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Capítulo 4 – NATAL: A CIDADE E O PORTO

4.2. Natal e seu centro histórico

A preocupação com a preservação do centro histórico de Natal começa a surgir na década de 1980, seguindo uma tendência verificada em todo o Brasil de se revitalizar áreas centrais para utilização pelo turismo. Foi o que aconteceu em Salvador, com o Pelourinho, em Recife, com o Recife Antigo, Olinda e São Luís, por exemplo. Em Natal, os “olhares” da revitalização voltaram-se para o bairro da Ribeira que, mesmo não tendo sido o núcleo original de ocupação da cidade (a cidade foi formada a partir do bairro Cidade Alta), possuía a imagem, incorporada como referência para a população, de centro histórico tradicional. Além disso, a Ribeira encontrava-se em um estado de degradação maior do que a Cidade Alta, que ainda hoje mantém o dinamismo de um bairro comercial, mesmo diante da concorrência dos inúmeros shopping centers instalados em outras áreas da cidade. O ideário da revitalização, no entanto, não conquistou muito espaço em Natal (acreditamos que devido, em parte, à concentração das atenções sobre as áreas litorâneas), e, com isso, a Ribeira não passou pela reformulação que precisaria para atrair atividades turísticas, como ocorrera em outras cidades.

As ações voltadas para o centro histórico de Natal têm início, aparentemente, na década de 1980, a partir de estudos realizados tanto no meio acadêmico como em órgãos da Prefeitura Municipal, voltados para a construção de um corpo de dados. Segundo João Galvão27, em 1985 já havia no Iplanat (Instituto de Planejamento Urbano de Natal, órgão correspondente à época ao que hoje representa a Secretaria Especial de Meio Ambiente e Urbanismo – SEMURB) um levantamento de todos os imóveis da Ribeira e da Cidade Alta, com indicações do estado de conservação em que se encontravam. A preocupação com a preservação do patrimônio histórico da cidade já aparecia formalizada no Plano Diretor de Organização Físico-territorial do Município de Natal (de 1984), e teve sua regulamentação definida em 1990, com a Lei nº 3.942, que estabelece prescrições urbanísticas diferenciadas para os bairros Cidade Alta e Ribeira, que passaram a constituir, então, a Zona Especial de Preservação Histórica – ZEPH. Pretendia-se, dessa forma, regulamentar os objetivos e diretrizes gerais estabelecidos no plano quanto à preservação de prédios e sítios notáveis pelos valores históricos, arquitetônicos, culturais e paisagísticos28. Em seguida, em 21 de maio de 1992, com a promulgação da Lei nº 4.069, regulamentou-se a Zona Especial Portuária - ZEP,

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João Galvão é arquiteto da Secretaria Especial de Meio Ambiente e Urbanismo, tendo sido funcionário do antigo Iplanat desde 1985, e atualmente trabalha no Setor de Patrimônio Histórico do órgão. As informações foram fornecidas em entrevista realizada no dia 16 de fevereiro de 2006.

28 Como o Plano Diretor de 1984 ainda possuía um vínculo muito forte com o urbanismo modernista, o conceito de preservação que ele traz também se alinha com o disposto na Carta de Atenas, que reserva as recomendações de preservação a elementos de notável representatividade histórica, cultural ou artística.

também definida no Plano Diretor de 1984, em área contígua à Zona Especial de Preservação Histórica, porém, com prescrições urbanísticas menos restritivas.

