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CAPÍTULO III – OS COMUNISTAS E OS DEMAIS ATORES DA FRENTE DO

3.1. Os trabalhistas e socialistas

Fundado em agosto de 1945, o PTB nasceu praticamente em paralelo ao movimento queremista. Um dos principais líderes deste último, o empresário Hugo Borghi, foi um personagem proeminente na organização do partido em São Paulo (SKIDMORE, 1982). Com os objetivos de defender a legislação trabalhista, mas também relacionando-a diretamente ao legado do governo varguista, o queremismo coincidia em seus fins com o nascente partido trabalhista, contribuindo de forma fundamental para a união entre o getulismo e o trabalhismo, conforme apontado por Delgado (2011). Segundo a mesma, tanto o queremismo como o PTB tiveram em suas origens o apoio maciço dos sindicatos oficiais e, consequentemente, do Ministério do Trabalho. Posteriormente, ao fim do movimento – com a deposição de Getúlio Vargas da presidência da nação – os trabalhistas foram orientados a converter os comitês queremistas que se multiplicavam em diretórios do PTB ou em comitês eleitorais de apoio aos candidatos deste partido. E cabe salientar que, embora desde sua fundação o PTB tivesse uma íntima ligação indissolúvel com a figura de Getúlio Vargas, canalizando seu prestígio pessoal, o partido não se resumia a ele. Apesar do PTB ter se proposto a ser uma segunda vertente do continuísmo varguista inserida no processo de transformação em curso ocasionado pelo fim do Estado Novo e pela abertura democrática, levando consigo todas as influências típicas do getulismo – como o nacionalismo; o paternalismo; o assistencialismo; o controle e conciliação social –, o partido teve desde o seu surgimento uma facção reformista que lutava internamente contra os segmentos mais moderados. Esta disputa derivava das discrepâncias sociais, políticas e de ideais existentes entre os adeptos do pragmatismo getulista e os mais vinculados ideologicamente às concepções trabalhistas e reformistas114 (ibidem).

Segundo Delgado (2011), o setor getulista era composto originalmente de sindicalistas, burocratas do Ministério do Trabalho e da Previdência Social, empresários

114 O principal expoente desta linha reformista mais ideológica seria o político Alberto Pasqualini

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favoráveis a medidas industrializantes, além de políticos ligados a Getúlio Vargas. Esta corrente centrava seus esforços em um projeto continuísta de poder em torno de Vargas, explorando seu carisma pessoal em prol da mobilização ordenada e institucionalizada dos trabalhadores em seu apoio, costurando alianças eleitorais em função de possibilitar a efetivação deste projeto. A ala reformista – também chamada pela autora de doutrinária ou programática –, por sua vez, era integrada inicialmente por intelectuais, profissionais liberais e alguns políticos que defendiam pautas de caráter progressista, visando a implementação de reformas econômicas e sociais, buscando fortalecer ideologicamente o partido – recusando, portanto, alianças puramente pragmáticas – e apoiando a mobilização dos trabalhadores de forma independente às estruturas estatais atreladas ao Ministério do Trabalho. A princípio, a fração getulista foi predominante, mas gradativamente foi se enfraquecendo, especialmente após a morte de Vargas em 1954. Sem o carisma pessoal de Getúlio e sua inconteste liderança política, a corrente pragmática perdeu grande força interna, embora tenha permanecido viva, assim como suas características mais fundamentais – convertidas em chagas indeléveis do PTB e das demais agremiações trabalhistas que dele surgiram –, ou seja, o oficialismo, o fisiologismo e o “peleguismo”115 no meio sindical (ibidem).

Desta forma, o PTB, originalmente ligado ao pragmatismo getulista, passou por transformações que culminam na redefinição de sua atuação, adotando um projeto social reformista, mas que ainda não se dissociava completamente dos antigos hábitos clientelistas e fisiológicos. Assim, o partido “caminhou em direção a uma maior autonomia em relação ao Estado, mas sua independência [deste] jamais chegou a consolidar-se como uma característica marcante do partido” (ibidem, p.78).

