe são familiares, com a memória do passado e do futuro e com as histórias de letramentos que os gestos de linguagem do escrevente na configuração do GD fórum, por exemplo, ora se aproximam do GD dissertação de vestibular – em função de sua experiência social e letramentos pregressos –, ora se aproximam dos GD fórum acadêmico e artigo científico – os da experiência social em curso, ou porvir, ou ainda em função do presumido social, dos destinatários, da esfera discursiva acadêmica e da posição enunciativa que assume. Ao enunciar, o escrevente busca uma compreensão responsiva ativa de seu interlocutor. Para tanto, a elaboração do enunciado requer dois sujeitos: um eu que enuncia se pondo no lugar do outro que se põe no lugar do eu. Por isso, as antecipações, as ressalvas, as modalizações, a escolha ou exclusão de determinadas palavras, de construções sintáticas, de temas e gêneros do discurso, dentre outras estratégias do escrevente.

Exponho, na sequência, dados relevantes para a interpretação de hipóteses e indícios, bem como para a discussão dos dados.

No gráfico 04, o agrupamento dos GD se deu com base nos critérios: a) fórum – mais próximo do diálogo, do bate-papo em sala de aula, constituído de um único bloco paragráfico; b) dissertação de vestibular – mais próxima da redação ensinada em escolas e cursinhos pré- vestibulares e c) fórum acadêmico e artigo científico – mais próximos da escrita acadêmica (citação, referência, itens lexicais típicos na área de Letras, exemplificação tentando relacionar teoria e prática, paragrafação, etc.).

Gráfico 04 – Porcentagem de ruínas de GD por similaridade

Separados pela similaridade, observa-se, no Gráfico 04, que o GD fórum ainda se mantém como o mais usado, porém a porcentagem de GD fórum acadêmico e artigo científico aumentou. Ainda buscando identificar regularidades nas PE, fiz novo agrupamento. Assim, no Quadro 08, os critérios foram: os GD fórum e dissertação de vestibular agrupados no Grupo 01 porque dialogam, principalmente, com a memória do passado, a experiência social e as histórias de letramentos do escrevente; os GD fórum acadêmico e artigo científico foram agrupados no Grupo 02 porque dialogam, principalmente, com a memória do presente e do futuro, os letramentos em processo, ainda que resgatem, pela memória, os letramentos e as experiências sociais com as quais o escrevente teve contato direto ou indireto.

Atividade GD fórum e dissertação de vestibular

GD fórum acadêmico e artigo científico

Fórum 01 90,00% 10,00%

Fórum 02 58,26% 41,74%

Fórum 03 57,18% 42,82%

Total 68,48% 31,52

Quadro 08 - Porcentagem de ruínas de GD – grupos 01 e 02

Confrontando os dados do Gráfico 04 e do Quadro 08 com os Gráficos 01, 02, 03 e a Figura 05, observa-se que os escreventes transitam entre os GD. Observa-se, ainda, que progressivamente ruínas dos GD do Grupo 02 se tornaram mais recorrentes à medida que os GD do grupo 01 perderam espaço.

Duas hipóteses provisórias podem explicar a curva de crescimento de GD da esfera discursiva academia e a queda dos GD fórum e dissertação de vestibular: 1ª) os escreventes, à medida que foram lendo e discutindo GD acadêmicos (artigos científicos e capítulos de livro), se distanciaram da construção composicional e do estilo dos GD fórum e dissertação de vestibular e, consequentemente, as ruínas de GD acadêmicos aumentaram; 2ª) os escreventes endereçavam o GD não apenas ao destinatário imediato, recorrente nos GD fóruns, mas também ao destinatário presumido e ao sobredestinatário, recorrentes nos GD fórum acadêmico e artigo científico. Esses efeitos se tornam salientes quando a escrita é vista como processo, quando o sujeito se marca no texto ora se distanciando, ora se aproximando de outros sujeitos, gêneros do discurso ou discursos, refratando-os e, ao mesmo tempo, refratando a própria escrita e a sim mesmo.

Penso que esses resultados dialogam com o modelo de socialização acadêmica, mas se distanciam dele uma vez que não são o GD e a esfera de atividade humana que estão em relevo, mas o modo como o sujeito, na e pela linguagem, dialoga com o GD, com a esfera e com os seus destinatários para construir o seu percurso no processo de escrita. Aproximam-se, por outro lado, do modelo de letramento ideológico, uma vez que o escrevente começa a entrar no jogo das relações dialógicas da esfera acadêmica ao empreender gestos de linguagem da escrita acadêmica.

