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3 RESPONSABILIDADE CIVIL

3.5 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

3.5.3 Nexo de causalidade

O nexo de causalidade é a relação da conduta do agente e o dano causado, Gonçalves (2020, pg. 65) ensina acerca do assunto:

É a relação de causa e efeito entre a ação ou omissão do agente e o dano verificado. Vem expressa no verbo “causar”, utilizado no art. 186. Sem ela, não existe a obrigação de indenizar. Se houve o dano mas sua causa não está relacionada com o comportamento do agente, inexiste a relação de causalidade e também a obrigação de indenizar. Se, verbi gratia, o motorista está dirigindo corretamente e a vítima, querendo suicidar‐se, atira‐se sob as rodas do veículo, não se pode afirmar ter ele “causado” o acidente, pois na verdade foi um mero instrumento da vontade da vítima, esta sim responsável exclusiva pelo evento.

Miragem (2021, sem página) destaca sobre o mesmo assunto:

O nexo de causalidade é, atualmente, o grande protagonista da responsabilidade civil. Trata-se do vínculo lógico entre determinada conduta antijurídica do agente e o dano experimentado pela vítima, a ser investigado no plano dos fatos, para a identificação da causa apta a determinar a ocorrência do dano. A identificação do nexo causal não se admite que se dê como puro arbítrio do intérprete. É atividade de investigação, exigindo-se fundamento e método para a devida precisão.

No direito brasileiro são adotadas diversas teorias para o nexo da causalidade, entretanto, as principais, segundo Miragem (2021, sem página), são: “As principais teorias explicativas do nexo de causalidade analisadas no direito brasileiro são: a) a equivalência das condições; b) a causalidade próxima; c) a causalidade eficiente; d) a causalidade adequada; e e) a causalidade necessária e a teoria do dano direto e imediato.”

3.5.3.1 Teoria da equivalência das condições

Esta teoria não é bem aceita no âmbito da responsabilidade civil, entretanto, ainda é utilizada, não tanto quanto no direito penal. Miragem (2021, sem página) ensina acerca desta teoria:

Pela teoria da equivalência das condições, não se distingue entre os eventos integrantes da sucessão de fatos antecedentes ao dano, de modo que todos eles serão considerados aptos para a definição da imputação de indenizar. É também denominada teoria da conditio sine qua non (condição sem a qual), e tem vocação expansiva da relação de causalidade na sucessão cronológica dos acontecimentos, de modo que qualquer um daqueles que promovem um dos eventos da cadeia causal poderá ser responsabilizado pelo dano sofrido pela vítima.

Esta teoria é bem complicada visto que tem como objetivo não realizar a distinção entre os eventos antecedentes do dano, sendo assim, os fatores que contribuíram para o resultado danoso terão o mesmo “peso” ao serem analisados.

3.5.3.2 Teoria da causalidade próxima

Miragem (2021, sem página apud BACON 1803, ALTERINI e PESSOA JORGE) ensina acerca dessa teoria:

A causalidade próxima resulta de teoria atribuída a Francis Bacon, que, ao expor a dificuldade da delimitação da série de causas para determinado evento, sustentou que para efeitos práticos a identificação da causa que lhe fosse cronologicamente mais próxima deveria servir à imputação da responsabilidade, sem a necessidade de se investigarem as causas mais remotas. Sob esta denominação, desenvolve-se no common law certo prestígio à teoria, ainda que, na prática, a identificação da causa próxima não se dê apenas pelo critério cronológico, mas apoiada, igualmente, por outros elementos que a identifiquem como decisiva à realização do dano. Ademais, porque a última condição é que se considera como dando ao conjunto de causas que integram a cadeia causal a unidade lógica e finalística que resulta na produção do dano.

Esta teoria possui diversas críticas, pois conforme Miragem (2021, sem página) afirma: “Em primeiro lugar, nem sempre é exata a identificação da causa mais próxima ao dano (a última causa), na investigação sobre a sucessão de fatos que levaram à sua ocorrência. E da mesma forma, não é possível definir que, em todos os casos, a última será o fator determinante do dano.”

Um exemplo que possa haver a melhor compreensão acerca desta teoria é quando, dolosamente ou culposamente, alguém faz a troca de medicações à uma pessoa doente, por uma substância extremamente toxica, e a enfermeira ignora a troca e mesmo assim faz a aplicação, e em razão disso o paciente morre.

3.5.3.3 Teoria da causalidade eficiente

Assim como já observado na teoria da equivalência de condições, o juízo da causalidade observa as diversas causas que possivelmente foi eficiente para o dano considerando como mesmo “peso” todos os fatos ocorridos, entretanto na teoria da causalidade eficiente, Amorim (2012) apud Tepedino, sempre haverá um antecedente que será a verdadeira causa do evento.

