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CAPÍTULO IV – A FRENTE POPULAR NO GOVERNO, CRISE E

4.4 O acirramento da polarização nacional e o aprofundamento do

Ao tomar posse na presidência da República, Jânio Quadros procurou realizar um governo com características mais ao centro do espectro político, principalmente com a aplicação da Política Externa Independente (PEI),277 surpreendendo assim, sobretudo,

seus principais aliados udenistas. Jânio Quadros iniciou o processo de reatamento das relações diplomáticas com a União Soviética, enviou João Goulart à China socialista e defendeu o direito de Cuba à autodeterminação,278 inclusive condecorando com a

Ordem do Cruzeiro do Sul – a mais alta homenagem a cidadãos estrangeiros – a Ernesto “Che” Guevara, um guerrilheiro declaradamente comunista e um dos dirigentes do novo governo revolucionário cubano (SKIDMORE, 1988).

Apesar destas atitudes mais progressistas na política exterior, os comunistas brasileiros seguiram em sua oposição sistemática ao governo de Jânio Quadros, principalmente devido ao caráter conservador de sua gestão no plano interno, através da compressão de salários e da adoção de uma reforma cambial que sacrificaria a geração de empregos e elevaria o custo de vida, beneficiando unicamente os bancos e credores externos, seguindo severamente as diretrizes impostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

277 Inaugurada oficialmente durante o governo de Jânio Quadros, visava um não alinhamento automático

aos Estados Unidos, abrindo possibilidades de diálogos comerciais e diplomáticos com todos os países que pudessem oferecer benefícios econômicos para o Brasil. Segundo o então presidente, “não estamos absolutamente forçados de maneira formal a intervir na Guerra Fria entre o Oriente e o Ocidente. Estamos, portanto, em situação de seguir nossa indicação natural e atuar energicamente em prol da paz e do relaxamento da tensão internacional. [...] O primeiro passo para tirar proveito total das possibilidades da nossa posição no mundo consiste em manter relações normais com todas as nações”. Revista Brasileira de Política Internacional. dez. 1961.

278 Segundo Anita Prestes (2012), o PCB foi responsável pela “organização e mobilização de grandes

manifestações populares em solidariedade ao país socialista” (p.49). Sobre isto, Clodomir Morais afirmou que a invasão à ilha de anticastristas patrocinada pelo governo norte-americano gerou uma “grande indignação junto aos camponeses” que temiam que isto prejudicasse também sua luta pela reforma agrária no estado, razão pela qual, explicou, “cinco ou seis mil pessoas” se filiaram à Brigada Internacional para agir em defesa da Revolução Cubana, organizada de pronto pelos Comitês de Solidariedade a Cuba, cuja sede nacional, segundo o ex-dirigente, residia no Recife. Entrevista concedida ao arquivo FUNDAJ em 25/11/1982.

157 Durante os sete meses do governo JQ [Jânio Quadros], os comunistas estiveram empenhados em denunciar sua política “entreguista” e mobilizar os setores populares e nacionalistas na luta pelas suas reivindicações mais sentidas, tendo em vista o processo de acumulação de forças voltado para a conquista de um governo nacionalista e democrático, o objetivo tático definido nas resoluções aprovadas pelo PCB (PRESTES, 2012, p.52, grifo da autora).

Com o processo inflacionário em descontrole, como herança do endividamento externo ocasionado pela intensificação da marcha industrializante no governo JK, e sem gozar de confiança entre as esquerdas, Jânio Quadros passou a enfrentar também a pressão de diversos meios de comunicação e líderes políticos influentes – mesmo da própria UDN, como Carlos Lacerda. Sem mais sustentação política dentro do Parlamento e diante de certa inquietação no meio militar, Jânio decidiu renunciar no dia 25 de agosto de 1961, com apenas sete meses de governo. Embora muito ainda se especule do ponto de vista historiográfico acerca das motivações pessoais e políticas de tal ato, seus efeitos práticos inegavelmente repercutiram em uma crise política de grandes proporções. Com a aceitação pelo Congresso Nacional de sua renúncia, caberia ao vice-presidente, João Goulart, tomar posse. O mesmo se encontrava na China em missão comercial, e rapidamente se articularam setores políticos e militares em prol de seu impedimento, sob o argumento de que Jango transformaria o Brasil em uma república sindicalista, ou até mesmo, socialista. Argumentavam os ministros militares que o líder trabalhista era um “agitador dos meios operários” e que seu governo poderia acarretar na “subversão das Forças Armadas, transformando-as em simples milícias comunistas” (SKIDMORE, 1988, p.257). Seu passado como ministro do Trabalho do último governo Vargas, quando aumentou em 100% o salário mínimo, trazia más recordações aos grupos empresariais que, sobretudo devido à crescente crise inflacionária que emergia sobre o país, ansiavam por uma administração que implicasse em uma política de austeridade nos gastos públicos e de arrocho salarial. Um presidente que defendia o legado getulista e que, além disso, era aclamado pelas alas mais ideológicas e sindicais do PTB, tendo ainda um diálogo amistoso com os movimentos populares mais radicais e com o próprio Partido Comunista, gerava um temor de múltiplas dimensões entre as camadas médias mais conservadoras, assim como nos círculos militares anticomunistas e entre os estratos sociais mais comprometidos com o status quo (ibidem).

