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3 “NOVAS CORES”: EDUCAÇÃO DIFERENCIADA ATRAVÉS DA ARTE

Podemos falar do Projeto como uma forma de educação, considerando esta no seu sentido mais amplo, propondo-se a ir além da simples escolarização. Diferente do espaço de sala de aula, onde, muitas vezes, há a interdição da criatividade do aluno e do desenvolvimento de suas potencialidades, o Projeto possibilita a construção coletiva do conhecimento, estimula a reflexão e a criação, e propicia a expressão de subjetividades.

Como afirma Cristina Dias Allessandrini (1997, p. 39), no que tange à criatividade como um instrumento poderoso para potencializar a educação,

A Oficina Criativa oferece ao educador a possibilidade de pensar o trabalho educacional dentro de um novo paradigma, um paradigma que acredita que a criação é fundamental para uma educação consciente e integrada aos Valores Humanos. Se a criança é sensibilizada a entrar no trabalho com uma atitude criativa, abre-se dentro dela um espaço diferenciado, a partir do qual ela pode assumir seu jeito próprio de Ser.

A importância da arte, no Projeto, revela-se nas múltiplas possibilidades de saberes, expressões e sentidos que esta proporciona,

através da invenção e reinvenção para a construção de algo novo, a partir de elementos presentes no cotidiano.

Através da arte é possível a expressão de sentimentos, de emoções, a representação da realidade. Ela se coloca como forma de canalização das alegrias, tristezas, vivências, facilitando o auto- conhecimento e permitindo ao sujeito construir e ressignificar sua maneira de estar e atuar no mundo. A produção artística é um discurso do que se pensa, sente, vive, é uma forma de falar, de apreender a realidade, antes de ser considerada um mero conjunto de técnicas. Ela é a síntese entre a subjetividade e a realidade objetiva.

A arte, como forma de expressão, permite que sejam trabalhados conteúdos de uma forma intensa, aliada a discussões e reflexões em grupo. Nas oficinas do Novas Cores, o que é discutido pode ser representado de forma verbal, corporal ou gráfica, através de desenhos, pinturas ou dramatizações, e a criatividade é bastante estimulada nesse processo.

Segundo Ligia Saade (1997, p. 27),

A atividade plástica aliada ao trabalho de compreensão intelectual e emocional facilita o processo evolutivo da personalidade como um todo. Ao dar livre curso às expressões das imagens internas, o sujeito, ao modelá-las, transforma a si mesmo. Ao conhecer aspectos internos, próprios, se recria, se educa e se instrumentaliza para uma inserção qualitativamente diferenciada na realidade social.

É nesse sentido (de criação, percepção, auto-conhecimento, coletividade, autonomia, despertados através da arte) que pensamos o desenvolvimento deste trabalho como uma forma de promover o exercício da cidadania, colocando-se como meio de inclusão social.

Para entender a dimensão do Projeto como forma de inclusão social, é importante a compreensão da noção de exclusão, já que se trata de uma dinâmica processual: exclusão/inclusão.

4 EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA DINÂMICA EXCLUSÃO / INCLUSÃO

A noção de exclusão é bastante diversa. Ela pode se remeter à concepção de desigualdade como sendo resultante de uma deficiência individual, ou da injustiça social; pode ser considerada sinônimo de pobreza ou de discriminação, e até ser vista como um processo natural, fruto do atraso do país. Tratar um fenômeno como natural, ao invés de desvendar as suas origens sócio-históricas, vem levando usualmente a uma estigmatização, contribuindo para reforçar e reproduzir o ciclo da exclusão, pois não incita nem o questionamento sobre suas possíveis causas (SAWAIA, 2001, p.7). É preciso, pois, ir além de generalizações e buscar as peculiaridades de cada contexto e de cada momento em que se dão os processos de exclusão e, ao mesmo tempo, levar em conta o processo histórico no Brasil que vêm tecendo as desigualdades, as concentrações e as hierarquias entre os mais diversos seguimentos sócio-culturais.

A invenção da noção de exclusão, em 1974, tem sido atribuída à René Lenoir. Em suas reflexões, a exclusão passa a ser entendida como um fenômeno não mais de ordem individual, mas de ordem social, considerando importante o estudo do modo de

funcionamento das sociedades modernas para compreender a origem da exclusão.

