• Nenhum resultado encontrado

Saber o que revelam os professores recém-formados em Pedagogia, na UFRN, sobre seu início de carreira docente, partiu de uma inquietação da autora. Essa inquietação advém do lugar ocupado; um lugar de futura egressa do curso de licenciatura em Pedagogia, ou melhor dizendo, de professora recém-formada. Na tentativa de compreender o que se passa quando um professor iniciante chega à escola, em como ele é recebido, quais as dificuldades encontradas e os desafios a serem enfrentados, é que se gerou a principal motivação para a realização desse estudo.

O início da docência é a fase do ciclo de vida profissional docente essencial para o desenvolvimento da profissão. Haja vista a influência que esse período exerce com relação a sobrevivência na profissão, é dizer, sobre a decisão de continuar ou não seguindo a carreira docente. Portanto, é considerada a mais difícil da vida dos professores, mas também a mais repleta de descobertas e novas experiências.

No sentido de conhecermos o que se tem pesquisado sobre a iniciação à docência, realizamos o estado da arte do nosso objeto de estudo. Analisamos os trabalhos publicados no acervo do Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES, entre teses e dissertações publicadas em todo país, mas com ênfase no Estado do Rio Grande do Norte. A partir desse levantamento, conseguimos constatar a escassez de produções que se dediquem a área do início da carreira docente, principalmente, na região Nordeste.

Nessa pesquisa nos norteamos pela problemática: “o que revelam os estudantes recém-formados em Pedagogia da UFRN sobre seu início na carreira docente?”, procuramos respondê-la questionando os professores iniciantes, que concluíram a graduação em Pedagogia nos anos de 2016, 2017 e 2018. Para isso, aplicamos um questionário online com perguntas abertas e fechadas acerca de quem são esses professores e como se deu a transição entre deixar de ser aluno e tornar- se professor.

A princípio, se pretendeu caracterizar os egressos do curso de Pedagogia

participantes dessa pesquisa, de modo a conhecer o perfil dos professores iniciantes

que colaboraram com o nosso estudo. Identificamos que o grupo de 34 participantes era predominantemente composto por cerca de 88% de mulheres, que possuem faixa

etária de em média 27 anos. Esses professores atuam, em sua maior parte, na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, em que mais de 50% desses duplicam sua jornada de trabalho. Ainda, 68% dos professores participantes trabalham em escolas privadas.

Com relação a conhecer como se dá a relação entre a teoria vista na formação

inicial e a prática vivenciada pelos egressos do curso de Pedagogia da UFRN, os

professores iniciantes dividiram-se em duas categorias: para uma parte dos professores, após a entrada na carreira foi possível perceber a disparidade existente entre a teoria vista na formação inicial e a realidade enfrentada. Os professores evidenciaram que há uma ausência de conteúdos/abordagens na formação inicial que sejam direcionados à realidade da sala de aula. Já a outra categoria, parte dos docentes declararam ter a teoria relevância para a sua prática, no sentido de conseguir relacionar o que fora apreendido no curso com as situações cotidianas da escola.

Já ao identificar situações críticas, positivas, entre outras, reveladas pelos

recém-formados em Pedagogia no primeiro ano de iniciação da docência, os

participantes apontaram questões que versaram acerca das situações de: desvalorização profissional; o relacionamento com os pais dos alunos; falta de tempo para planejamento; dificuldades na gestão da sala de aula; falta de apoio e estrutura da escola; o desgaste profissional devido à dupla jornada de trabalho.

Em relação ao objetivo descrever as situações que ganharam evidência no

início da carreira e propor alternativas de melhor inserção na docência, conseguimos

analisar os depoimentos dos professores e elencar as situações que foram mais recorrentes. As situações reveladas pelos professores foram em sua maior parte de caráter crítico, em que constam: dificuldade no relacionamento/diálogo com as famílias dos alunos; desafio em lidar com a disciplina das crianças; sensações de insegurança e medo; pressão e exploração profissional por parte das escolas; nervosismo durante as primeiras aulas ministradas. Todavia, os professores mostraram terem passado por essas situações/desafios e conseguido superar, ou seja, para eles algumas dessas questões já não são mais vistas como “problemas”.

Acerca de tudo que foi exposto e apresentado ao longo desse trabalho, fica evidente que não devemos ignorar essa fase de iniciação à docência, visto a sua importância para o desenvolvimento profissional do professor, assim como as implicações que isso pode acarretar às próprias escolas, e aos alunos. Precisamos

dar mais atenção ao modo como os professores estão saindo das agências formadoras e chegando às escolas. E, consequentemente, a realização de mais pesquisas sobre o início da docência que protagonizem os professores iniciantes e ofereçam mais conhecimentos que auxiliem os recém-professores.

Finalmente, espera-se que esse trabalho de conclusão de curso tenha concedido reflexões sobre como os professores recém-formados em Pedagogia se sentem em relação ao seu início de carreira docente, os dilemas e desafios sofridos, isto é, dar voz ao professor iniciante. Proporcionando, também, um repensar dessa fase tão crucial para a desenvolvimento da profissão. Será que deveríamos pensar no estudante apenas quando ele está dentro da universidade? E quando ele se torna egresso, os caminhos profissionais percorridos não nos interessam?

Pretendemos que a partir dessa investigação, novos estudos possam ser produzidos, visto a amplitude que carrega a temática da inserção à docência. Bem como, explicitar a fase de inserção que todos os professores já vivenciaram ou ainda irão experienciar. Proporcionando, assim, caminhos norteadores aos professores recém-formados, no sentido de minimizar os impactos causados pelo choque com a realidade escolar.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, A. As implicações dos baixos salários para o trabalho docente no Brasil. Anais 35ª Reunião da Anped. 2012. Disponível em: http://www.anped.org.br/sites/default/files/gt05-2468_int.pdf. Acesso em: 18 de nov. 2019.