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Como Jango estava em visita à China, foi imediatamente empossado Ranieri Mazilli, presidente do Congresso Nacional e membro do PSD. Iniciando um novo movimento golpista, os três ministros militares de Jânio Quadros proclamam ser contrários à posse de Goulart, sendo incentivados por diversas lideranças da UDN e também do PSD. Afirmavam que se Jango retornasse ao Brasil seria preso. Neste período, efetivamente foi a Junta Militar que governou o país. Em todo o território nacional se iniciou uma forte repressão aos movimentos sociais,279 enquanto que o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, um dos mais influentes e radicais líderes do PTB, criava a “Cadeia da Legalidade” (ibidem). Consistia em uma central radiofônica que reunia a transmissão de cerca de 150 rádios em todo o Brasil – a maioria no Rio Grande do Sul – e até mesmo no exterior, difundindo mensagens de diversas organizações sociais de apoio à posse de Jango, rompendo a censura que havia sido instalada pela Junta Militar280 (FERREIRA, 2003). Contando com a adesão da Brigada Militar e do III Exército, sediado naquele estado – somando ambos 53 mil homens –, e conjuntamente à criação de milícias populares, comitês de resistência e batalhões operários, totalizando mais de 45 mil voluntários, Brizola preparava-se para a guerra civil. Sem embargo, o mandatário goiano, Mauro Borges, foi o único dos governadores do Brasil que aderiu aos apelos de Brizola para a confrontação armada aos ministros militares. Em Goiânia, além do apoio da Polícia Militar, “instituiu-se o ‘Exército da Legalidade’, composto por estudantes e populares que, armados e uniformizado, patrulhavam a cidade” (ibidem, p.333).

Em Pernambuco, a repressão contra os movimentos dirigidos pela esquerda foi intensa. Segundo Marcelo Mário de Melo – que chegou a ser detido na ocasião por atividades relacionadas à Campanha da Legalidade281 –, durante o período “viveu-se uma amostra grátis de golpe militar em Pernambuco, sob a responsabilidade de Cid Sampaio, acumpliciado com os militares golpistas” (MELO, 1961, p.100). E prosseguiu o autor, descrevendo a situação naquele momento:

279 O ex-candidato presidencial e general reformado Henrique Lott foi preso por ordem do ministro da

Guerra, imediatamente após lançar um manifesto em defesa da posse de João Goulart (SKIDMORE, 1988).

280 Antes ter sido oficializado o apoio do III Exército à ordem constitucional, e sendo iminente o

bombardeio do Palácio Piratini, sede do executivo gaúcho, onde Brizola discursava para todo o Brasil através da Cadeia da Legalidade, este asseverou emblematicamente: “Esta rádio será silenciada [...]. O certo, porém, é que não será silenciada sem balas” (Op. Cit., FERREIRA, 2003).

159 A polícia ocupou as ruas, invadiu sindicatos e residências, fez prisões. Os trabalhadores da orla marítima entraram em greve de protesto, por tempo indeterminado, contra o golpe e pelo respeito à legalidade. O movimento estudantil dinamizou a resistência (ibidem, p.101).

