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CAPÍTULO II – A INDUSTRIALIZAÇÃO, O NACIONALISMO E A

2.4 Os comunistas e o movimento nacionalista no Brasil

Paralelamente ao início da queda do Estado Novo, as massas populares anunciavam sua participação definitiva – embora nem sempre autônoma – na política nacional. As campanhas queremistas45 – traduzidas principalmente na defesa das conquistas sociais e trabalhistas dos anos anteriores – precipitavam a força crescente que as camadas laboriosas teriam dentro das novas disputas políticas. Dentro deste cenário, e com a influência decisiva do getulismo, é criado o Partido Trabalhista Brasileiro, que analisamos mais adiante no terceiro capítulo. Diante desta situação, e levando em consideração o contexto mais amplo, com o advento da anistia, da maior liberdade política e da aliança internacional contra o nazifascismo, os comunistas brasileiros optaram por uma política mais ampla possível, denominada de União

Nacional, sintetizada pelo Partido nos seguintes termos:

45 Movimento de massas, ocorrido em 1945, que reivindicava a constituinte com Getúlio Vargas na

presidência, a fim de assegurar os direitos trabalhistas conquistados durante o Estado Novo. Teve a participação dos trabalhistas e também certo apoio dos comunistas (SKIDMORE, 1982).

61 A União Nacional é necessária e indispensável ao progresso do país. A União Nacional é, sem dúvida, possível nas condições atuais da nossa terra. É a grande aspiração das massas, trabalhadoras. E não são poucas nos últimos tempos as manifestações de homens de prestígio, dirigentes muitos deles das mais conhecidas e tradicionais associações patronais, reconhecendo a necessidade da União Nacional como único caminho acertado através do qual poderemos resolver os graves problemas da economia nacional (PRESTES, 1947).

O PCB decidiu por participar das campanhas queremistas, embora muito mais pela necessidade imperiosa de escolher o lado dos trabalhadores diante de um acirramento dos conflitos de classe e da polarização social. O contexto envolvia, por um lado, o desmantelamento iminente do Estado Novo e os temores que as camadas populares possuíam de que uma nova constituinte sem o presidente Vargas na presidência pudesse colocar em risco suas conquistas anteriores – principalmente a legislação trabalhista –, e por outro, o fim da política econômica nacionalista representada na aprovação da lei antitruste, aprovada em junho de 1945. Não foi fácil ao PCB tomar posição junto a Vargas naquele contexto, devido à sangrenta luta ocorrida em 1935.46 No entanto, ela não partiu de acordos de cúpula, e sim das lutas de massa ocorridas nas ruas, em que os interesses da classe operária estavam em jogo, conjuntamente com a legitimidade do PCB – sobretudo enquanto “vanguarda do proletariado”47 – em relação a este segmento.

Depois da queda de Vargas, em virtude de um golpe militar implementado pelos setores mais reacionários do meio político e militar, o processo eleitoral foi mantido. Segundo Segatto (1989), não havia condições para que as elites conservadoras e o imperialismo pudessem implantar outro regime ditatorial, impedindo assim um retrocesso político e garantindo-se – ao menos naquele momento – as conquistas democráticas e a liberdade política. Além destas, os direitos trabalhistas alcançados também foram mantidos, assim como a convocação de um processo para a elaboração de uma nova Carta Magna. Nas eleições que se seguiram para os órgãos legislativos e executivos, além da Assembleia Constituinte, o PCB demonstrou um gigantesco

46 Referente à insurreição armada liderada pela Aliança Nacional Libertadora e pelo PCB, nas cidades de

Recife, Natal e Rio de Janeiro, e que foi brutalmente reprimida pelo governo Vargas nos anos subsequentes, levando à desarticulação e destruição da maioria das bases partidárias (PACHECO, 1984).

47 Concepção leninista, referente a um partido “de vanguarda”, cujo objetivo é dirigir e liderar a classe

operária, através dos conhecimentos científicos da sociedade baseados no marxismo, para sua emancipação.

