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Nomes próprios específicos na tradução de Terron

3. ANÁLISE DAS TRADUÇÕES

3.4 Nomes próprios

3.4.4 Nomes próprios específicos na tradução de Terron

Segue agora à análise da tradução dos nomes próprios específicos usados por Terron, considerando-se que já foram vistos os nomes descritivos usados por esse tradutor. Em oposição à Grieco, não se vê em Terron uma variedade de estra-tégias, mas sim o uso concentrado de algumas: cópia (46%), tradução (27%) e convenção (18%). As estratégias menos usadas são: eliminação (5%), substituição (2%), acréscimo (2%) e transcrição (1%). Abaixo encontra-se o gráfico das estra-tégias empregadas por Terron:

Figura 13: Estratégias tradutórias dos nomes próprios específicos em Terron Conforme já mencionado, cabe observar que os pronomes de tratamento, as-sim como os títulos honoríficos, familiares e militares acompanham os nomes próprios e são analisados em conjunto (ver Anexo I). Alguns exemplos em Terron são: sr., sra., srta., Almirante, tio e tia. A estratégia mais frequente é a de tradução (TRD). Contudo, diferentemente de Travers e de Grieco, Terron preferiu, na mai-oria dos casos, usar letra inicial minúscula. Outra distinção interessante entre os tradutores é que Terron usa, em geral, as abreviaturas sr., sra. e srta. Essa opção

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foi descartada na tradução de Grieco, que utiliza os pronomes de tratamento por extenso talvez com intuito de facilitar a leitura pelo público infantojuvenil.

Retornando à análise do gráfico anterior, Terron usa a estratégia de cópia (COP) na maior parte do seu texto (Banks, Jane, Michael, John, Barbara, Ellen, Boom, Guy Fawkes, Cherry Tree Lane, Margate, Yarmouth, Ludgate Hill etc.), mostrando-se alinhado com a tendência sugerida por Newmark de manutenção da identidade linguística e cultural do texto de partida e por Gehringer de globaliza-ção. Ao manter, por exemplo, o nome original Willoughby para um dos cachorros da história, fica preservado também, no contexto de chegada, o tom de sofistica-ção inglês, muito embora tal nome seja quase ilegível pelo leitor. Terron só não usa a estratégia de cópia em basicamente duas situações, como se verá a seguir.

A primeira ocorre quando o nome próprio tem um significado importante na narrativa (Mr./Mrs. Wigg sr./sra. Peruca), momento raro de exceção em que Terron usa a tradução (TRD) e não a cópia, assim como feito por Grieco em pro-cedimento já comentado neste trabalho26. Contudo, no mesmo capítulo em que considera importante traduzir Wigg como Peruca, Terron se volta novamente para sua estratégia mais frequente, a de cópia, no nome Miss Persimmon, que vira srta. Persimmon, e não srta. Caqui , que teria uma carga jocosa e cuja tradução já foi comentada em Grieco. Outro exemplo de uso da estratégia de tradução, e não de cópia, é quando Travers se refere ao cachorro como vira-lata, chamando-o de Waif e Stray, com tradução de Terron para Pixote e Vadinho, termos que dialogam com outros textos brasileiros.

A segunda situação em que Terron deixa de usar a estratégia de cópia atece quando o nome se refere a uma pessoa, elemento ou local conhecido no

con-texto brasileiro (Orion Órion; Christopher Columbus Cristóvão Colombo;

England Inglaterra), momento em que usa a estratégia de convenção (CNV). Porém, quando a pessoa, elemento ou local é conhecido no contexto de partida, mas não é de conhecimento amplo dos brasileiros (por exemplo, Sir Christopher Wren, Jenny, Guy Fawkes), conforme já visto na discussão sobre o texto de Grie-co, não havendo um consenso para sua tradução, o nome permanece em inglês,

26 A estratégia de tradução (TRD) está sendo empregada no nome Wigg devido à inexistência de outro recurso mais adequado, conforme a tabela da seção 3.4. Se Terron tivesse optado por tra-duzir Wigg como Perruca (com duas letras “r”), seria possível classificar a estratégia como REC, que envolve a recriação de um nome que inexiste na língua de partida e na de chegada. O mesmo ocorre na tradução de Grieco.