Nascido da articulação direta dos burocratas do Ministério do Trabalho em conjunto com a máquina sindical ligada ao getulismo, o PTB procurou desde o início angariar o apoio das camadas trabalhadoras. Devido ao crescimento cada vez mais significativo do operariado urbano, a criação do PTB serviria para conquistar o apoio

115 A autora não generaliza este termo a todos os sindicalistas que eram ligados ao Ministério do

Trabalho, (uma vez que a outra corrente reformista do PTB também o era), mas aos que eram contrários às propostas mais combativas e que “vinculavam-se a uma fração do partido que não encampava propostas de reformas econômicas e sociais” (ibidem, p. 237-238), embora saliente que o peleguismo foi para todo o PTB uma “cicatriz permanente e histórica” (ibidem, p.76). Em Pernambuco, segundo o sindicalista trabalhista Miguel Batista, este termo era utilizado para designar os sindicalistas associados ao PSD. Entrevista concedida ao arquivo FUNDAJ em 19/02/1987.

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deste setor cada vez mais importante aos projetos de Vargas, como também impedir que esta massa proletária se aproximasse do PCB, também em franco crescimento após o fim da Segunda Guerra Mundial (ibidem). O anticomunismo foi uma marca profunda presente desde as origens do PTB, sendo os pecebistas, além do mais, seus concorrentes diretos dentro das disputas sindicais. Para a autora, este esforço do presidente Vargas de manter e cultivar laços com os trabalhadores urbanos e os sindicatos, gerava certas ambivalências:

Se, por um lado, a natureza desse vínculo do governante com trabalhadores transpareceu como definidora de um forte caráter de manipulação dos assalariados pelo presidente, por outro, não deixou de ser uma possibilidade de maior participação desses mesmos trabalhadores no contexto político nacional, tendo como suporte o PTB (ibidem, p.39).

Assim, o partido trabalhista brasileiro, embora despontasse com uma estratégia atrelada aos planos eleitorais varguistas e com objetivos explícitos de garantir certo controle e cooptação dos trabalhadores, contribuiu também para que estes pudessem alçar projeções mais autônomas – além do fato disto repercutir diretamente nas próprias hostes petebistas, possibilitando, como já observamos, o ingresso e fortalecimento de quadros partidários mais afinados com as demandas reformistas e nacionalistas. Neste aspecto, embora as duas alas partidárias se conflitassem, e Lucilia Delgado (2011) tenha apontado o triunfo paulatino da facção reformista sobre a pragmática no decorrer da década de 50, entendemos que a existência de ambas as vertentes dentro de um mesmo partido, e as relações dialéticas entre elas que isso implica, geraram naturalmente uma troca mútua de influências que impediu completamente que o partido rompesse, ou sequer cogitasse romper, em essência, com as características do espólio político getulista.

Neste sentido, entendemos o desenvolvimento do PTB e de sua práxis política como um processo de avanço gradativo dos setores mais ideológicos, em meio ao próprio desenvolvimento do reformismo e do nacionalismo no país, e não como um processo de ruptura e exclusão, que não ocorreu nem mesmo em 1954 com a morte de Vargas. Embora a autora tenha se preocupado em salientar mais os aspectos de modificação da política partidária, defendendo uma mudança de orientação interna dos petebistas, indo do getulismo ao reformismo, ela não deixou de apontar por diversas vezes as características, já anteriormente mencionadas, que evidenciam a força

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considerável que este primeiro sempre teve dentro do PTB – de certa forma intrínseco às duas tendências e, portanto, absolutamente enraizado dentro do partido –, onde “a estratégia e marca do varguismo jamais se apagaram por completo na face e na prática política petebista” (ibidem, p.258). Assim, concluiu a autora que:

Todavia, a vertente reformista do PTB padeceu de uma limitação estrutural afeita à sua origem getulista e à prática política que o vinculou desde os primeiros anos de sua existência ao Estado. […] O vínculo com o Estado permeou a vida do partido, constituindo-se em um obstáculo definitivo à incorporação pelo próprio PTB do projeto reformista democrático que a maior parte dos petebistas defendia para a nação brasileira (ibidem, p.263).

Para Aguiar (1993), durante o final dos anos 50 e início dos anos 60 o PTB apresentou uma ideologia mais consistente, tendo o nacionalismo, o desenvolvimentismo e a assistência social norteado sua atuação política. Não obstante, o mesmo salientou que o populismo não estava erradicado do partido. Para tanto, argumentou que para conseguir seu triunfo eleitoral o partido dependia muito mais de líderes carismáticos, além dos sindicatos e dos institutos previdenciários, do que de sua consistência ideológica. Além disto, destacou os vínculos do partido com o PSD, partido de conhecida conexão com as oligarquias rurais. Aprofundando este aspecto, exemplificou como inclusive o próprio PTB, internamente, possuía ligações com os grandes proprietários de terras e o coronelismo em geral:

Fora do Rio de Janeiro e São Paulo, onde o PTB desfrutou de, inquestionavelmente, um forte apoio entre a classe trabalhadora urbana, este partido esteve incansavelmente envolvido com a política dos chefes locais, os coronéis, no caso do Nordeste. No Rio Grande do Sul, onde o trabalhismo era forte, desde a sua origem, o PTB era organizado e dirigido por latifundiários que se opunham às velhas oligarquias. Três destes grandes proprietários gaúchos – Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola – tornaram-se os mais importantes líderes do PTB nacional (ibidem, p.99).