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crescimento.48 Prestes foi eleito o senador mais votado do país e os comunistas

chegaram a eleger vários deputados e vereadores em todo o país. Entretanto, durante o governo Dutra o Partido foi novamente posto na ilegalidade. Curiosamente, o pedido de cassação partiu inicialmente de um membro do PTB, deputado Barreto Pinto.49 O argumento utilizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi o de que o PCB era um organismo “estrangeiro, a serviço da União Soviética” e que o partido exercia “ação nefasta, insuflando luta de classes, fomentando greves, procurando criar ambiente de confusão e desordem”.50 Sem embargo, o principal objetivo era frear o crescimento eleitoral do Partido, bem como abrir caminho para intensificar a repressão sobre os movimentos sociais já iniciada pelo governo federal. Era também o alinhamento definitivo do Brasil aos Estados Unidos, dentro do quadro da Guerra Fria que se iniciava. Todos os mandatos comunistas foram cassados, excetuando-se apenas os que foram eleitos por outras legendas, como o próprio prefeito de Jaboatão, Manoel Rodrigues Calheiros. A Confederação dos Trabalhadores do Brasil foi igualmente declarada ilegal, e o governo interveio em 143 sindicatos, acusados de estarem “infiltrados” por comunistas, apenas em 1947, chegando ao total de 400 até o final do governo Dutra (SEGATTO, 1989).

Diante deste quadro, o Partido decidiu alterar sua política de “União Nacional”, lançando manifestos explicitando suas posições. O primeiro, lançado em 1948, apontava que era necessário:

Fazer uma autocrítica da política empregada no período anterior que, segundo o Manifesto, caracterizou-se como uma política de aliança com a burguesia-progressista e pela pouca atenção às lutas dos trabalhadores rurais que seriam os grandes aliados do proletariado (ASSIS & GONÇALVES, 2009).

Em agosto de 1950, o Partido lançou divulgou outra declaração, onde denunciava Vargas como “velho tirano”, bem como culpava o PSD e a UDN pelas políticas de “traição nacional”. O manifesto, escrito pelo secretário-geral Luís Carlos Prestes, assinalava a criação da Frente Democrática de Libertação Nacional (FDLN),

48 O número de militantes do Partido em todo o Brasil chegou às incríveis cifras de, aproximadamente,

180 mil membros (SANTANA, 2003).

49 Ironicamente, o próprio deputado também não terminaria seu mandato, se tornando o primeiro político

brasileiro cassado por quebra de decoro parlamentar, apenas dois anos depois da cassação do PCB e de seus parlamentares.

50 Tribunal Superior Eleitoral. Resolução 1.841 de 07 de maio de 1947. Disponível em:

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cujo objetivo era ser o embrião de uma nova ANL, destacando em várias passagens o papel de hegemonia e direção da classe operária:

Mas, para os senhores das classes dominantes – os grandes comerciantes e industriais, os banqueiros e latifundiários não há outra saída para os problemas brasileiros senão através dessa submissão crescente ao dominador americano [...] classes caducas e impotentes, incapazes de resolver qualquer problema nacional, [...] diante dos perigos que ameaçam os destinos da nação, apresentamos a única solução viável e progressista dos problemas brasileiros – a solução revolucionária – que pode e há de ser realizada pela ação unida do próprio povo com a classe operária à frente.51

Em nenhum momento o documento se refere aos setores “progressistas” da elite econômica, traduzindo desta forma uma radical mudança de sua política anterior. A posição do PCB adotada neste momento – e posteriormente avaliada pelos próprios comunistas como “sectária” – se motivava, sobretudo, pelo isolamento forçado a que foi submetido o Partido. As suas esperanças de construção de um bloco progressista e de “União Nacional” falharam, apontando-lhe claramente as debilidades do novo sistema democrático e as dificuldades de conseguir construir alianças políticas e sociais minimamente duradouras. O caminho da revolução brasileira passaria então pela “luta armada pela libertação nacional, contra a ditadura terrorista”.52

No entanto, no início da década de 50 a conjuntura do país começou a mudar e uma nova polarização social e uma divisão inter-burguesa começavam a se gestar durante o segundo governo Vargas. Estes fatores foram motivados pelo crescimento do movimento nacionalista e a iminência de um golpe militar apoiado pela UDN e pelos Estados Unidos, culminando no suicídio de Vargas, que se negou a renunciar.