Em 1993, as discussões em torno dessa questão adquiriram maiores repercussões, com a realização de um seminário entre atores sociais e institucionais interessados, o Seminário Ribeira Velha de Guerra, voltado para a discussão do problema da degradação do bairro da Ribeira. De acordo com o relato de João Galvão, neste seminário foram reunidos representantes da Câmara Municipal de Natal, do Governo do Estado, da Fundação José Augusto29, da Secretaria de Transporte e Trânsito Urbano do Município – STTU, e do Iplanat, e foram convidados profissionais que tivessem projetos ou idéias voltados para o bairro da Ribeira. Com as opiniões levantadas e os resultados do debate estabelecido, começou-se a elaborar a minuta da Lei de Operação Urbana Ribeira, regulamentada em 1997 (Lei no 4.932). A lei compreende um conjunto integrado de intervenções coordenadas pela Prefeitura, através do Iplanat, com a participação dos diversos níveis do Poder Público, e dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados ligados ao bairro, visando à recuperação e revitalização da Ribeira, bem como a execução de determinadas transformações urbanísticas, com participação de recursos públicos (NATAL, 1997). Apesar de o período de vigência dessa lei já ter sido prorrogado por duas vezes, em 2004 e em 2005, os recursos e incentivos nela contidos não têm sido utilizados em projetos concretos para a Ribeira, o que, em parte, é muitas vezes justificado pela falta de conhecimento da lei, por parte da classe empresarial que investe em Natal. Do quadro de obras indicado na Lei de Operação Urbana, destacam-se aquelas relativas: à urbanização da área do porto e do Canto do Mangue e Favela do Maruim; à instalação do Museu da Aviação (ou Museu da Rampa); e à utilização do rio Potengi para transporte de passageiros e para contemplação, com a construção de um terminal turístico e de um deck em suas margens. Essas propostas, que estão diretamente relacionadas à área portuária de Natal, repercutem nos projetos atualmente em vigor, que serão discutidos adiante, sendo constantemente retomadas nas discussões em torno do assunto. Nenhuma delas foi concluída até hoje, mas a maioria delas continua sendo considerada nos debates atuais.

Algumas ações de intervenção urbanística chegaram a ser implementadas na Ribeira ainda na década de 1990, havendo se destacado, em especial, o projeto “Fachadas da rua Chile”, conduzido pela Prefeitura Municipal, na gestão de Aldo Tinoco (1995-1998). Sob a coordenação técnica do arquiteto Haroldo Maranhão e com a consultoria de José Luiz Mota Menezes, de Recife, a ação reuniu profissionais de diversos campos, incluindo arqueólogos

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que realizaram prospecções na área. Iniciado em 1995, o projeto previa a restauração das fachadas de um conjunto de 45 edificações ao longo da rua Chile (onde está localizada a entrada do Porto de Natal), além de obras de calçamento e iluminação pública no chamado Largo da Rua Chile, que se transformaria posteriormente em um pátio de eventos, atraindo um público visitante para a área (figs. 32 e 33).

O bairro da Ribeira passou a ser considerado o núcleo de efervescência cultural da cidade, ponto de encontro de jovens, artistas e intelectuais, em seus bares, boates e no próprio Largo da Rua Chile, onde se realizaram diversos eventos. Segundo Haroldo Maranhão, com essa iniciativa, “começa a surgir uma consciência patrimonial na cidade”. Porém, com a sucessão administrativa firmada na oposição ao prefeito Aldo Tinoco30, pela ex-prefeita Wilma de Faria (que havia apoiado o próprio Aldo Tinoco para seu sucessor), não se deu

30 O período de gestão de Aldo Tinoco à frente da prefeitura foi marcado por muitas turbulências, derivadas principalmente de desentendimentos políticos; e ao final de seu mandato, “[...] o prefeito já não tinha crédito nem entre a população, nem entre seus aliados políticos, se é que eles existiam” (NEVES, 1999, p. 42).

Fig. 32 – Registro das edificações localizadas na Rua Chile antes das obras de restauração. Fonte: Maranhão (2006).

Fig. 33 – Edificações da Rua Chile após a implementação do projeto “Fachadas da Rua Chile”. Fonte: Maranhão (2006).

continuidade ao projeto, que foi abandonado antes da conclusão. Foram restauradas apenas algumas fachadas previstas no projeto e as atividades de incentivo à cultura e ao lazer foram deixando gradativamente de ser promovidas no local, retomando-se, assim, o processo de abandono. Nos dois mandatos de Wilma de Faria que se seguiram, em que a priorização das ações recaía sobre as áreas litorâneas de atratividade turística, não houve novas intervenções físicas no bairro da Ribeira.

Sobre o assunto, Trigueiro (2001, p. 4, apud MEDEIROS, 2002, p. 23) afirma que A despeito da instituição da Zona Especial de Preservação Histórica, desde 1990, do Projeto Rua Chile, das intervenções motivadas pelo 4º centenário de Natal e da ocorrência de festivais sazonais, Cidade Alta e Ribeira não atingiram níveis satisfatórios de identificação e visibilidade como centro histórico.