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segundo o recurso de cópia. No caso desses três últimos nomes citados, a edição de 2014 recorre a notas de rodapé a fim de aproximar o leitor da cultura estrangei-ra (ver tabela de notas de rodapé do Anexo II). Em algumas outestrangei-ras poucas situa-ções, Terron se vale da eliminação (ELI) do nome próprio, anexando uma tradu-ção genérica para o termo, como acontece com marcas comerciais pouco

conheci-das no Brasil (Sunlight Soap barra de sabão; Meccano set jogo de montar

protótipos;Lifebuoysabão neutro).

Ou seja, a tendência em Terron é deixar a maioria dos nomes próprios não descritivos em inglês, não facilitando a sua leitura com o uso de características ortográficas, fonológicas etc. do português, que tornariam as palavras mais famili-ares ao público. O leitor é levado a conviver com o estrangeiro, e a maioria dos traços da cultura original estão no texto de chegada. Contudo, assim perde-se, por exemplo, a onomatopeia contida no nome em inglês Admiral Boom, que não é grafada, por Terron, como Bum (conforme a solução adotada por Grieco), mas como Boom, embora talvez ainda possa permanecer sonora devido ao uso do “o” prolongado. Além disso, Cherry Tree Lane aparece sem equivalente em portu-guês, muito embora Terron tenha acrescentado (ACR) a palavra “rua” na sua pri-meira ocorrência a fim de indicar a que se refere: “Se você quiser encontrar a rua Cherry Tree Lane, tudo o que precisa fazer é perguntar ao guarda que fica no cruzamento” (M.P., Terron, 2014, p. 13, meu grifo).

Por vezes, alguns nomes recebem explicações que facilitam a compreensão pelo público leitor infantil e jovem (Royal AcademyAcademia Real Inglesa de Artes;Highland Flingdança montanhesa da Escócia).

Por fim, cabe ressaltar que, como sugerido por Newmark anteriormente, Terron faz uso de notas para explicar determinados nomes como Christopher Wren, Jenny, Guy Fawkes, solha de Dover, Hamadríade, Grande Corrente dos Lanceiros, entre outros. Não são exatamente notas de rodapé, porque não ficam no rodapé, mas na margem esquerda do texto, e servem para descrever o termo ao leitor brasileiro. Como tais notas não constam do original de Travers, “ouve-se” a voz do tradutor (identificada por N.T.) e a voz do editor (marcada por N.E.).

Concluindo, a tendência de não traduzir os nomes próprios de Terron pode ser vista como uma estratégia estrangeirizadora, capaz de mostrar aos leitores mi-rins que este não é um texto original, mas sim uma tradução de uma obra estran-geira, cujos nomes estão originalmente em inglês. Numa visão globalizante e de

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reflexão sobre as diferenças culturais, as crianças devem estar cientes do processo de tradução e da heterogeneidade social. Os leitores mirins podem inclusive se divertir ao tentar pronunciar nomes estrangeiros.

A princípio, poder-se-ia supor que a estratégia para a tradução de nomes próprios adotada por Terron, cujas características se aproximam da estrangeiriza-ção de Venuti, reflete as normas tradutórias do seu período histórico (2014). Con-tudo, o estudo de Fernandes (2013, p. 219) coloca tal suposição em dúvida ao re-velar que, entre 2000 e 2003 (período envolvido na pesquisa de Fernandes), havia duas tendências de tradução de nomes próprios coexistindo no cenário brasileiro da LIJ: uma com viés domesticador e outra com enfoque estrangeirizador. Ou seja, em uma estratégia os nomes eram adaptados ou substituídos a fim de garantir a sua leitura. Em outra, os nomes eram mantidos inalterados ou com pouca modi-ficação (Fernandes, 2013, p. 218), evidenciando tolerância ao estrangeiro. Com base na convivência de duas estratégias tradutórias para nomes próprios entre 2000 e 2003 no Brasil, pode-se levantar a hipótese de que o mesmo ainda esteja ocorrendo na década de 2010, ou seja, na época da tradução de Terron. Portanto, não haveria necessariamente a suplantação da estratégia domesticadora vista em Grieco pela estrangeirizadora de Terron, mas sim a presença das duas. Não obs-tante, o presente estudo não é suficiente para sanar tal dúvida e mais investigações precisam ser feitas envolvendo uma gama maior de livros de LIJ.