Foi durante as mobilizações em prol da estatização do petróleo que as posições acerca de como deveria ocorrer o desenvolvimento nacional deixaram de ser debatidas apenas por intelectuais e políticos, passando a envolver as mais amplas massas populares. A campanha que teve o slogan “O petróleo é nosso” envolveu milhões de pessoas em debates e manifestações de rua, além de representar definitivamente a consolidação do nacionalismo, enquanto concepção de desenvolvimento econômico e social, na cena política brasileira (CAVALCANTI, 1978). Para Skidmore (1988), “o nacionalismo econômico […] poderia ser muito útil como meio de edificar um consenso

51 Problemas: Revista Mensal de Cultura e Política. ago./set. 1950. 52 Idem.

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popular. O nacionalismo era um sentimento que podia unir brasileiros de diversas classes e setores, dar-lhes um senso de comunidade” (p.143). Ainda segundo o autor, a expressiva participação popular na campanha teria demonstrado pela primeira vez a força do proletariado urbano, gerando em consequência certos temores nas classes médias e nas elites econômicas de que este se projetasse com maior autonomia (ibidem). Porém, como já observamos, esta efervescência política do proletariado brasileiro começara anos antes nas campanhas queremistas, sendo as jornadas pela nacionalização do petróleo uma nova evolução deste quadro, onde desta vez a ascensão do nacionalismo poderia demonstrar a possibilidade real de uma união mais duradoura e consistente entre distintas classes sociais e segmentos políticos. Em 1953, a Petrobras foi criada, garantindo uma vitória ao movimento. Para Cavalcanti (1978), a consequência mais direta e o resultado mais importante da campanha foi a criação de uma ampla consciência nacionalista no seio de todo o povo, criando as bases concretas para a consolidação de uma expressiva frente popular e de massas. Desta forma, podemos afirmar que, se o processo industrializante estabelecera as condições objetivas para a constituição da frente popular, foi o nacionalismo que, potencialmente, criava suas bases subjetivas.

Foi neste contexto que o PCB começou a reformular sua atuação, criando a Liga de Emancipação Nacional, através da Convenção pela Emancipação Nacional ocorrida em 05 de abril de 1954, com o objetivo de aglomerar os setores patrióticos e nacionalistas em torno de uma luta única. Seu documento final, a Carta da

Emancipação Nacional, se converteu em um verdadeiro apelo à construção de uma

ampla frente multiclassista:

A bandeira da mais ampla unidade está assim desfraldada. Com base nesta unidade, todas as forças democráticas e patrióticas de nosso povo são concitadas, acima dos horizontes partidários e concepções particulares de

cada um, para a realização do grande esforço comum, capaz de emancipar

econômica e politicamente nossa querida pátria […]. Conclamamos finalmente todo o povo brasileiro – industriais, funcionários, intelectuais, operários, profissionais liberais, camponeses, comerciantes, militares, estudantes, donas de casa e magistrados – a manifestar o seu apoio a este patriótico movimento (grifo nosso).53

53 Carta da Emancipação Nacional. 05 abr. 1954. Seu conteúdo foi reproduzido na íntegra no anexo A, na

página 196, e também está disponível em:

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No IV Congresso do PCB, ocorrido em novembro do mesmo ano, os comunistas realizaram um balanço positivo de sua atuação e os êxitos da LEN. Segundo Luís Teles, dirigente do Partido, com a LEN elevou-se a um novo patamar a luta do povo brasileiro pela sua libertação, “materializando o sentimento de orgulho nacional, que desperta nosso povo para a unidade e para a ação, a LEN coordenou, numa única organização, a poderosa corrente do movimento antiimperialista que vinha se desenvolvendo no Brasil”.54

Segundo nos informou José Maria, a Liga de Emancipação Nacional atuava em consonância com a comunidade e os poderes públicos, discutindo projetos voltados à questão da soberania nacional.