Desde o final da década de 1990, no entanto, tem havido uma tentativa por parte da Administração Municipal de retomar a idéia de revitalização da Ribeira, apesar de ainda não se ter obtido muito sucesso. Nesse período, diversas intervenções pontuais no bairro (reformas de praças, melhoramentos de ruas, recuperação de edifícios ou conjuntos edificados) foram propostas, sem muita articulação entre elas. Ou seja, não havia um projeto ou um plano urbano que pensasse a Ribeira como um todo. No ano 2000, esse conjunto de proposições para a Ribeira foi reunido em um documento denominado “Projeto Ribeira de Reabilitação Urbana”, desenvolvido pelo Setor de Patrimônio Histórico da SEMURB. Como objetivo geral, o projeto propunha a recuperação do patrimônio histórico, cultural e natural, com base na interpretação física, funcional e simbólica da Ribeira, de modo a promover a sua integração urbanística. Como objetivos específicos foram estabelecidos: recuperar a memória da cidade através da história cultural do bairro, por meio de campanhas publicitárias e educativas; otimizar o potencial cultural e turístico; otimizar a utilização da infra-estrutura instalada; reverter o processo degenerativo do bairro; estimular o uso residencial; organizar espaços públicos e humanizar o bairro; reverter os processos de esvaziamento e degradação de funções; e valorizar os recursos naturais (SEMURB/SPH, 2000).

O Projeto Ribeira de Reabilitação Urbana consiste, na verdade, em uma compilação de propostas a princípio isoladas, que se pretendia agregar sob a idéia de um “plano”, mas que não contemplava nenhum tipo de ação conjunta entre os atores e instituições proponentes. Esse projeto englobava, dentre outros: o projeto Largo do Teatro, a urbanização do Canto do Mangue, o reassentamento da Favela do Maruim, os projetos de ampliação do Porto de Natal e a construção de um Terminal Turístico de Passageiros. Estes dois últimos foram propostos pela Companhia Docas do Rio Grande do Norte – CODERN, que administra o Porto de Natal.

O projeto Largo do Teatro, consiste em uma proposta de intervenção conduzida pela Prefeitura Municipal, que compreende a urbanização da Praça Augusto Severo (onde está situado o Teatro Alberto Maranhão) e seu entorno. Essa proposta permanece em discussão na atualidade e será melhor detalhada adiante. A urbanização do Canto do Mangue, que é uma área tradicional da cidade relacionada à pesca artesanal, encontra-se em situação semelhante ao projeto do Largo do Teatro, sendo também de responsabilidade da Prefeitura Municipal. Já o reassentamento da Favela do Maruim está cercado de polêmica até hoje, não havendo muita perspectiva de que seja implementado. Essa proposta está diretamente relacionada ao projeto de ampliação do Porto de Natal, elaborado pela CODERN. O projeto refere-se à perspectiva de ampliação do pátio de contêineres do Porto de Natal sobre o terreno vizinho, ocupado, justamente, pela Favela do Maruim. A CODERN solicitou o terreno ao Patrimônio da União, mas a sua utilização está condicionada à solução que deverá ser apontada para o problema da moradia daquelas pessoas. Portanto, só poderá haver ampliação do porto sobre aquele terreno, se houver um projeto de reassentamento da Favela do Maruim delineado. Essa condição está colocada no artigo 8º da Lei de Operação Urbana Ribeira, que diz:

Para as propostas que envolvam áreas onde existam habitações de interesse social, os proponentes deverão incluir em seu escopo a solução do problema habitacional dos seus moradores, a ser realizada em conjunto com a Prefeitura e sob sua orientação e submetida à aprovação do Conselho Municipal de Habitação e Desenvolvimento Social – CONHABIM (NATAL, 1997).

A polêmica maior gira em torno das responsabilidades de cada entidade envolvida nessa questão. De um lado, a CODERN espera que a Prefeitura conduza o reassentamento da favela, para que ela possa dispor do terreno para a ampliação do porto. De outro, a Prefeitura alega que a CODERN nunca apresentou a “solução do problema habitacional” dos moradores da favela, como prescreve a lei, e que não há recursos municipais disponíveis para que a obra seja realizada com ônus apenas para a Prefeitura. E o interesse na remoção da favela, afinal, é da CODERN, então a Prefeitura não tem demonstrado empenho em agilizá-la. Não havendo entendimento entre as partes, a situação permanece inalterada: a favela continua instalada no local (com péssimas condições de habitação) e o porto não consegue ampliar sua área.