De acordo com o movimento nacional da “Nova Exclusão Social”, a exclusão social ganha um novo sentido. Entre todas as atribuições recebidas, ela ganha uma concepção que a diferencia do conceito de pobreza. Ela passa a ser considerada não mais apenas pelo baixo nível de renda e baixa escolaridade, mas também pela restrição do acesso aos meios culturais e a restrição à representatividade política, ou seja, privação do poder de ação e representação (CAMPOS et al., 2003).

Nesse sentido, Mariangela Belfiore Wanderley (1999, p. 17- 18) afirma que

Na verdade, existem valores e representações do mundo que acabam por excluir as pessoas. Os excluídos não são

simplesmente rejeitados física, geográfica ou materialmente, não apenas do mercado e de suas trocas, mas de todas as riquezas espirituais, seus valores não são reconhecidos, ou seja, há também uma exclusão cultural.

Assim, podemos pensar a noção de exclusão social como algo amplo que pode envolver a pobreza, a discriminação, o não reconhecimento dos valores, a não acessibilidade à cultura e a restrição à representatividade política.

A arte, no Projeto Novas Cores, contrapõe-se aos recursos tecnológicos emergentes que acabam por excluir devido à restrição do acesso. Os participantes entram em contato com as artes plásticas e o teatro, conhecem um pouco da história de cada uma delas e vivenciam, nas oficinas, essas formas de expressão.

Nessa perspectiva, é possível perceber o Projeto Novas Cores como um mecanismo de inclusão, tendo em vista que possibilita o acesso dessas crianças e adolescentes a formas artísticas presentes culturalmente e que não seriam tão acessíveis de outra maneira, e ainda por colaborar com o processo de construção da cidadania, contribuindo para que eles se reconheçam como sujeitos de direitos e deveres, autônomos e ativos no processo histórico.

5 CONCLUSÃO

Podemos falar, então, do Projeto Novas Cores como um espaço de educação diferenciada, fazendo uso de expressões artísticas, que colabora para a construção da cidadania, sendo as crianças e os adolescentes atores e artistas sociais das suas vivências.

É importante ressaltar a relevância do Projeto como forma de inclusão social, visto que possibilita oportunidades de acesso a meios que vão além das necessidade consideradas básicas, meios que envolvem valores e consideram as vivências de cada um.

O Projeto Novas Cores, para todos nós que o fazemos, representa uma oportunidade de entrar em contato com a realidade, colocando em prática os conhecimentos acadêmicos adquiridos, contribuindo em nossa formação como pessoas e cidadãos responsáveis, como integrantes do NUCEPEC, por contribuir para a garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes.

6 BIBLIOGRAFIA

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terapia: reflexões, São Paulo, ano 3, n. 2, p. 31-42, 1997-1998.

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CAMPOS, André. et al. Atlas da exclusão social no Brasil: dinâmica e manifestação territorial. São Paulo: Cortez, 2003. p. 27-48. v. 2.

PINHEIRO, Ângela; LUSTOSA, Patrícia; XIMENES, Verônica (Orgs.). Práxis em Psicologia: contribuições do NUCEPEC, do PET- Psicologia e do NUCOM. Fortaleza: UFC, 2002.

SAADE, L. Arte-terapia: uma estratégia no desenvolvimento emocional e cognitivo. Arte-terapia: reflexões, São Paulo, ano 3, n. 2, p. 25-30, 1997-1998.

SAWAIA, B. (Org.). As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

SPINK, M. J. P. A cidadania em construção: uma reflexão transdisciplinar. São Paulo: Cortez, 1994.

WANDERLEY, M. B. Refletindo sobre a noção de exclusão. In: SAWAIA, B. As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2001. p. 16-26.

ROLNIK, S. B. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo. São Paulo: Estação Liberdade, 1989.

SMOLKA, A. L. B. A memória em questão: uma perspectiva histórico- cultural. Educação e sociedade [on-line], v. 21, n. 71, p. 166-193, jul. 2000. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 3302000000200008>. Acesso em: 13 fev. 2005.

TRABALHO DOMÉSTICO INFANTO-JUVENIL: O TEATRO