CÂMARA, Rosana Hoffman. Análise de conteúdo: da teoria à prática em

pesquisas sociais aplicadas às organizações. Brasília: Gerais: Revista

Interinstitucional de Psicologia, 2013. Disponível em:

http://pepsic.bvsalud.org/pdf/gerais/v6n2/v6n2a03.pdf. Acesso em: out. 2019.

FERREIRA, NORMA SANDRA DE ALMEIDA. AS PESQUISAS DENOMINADAS “ESTADO DA ARTE”. Educação & Sociedade, ano XXIII, no 79, Agosto/2002.

GATTI, Bernadete A. Formação de professores no Brasil: características e problemas. Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1355-1379, out.-dez. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v31n113/16.pdf. Acesso em 20 out. de 2019.

GAUTHIER, Clermont et al. Por uma teoria da Pedagogia: Pesquisas Contemporâneas sobre o Saber Docente. Trad. Francisco Pereira. Ijuí - RS: UnijuÍ, 1998. 457 p.

GOMES, Romeu. A análise de dados em pesquisa qualitativa. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 21. ed. Petrópolis, Rj: Editora Vozes, 1994. Cap. 4. p. 67-79.

GONÇALVES, J. A. A carreira das professoras do ensino primário. In: NÓVOA, António (Org.). Vidas de professores. 2. ed. Porto - Portugal: Porto Editora, Lda, 2000. p. 141-169.

HUBERMAN, Michael. O ciclo de vida profissional dos professores. In: NÓVOA, António (Org.). Vidas de professores. 2. ed. Porto - Portugal: Porto Editora, Lda, 2000. p. 31-62.

LIMA, Analice de Almeida. O USO DE MODELOS NO ENSINO DE QUÍMICA: Uma investigação acerca dos saberes construídos durante a formação inicial de professores de Química da UFRN. Tese (doutorado). UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN, Natal, 2006.

MARCELO GARCIA, Carlos. Políticas de inserción a la docencia: De eslabón perdido a puente para el desarrollo profesional docente. In: MARCELO, Carlos (Org.). El

profesorado principiante: inserción a la docencia. Barcelona: Octaedro, 2008. p. 7-

MARIA, Isabella Cecilia Reis Soares de. Inserção no magistério: do probatório ao desenvolvimento profissional. Dissertação (mestrado). UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN, Natal, 2016.

NÓVOA, António. Os professores e as histórias da sua vida. In: NÓVOA, António (Org.). Vidas de professores. 2. ed. Porto - Portugal: Porto Editora, Lda, 2000. p. 31- 62.

OLIVEIRA, Evandro Nogueira de. A DIMENSÃO SUBJETIVA DA INICIAÇÃO À DOCÊNCIA: UM ESTUDO SOBRE AS SIGNIFICAÇÕES PRODUZIDAS NO INÍCIO DA CARREIRA DOCENTE. Dissertação (mestrado). UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN, Mossoró, 2017.

PAIVA, Samara Yontei de. INÍCIO DA CARREIRA E SABERES DA DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA. Dissertação (mestrado). INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE – IFRN, Natal, 2017.

PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e docência: diferentes concepções. Revista Poíesis -Volume 3, Números 3 e 4, pp.5-24, 2006. RAMALHO, Betania Leite; NUÑEZ, Izauro Beltrán; GAUTHIER, Clermont. Formar o Professor, profissionalizar o ensino: perspectivas e desafios. Porto Alegre: Sulina, 2004..

ROMANOWSKI, J. P. Professores principiantes no Brasil: questões atuais. In: III CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE PROFESORADO PRINCIPIANTE E INSERCIÓN PROFESIONAL A LA DOCENCIA. Santiago do Chile, 2012. Disponível em: http://congressoprinc.com.br/artigo?id_artigo=195.

ROMANOWSKI, JOANA PAULIN; ENS, ROMILDA TEODORA. As pesquisas denominadas do tipo "estado da arte" em educação. Diálogo Educ., Curitiba, v. 6, n.19, p.37-50, set./dez. 2006.

TARDIF, Maurice; RAYMOND, Danielle. Saberes, tempo e aprendizagem do trabalho no magistério. Educação & Sociedade, ano XXI, n. 73, 2000.

TREVIZAN, Anaide. Um processo de formação continuada: das necessidades formativas às possibilidades de formação. 2008. 99 f. Dissertação (Mestrado). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - Puc, São Paulo, 2008. Disponível em: https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/16361/1/Anaide%20Trevizan.pdf.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN). Projeto Pedagógico e Curricular do curso de Pedagogia presencial. Natal, RN, 2017.

VASCONCELLOS-GUEDES; L. GUEDES, L. F. A. E-surveys: vantagens e limitações dos questionários eletrônicos via internet no contexto da pesquisa científica. In: X SemeAd – Seminário em Administração FEA/SP (São Paulo, Brasil), 2007.

VEENMAN, S. Perceived Problems of beginning teachers. Review of Educactional Research Summer, v. 54, n. 2, 1984, p. 143-178. In: SOUZA, Dulcinéia Beirigo de. Os dilemas do professor iniciante: reflexões sobre os cursos de formação inicial. Revista Multidisciplinar da UNIESP, nº 08, Dez. 2009/ISSN 1980-5950. Disponível em: http://www.espacomarciocosta.com/pdf/ingles/questoes-teoricas-e-metodologicas/os- dilemas-do-professor-iniciante-souza-2009.pdf. Acessado em: jun. 2019.

Documentos relacionados