Como exemplo, podemos citar o fornecido por Alterini, citado por Cruz (2005), no qual se um indivíduo A empresta um fósforo para B e este coloca fogo numa casa, segundo o autor, as duas ações são imprescindíveis para que se produza o incêndio. No entanto, a conduta de quem iniciou o incêndio é a condição mais ativa e eficaz para o resultado. (AMORIM, 2012, sem página, apud ALTERINI)

Nesta toada, percebe-se para aqueles que defendem a teoria da causalidade eficiente, possuem uma distinção entre a causa, a condição e ocasião do fato gerador do dano.

3.5.3.4 Teoria da causalidade adequada

Para Miragem (2021, sem página), a causalidade adequada é considerada como um espécie de teoria individualizadora do nexo de causalidade, orientando as investigações, de forma abstrata, da sucessão de eventos que antecedem ao evento danoso, se dessas várias condições que a integram, alguma pode ser elevada ao conceito de causa.

Para tanto, distinguem-se três variantes: a posição subjetiva, pela qual se consideram as condições que o agente conhecia ou poderia conhecer, faz-se, assim, um juízo de previsibilidade das condições e a capacidade de identificação das mesmas pelo agente. Já a posição objetiva tem em consideração não a capacidade de previsão de uma pessoa determinada, senão um critério de previsibilidade geral, a que uma pessoa normal devesse prever. Nesse caso, cabe ao intérprete colocar-se em posição como se o evento danoso ainda não tivesse ocorrido e, a partir daí, avaliar a previsibilidade da ocorrência do dano, em vista das condições antecedentes. Por fim, uma terceira posição coloca em destaque uma circunstância genericamente favorável, pela qual se estabelece a avaliação da previsibilidade do resultado em vista das condições de prever o resultado danoso por parte de uma pessoa perspicaz, alguém que deva contar com formação ou informações especializadas, razão pela qual terá superioridade técnica para o exame da possibilidade ou não de ocorrência do dano. (MIRAGEM, 2021, sem página)

Em outras palavras, a teoria da causalidade adequada é definida pelo evento o qual o dano teria ocorrido, que caso não ocorresse este evento o dano nunca existiria.

3.5.3.5 Causalidade necessária e a teoria do dano direto e imediato

No direito brasileiro a causalidade necessária é explicada pela teoria do dano direto e imediato, Miragem (apud Tepedino et al e Silva), ensina acerca do assunto:

Outra teoria explicativa do nexo de causalidade será a da causalidade necessária, que no direito brasileiro resultou explicitada pela teoria do dano direto e imediato, ademais, mencionada também como teoria da interrupção do nexo causal. Trata-se de teoria que conta com muitos defensores no direito brasileiro, sustentada que está pela exigência de necessariedade da causa para a realização de determinado resultado. E do ponto de vista legislativo, entre seus defensores, sustenta-se que resulta da interpretação do art. 1.060 do Código Civil brasileiro de 1916, hoje reproduzido no art. 403 do Código Civil de 2002.

Miragem (2021, sem página) apud Alvim, ensina que ao tratarmos de dano imediato é devido ao intervalo entre a causa e o evento danoso e direto, havendo ou não intervalo.

Segundo a melhor lição doutrinária, trata-se de dano imediato, porque em intervalo entre a causa e o evento reputado danoso e direto, reputando aquilo que vem em linha reta, havendo ou não intervalo. Nesse sentido, ao adotar-se a teoria do dano direto e imediato, não se submete o autor do dano a toda e qualquer consequência de sua conduta, senão apenas àquelas que sejam diretamente ligadas a ele. Assim, ao mesmo tempo que apresenta um critério para imputação da responsabilidade, limita a extensão desta responsabilidade apenas aos danos que decorrerem diretamente da atuação do agente, ou seja, sem que haja a interposição de qualquer fato natural, ou que possa ser atribuído à própria vítima, ou a terceiro. Isto é, impede que haja a responsabilidade ilimitada do autor do primeiro dano.

Neste sentido, a teoria é aplicada quando, por qualquer seja a conduta, o dano é diretamente ligado a conduta, limitando a responsabilidade para apenas aos danos que o evento gerou.

Miragem (2021, sem página), para melhor compreensão acerca da causalidade necessária, dispõe que a causa que servirá de critério para esta imputação da responsabilidade, caso não existisse, não faria existir o dano.

Mas o que se deve entender por causalidade necessária? Diz-se, nesse caso, que a causa que servirá de critério para imputação da responsabilidade é aquela que, se não existisse, não faria existir o dano. Ou seja, se a cadeia causal de acontecimentos tivesse se rompido pela interrupção do nexo causal, o dano não teria se efetivado. A aparente vantagem dessa teoria é a de permitir um critério um tanto mais preciso de identificação da causa, ainda que não se desconheça – como de resto nas situações de responsabilidade civil – algum grau para a discrição do juiz.

Isto é, caso houvesse algum interrompimento na cadeia causal dos acontecimentos, o dano não seria efetivado, tendo por princípio a precisão da identificação da causa, mesmo que esta venha a ser desconhecida, limitando assim, a ideia da reparação civil para apenas o que o evento gerou de dano.

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