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REPRODUTORA DE VIOLÊNCIAS: DIÁLOGOS TRANSVERSAIS E TRANSDISCIPLINARES COM/SOBRE A UTOPIA DA CULTURA DE

4.3 QUESTÕES ÉTICAS

Respeitaram-se todas as premissas éticas e legais preconizadas na Resolução nº 466/2012/CNS/MS/CONEP, só iniciando a coleta de dados após aprovação pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (CEPSH-UFSC). Assim, este estudo encontra- se devidamente APROVADO pelo CEPSH-UFSC, sob parecer de aprovação nº 1.354.895 (emitido em 7 de dezembro de 2015), e registro CAAE nº 51302415.1.0000.0121 (ANEXO A).

Cabe pontuar que a Declaração de Ciência e concordância (ANEXO B) assinada com a UFSC (Coordenadora Estadual do Projeto VER-SUS) pressupõe que ela englobe todas as instituições parceiras do VER-SUS Oeste até então, pois para o próprio VER-SUS Oeste existir e já estar em sua quarta edição (naquele momento) e quinta edição (na data da defesa desta tese), as principais instituições locais já deferiram essa participação de seus(suas) graduandos(as) e continuam sendo parceiras: UNOCHAPECÓ, UFFS e UDESC. Assim, não foi necessário buscar novas anuências destas universidades separadamente, algo que seria redundante, haja vista a institucionalização do VER-SUS como projeto de

extensão na UFSC e na UFFS, já contando com tais consentimentos, sobretudo do movimento estudantil em cada uma delas – eixo norteador da organização pelos(as) graduandos(as) para os(as) graduandos(as).

O início da coleta de dados foi condicionado à apreciação e aprovação do referido comitê, sendo garantidos o sigilo e a confidencialidade de todos os dados. Os círculos de cultura foram áudio- gravados e fotografados após concordância dos(as) colaboradores(as) convidados(as) para pesquisa, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), no qual constava a opção de autorização de uso da imagem, além das falas transcritas – APÊNDICE A. Os(as) graduandos(as) foram esclarecidos quanto ao objetivo da pesquisa; como serão coletados os dados; que a participação prevê mínimos riscos físicos, psicológicos e/ou morais; que seu nome será mantido em sigilo e não será divulgado durante as publicações dos resultados; que a participação é voluntária e não será oferecida nenhuma remuneração para tal; que há liberdade de se recusar a participar e a retirar seu consentimento em qualquer etapa da pesquisa sem nenhum tipo de penalização.

Os riscos aos(às) futuros(as) colaboradores(as) apresentados pelo estudo, embora não tenham ocorrido, para fins éticos, foram detalhadamente definidos, como preconiza a Resolução nº 466/2012 (BRASIL, 2012), e poderiam emergir majoritariamente durante os momentos de aprendizagem coletiva, quais sejam: constrangimento em discorrer sobre temas conflituosos nos momentos de construção coletiva ao saberem que estão sendo gravados; medo em falar aspectos negativos sobre suas formações, associando estes aspectos negativos aos docentes; e desconforto/dificuldade em expor alguns aspectos a melhorar sobre seus cursos, docentes, projetos político pedagógicos e universidades. Também houve possibilidade (não ocorrida) de risco aos(às) colaboradores(as) especificamente vinculados à UFFS de se sentirem constrangidos em recusar sua participação no estudo, sendo o pesquisador principal deste estudo também professor na UFFS (e, eventualmente, estudante com aulas ministradas pelo professor/pesquisador deste estudo). Cogitou-se também o risco, na época, de eventual quebra de sigilo por parte de algum dos integrantes do círculo sobre as falas dos demais, o que foi minimizado por orientações reiteradas da natureza sigilosa das conversas coletivas.

Para evitar os riscos supracitados, deixamos os estudantes muito à vontade para retirarem-se do estudo a qualquer momento, esclarecendo, além dos aspectos éticos obrigatórios de toda e qualquer pesquisa na égide da Resolução nº 466/12, que o projeto de pesquisa em questão, apesar de ter como “pano de fundo” de investigação o VER-SUS, não é/era a mesma

coisa que o Projeto de Extensão VER-SUS, o qual também ocorre paralelamente, ou seja, os(as) colaboradores(as) desvincularam sua participação no presente estudo do “VER-SUS extensão” e sabiam que, apesar de terem participado da Extensão (critério de inclusão desse estudo), poderiam se recusar a entrar e ausentarem-se a qualquer momento da pesquisa. Outra medida protetiva foi a de, no caso de colaboradores(as) especificamente vinculados à UFFS, selecionar preferencialmente aqueles(as) que não tinham, na época da coleta de dados, atividades de ensino/pesquisa/extensão com o professor/pesquisador deste estudo, visando minimizar relações hierárquicas que gerassem qualquer constrangimento inoportuno à liberdade preconizada pela pesquisa e como pilar fundante no pensamento de Freire.