A sede da União dos Estudantes de Pernambuco foi invadida e fechada pela polícia, assim como a sede do Sindicato dos Bancários, onde os dirigentes do CONSINTRA – que lá se encontravam em reunião – foram detidos. Por sua vez, a Faculdade de Direito do Recife, palco principal da greve estudantil que ocorrera cerca de três meses antes, em junho de 1961, foi cercada pela “Polícia de Cid”, como denunciaram de forma contundente os comunistas em seu Jornal A Hora (ibidem). Ainda segundo Marcelo Mário de Melo, a sede deste jornal também foi invadida, e seu diretor, David Capistrano, dirigente do PCB, foi preso em sua residência, assim como vários outros ativistas políticos.282

É dentro deste contexto, absolutamente polarizado e radicalizado, que se vai concretizando em Pernambuco a separação inevitavelmente irreversível entre Cid Sampaio e a Frente do Recife. O governador do estado inicialmente proclamou ser favorável à posse de Jango, mas depois retirou o que disse e procurou manter-se oficialmente neutro,283 embora tenha sido conivente com a forte repressão política desencadeada no estado. Desta forma, não foi de encontro às posições golpistas defendidas por vários membros do diretório nacional de seu partido, em especial Carlos Lacerda, então governador do estado da Guanabara e responsável por duras críticas em rede nacional de televisão ao presidente Jânio Quadros, imediatamente antes de sua renúncia, e que se converteu em um dos principais líderes civis a favor da Junta Militar e contra a posse de Jango, em flagrante violação à Constituição e às normas democráticas.284 Sucessivamente, enquanto a Frente do Recife defendia intransigentemente o empossamento de João Goulart como presidente, Cid Sampaio articulou no Rio de Janeiro uma reunião de governadores com o objetivo de encaminhar uma solução parlamentarista para o país,285 o que de fato viria a ocorrer, com a classe

282 Marcelo Mário de Melo. Entrevista concedida ao arquivo FUNDAJ em 26/08/1993.

283 Para mais informações, acessar: <<http://www.legalidade.rs.gov.br/2011/08/o-parlamento-gaucho-no-

movimento-da-legalidade-2/>

284 Sobre o papel de Carlos Lacerda, tanto antes, como depois da renuncia de Jânio Quadros, ver: Thomas

Skidmore (1988).

285 O governador do Amazonas, Gilberto Mestrinho, filiado ao PTB, se recusou a participar da reunião e

expôs os motivos em telegrama enviado diretamente a Cid Sampaio, alegando que “não reconheço autoridade [nos] ministros militares que também juraram respeitar [a] Carta Magna, decidirem sobre [o]

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política consentindo com a posse de Jango, mas restringindo seus poderes e atribuições legais (PANDOLFI, 1984).

Um pouco antes da renúncia de Jânio Quadros, ocorreu em Pernambuco um acontecimento que viria a acirrar ainda mais as tensões entre o governo estadual e os movimentos populares. Em 31 de maio de 1961, Célia Guevara, mãe de Ernesto Guevara, foi convidada pelo Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito do Recife para proferir uma palestra para os alunos. Como mais uma das graves implicações na realidade política de nosso país envolvendo a Revolução Cubana, o fato terminaria deflagrando o estopim de um episódio pitoresco que chegou a envolver até mesmo a intervenção das Forças Armadas para combater estudantes desarmados e pacíficos, gerando uma crise política dentro da base governista local que tomou ares enérgicos e dramáticos devido ao sensível tema da pretensa violação pelo poder executivo nacional da autonomia do estado de Pernambuco (CÉSAR, 2009).

O diretor da FDR, Soriano Neto, proibiu a realização da exposição286 e mesmo diante de vários esforços e pedidos das lideranças estudantis, portou-se de forma tão inflexível que mandou inclusive cortar a luz do prédio, fazendo com que a palestra tivesse que prosseguir “à luz de velas”. No outro dia, encaminhou um pedido de inquérito ao conselho técnico administrativo para punir os estudantes envolvidos, o que terminou sendo rejeitado por unanimidade na reunião, embora a mesma tenha proposto a instalação de uma comissão de inquérito para apurar o problema. Em contrapartida, os estudantes já demasiadamente críticos à gestão do diretor, decidiram por realizar uma assembleia na noite do dia 02 de junho e, como ato contínuo, deflagrar uma greve exigindo a remoção do diretor, ocupando em seguida a faculdade e impedindo seu funcionamento. Paralelamente, e por motivos distintos, o Diretório Central da Universidade Rural de Pernambuco287 declarou-se em assembleia permanente em solidariedade aos estudantes de Agronomia e Veterinária que reivindicavam melhores condições de estudo. No dia seguinte, estes decidiram também ocupar os prédios das

destino da Pátria contra [a] soberania popular. Violando lei suprema, em consequência, não aceito sugestão [de] Vossência”. Diario de Pernambuco, 02 set. 1961.

