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2 REFERENCIAL TEÓRICO DO ESTUDO

2.1 NECESSIDADES DE BOAS CONDIÇÕES DE VIDA

O tema sobre condições de vida aparece no enfoque funcionalista- humanista e marxista. A vertente funcionalista expressa preocupação com as tensões e conflitos da sociedade industrial e no campo da saúde.

Parson é o autor mais representativo do enfoque funcionalista porque se preocupa com as implicações do industrialismo e das lutas das classes socais, que estão sempre em processo de mudança “interativa”, podendo gerar disfunções, desvios e tensões, levando à doença. A doença é definida como um estado de perturbação no funcionamento normal do indivíduo humano, conduzindo-o a um comportamento desviante, por um lado, tem a dimensão fisiológica e, por outro lado, uma resposta do indivíduo às pressões sociais (Parsons apud Matsumoto, 1999, p. 62).

As NS estão condicionadas a uma normatividade biológica imposta pelo capital e a doença não é apenas um sofrimento individual, mas também um desvio da normalidade biológica socialmente estabelecida (Stotz, 1991).

Segundo Stotz (1991), a maioria, das definições do enfoque funcionalista baseia-se no indivíduo livre, capaz de adotar um comportamento saudável, e perceber sua saúde como um estado de bem- estar e funcionar de acordo com as funções e tarefas para os quais foi preparado.

Para este autor, a saúde “é um fenômeno vital que se manifesta como unidade relacional do natural e do social, do individual e do coletivo, relação dupla e indissolúvel”. Com base no reconhecimento de que a saúde- doença é um produto global de um complexo de associações causais de determinações sociais e, para isto, o autor preconiza a necessidade urgente do desenvolvimento social para atender às necessidades da população (San Martin apud Matsumoto, 1999, p.68).

A saúde-doença é produto global de um complexo processo de determinantes sociais, segundo as circunstâncias e ralações orgânicas individuais. O comportamento humano é “multicausal” conformando um sistema estruturado de relações que condicionam mecanismos de respostas diante de circunstâncias determinadas (San Martin apud Matsumoto, 1999, p.70).

Os autores definem sociedade como a coesão social e cultural, expressa no individualismo “massificado” decorrente do processo de despersonalização, característico do capitalismo. A comunidade reflete a estrutura (econômica e social) da sociedade, gerando diferenciações no interior da mesma comunidade. Estes autores são porta-vozes da Saúde Comunitária que tentam fundar as NS à luz do conceito de comunidade e de desenvolvimento humano (San Martin e Pastor apud Matsumoto, 1999, p.66).

O conceito de comunidade foi redescoberto, no século XIX pela Filosofia Social e Sociologia, assentado no capitalismo e projetando-se sobre o protótipo da comunidade, ou família. A família representa historicamente a base das formas mais remotas da comunidade, porém, não a família burguesa, nuclear, e sim, a família camponesa, extensa, a família

com sistema de parentesco, como unidade de produção e conflitos (Niesbet apud Matsumoto, 1999, p.67).

Para os autores, as necessidades são humanas, se desenvolvem, mudam e surgem novas necessidades, sendo algumas negativas para a vida. Ainda no mesmo processo, como implicações das desigualdades sociais, introduzem-se desigualdades na satisfação das mesmas necessidades. Donde se conclui que toda normatividade é histórica (San Martin e Galtung apud Matsumoto, 1999, p. 69).

O enfoque marxista enfatiza o grupo social, ou as classes sociais. Esta corrente se coloca em oposição às correntes que postulam o sujeito individual (ou mesmo comunidade, uma generalidade abstrata na sociedade capitalista). O resultado da luta entre as classes sociais é o que determina o processo de desenvolvimento e mudança na sociedade (Matsumoto, 1999).

A apropriação da capacidade de produzir excedentes, através das forças produtivas, para o interesse de toda a sociedade, depende de uma classe, cujos interesses coincidem com o seu caráter, o que para Marx e Engels (1974) seria a classe operária, o proletariado industrial, a atingir este objetivo (Matsumoto, 1999, p. 71).

Este autor é apontado como o que mais se aproxima da problemática do indivíduo e do sujeito na sociedade capitalista. Em sua obra “A Doença”, há uma preocupação em reconceptualizar a saúde, considerando a visão dos indivíduos doentes, tal como ela se manifesta historicamente (Belinguer apud Matsumoto, 1999, p. 74).

A saúde é um bem coletivo, que diz respeito a toda a sociedade, mas, isto não anula as características individuais das doenças. Pelo contrário, a dimensão social dos fenômenos da saúde é o somatório e é a síntese das necessidades, das exigências, das condições particulares de cada homem ou mulher. Para este autor, a doença é um sinal, expressão da dificuldade na vida de uma pessoa. Trata-se de um sinal coletivo e também individual. A soma e a interpretação da doença podem fornecer muitos dados de natureza econômica e social e, compreender o que ocorre nas várias sociedades

humanas no passado, presente e futuro (Belinguer apud Matsomoto, 1999, p. 75).

Para combater a doença não basta uma ação preventiva específica do tipo técnica, mas é necessário mudar a maneira de viver, de produzir, de relaciona-se entre os homens. Para o autor, a luta pela saúde tem despertado grandes transformações culturais e sociais e se trata de uma maior “solidariedade”, estimulada pela consciência de que as doenças são expressões de conflitos que se resolvem, pode ser expressa na prevenção e nas ações coletivas (Belinguer apud Matsomoto, 1999, p. 88).

Ao se referir à categoria reprodução social, compreende que a reprodução humana implica a reprodução da vida nos momento biológico, econômico, ecológico e ideológico. Esta definição de saúde-doença é destacada porque situa a determinação social e não perde de vista o caráter histórico do processo (Castellanos apud Matsomoto, 1999, p. 88).

A luta pela saúde tem depertado grandes transformações culturais e sociais e trata-se de uma maior solidariedade, estimulada pela consciência de que as doenças são expressões de conflitos que se resolvem, pode ser expressa na prevenção, nas ações coletivas de saúde pública.

A idéia de necessidades de boas condições de vida também está expressa na proposta do SILOS. Deve contemplar a estrutura político- administrativa de um país, ser defina em um espaço populacional determinado, ter em conta todos os recursos para a saúde e desenvolvimento social existentes neste espaço, e responder aos processos de descentralização do Estado e do setor da saúde. Atender às necessidades da população, a estrutura da rede de serviços de saúde e se organizar para facilitar a condução integral das ações (Silva Junior apud Matsumoto, 1999, p. 88).

O SILOS destaca ainda a centralidade das condições de vida ao se referir, por exemplo, à necessidade de adoção de mecanismos de recursos que devem ser orientados para garantir a atenção integral à saúde. Deve-se incluir o saneamento básico ou o desenvolvimento de um novo modelo de atenção que possam aumentar a capacidade de análise da situação de saúde de populações, definidas territorialmente, até o nível de microrregiões,

reorientar os serviços de saúde para o enfrentamento do conjunto de problemas vivenciados por aquelas populações (Matsumoto, 1999, p. 89).

A proposta de Cidade Saudável surgiu em Toronto (Canadá), em 1984. O movimento ganhou adesão de cidades europeias, sob a articulação da OMS, difundiu-se pelo Simpósio de Lisboa, Portugal, em 1986. Tal proposta visa a “construir uma rede de cidades determinadas a procurar, em conjunto, novas maneiras capazes de promover a saúde e melhorar o ambiente” O desenvolvimento da Cidade Saudável toma como diretriz, questões que lembram o tema de boas condições de vida como uma necessidade. A saúde como qualidade de vida visa a superar a visão polarizada da medicina sobe saúde, contemplando as condições de vida e as relações sociais no espaço urbano. A saúde é vista com respeito à vida e defesa do ecossistema e, enfatiza a “intersetorialidade” como principal estratégia de articulação política e operacional na promoção à saúde (Silva Junior apud Matsumoto, 1999, p. 89).

2.2 GARANTIA DE ACESSO A TODAS AS TECNOLOGIAS QUE