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FINALMENTE, QUAIS SÃO OS TEMAS, AS

CODIFICAÇÕES/DECODIFICAÇÕES E OS DESVELAMENTOS CRÍTICOS QUE EMERGIRAM DOS RESULTADOS?

Antes de apresentar os resultados desse estudo, cabe retomar aqui o que entendemos como violência comungando com o pensamento de Freire. Ou melhor, vamos fazer um pouco diferente (já que na revisão de literatura e referencial teórico dessa tese falamos um pouco sobre violência em si)... para melhor contribuir com o desenvolvimento (“defesa”) da tese por nós apresentada, e buscando coerência entre o referencial teórico, metodológico e analítico adotado (“transversalmente” Freire!), apresentaremos o conceito de não-violência e cultura de paz à luz do pensamento deste educador pernambucano. Mais a frente, esse conceito fará mais sentido para o leitor dessa tese e será retomado, quando discorrermos sobre os desvelamentos críticos.

As menções ao longo dos trabalhos freireanos sobre violência são numerosas e majoritariamente indiretas (daí a dificuldade em se encontrar estudos que analisem as violências a partir desse referencial), como quando ele problematiza na “Pedagogia do Oprimido” sobre a relação entre opressores e oprimidos, muito atrelado às lutas de classes. Contudo, o legado de Freire a partir de suas vivências como educador, bem como o teor de boa parte de seus escritos, diz muito mais respeito a aspectos que podem superar relações violentas por meio de pilares já postulados pela UNESCO e coletivos brasileiros adeptos desses ideais, como na própria “Pedagogia do Oprimido” (FREIRE, 2016) e em “Saberes necessários à prática docente”. Ou seja, analisando por essa ótica, é proveitoso ainda mantermos nosso foco na violência como objeto de análises, e para além disso, de intervenção para mudanças?

Cabe pontuar aqui para o leitor: o foco inicial dessa tese foi a violência como objeto, ou seja, essa não é uma crítica apenas à literatura que discorre sobre esse tema, ou às participantes conforme veremos a seguir, mas também ao próprio pesquisador/Doutorando, que provavelmente centrou sua atenção em algo que foi, ao longo dos encontros dos círculos de cultura, ressignificado não só nas(os) participantes.

Para Freire, o conceito de violência está intimamente ligado e exemplificado pela relação opressor-oprimido expressa, sobretudo, em sua obra mais famosa (Pedagogia do Oprimido), além de possuir fatores ligados ao seu enfrentamento como dialogicidade, respeito aos saberes do outro, humildade, autoridade (sem confundi-la com autoritarismo),

humanização, horizontalidade, construção coletiva e práxis libertadora. A Utopia, por exemplo, é um dos conceitos freireanos que mais diz respeito à não-violência, ou melhor, à cultura de paz, pois traz consigo um desejo de mudança mobilizador ao passo em que tira as utopias do abismo da impossibilidade a partir do senso comum.

Assim, os principais conceitos freireanos, apesar de serem didática, pedagógica e filosoficamente destinados (diretamente) ao processo de ensinar e aprender, ultrapassam os muros escolares para inclusive adequarem-se conceitualmente à ousada proposta de uma cultura de paz. Este educador e seu pensamento, inclusive, inspiram textos de referência da ONU e UNESCO com essa proposta (COMITÊ PAULISTA PARA A DÉCADA DA CULTURA DE PAZ, 2000). Guarda relação também com a própria noção ampliada de saúde trazida pela Constituição Federal cidadã de 88, além das legislações básicas do SUS como a Lei nº 8.080/90, as quais são as bases para normatizações brasileiras históricas de enfrentamento de violências (como as diversas normativas para notificação compulsória de violências contra diversos grupos populacionais considerados “mais vulneráveis”, além da histórica Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências de 2001).

O Quadro 03 e a Figura 7 são apresentados em seguida, iniciam a apresentação dos sujeitos e pretendem demonstrar a lógica percorrida de garantir o protagonismo dos(as) estudantes nesses processos “decisórios” nos círculos de cultura.

No quadro, os próprios sujeitos se caracterizaram, escolhendo seus nomes fictícios e justificando ancorados em nossas discussões nos diversos encontros. Assim, eles se sentiram ainda mais empoderados em construir junto comigo (Doutorando) a tese, além de rememorarem os debates quase 6 meses após finalizados os encontros (quando solicitei essa atribuição nominal sigilosa).

Já na figura, são expostos os diversos temas geradores (aproximadamente, sessenta iniciais, e que foram sendo condensados a partir de suas afinidades, mostrando-se mesmo assim “numerosos”). O andamento dos círculos de cultura em si foi nos mostrando que não precisaríamos, a priori, escolher nós mesmos ou separar um momento de priorização de alguns temas a serem trabalhados e desvelados no grupo (até porque, inquietações retóricas embargariam a priorização arbitrária: Quantos? Quais? E os demais não seriam relevantes, ou fariam conexões com os “prioritários”?). Os processos de significação/ressignificação coletivos fizeram emergir, organicamente, os temas que eles(as) gostariam de melhor abordar, logo nos encontros subsequentes ao

levantamento dos inúmeros temas geradores iniciais. Ao mesmo tempo, não excluía-se os demais, pois os(as) graduandos(as) tomaram consciência dos temas por eles(as) elencados ipsis litteris a partir de suas falas, e exerceram a conscientização (epistemológica, provavelmente) ao construírem uma espécie de “árvore” mental onde todos os temas deveriam constar nos debates, uns como raiz das situações-limite identificadas, outros como consequências, e diversos como elementos condicionantes e determinantes para sua permanência. Ou seja, a angústia do mediador por priorizar, foi solucionada no processo, pelos próprios sujeitos, e os diálogos entre os temas são demonstrados na Figura em questão além de compilados, digamos assim, nas três grandes temáticas/eixos dessa tese (demonstradas na sessão de análise dos dados na metodologia).

A seguir, a partir dos temas geradores, e sobretudo da interconexão e interdependência entre eles, os resultados desse estudo foram apresentados em formato de três manuscritos (Manuscritos 2, 3 e 4), cumprindo a Instrução Normativa 01/PEN/2016, de 17 de agosto de 2016, a qual “Altera os critérios para elaboração e o formato de apresentação dos trabalhos de conclusão dos Cursos de Mestrado e de Doutorado em Enfermagem” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2016, p. 1).

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