286 O pretexto apresentado inicialmente era de que o pedido para a realização da conferência não havia

sido realizado dentro do prazo protocolar. Entretanto, em correspondência ao reitor da Universidade Federal o mesmo alegou que a palestra foi ministrada por uma “conhecida comunista e agitadora internacional”, demonstrando claramente que as motivações principais da rejeição residiam em seu notório anticomunismo (CÉSAR, 2009, p. 162).

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respectivas escolas, enquanto que o presidente da União Nacional dos Estudantes, Oliveiro Guanais, viajava ao Recife para materializar o apoio desta entidade à causa dos estudantes pernambucanos. Ampliando a dimensão do movimento, sindicalistas e políticos nacionalistas se manifestaram em defesa dos alunos em protesto, e a União dos Estudantes de Pernambuco decidiu deflagrar uma greve geral envolvendo as três universidades da capital – a Universidade do Recife,288 a Universidade Rural e a Universidade Católica (ibidem).

A repercussão do movimento em nível nacional superou todas as expectativas iniciais, chegando o assunto rapidamente à alçada do governo federal, que assumiu para si a responsabilidade de lidar com a parede universitária, sob a alegação de que os prédios ocupados eram autarquias da União. Ainda horas antes à deflagração do movimento grevista, o governador Cid Sampaio entregou o cargo temporariamente ao vice Pelópidas Silveira, viajando prontamente para Curitiba onde realizaria uma palestra sobre o tema da reforma agrária e, posteriormente, participaria de uma reunião da direção nacional da UDN. No exercício da função, Pelópidas procurou prestar seu auxílio para garantir uma saída negociada para o litígio, instando o governo federal a enviar um representante para dialogar com os estudantes. Subsequentemente, o ministro da Educação, Brígido Tinoco, viajou para o Recife, para conversar com os acadêmicos em greve, embora com diretrizes expressas do presidente de que qualquer demanda estudantil só seria analisada após a entrega dos prédios ocupados e o retorno imediato às aulas. O prefeito Miguel Arraes, integrante da Frente do Recife, praticamente deixando de lado todas suas demais atribuições administrativas ordinárias, atuou incansavelmente como mediador entre o ministro e os estudantes, no esforço para se chegar a uma solução negociada. Este envolvimento do prefeito, acusado principalmente pela imprensa no Centro-Sul do país de ser comunista, contribuiu para as acusações disseminadas por estes mesmos meios de comunicação de que, em certa medida, as autoridades locais ou estavam comprometidas com movimentos de “desestabilização” ou eram incapazes de contê-los, reforçando ainda mais a hipotética necessidade de uma ação drástica do governo federal – o que, com efeito, não tardaria (ibidem).

Não havendo possibilidade de desfecho conciliatório em curto prazo, o presidente Jânio Quadros se decidiu, então, pelo emprego das Forças Armadas para

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debelar o movimento, desocupando à força durante a madrugada do dia 07 de junho os prédios da Faculdade de Direito do Recife e os de Veterinária e Agronomia da Universidade Rural. Ainda conforme César (2009), o IV Exército, situado na capital, desencadeou a ação temerária contra os estudantes de Direito, que decidiram não resistir. Cerca de 300 soldados participaram do “ataque”, portando bazucas, metralhadoras e fuzis, e até tanques de guerra foram utilizados na operação, apontando seus canhões para a faculdade e para os estudantes desarmados que lá se encontravam. Na Universidade Rural, a ação foi efetuada por um reduzido contingente de soldados, porém sem o uso de tanques ou armas pesadas. Como a greve não cessou mesmo com a desocupação, as tropas militares permaneceram nas ruas do centro do Recife, recebendo também reforços vindos do Rio de Janeiro, Piauí e Paraíba. As polícias civil e militar de Pernambuco também entraram em regime de prontidão, assim como os comandos da Marinha e da Aeronáutica do estado. Potencializando as dimensões excêntricas da situação, os contratorpedeiros Pará e Araguaia, além do cruzador Tamandaré, foram enviados ao Recife para reforçar as tropas na manutenção da “ordem” (ibidem).