O projeto proposto pela CODERN para o Terminal Turístico de Passageiros naquele momento também apresentava conflito com outra área, onde está localizado o prédio conhecido como Rampa e para o qual se previa a instalação de um museu ligado à história da participação de Natal na Segunda Guerra Mundial. Na época, a CODERN intentava construir um grande terminal portuário de passageiros para a recepção de navios turísticos. Sobre o Projeto do Terminal de Passageiros, por exemplo, consta no Projeto Ribeira que

A Companhia Docas do Rio Grande do Norte, em sintonia com o desenvolvimento do Estado, assume posição inédita para implementar ações na construção do Terminal Turístico de Passageiros de Natal. A excelente localização, o apelo do segmento turístico e as perspectivas de sensíveis ganhos econômico-sociais fazem do terminal um empreendimento ímpar, pleno e revestido de certeza do êxito (SEMURB/SPH, 2000).

A descrição da proposta diz ainda que a transformação da área prevista para a expansão da atividade portuária, tem como principal obra a construção de um berço especializado para atracação de navios de turismo nacional e internacional, compondo ainda o complexo uma ponte de acesso de passageiros e bagagens, bem como uma moderna estação de passageiros, projetada para atender o intenso fluxo de pessoas (fig. 34).

Uma grande polêmica foi gerada em torno desses dois projetos propostos pela CODERN, no entanto, em parte pela incompatibilidade que muitos acreditavam haver entre um projeto de expansão do porto e um projeto de revitalização da Ribeira, e em parte, porque as intervenções propostas não respeitavam o entorno urbano do local onde seriam instaladas, ignorando aspectos culturais e sociais.

A proposta previa a instalação do terminal turístico em um terreno localizado ao lado do prédio da “Rampa”, para o qual se vinha discutindo a instalação do “Museu da Rampa” ou “Museu da 2ª Guerra Mundial”, ou ainda, “Museu da Aviação”, a partir da recuperação da antiga edificação, onde se deu, em 1943, o encontro do presidente Franklin Roosevelt, dos Estados Unidos, com o presidente Getúlio Vargas, do Brasil, para acertar a participação do Brasil na II Guerra Mundial (figs. 35 e 36). O impacto na paisagem que o terminal poderia causar e o contraste visual que teria com o prédio da Rampa constituíam-se nos principais argumentos utilizados contra o projeto do terminal por parte dos defensores do patrimônio histórico da cidade e, em especial, daqueles interessados na criação do museu.

O projeto do Museu da Rampa proposto pela Aeronáutica, que há época exercia a administração da área, abrangia o prédio principal da Rampa, e a edificação conjugada, que se encontrava em risco de desabamento. Mas, o prédio principal passou por reforma e, apesar de o museu ter sido aberto a visitação por um período, nunca chegou a funcionar oficialmente.

Fig. 34 – Projeto do Terminal Turístico de passageiros Fonte: Silva (2002).

Portanto, esse conjunto de propostas (na época, nenhuma delas se constituía em projeto, de fato) não se caracterizava como um grupo harmônico, unificado. Uma série de conflitos permeava as propostas e os grupos de interesses a que elas atendiam. Isso, em parte, se deve às características próprias da área, que pela configuração histórica e geográfica e pela diversidade de instituições e atores sociais com interferência sobre o local, constitui-se em um espaço de interação complexa de forças, o que potencializa a existência de divergências. Mas o isolamento entre os órgãos propositores, que faz com que os planos de ação sejam definidos de forma independente por cada ente, e a dificuldade de conciliação de interesses, mesmo depois de definidas as propostas particulares, demonstram um quadro de governança local caracterizado pela desarticulação. Essa desarticulação se impõe como uma forte barreira ao encaminhamento dos projetos, porque se não há interesse na defesa de objetivos comuns ou na negociação de perdas e ganhos, o entrave permanece, criando problemas para ambos os lados. Esse talvez tenha sido o empecilho principal à implementação desses projetos, embora não se possa deixar de considerar as dificuldades inerentes ao encaminhamento de projetos de caráter público, como a escassez de recursos e a complexidade e a morosidade típicas dos procedimentos burocráticos exigidos.

