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1. A BUSCA DE UMA METODOLOGIA: TEMPO E SIGNIFICADO NA

1.3. TRÍPLICE MIMESIS NAS NARRATIVAS ESCRITAS POR

1.3.1. Narrativas escritas

A investigação narrativa não pressupõe, necessariamente, dados lingüísticos. Polkinghorne (1995) admite dois direcionamentos para a investigação narrativa; cada um deles demanda um tipo de dado. No primeiro direcionamento, que ele chama de análise de narrativas, são utilizadas narrativas como dados e o pesquisador chega a um produto final constituído de descrição de temas, taxonomias de tipos de história, de personagens, de cenários. A análise dos dados neste tipo de pesquisa, freqüentemente, requer a análise de

várias histórias para que se possam identificar elementos particulares como instâncias de noções gerais ou conceitos e localizar temas comuns ou manifestações conceituais entre histórias. No segundo direcionamento, que ele chama de análise narrativa, o pesquisador configura os elementos dos dados em uma história que una e dê significado aos mesmos como contribuidores para um todo narrativo. Para isso, o pesquisador descobre ou desenvolve um enredo que mostre a ligação entre os elementos dos dados como parte de um desenvolvimento temporal se desenrolando para um fim. Neste tipo de análise, os dados utilizados não compõem, geralmente, uma história.

Pesquisadores que vêem uma identidade entre a estrutura narrativa e a estrutura da experiência fazem uso de dados não lingüísticos, ou pré-lingüísticos numa perspectiva narrativa de construção de significados na interação humana que não envolve o uso da fala ou da escrita, como na investigação que envolve as interações entre mãe e bebê. (FOGEL, 1996; PANTOJA, 2001)

Polkinghorne relaciona a escolha de dados à natureza daquilo que está sob investigação. Nas suas palavras, “o assunto em questão nas ciências humanas é a esfera humana, e as características especiais desta esfera informam o pesquisador sobre as várias abordagens para a Coleta de dados, quais os tipos de dados, e quais os tipos de análise de dados são apropriados”. (POLKINGHORNE, 1983, p. 259)

A importância que ele dá ao dado lingüístico decorre do princípio de que a expressão lingüística é uma das principais formas de expressão utilizadas na esfera do significado.

O acesso à esfera humana é ganho através de suas expressões. A principal forma de expressão é lingüística, embora as expressões faciais e os gestos do corpo (incluindo a dança) sejam também fontes de dados. Em adição, artefatos não literários, tais como maquinaria, objetos de arte, e construções arquitetônicas sejam fontes de dados. Mas a mais rica fonte de informação são expressões lingüísticas, e estas podem ser orais ou escritas (POLKINGHORNE, 1983, p. 264).

O uso de dados lingüísticos no presente trabalho está diretamente relacionado com o que se quer investigar. A pergunta central da pesquisa, que é pelos processos de construção de

significados no discurso narrativo sobre a experiência escolar, já delimita muito precisamente o tipo de dado a ser analisado.

Outra questão envolvida na escolha dos dados na presente pesquisa se refere à utilização de narrativas escritas. Esse interesse se vincula primeiramente à característica da escola de ser um espaço, por excelência, de aprendizado dos processos de letramento e do desenvolvimento de competências de construção textual escrito. Escrever é uma atividade típica da escola. A atividade de escrita de texto faz parte do processo cultural determinado para a escola.

Por sua vez, a investigação narrativa pode se beneficiar do estudo de significados dentro das especificidades trazidas pela escrita de pessoas comuns, geralmente investigadas a partir de sua produção verbal, no que diz respeito à pesquisa de construção de significados. Veremos algumas dessas características a seguir.

Paul Ricoeur (1976) mostra como o texto escrito põe em destaque a dialética entre um evento e seu significado. Ou seja, como a escrita altera a significação de uma experiência. Ele demonstra essas alterações a partir da maior autonomia semântica conferida ao enunciado escrito na medida em que ele é mais destacado da situação de elocução. A ênfase de significação no texto escrito, portanto, recai no significado que o texto veicula mais do que na situação de elocução. Como conseqüência, o texto escrito tem seu sentido de autoria realçado porque, na impossibilidade de o autor responder pelas perguntas levantadas pelo contato da audiência com o texto, o sentido de autoria se torna uma dimensão do texto.

O sentido de autoria como uma dimensão do próprio texto faz parte de sua autonomia semântica. Ao mesmo tempo em que se desvincula da situação de elocução, o texto escrito é confiado a um suporte material que, liberando-o do contexto da comunicação face a face, abre o leque de oportunidades para múltiplas leituras do texto por vários tipos de audiência, em diferentes lugares e tempos.

No entanto, ainda mais complexa para Ricoeur é a transformação promovida pela escrita no âmbito da referência. A ausência da situação imediata de elocução leva o texto escrito a um estranhamento de seu significado imediato. Esse estranhamento deve ser superado pelo ato de leitura que recria, a partir do texto, os elos de significação estranhados. No entanto, o significado que se recria não é mais o imediato, é um significado em um tempo e em um espaço diferentes do tempo e espaço da composição do texto. As mudanças proporcionadas pela escrita equivalem a uma liberdade e uma falta de contexto imediato que levam o processo de significação a confiar-se na recriação de significados com base nos recursos de produção da obra que referenciam o discurso escrito. Desta forma, a metodologia de análise aqui utilizada tem em vista as características do texto escrito

1.3.2. Narrativas de alunos de terceiro ano do ensino médio da escola pública: