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CAPÍTULO IV: A ATUAÇÃO INTERNACIONAL DOS ESTADOS AMERICANOS

Florida 9 Montana 1 Utah

32 Nevada 109.610 1 33 Utah 105.199

34 Arkansas 92.075 2 35 District of Columbia 89.968 0 36 Mississippi 85.363 8 37 Nebraska 80.638 1 38 New Mexico 70.785 0 39 Hawaii 59.673 7 40 Delaware 55.496 3 41 New Hampshire 55.242 0 42 West Virginia 53.575 6 43 Idaho 50.734 1 44 Maine 45.564 5 45 Alaska 43.472 1 46 Rhode Island 43.153 14 47 South Dakota 34.371 3 48 Wyoming 32.004 1 49 Montana 31.918 1 50 North Dakota 31.618 5 51 Vermont 23.341 6 52 Virgin Islands x 1 Total 12.804.906 356

* Fonte: BEA U.S. Bureau of Economic Analysis, 2010

Ao cruzarmos os dados sobre os partidos políticos e a apresentação de leis envolvendo sanções estaduais, verificamos uma proximidade muito grande entre Democratas e Republicanos. No período analisado, de 1977 a 2012, os deputados e senadores vinculados ao partido democrata apresentaram o total de 155 projetos de leis envolvendo sanções econômicas, enquanto os Republicanos apresentaram o total de 135 sanções.

Tabela 14: Sanções Estaduais e partidos politicos Democratas 155 Republicanos 135 Indeterminado 5 s/d 61 Total 356

Fonte: elaborado pela autora

Mesmo quando consideramos as sanções estaduais tendo em vista os alvos e, por consequência, a motivação envolvida, as variáveis não são determinantes. No caso das denúncias envolvendo o apartheid nos anos 1980, há uma diferença significativa. Os Democratas dominaram o total das propostas de sanções a África do Sul (total de 35 sanções contra oito dos Republicanos). Contudo, isto não significa que os Democratas se envolvem mais na aplicação de sanções econômicas quando se trata das violações aos direitos humanos. Isto porque quando consideramos as denúncias e sanções envolvendo o Sudão, as propostas dos Republicanos superam a dos Democratas. Foram 47 a 25 propostas de sanções, respectivamente. Quando tratamos das motivações envolvendo o desenvolvimento de ADM, ambos os partidos apresentaram propostas de sanções no Senado ou na House of Representatives. Como demonstrado na tabela abaixo, houve um total de 38 propostas elaboradas pelos Democratas, contra 35 pelos Republicanos. E, no caso das sanções destinadas aos apoiadores do terrorismo ou a países considerados terroristas, os números de propostas apresentadas pelos Democratas superaram a dos Republicanos. Sendo assim, a variável político-partidária também não é determinante para um maior envolvimento internacional dos legislativos estaduais norte- americanos.

Tabela 15: Sanções estaduais por Alvo e Partido Político

Democratas Republicanos Ind s/d Total

África do Sul 35 8 0 24 67 Burma 6 2 1 1 10 Coréia do Norte 0 0 0 5 5 Cuba 2 6 0 0 8 Estados considerados terroristas ou patrocinadores 43 21 0 0 64 Indonésia 0 1 0 0 1 Instituições Privadas 4 9 0 0 13 Irã 38 35 4 18 95 Irlanda do Norte 0 1 0 0 1 Liga Árabe 0 4 0 0 4 Síria 0 0 0 6 6 Sudão 25 47 0 7 79 Temático 2 0 0 0 2 Timor Leste 0 1 0 0 1 Total 155 135 5 61 356

Fonte: elaborado pela autora

Uma ressalva que deve ser destacada está relacionada à dificuldade na avaliação dos impactos econômicos deste tipo de legislação estadual. A ausência de um banco de dados com estas sanções, os diferentes termos utilizados por este tipo de prática e o fato da grande maioria das sanções estaduais não focarem em um setor econômico específico dificultam uma avaliação confiável sobre seus impactos econômicos. Esta não é uma dificuldade específica das sanções unilaterais implementadas pelos governos subnacionais. A dificuldade no estudo dos impactos econômicos das sanções econômicas unilaterais é reconhecida pela literatura até mesmo nos casos envolvendo sanções aplicadas pelo governo nacional, principalmente quanto às dificuldades relacionadas às estimativas de custos no próprio país que aplica a sanção (Hufbauer; Schott; Elliot, 1990).

As sanções econômicas não geram custos apenas para os países-alvos, uma vez que as práticas de sanções estabelecem restrições de comércio e investimentos que também afetam

empresas norte-americanas e/ou empresas multinacionais localizadas no país. Como veremos, este é o principal motivo de críticas e contestações de das associações de empresas que são afetadas por este tipo de medida. E é também o principal motivo de críticas do governo nacional sobre este tipo de prática. A legislação estadual de Massachusetts, por exemplo, enfrentou posições contrárias da National Foreign Trade Council, de agências do governo nacional como o Departamento de Estado, do Tesouro, da U.S. Chamber e também de outras organizações domésticas que participaram como parte interessada no momento da avaliação sobre a constitucionalidade da lei estadual. Dentre as agências representantes das empresas tivemos: a

National Association of Manufactorers e a American Insurance Association (Brief of Amici Curiae NFTC v. Natsios, 1999). Na decisão envolvendo a lei Massachusetts, a National Association of Manufactures apresentou um relatório apresentando os possíveis impactos das

sanções aplicadas por estados ou municípios. O objetivo era demonstrar como a aplicação destas medidas é ineficiente para o alcance de objetivos de política externa, além de prejudicial à economia nacional. Algumas informações desse relatório contribuem para uma estimativa dos impactos das sanções econômicas estaduais. Segundo o relatório, “it would be a mistake to underestimate the magnitude of the economic impact that sanctions have on the international business community. These procurement restrictions are far more than mere symbolic statements or rhetorical flourishes. They directly affect billions of dollars a year in business with state and local governments around the country” (Brief of Amici Curiae NFTC v. Natsios, 1999).

O documento destaca que apesar das estatísticas sobre os gastos governamentais individuais não estarem disponíveis, a escala ou a ordem de magnitude deste mercado é clara. Segundo dados apresentados pela National Foreign Trade Council, mais de 30% das despesas dos cinquenta estados norte-americanos ou aproximadamente U$270 bilhões, em 1995, “went to non-wage payments for current operations — a large proportion of which can be assumed to have reached the private sector through government contracting. Similarly, local governments’ non-wage current operations expenditures totaled $284 billion in that same year”. Ainda de acordo com esse relatório, a aplicação de sanções estaduais e locais obrigam as empresas americanas e multinacionais a escolherem entre contratos e oportunidades com o governo local e estadual nos Estados Unidos ou a manterem o comércio com o país-alvo da sanção: “They may participate freely in the world market, where nearly $6 trillion in trade and investment changes hands each year, or they may curtail those activities in order to remain eligible for state and local

procurement opportunities in the United States. The countries that have already been targeted by proposed or enacted sub-federal sanctions alone do at least $785 billion annually in trade in goods and services, while, on the other hand, the U.S. state and local procurement market also involves hundreds of billions of dollars in sales. Because of the Massachusetts Burma Law and other similar measures, companies must choose between them. The discriminatory impact on foreign commerce is manifest” (Brief of Amici Curiae NFTC v. Natsios, 1999).

O quadro apresentado abaixo elenca os possíveis efeitos das sanções econômicas unilaterais aplicadas pelos governos estaduais tendo em vista o tipo de sanção e o setor afetado:

Tabela 16: Potenciais efeitos das sanções econômicas unilaterais aplicadas pelos estados

Setor afetado Medidas adotadas pelas sanções Possíveis impactos na economia norte- americana

Comércio - Medidas de restrição de exportação e importação de produtos, serviços e

tecnologias;

- Proibição de negócios das empresas ou agências estaduais com indivíduos ou empresas que mantém relacionamento comercial com o país-alvo

- Redução dos suprimentos

domésticos ou aumento dos preços - Redução no acesso a produtos

estrangeiros para industrias norte- americanas e consumidores - Redução dos postos de trabalho

relacionados aos setores afetados, incluindo a produção de

equipamentos militares e com a exportação e perfuração de petróleo

Assistência - Proibição de empréstimos e operações de negócios no país-alvo

- Proibição de envio de equipamentos militares ou tecnologia

- Menos investimento fora do país

Investimentos - Proibição de transações bancárias e financeiras - Proibição de investimentos

de fundos controlados pelos estados

- Aplicação de políticas de desinvestimentos de fundos públicos

- Redução nas oportunidades de investimento

- Aumento no custo seguro e das taxas de juros para exportadores e investidores norte-americanos

Instituições

financeiras - Proibição de empréstimos ou realização de outras operações financeiras com empresas relacionadas ao país-alvo

- Redução das oportunidades de investimento e comércio;

- Recrudescimento das relações comerciais de longo prazo com países estrangeiros

Fonte: tabela elaborada com base nos dados compilados da U.S. International Trade Comission

Mesmo reconhecendo as limitações e dificuldades para uma avaliação dos impactos econômicos das sanções estaduais, é possível observar com maior clareza que tais medidas geram impactos significativos também no próprio estado que aplica a sanção. As preocupações

do governo nacional sobre este tipo de atividade tornam-se mais concretas quando observamos os impactos desse tipo de medida em empresas e instituições financeiras multinacionais sediadas nos estados e que prejudicam o relacionamento do governo com parceiros comerciais tradicionais.

Esta observação fortalece o entendimento de que os impactos políticos deste tipo de prática são maiores e, por isto, a atividade dos governos estaduais através de sanções econômicas é vista com preocupação e criticado não apenas pelas empresas sediadas nos Estados Unidos, como também pelo governo federal. O documento assinado pelo presidente Clinton em 1997 e enviado à Circuit Court destaca as preocupações do governo federal a respeito destas ações estaduais, sobretudo quanto aos seus impactos para a condução da política externa nacional. O texto afirma que “the Massachusetts Burma Act operates against foreign companies as well as U.S. companies, which has antagonized U.S. allies and complicated the development of a multilateral strategy toward Burma”. Ele ainda destaca que a legislação “undermines the United States' ability to ‘speak with one voice’” (Clinton, The White House. Brief For the U.S. as Amicus Curiae Supporting Affirmance, No. 99-474, 1997). Assim, a atuação dos estados por meio de sanções econômicas adquire um caráter conflituoso ao afetar empresas sediadas na região, prejudicando também o relacionamento dos Estados Unidos com outros parceiros comerciais.

Ao analisar este tipo de atividade, Trachy (2011:2) destaca que “because of the foreign reach of such sanctions, sub-national divestment and procurement laws may conflict or interfere with the United States' foreign policy, imposing substantial burdens on United States-based companies and the United States' economy”. Nos próximos capítulos, buscaremos analisar como as instituições norte-americanas têm reagido e qual tem sido o comportamento adotado tendo em vista ações desse tipo por parte dos governos estaduais. Para isto, analisaremos a postura adotada pelo legislativo na prevenção de possíveis tensões entre as ações estaduais e o governo nacional, bem como o comportamento do Judiciário na definição da autonomia do executivo nacional e estadual para este tipo de atuação internacional.

CAPÍTULO V - O POSICIONAMENTO DA SUPREMA CORTE SOBRE