Durante mais de uma semana, até o final da greve estudantil, as tropas militares guarneceram o centro da cidade, fechando o acesso a ruas e pontes, cercando e comprimindo o perímetro onde estava situada a Faculdade de Direito, desocupando violentamente também a Escola de Engenharia,289 para onde os alunos haviam se

dirigido, transformando-a em “Quartel General da greve”.290 Dissipando passeatas de

protesto de forma truculenta e chegando também a censurar emissoras de rádio, o IV Exército, sob a chancela presidencial, praticamente assumia o controle da capital, inclusive efetuando também prisões de lideranças sindicais e políticas, enviando-as para um presídio na ilha de Fernando de Noronha, deixando-as incomunicáveis. (ibidem). O

289 O general Osvaldo Mota, comandante do IV Exército, justificou a desocupação violenta afirmando que

os estudantes estavam proferindo discursos de ataques às Forças Armadas (CÉSAR, 2009). Embora se assemelhe aos típicos pretextos utilizados pelas forças repressivas para legitimar ações congêneres, José Maria nos contou que havia presenciado alguns pronunciamentos mais agressivos de um estudante chamado Joel Câmara, que havia se “emocionado” enquanto discursava, inclusive apelidando os militares de “gorilas”. Entrevista concedida ao autor em 28/05/2015.

290 Após serem desalojados dos edifícios em que estavam, e abortarem um plano de ocupação de novos

prédios universitários, denominado de Operação Tobias, os estudantes recorreram à Assembleia Legislativa, onde foram bem recebidos e guarnecidos pelas imunidades parlamentares que protegiam tanto os mandatários como a instituição, impossibilitando qualquer investida das tropas federais naquele recinto. O presidente da Assembleia, Paulo Guerra, invitou os demais deputados a participarem de uma manifestação convocada pelo CONSINTRA em apoio aos protestos estudantis (CÉSAR, 2009).

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relato do Diario de Pernambuco de 11 de junho de 1961 descreveu bem a situação vivida no estado nestes dias:

Várias prisões foram efetuadas nas últimas horas, sem que se possa precisar o número exato. Entre os detidos, estão: 1º. Ramiro Justino, um dos assessores sindicais do governador Cid Sampaio; 2°. Hiram Pereira, diretor de Administração do prefeito Miguel Arraes; 3°. David Capistrano, antigo deputado comunista (preso ao entrar num cinema, por dois cidadãos à paisana); 4º. Irineu José Ferreira, um dos diretores da Associação de Imprensa de Pernambuco; e outros. A prisão do Sr. Hiram Pereira equivaleu a um rapto ou sequestro. Estava ele em sua casa, quando chegou um veículo da Prefeitura do Recife, com um chamado urgente do Sr. Miguel Arraes. O Sr. Hiran entrou no carro, mas não chegou à Prefeitura. Posteriormente, a família foi informada pelo prefeito de que não o havia chamado. Presume-se que o Exército efetuou a prisão usando o próprio carro da Prefeitura, pois numerosos veículos do [governo do] estado e do município [Prefeitura], a pedido das forças federais, foram colocados à disposição do Exército (Op. Cit., MELO, 2001, p.98-99)291.

A repressão ao movimento sindical decorria da solidariedade deste para com o movimento estudantil em greve. O CONSINTRA não apenas afirmou estar do lado dos estudantes em luta, através de declarações e notas públicas de apoio, como chegou a declarar-se em assembleia permanente durante dois dias e convocou uma manifestação de trabalhadores e estudantes contra a intervenção e repressão sistemática das tropas federais e em defesa da paralisação universitária. Segundo César (2009), “a formação de uma frente operária-estudantil intranquilizava os meios oficiais” (p.120), sendo o motivo principal da repressão aos sindicalistas e militantes de esquerda. Naquela época, o diálogo entre Cid e os sindicatos já havia se tornado bastante conflituoso. Segundo João Barbosa – ex-assessor sindical do governo Cid e um dos que figuravam na lista de sindicalistas ameaçados de prisão –, a assessoria sindical conseguiu durante o primeiro ano de governo garantir um relativo diálogo entre as classes trabalhadoras e o executivo estadual – como demonstrado na sua atuação frente à greve dos portuários, já mencionada neste capítulo –, mas que posteriormente passou a perder qualquer utilidade, visto que a maioria das questões grevistas terminaria sendo decidida pelo judiciário. Afirmou ainda que, já no segundo ano do governo Cid, os assessores