De fato acreditamos que o PTB sempre carregou contradições desse tipo, envolvendo sua consistência ideológica (trabalhista) e os segmentos sociais que se aliava ou que dele faziam parte. Entretanto, acreditamos que os exemplos citados não significam que o partido estivesse comprometido com estas camadas sociais (“coronéis” e proprietários de terra), uma vez que, majoritariamente, defendia propostas de reforma agrária e planos nacionalistas e industrializantes que, em muitos aspectos, entravam em choque com as demandas agroexportadoras deste segmento social.

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O crescimento do PTB foi expressivo durante os anos que se seguiriam entre sua fundação e o golpe burguês-militar em 1964, passando de 22 deputados federais em 1945 para 66 em 1958, no auge do desenvolvimentismo industrialista, chegando a 116 em 1962, durante o fortalecimento dos sindicatos e dos movimentos sociais (BENEVIDES, 1976). Este progresso eleitoral – conforme apontado por Benevides (1976) – se deveu ao fortalecimento da mobilização política das classes subalternas; ao processo de urbanização e industrialização; e à aliança entre o PTB e o Partido Comunista, que por estar na ilegalidade, tendia a apoiar os candidatos trabalhistas – evidentemente, os mais alinhados com as pautas nacionalistas e reformistas.

Desta aliança com o PCB, destacou-se como primeiro contato o próprio movimento queremista, do qual os comunistas participaram, embora não estivessem vinculados aos planos continuístas de Vargas. Os entendimentos sofreriam resistências devido ao forte anticomunismo deste último, por um lado, e as resistências de algumas bases pecebistas, por outro, como já mencionamos anteriormente. Porém, no plano concreto da luta de classes, comunistas e trabalhistas foram gradativamente se convencendo da necessidade de aprofundarem relações mais amistosas entre si. Esta aproximação ocorreria, a priori, no movimento operário e sindical.

Já em 1952 os comunistas decidiram por voltar a atuar nos sindicatos oficiais, priorizando a aliança com o PTB. Os trabalhistas também acenaram com uma flexibilização ao autorizar no mesmo ano, via resolução do Ministério do Trabalho chefiado por Danton Coelho, a extinção do atestado ideológico para os dirigentes sindicais, contribuindo para a volta do PCB aos sindicatos. Como ato contínuo, houve uma grande greve geral em São Paulo em 1953 dirigida pelos comunistas e trabalhistas, que contou com a adesão de mais de 300 mil trabalhadores (SANTANA, 2003). Após a morte de Getúlio e o fortalecimento gradativo da tendência reformista dentro do PTB – que era muito menos avessa a um acercamento com o PCB –, este partido passou cada vez mais a atuar em associação com os comunistas, estendendo a aliança que ocorria no movimento sindical e de massas, para o plano político e eleitoral.

A unidade entre PCB e PTB possibilitava aos primeiros um aliado poderoso – e em crescimento – dentro do plano institucional, capaz de ser um elo importante entre os comunistas e os outros setores do movimento nacionalista, contribuindo para poder

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ampliar a frente popular a estratos cada vez mais amplos do campo político e social. Para os petebistas, a união com o PCB garantiria maior tranquilidade para manterem a hegemonia dentro dos espaços sindicais, assim como uma ajuda substancial nas campanhas eleitorais.

Acreditamos que, nos períodos que se seguiram, estes partidos sofreram fortes influências recíprocas, e no nosso entendimento, os resultados mais concretos desta aliança foram, para o PTB, a expansão progressiva do reformismo no seu discurso político, em que a unidade com os comunistas contribuiu decisivamente, e para o PCB, o aumento gradativo tanto da participação eleitoral como da adoção de um discurso mais moderado e confiante na institucionalidade, no qual a frente única com o PTB – e como consequência, as lutas cotidianas ombro a ombro com os trabalhistas – também foi um fator que merece ser levado em consideração.