Mesmo com todos os cuidados acima, caso os riscos previstos chegassem a ocorrer, o estudo garantiu ao CEP/UFSC, para fins de protocolo ético, que iria se interromper a gravação dos momentos coletivos, dando opção de finalização daquela participação no estudo, além de que se acionaria o serviço de assistência estudantil da instituição de ensino na qual o estudante se encontrava na época vinculado, sobretudo o Serviço de Apoio ao Estudante da UFFS, parceira do projeto de tese, visando apoiar psicologicamente ou de qualquer outro modo o(a) colaborador(a); acionar-se-ia, ocasionalmente também, de modo complementar e em casos mais graves, a Equipe de Saúde da Família da Rede Municipal de Saúde de Chapecó-SC mais próxima daquele(a) colaborador(a) que necessitasse. Em todos os casos, tudo seria obviamente arcado pelo pesquisador, sem qualquer ônus para o(a) colaborador(a).

Quanto aos benefícios, a Resolução supracitada é clara quando mostra que os benefícios devem ser substancialmente maiores que os riscos. Sendo assim, expôs-se ao CEP que, para os(as) colaboradores(as), as contribuições seriam/foram direto, pois ajudou-lhes a se perceber individualmente dentro de processos de aprendizagem coletiva transdisciplinares que se fazem de suma importância ao longo da graduação, visando formar uma visão crítica, reflexiva e participativa em todos os âmbitos que englobam o graduando(a), importante também para seu futuro profissional no que tange ao trabalho em equipe e à gestão de pessoas. Trouxemos benefícios, ainda, para toda experiência curricular e, dentro dela, para as inúmeras possibilidades que podem ser vivenciadas pelos(as) graduandos(as), além, claro, de aperfeiçoar a visão deles(as) e a atuação sobre a problemática da violência e seu papel como futuro(a) profissional nesse âmbito. O(a) colaborador(a) pôde instigar-se a busca por diversos momentos de participação/interação coletiva que auxiliaram

no repensar e refletir em saúde, proporcionando um melhor embasamento no seu agir em saúde, desta forma, tendo como resultado indireto uma melhora na qualidade do atendimento prestado por ele e uma visão mais abrangente do que é e de que profissionais necessita o nosso SUS, em especial, as necessidades das pessoas em situação de violência. Para a comunidade loco-regional em Chapecó, além da sociedade em geral, os benefícios do estudo foramimprescindíveis no sentido de analisar como os profissionais podem ser mais sensíveis às situações de violência atendidas nos serviços de saúde, além de apontar a necessidade de itinerários formativos que transcendam o ambiente formal universitário e a construção de saberes que perpassem profissões, limites de localidades, instituições de ensino ou qualquer outra barreira que impeça o encontro e a troca, sendo que o que realmente importa é a valorização dos saberes de todos(as) os presentes nos círculos de cultura. Além disso, uma contribuição do estudo certamente foi a de mobilizar os(as) colaboradores(as) na participação, em movimentos sociais, movimentos estudantis, ligas acadêmicas, coletivos de organização para futuras edições do VER-SUS, associações comunitárias, Conselhos Locais e/ou Conselho Municipal de Saúde em Chapecó e região, não só voltadas para o cuidado às pessoas em situação de violência, como também para militância por um SUS de qualidade.

Outra contribuição demonstrada ao CEP para validação ética foi a de propor como poderia ser o ensino do tema da violência de modo transversal na formação inicial de graduandos(as) em saúde, ou seja, esta lacuna já apontada na literatura pode finalmente começar a ser sanada, instigando-se a formação de profissionais de saúde menos alheios e mais engajados no enfrentamento das violências, qualquer uma delas, como papel seu/nosso.

Como os benefícios desta pesquisa para os(as) colaboradores(as) e a sociedade foram, certamente, bem maiores do que os riscos, há permanência da validação ética e viabilidade do estudo, inclusive para sua continuidade (se for de interesse da equipe de pesquisa), por sua preocupação e adequação legal às premissas da Resolução nº 466/12 (BRASIL, 2012).

A devolutiva dos resultados para os(as) graduandos(as) se desenvolverá durante o sexto e último encontro com o mesmo grupo, após a defesa da tese, em local e horário a serem negociados coletivamente, para discutir junto ao pesquisador/mediador sobre os principais achados e como eles podem ser incorporados nas realidades de cada participante. Caso algum dos participantes não possa comparecer, será enviado para todos(as), por e-mail, um resumo dos principais achados. Além disso,

haverá veiculação científica em eventos técnico-científicos nacionais e internacionais e em periódicos das áreas de Enfermagem e Saúde Coletiva, os quais mostrarão apenas os resultados obtidos como um todo, sem revelar nome, instituição ou qualquer informação relacionada à sua privacidade. Cabe ressaltar ainda que o sexto e último encontro terá esse caráter de devolutiva não só dos dados, mas de compromisso com o grupo de sujeitos na perspectiva de mediação corresponsável em Freire, não só para tentar “fechar” ou consolidar as fases do círculo de cultura em si, mas para validar dialogicamente os dados e as impressões do mediador/Doutorando constantes na tese, convergindo com a proposição da Resolução nº 466/12 de devolutiva dos resultados aos sujeitos, aliando, além disso, ao referencial freireano comungado transversalmente neste estudo.