Nenhum desses projetos chegou a ser executado ainda, mas alguns adquiriram força ao longo desse tempo, tornando-se hoje propostas factíveis e de forte presença nas discussões envolvendo o bairro da Ribeira e a área portuária. Novas idéias continuaram sendo propostas, nesse período, dando-se início a alguns estudos e planos que, mesmo não tendo resultado em mudanças reais sobre a Ribeira, contribuíram para a consolidação das estratégias que hoje se colocam em debate, visando à almejada revitalização do bairro.

Fig. 35 – Encontro dos presidentes, em 1943. Fonte: Maranhão (2006).

Fig. 36 – Prédio principal da Rampa atualmente. Fonte: Maranhão (2006).

Em 2001 foi iniciado um trabalho de levantamento dos imóveis no bairro da Ribeira, dentro da perspectiva de reutilização de algumas edificações, que seriam contempladas com investimento público municipal, no intuito de incentivar ações semelhantes. Circundando o trecho onde se localizam as edificações destacadas, definiu-se o Perímetro de Reabilitação Integrada - PRI, delimitado entre a Rodoviária

Antiga, a Praça Augusto Severo, a Av. Duque de Caxias, a Esplanada Silva Jardim e o Rio Potengi (fig. 37). A proposta identifica neste trecho prédios destinados a empreendimentos âncora, prédios que já possuem um 1º estudo de viabilidade, prédios públicos, praças e recuperação de fachadas. Essa ação continua em andamento nos dias de hoje, com a denominação de Plano de Reabilitação Integrada.

Na mesma linha de atuação, foi desenvolvido, no âmbito do Programa Rehabitar, o estudo “Morar no Centro - Pesquisa de demanda habitacional no Centro Histórico de Natal”, elaborado em uma parceria da Prefeitura Municipal de Natal, com a Caixa Econômica Federal e o Governo Francês. Este projeto está centrado no estudo de viabilidade de uma proposta de incremento à habitação nas áreas centrais de Natal. O estudo parte da premissa de que há um antagonismo entre as políticas habitacionais e preservacionistas desenvolvidas em Natal. A idéia se fundamenta nos dados da expressiva demanda habitacional existente em Natal, e na crença de que o problema habitacional poderá ser, em certa medida, amenizado com a ocupação das áreas centrais, que já dispõem de infra-estrutura e serviços e, ainda, que essa ocupação pode valorizar o bairro e otimizar o uso desta infra-estrutura, no período noturno. Desse modo, o programa objetiva demonstrar a existência de algumas possibilidades de uso dos imóveis por seus proprietários e empresários, instalados no bairro ou não, aos investidores em potencial, a partir da recuperação de edifícios degradados, e assim valorizá-los e incentivar a sua ocupação, como uma prática contínua, envolvendo outros exemplares. Tais estudos combinam estímulos fornecidos pelos instrumentos urbanísticos disponíveis nas leis vigentes, técnicas de reforma e reciclagem de uso de edifícios, estratégias imobiliárias e disponibilidade de recursos, via adequação às linhas de financiamento existentes.

ROC AS Rio Potengi

Porto

Pç. Aug. Severo

Fig. 37 – Perímetro de Reabilitação Integrada Fonte: Freitas (2006).

Atualmente, ainda se discute sobre a Revitalização da Ribeira com base em diversos projetos de intervenção pontuais e em programas de incentivo à habitação ou ao turismo cultural isolados entre si. E nessa indefinição do que seria a “Revitalização da Ribeira”, mais projetos são propostos para a área, sem demonstrarem preocupação alguma com o conjunto do bairro. Esse é um dos assuntos que instiga tanto pesquisadores e técnicos do setor público, como profissionais que atuam na área, moradores e um público interessado: o que fazer para que a Ribeira recupere sua dinâmica urbana, seja novamente valorizada dentro do contexto da cidade e preserve o patrimônio cultural que lhe resta? E mais: por que os projetos existentes não são levados a cabo?

A aparente falta de interesse pelo centro histórico da cidade é, muitas vezes, atribuída a um suposto “sentimento comum” de valorização do novo, da novidade, como característica do natalense. É comum afirmar-se que Natal é uma cidade voltada para o novo, marcada pela busca constante de renovação. Pouco se conhece da sua história, pouco resta de seu passado arquitetônico e pouco se fala dos valores históricos ou culturais da cidade. E a consciência de