A Liga de Emancipação juntava aproximadamente, sobre qualquer assunto, qualquer projeto do governo ou de índole que chegava no congresso [...] eles desciam para o estado fazer uma palestra sobre aquele projeto, se era bom ou mau. Daí, colhendo as informações de pessoas do estado, do bairro, da cidade, eles iam propor modificações naquela proposta [...]. A Liga de Emancipação era uma fábrica de projetos, qualquer assunto nacional era discutido coletivamente com a comunidade, no sindicato, nas associações.55

Podemos então observar claramente uma nova mudança tática no PCB, entendendo que não apenas deveria apoiar o movimento nacionalista em avanço, como contribuir decisivamente em sua direção. Os comunistas novamente passaram a defender a construção de uma ampla frente policlassista, em paralelo às discussões da realidade brasileira e o caráter da revolução que almejavam. Contudo, em seu IV Congresso, ocorrido em 1954, surgiram inquietações sobre o completo entendimento pelo conjunto do Partido das análises e posições adotadas, em especial sobre o papel da burguesia nacional no desenvolvimento do processo revolucionário no país. Para melhor exemplificarmos tais questões, reproduziremos a preocupação de Diógenes de Arruda Câmara, dirigente nacional do PCB, em seu informe no IV Congresso do Partido:

Estão equivocados os que supõem que, para ganhar a burguesia nacional para a Frente Democrática de Libertação Nacional, deve ser amainada a luta de classes. […] Unir-se com a burguesia nacional, sem deixar de lutar contra ela, é uma parte importante da linha do Partido. Na defesa de seus interesses de classe, o proletariado e a burguesia nacional se chocam, mas o proletariado e a burguesia nacional têm interesses comuns na luta contra o

54 Voz Operária. 18 dez. 1954.

66 imperialismo norte-americano e contra o regime de latifundiários e grandes capitalistas a serviço dos Estados Unidos.56

Para Arruda, esta incompreensão das análises nas fileiras do Partido ocorria, acima de tudo, pela não assimilação de que a luta de classes não se dava apenas no terreno econômico, mas também no ideológico e político – sendo este o espaço último e decisivo, por se tratar da luta pelo poder. Ademais, o não entendimento também seria derivado da falta de compreensão sobre o caráter heterogêneo da Frente Democrática de Libertação Nacional – tal como a LEN –, embora o papel de direção coubesse inquestionavelmente à classe operária.57

Neste sentido, a aliança com o PTB era não apenas uma opção tática, mas um caminho crucial para que o Partido conseguisse transcender os limites impostos pelos preconceitos ideológicos existentes e pudesse contribuir na edificação de uma ampla frente nacionalista. O PTB era justamente o partido que, além de contar com forte inserção nos meios operários e também nas classes médias urbanas, contava com a simpatia de certos círculos industriais, sendo o ponto de partida para que os comunistas brasileiros chegassem às mais amplas camadas sociais. Com a crise política que culminou no suicídio de Vargas, multidões saíram às ruas contra possíveis intentos de golpe de Estado, tendo a carta testamento de Vargas dado uma grande contribuição para as posições nacionalistas (SKIDMORE, 1988). Getúlio Vargas era uma figura bastante odiada pelo conjunto dos militantes pecebistas, e sua morte possibilitou um maior entendimento entre o PCB e os setores trabalhistas, bem como com as massas proletárias que reivindicavam o legado getulista. Carlos Marighela, dirigente do PCB, assim se expressou no IV Congresso do Partido acerca dos acontecimentos e da nova conjuntura que se apresentava para os comunistas brasileiros:

Os acontecimentos de 24 de agosto58 trouxeram, porém, um novo reforço à

nossa tática de frente única. Em consequência do golpe de Estado e da deposição e morte de Vargas, surgiram no país novas condições que facilitavam uma estreita ligação com as massas getulistas […]. A aliança entre comunistas e getulistas era justa e necessária, era exigida pelas massas.59

56 Problemas: Revista Mensal de Cultura e Política. dez./fev. 1954-1955. 57 Idem.

58 Data do suicídio de Vargas, seguido pela posse de Café Filho na presidência e de vários protestos

populares em fúria contra a UDN, veículos de imprensa e personalidades antigetulistas, como o jornalista e político udenista Carlos Lacerda.