As análises a seguir também confirmam as hipóteses provisórias. O escrevente, procurando antecipar o processo de refração de seus possíveis destinatários quanto ao seu projeto enunciativo, bem como qual pode ser o horizonte comum entre ele e eles, define “a

escolha do gênero [...], dos procedimentos composicionais e os meios linguísticos”. (BAKHTIN, 2011, p. 302). Na seção 3.1, ao tratar do ensino de escrita por meio de gêneros do discurso, busquei ilustrar que a frequência e a estruturação de parágrafos em um GD decorrem da posição exotópica do sujeito, na alteridade, por meio da excedência de visão. Um dos exemplos foi a organização espacial dos parágrafos na página em branco no GD dissertação de vestibular, cuja estrutura prototípica é a ocorrência de, no mínimo, três parágrafos com as seções introdução, desenvolvimento e conclusão. Um menor número de parágrafos significa menor atenção do escrevente para com o destinatário (BAKHTIN, 2011, p. 62). O inverso também procede: quanto maior o número, mais marcante a “atitude do falante na sua “dupla orientação”: em relação àquilo de que se fala e àquele para quem se fala” (PONZIO, 2011, p. 16) – aspas no original.

Penso, ainda, que a disposição espacial do texto no suporte (papel ou tela digital) pode configurar-se também como indício da excedência de visão do sujeito, já que o escrevente procura marcar os contornos do texto porque fala para alguém de um lugar.

Buscando a confirmação dessa hipótese provisória, selecionei na linha do tempo Cronologia dos gêneros do discurso base (Fig. 20) uma sequência de quatro PE produzidas por F.45.M e F.05.F, considerando a 1ª PE a redação do Enem de F.45.M postada para análise e discussão.

Figura 20 – Recorte da linha do tempo cronologia dos GD

Na segunda e na terceira PE, observa-se a referência marcada do destinatário: o escrevente se dirige a outro participante – o colega, seu destinatário imediato, gesto de linguagem que pode explicar a ocorrência do GD fórum. As marcas linguísticas e a disposição

espacial do texto no Fórum, que possibilitaram essa análise, são retomadas na análise da produção escrita de F.05.F e F.45.M, a seguir.

2ª Produção escrita

Na 2ª PE, F.05.F faz uso de um emoticon *-*, de uma linguagem coloquial e elogia a redação do Enem de F.45.M para, em um tom mais formal, no 2º e no 3º parágrafo, fazer a análise e a indicação de desvios graves e leves observados na escrita dele, como “falta de crases, vírgula, onde não tem e faltando onde tem, acentos faltando, algumas conjugações equivocadas...”, em diálogo com o sobredestinatário – a voz social (a dos letramentos dominantes e a da academia). No último parágrafo, F.05.F retoma o tom coloquial e finaliza a PE (a 2ª) fazendo uma pergunta a F.45.M – “Você, lendo sua redação hoje, acha que a proposta de intervenção que deu é possível de ser executada” – , cuja resposta se encontra na 3ª PE a seguir.

3ª Produção escrita

Observa-se a presença linguisticamente marcada do destinatário: “*-* que gracinha, Eller!”, 2ª produção escrita, e “Eller querida”, na 3ª produção escrita, além do tom coloquial típico de um bate-papo durante uma discussão de um tema em sala de aula e o predomínio dos tipos textuais narrar e descrever. Na 2ª PE, nota-se o diálogo de F.05.F com o destinatário presumido – professores da academia, quando indica os desvios gramaticais graves e leves do colega de curso, tais como: “falta de crases, vírgula, onde não tem e faltando onde tem, acentos faltando, algumas conjugações equivocadas...”,. Mesmo dialogando com esses dois outros destinatários e indiciando dialogar com o sobredestinatário (a voz social da academia), F.05.F mantém a construção composicional do GD fórum, ou seja, a indicação do interlocutor (“*-* que gracinha, Eller!” na primeira linha da PE e “Você” na penúltima linha) Comparando a 2ª PE (F.05.F) com a 3ª PE (F.45.M), que responde a F.05.F, “Pri, querida, obrigado pelo comentário”, observam-se indícios do predomínio do tom coloquial, o bate-papo entre os dois escreventes. A análise das duas PE assinala que são prototípicas do GD fórum ao marcar linguisticamente o destinatário. A construção dessas PE indicia que o escrevente, na alteridade, se utiliza de seu excedente de visão para estruturar sua PE orientado por seus destinatários. Que GD usar e qual a estrutura desse GD são as perguntas que, possivelmente, o sujeito – outro- para-mim, eu-para-mim e eu-para-outro – se fez para, responsivamente, participar do Fórum. Linguisticamente, a excedência de visão está menos marcada, mas o ato de participar do Fórum