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SITUAÇÕES REVELADAS PELOS RECÉM-PROFESSORES NO PRIMEIRO

5 INGRESSANTES NA DOCÊNCIA E SUAS IMPRESSÕES SOBRE O

5.3 SITUAÇÕES REVELADAS PELOS RECÉM-PROFESSORES NO PRIMEIRO

O primeiro ano de docência é a fase em que o recém-professor se encontra pela primeira vez diante de uma sala de aula que está sob sua regência, afinal, agora, são seus alunos, sua turma, as famílias de suas crianças, enfim, é considerado o período mais difícil e crítico na carreira dos professores (GABARDO; HOBOLD, 2011). Desse modo, por ser uma etapa de descobertas e de novas experiências (MARCELO GARCIA, 2008), perguntamos aos professores a respeito das situações ou episódios relevantes que marcaram os seus primeiros anos de docência. As respostas colhidas versaram, em sua grande maioria, sobre o relacionamento/diálogo com as famílias, o desafio de lidar com a disciplina das crianças, a insegurança e o medo do novo, a pressão e exploração por parte das escolas, nervosismo durante as primeiras aulas. Vejamos os depoimentos a seguir:

[...] cada momento com as crianças foi marcante, quando meu aluno conseguiu reconhecer seu nome pela primeira vez, quando outro aluno associou a letra "a" de alossauro à primeira letra de seu nome, quando outra aluna foi capaz de registrar a história por meio de um desenho, entre outros. Cada momento com eles é de alegria (P 07).

O medo do novo, os desafios encontrados em cada aluno, perceber cada vez mais que na educação não tem receita pronta, cada criança nos ensina algo e demanda algo de nós, perceber o processo evolutivo de cada uma delas, o processo de avaliação diário (P 08).

Todos os dias é um episódio marcante diferente. No início do ano desenvolvi uma ansiedade generalizada, portanto, ao fim de cada dia é um agradecimento diferente por ter conseguido (P 28).

Processo de descoberta das crianças sobre a leitura e escrita (P 22).

Observamos nesses depoimentos episódios que marcaram esses professores iniciantes de forma positiva, sob o aspecto da “descoberta” da profissão, em que cada nova experiência vivida é um avanço para a formação profissional. Todavia, situações que marcaram negativamente o início da carreira docente também foram presentes nas declarações relatadas pelos professores, conforme podemos constatar abaixo:

Os pais de alguns alunos cobrando muito do meu trabalho, coisas fora de contexto. Percebi que me enxergavam de forma desumana. (P 01)

A exploração de algumas escolas, trabalhar sozinha em uma turma com três crianças autistas em graus diferentes sem apoio de uma auxiliar. (P 05) A pressão da escola e as palavras usadas pelos gestores que me fizeram achar que eu era uma péssima profissional. (P 16)

Ver muitos professores sem formação ou se formando depois de estarem há muito tempo trabalhando ilegalmente e sentir o choque entre o conhecimento e a obediência. Em certas gestões, se prefere ter um professor que mantenha a turma na ordem, do que ter um professor que saiba o que está fazendo. (P 32)

A escrita desses professores nos mostra que o início de carreira na docência não é, na maioria das vezes, a realidade missionária imaginada durante a licenciatura em Pedagogia. Por isso, o choque com a realidade descoberta. Os relatos acima evidenciam a pressão realizada pelas instituições escolares sobre os professores iniciantes, muito embora as pesquisas estudadas apontam a necessidade de um olhar mais acolhedor para essa fase.

A partir do que já foi exposto nos depoimentos dos professores respondentes, não há dúvidas de que essa fase de inserção é importante para a carreira profissional por ser composta de desafios, que são relacionados às dificuldades encontradas durante a trajetória docente.

Sendo assim, demandamos aos professores iniciantes “quais são as maiores

dificuldades que você encontrou/encontra para exercer a docência?” e as respostas

giraram em torno das temáticas: desvalorização da profissão; o relacionamento com as famílias dos alunos; falta de tempo para planejamento; gestão da sala de aula; falta de apoio e estrutura da escola; desgaste profissional decorrente da jornada de trabalho.

As dificuldades vivenciadas pelos recém-professores em seu início de carreira docente estão destacadas nos depoimentos de alguns deles:

Hoje, as maiores dificuldades são: o contato com as famílias; tempo para produção e participação acadêmica (P 09).

Encontrei a falta de reconhecimento em alguns trechos de minha trajetória, mas nunca cogitei deixar o que gosto de fazer (P 06).

Alunos desinteressados e arrogantes (P 27).

No relato dos respondentes acerca das dificuldades encontradas durante o período de entrada na carreira, encontramos respostas recorrentes nos estudos realizados sobre o início da docência. Nas pesquisas realizadas por Veenman (1984), por exemplo, o autor identificou que as dificuldades mais citadas pelos professores estudados estavam: a disciplina dos alunos em sala de aula; a motivação dos estudantes; avaliação dos alunos e a relação com os pais; organização do trabalho em sala de aula e a falta de materiais/recursos; ausência de tempo para planejamento; à relação com os pares.

As dificuldades enfrentadas pelos docentes iniciantes podem trazer sérios problemas à profissão, como o abandono da docência e, por consequência, a desvalorização profissional. Nesse contexto, indagamos os professores se “em algum

momento você pensou em desistir da profissão?”. Os dados mostraram que 14

professores (41%) responderam ter, sim, pensado em desistir, pois “no primeiro ano de profissão foi bem complicado, apesar de estar acostumada com a prática; estar "a frente" de uma turma me deu uma responsabilidade muito grande” (P 01).

Já para 18 professores participantes (53%) afirmaram não ter pensado nessa possibilidade, e de acordo com o relato do professor P 24 “sempre soube que seria professor e gosto do que faço mesmo em meio a situações diversas”. Portanto, para os egressos de pedagogia da UFRN pensar em desistir da profissão já foi uma possibilidade diante dos desafios encontrados e que já foram mencionados ao longo desse capítulo.

Diante dessas situações pelos quais os professores relataram ter passado, e de acordo com Marcelo Garcia (2008) é nessa fase que ocorre a desistência da profissão. São nessas situações conflituosas que os professores pensam em abandonar sua carreira profissional, pois já não veem motivação para continuar seguindo. Como apontam os estudos realizados pela OCDE21, em 2005, “em alguns

países, um grande número de professores iniciantes deixa a profissão dentro de dois anos após o ensino” (MARCELO GARCIA, 2008, p. 23).

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