Em Pernambuco, a força do PTB sempre foi consideravelmente menor do que a que possuía no cenário nacional. Segundo Pandolfi (1984), as lideranças sindicais ligadas ao Estado Novo foram cooptadas por Agamenon Magalhães, e dada à força expressiva que os comunistas possuíam na região metropolitana, as disputas sindicais se resumiam praticamente ao PSD e o PCB. Nas primeiras eleições após o fim do Estado Novo, os candidatos petebistas ao Senado obtiveram votações irrisórias. Mesmo lançando Getúlio Vargas como candidato, o PTB pernambucano foi ultrapassado até pelo PR, totalizando apenas 9.025 votos com seus dois candidatos.116 Para a Câmara

Federal, recebeu apenas 2,4% dos votos e não conseguiu sufragar nenhum deputado, logrando eleger apenas um parlamentar para a Assembleia Legislativa de Pernambuco. Nos anos que se seguiram o desempenho eleitoral do PTB local começou a melhorar significativamente, acompanhando em parte seu crescimento nacional, elegendo três deputados federais no estado em 1954, entre eles Josué de Castro, conhecido intelectual que presidia o Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e havia publicado importantes trabalhos sobre a temática da fome.117 Chegando a ser o terceiro principal partido no estado, o PTB obteve o maior número de vereadores para as eleições municipais na capital

116 Seu outro candidato ao pleito, Segadas Viana, auferiu os inexpressivos 1.930 votos, ficando em último

lugar. Getúlio Vargas obteve 7.095, muito atrás dos candidatos lançados pela UDN, PSD e PCB (PANDOLFI, 1984).

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pernambucana em 1955, quando nasceu a Frente do Recife, elegendo também o vice- prefeito, João Vieira de Menezes, com o apoio do PTN e do PCB. E nas eleições de 1958, como integrante das Oposições Unidas, o PTB assegurou a eleição de seis deputados federais e 13 deputados estaduais, além do senador Antônio Barros de Carvalho, sendo o segundo partido mais votado no âmbito legislativo, perdendo apenas para o PSD118 (ibidem).

Justamente devido à sua pouca inserção social, o PTB pernambucano padecia, em grau ainda mais elevado, das mesmas máculas que caracterizavam o partido desde sua fundação. Aguiar (1993) salientou que, praticamente em todo o Nordeste, o PTB surgia das querelas entre o PSD e a UDN, e que em Pernambuco o partido só começou a exercer alguma influência na política local quando um grupo de dissidentes pessedistas ingressou em suas fileiras. Segundo ele, “a principal característica ideológica do partido em Pernambuco permaneceu indefinida, pois o PTB dependia primordialmente de egressos dos outros partidos, mesmo para suas lideranças” (ibidem, p.100). O autor citou ainda como exemplos o fato do usineiro José Lopes de Siqueira Santos, conhecido direitista, além do empresário José Ermírio de Morais,119 proprietário do maior conglomerado industrial do país, terem se filiado e, consequentemente, se convertido em duas lideranças influentes do PTB pernambucano. No entanto, este caráter difuso e contraditório do partido não impedia que sua ala mais ligada ao sindicalismo possibilitasse o florescimento de lideranças de fato mais compromissadas com as reformas sociais e as demandas trabalhistas. Estes candidatos apoiavam de forma entusiasta a Frente do Recife e eram inclusive frequentemente apoiados pelo Partido Comunista, como veremos mais adiante.

Durante os governos pessedistas, o PTB sempre se manteve na oposição, inclinando-se diversas vezes no apoio à UDN. Neste sentido, o suporte oficial com que geralmente podiam contar os trabalhistas em sua inserção sindical não ocorria no estado. Desta forma, torna-se um fator ainda mais significativo para o partido em Pernambuco a aliança desenvolvida nacionalmente com o PCB. O apoio dos comunistas foi decisivo para que o PTB pernambucano pudesse conseguir crescer tanto

118 Obteve o maior número de deputados eleitos entre a coligação, contra apenas três da UDN e um do

PSB. Entretanto, o PSD ainda conseguiu eleger mais deputados federais, com um total de 10 (PANDOLFI, 1984).