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Consolidava-se a aliança no terreno essencialmente prático, nas ruas, entre o PCB e o PTB. A força da luta objetiva das massas nas praças e avenidas dos grandes centros urbanos do país passava por cima das resistências de alguns setores das cúpulas partidárias. Segundo Marighela, houve certas objeções tanto de membros da executiva nacional do PTB, quanto de vários setores do PCB, que não conseguiram “compreender e realizar com rapidez essa mudança tática. Houve vacilações e resistências, difíceis de vencer no curto prazo de que dispúnhamos para nos movimentar.”60 Em seguida, concluiu o dirigente que, apesar das dificuldades, sobretudo se tratando da campanha eleitoral de 1954, o resultado foi positivo, tendo o PCB orientado suas bases para formar alianças com o PTB onde fosse possível:

A frente única com as massas getulistas e com o PTB trouxe grandes vantagens políticas. Inúmeros diretórios do PTB passaram a colaborar com os comunistas, nossas palavras de ordem puderam se estender a setores populares mais amplos e o trabalho de organização das massas se ampliou. [...] O fio condutor da nossa tática eleitoral em face dos candidatos a governadores foi o da aliança com o PTB ou com aqueles que, seja qual for o Partido, se colocaram em oposição ao golpe de 24 de agosto e em defesa da Constituição.61

Foi dentro deste contexto que o PCB declarou seu apoio à candidatura de Juscelino Kubitschek, do PSD, em 1955. A coligação PSD-PTB contou com o apoio ativo dos comunistas, que esperavam vencer os intentos golpistas e estreitar os laços com os trabalhistas e as massas operárias defensoras do legado getulista, garantindo também, conforme exposto por Gregório Bezerra, o abrandamento da repressão sobre o PCB e maior liberdade de ação para o Partido.62

Não obstante, em que pese os avanços do governo observados no período, tanto no programa industrializante como no abrandamento da repressão sobre o PCB, o governo de Juscelino desagradou aos comunistas em alguns aspectos importantes. O processo industrializante de cunho desenvolvimentista era alicerçado fortemente em capitais estrangeiros, indo de encontro à plataforma nacionalista. Outra atitude que causou muita insatisfação dentro do Partido foi o próprio fechamento da Liga de Emancipação Nacional, ordenado pelo presidente com base na Lei de Segurança Nacional, em 1956. Para o PCB, a medida foi totalmente inesperada e causou “uma

60 Problemas: Revista Mensal de Cultura e Política. dez./fev. 1954-1955. 61 Idem.

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profunda e penosa repercussão”, sendo esta ação um “atentado à Constituição [e que] serve ao imperialismo americano”.63 A proibição da LEN provocou protestos não

apenas dos comunistas, como também de vários políticos e parlamentares nacionalistas que a viam com simpatia. Embora não tenha sido fácil para boa parte das bases pecebistas assimilarem as mudanças táticas, e inclusive delas discordarem, o fechamento da LEN64 ocorrido no governo de Juscelino apenas comprovava seu enorme sucesso político alcançado.65

De fato, houve um grande esforço da direção nacional do Partido para tentar explicar a linha política e combater as posições mais hostis à unidade com os setores trabalhistas ou diretamente ligados às classes dominantes. Já no IV Congresso do PCB, os comunistas avaliaram criticamente sua atuação dentro da Liga, não tendo o Partido jogado “todas as suas forças para ajudar a transformar a LEN na poderosa organização patriótica e de massas que deve e pode ser”, reconhecendo que o sectarismo ainda seria a principal dificuldade dos comunistas para atuarem dentro desta ampla frente social e política, dificultando assim “o desenvolvimento da frente única e a ligação mais estreita do Partido com as massas.”66

Dentro do Partido, as disputas ideológicas em torno das novas concepções táticas e estratégicas são arrefecidas pelos contínuos sucessos que o PCB obteve através dos processos eleitorais. Contribuindo para recuperar a confiança de atuação dos comunistas brasileiros junto ao Congresso Nacional, em 1956 foi criada a Frente Parlamentar Nacionalista, praticamente no mesmo período em que a LEN foi fechada, reunindo os parlamentares adeptos das posições patrióticas e antiimperialistas. Segundo Lucília Delgado (1994), esta aliança institucional visava lutar, dentro dos espaços legislativos, pela aprovação de leis e medidas favoráveis às pautas nacionalistas, até então em auge no cenário nacional. Conta a autora que, na declaração oficial de

63 Imprensa Popular. 14 jun. 1956.

64 Segundo o relato de José Maria, mesmo fechada formalmente, a Liga de Emancipação Nacional

continuou existindo extraoficialmente no estado, reunindo as personalidades e os partidos de esquerda e em colaboração direta com a Frente Parlamentar Nacionalista, discutindo com os setores populares as