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eleitoralmente como dentro dos sindicatos, vencendo as resistências dos sindicalistas governistas ligados ao PSD. Contudo, o PTB não possuía na região a exclusividade do apoio dos comunistas. Estes colaboravam com candidatos de vários partidos, desde que estivessem comprometidos com a plataforma nacionalista e democrática. Mesmo assim, muitos foram os candidatos do PTB que puderam contar com a ajuda pecebista. Para ilustrar melhor este aspecto reproduzimos o depoimento de Miguel Batista, sindicalista, membro do diretório regional do PTB e um dos vereadores eleitos por este partido em 1955, quando do surgimento da Frente do Recife:

Sempre tive nas minhas eleições que disputei o apoio dos comunistas, que era uma legenda que estava na ilegalidade, mas que sempre escolhia entre os candidatos dos diversos partidos aqueles, assim, mais vinculados aos interesses dos trabalhadores e do povo. Nesse particular sempre tive a

honra de receber o apoio dos comunistas em todas as eleições que eu

disputei no estado de Pernambuco (grifo nosso).120

Como mostraremos logo abaixo, as deficiências existentes dentro do PTB não eram desconhecidas dos comunistas pernambucanos, conforme o relato de Paulo Cavalcanti sobre as disputas internas com o PTB dentro da Frente do Recife – mais especificamente sobre a possibilidade do PTB indicar o candidato da chapa popular às eleições para a Prefeitura do Recife, em 1959:

Os candidatos de Barros [de Carvalho, líder estadual do PTB] eram a sua imagem e semelhança; quer dizer, tinha os vícios do PTB, o empreguismo... Quer dizer, entregar a Prefeitura do Recife ao PTB daquela época era retalhar a Prefeitura, os Departamentos, o Instituto de Previdência, dar a cada elemento do PTB os cargos; os elementos do PTB eram os mais facinorosos possíveis; […] Haviam uns tipos realmente muito comprometidos com a política. Quer dizer, com o que havia de pior na política. E então, houve uma resistência nata, de princípio, das Forças do Recife contra o PTB […] o tipo de política que as lideranças do PTB faziam era o mais reprovável, era um negócio totalmente amoral, aético.121

Podemos assim observar como o caráter fisiológico do PTB não era desprezado pelos comunistas pernambucanos, mas dentro de sua tática de frente popular o PTB não era um aliado que poderiam desconsiderar, ainda mais levando em conta a dimensão de seu poder sindical e eleitoral no cenário nacional. O PCB compreendia bem como os partidos políticos brasileiros careciam de unidade política e ideológica, e que, portanto, era preciso edificar “amplas coligações eleitorais, que levem à vitória os nacionalistas e

120 Miguel Batista. Entrevista concedida ao arquivo FUNDAJ em 19/02/1987. 121 Paulo Cavalcanti. Entrevista concedida ao arquivo FUNDAJ em 03/06/1982.

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os democratas”, mas sendo “necessário ter em vista a composição de classe mais ou menos heterogênea dos partidos políticos brasileiros, sem, entretanto, estabelecer identidade entre eles.”122

Das demais agremiações trabalhistas, podemos citar o Partido Trabalhista Nacional (PTN) e o Partido Social Trabalhista (PST). O primeiro foi fundado ainda em 1945, mantendo a inspiração varguista característica do trabalhismo brasileiro. Abrigou os primeiros dissidentes do PTB – como o empresário Hugo Borghi – e possuía uma linha mais centrista, tendo pouca expressão nacional, praticamente se resumindo ao estado de São Paulo. Mais tarde, acolheu em suas fileiras o então prefeito de São Paulo, Jânio Quadros, que havia deixado o Partido Democrata Cristão (PDC), e encampou suas campanhas vitoriosas para o governo paulista e, posteriormente, para a presidência do país, disputando diretamente contra a coligação PSD-PTB, de Henrique Teixeira Lott e João Goulart. Chegou a eleger um deputado estadual em Pernambuco em 1958 e dois em 1962.

Já o PST foi fundado em 1946, também por egressos do PTB. Em 1947, Armando Mazzo, conhecido líder operário e militante comunista se elegeu prefeito da cidade de Santo André (SP), após a cassação do registro eleitoral do PCB. Ele e Manoel Rodrigues Calheiros, em Jaboatão, foram os primeiros prefeitos comunistas eleitos no Brasil. Todavia, Mazzo não conseguiu tomar posse, em virtude de uma decisão do TSE que invalidou as candidaturas do PST na cidade, devido ao fato de terem emprestado sua legenda ao PCB, que havia sido proscrito pela Justiça Eleitoral. A própria direção