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4 A COORDENAÇÃO DA QUALIDADE E O AGENTE COORDENADOR

4.4 O Agente Coordenador nas Cadeias de Produção Agroalimentar

O agente coordenador pode ser uma empresa de um segmento da própria cadeia, um grupo de profissionais com representantes de cada segmento, uma empresa organizada e contratada para exercer tal função, uma instituição governamental ou mesmo uma associação representativa da cadeia.

Como o método proposto é um instrumento de apoio à função de gerenciamento do agente coordenador, cabe a ressalva de que é fundamental a definição de uma estrutura de governança adequada para que o agente coordenador consiga integrar o método para coordenação da qualidade (MCQ), apresentado no Capítulo 6, em suas tarefas e integrar-se o mais eficientemente possível com os segmentos da cadeia produtiva.

O agente coordenador poderia executar um papel na cadeia de produção agroalimentar muito semelhante ao papel assumido pela Autoridade de Segurança Alimentar da União Européia, criada para garantir um nível elevado de proteção a saúde dos consumidores.

A Comissão das Comunidades Européias (CCE) declara que “o papel de uma Autoridade de Segurança Alimentar deve ser definido no contexto do processo de análise dos riscos, que abrange a avaliação, a gestão e a comunicação dos riscos” (CCE, 2000, p. 16).

Para a CCE (2000), a avaliação dos riscos envolve o recolhimento e análise de informações exaustivas acerca de como são produzidas, processadas e distribuídas as matérias-primas agropecuárias até chegar ao consumidor final; a gestão dos riscos consiste em garantir que a legislação e pareceres baseados em conhecimento científicos e nos desejos e necessidades da sociedade seja cumprida pelos Estados membros; a comunicação dos riscos consiste em garantir que os consumidores recebam toda a informação necessária para estarem cientes da qualidade dos alimentos que consomem, com o intuito de diminuir o risco de surgirem receios injustificados.

A estrutura do agente coordenador poderia ser semelhante à estrutura das

interprofesionales, ou inter-profissionais espanholas, ou seja, ser uma instituição

constituída por representantes dos diversos segmentos da cadeia de produção.

Tais organizações atuam como agentes coordenadores das cadeias que representam e são entendidas como “entidade constituída por organizações representativas dos empresários da produção, da transformação e da comercialização de um serviço ou produto incluído dentro do sistema agroalimentar30” (MAPA, 2003).

Segundo o MAPA (2004), as funções das organizações inter- profissionais são: melhorar a transparência e eficiência dos mercados, melhorar a qualidade dos produtos e processos, realizar ou incentivar a pesquisa e desenvolvimento, promover os produtos do sistema que representa, melhorar a informação aos consumidores, desenvolver ações de melhoria do meio-ambiente, regular e permitir a adaptação da oferta e demanda para conseguir preços mais vantajosos aos agentes do sistema agroalimentar que representa, elaborar contratos compatíveis com a normativa da União Européia.

As inter-profissionais são constituídas por Juntas Diretoras (Juntas

Directivas) constituídas por representantes de cada segmento do sistema ou CPA que

representa. Por lei, cada inter-profissional deve representar, ao menos, 35% de todos os agentes do sistema ou cadeia em questão (MAPA, 2003).

Cada decisão tomada pela inter-profissional é decidida por votação feita pelos integrantes da junta diretora e é estendida a todos os agentes que representa.

Tais decisões são consideradas recomendações, mas podem se transformar em extensión de norma se comprovada sua importância e reconhecida pelos órgãos públicos responsáveis pelo controle agroalimentar das Províncias envolvidas pela ação da inter-profissional e, posteriormente, pelo MAPA.

Como ilustração, é descrita a organização inter-profissional intitulada

Organización Interprofesional Láctea (INLAC) de modo bastante breve.

A INLAC, criada em 28 de outubro de 2000, tem por objetivos aqueles descritos anteriormente, aplicados no setor lácteo espanhol.

30 Para o MAPA (2004), o sistema agroalimentar é aquele formado pelo conjunto dos setores agrícola,

pecuário, florestal e pesqueiro, assim como as atividades de comercialização e de transformação de seus produtos.

A INLAC é integrada igualitariamente pela Asociación Agraria de

Jóvenes Agricultores (ASAJA), pela Unión de Pequeños Agricultores (UPA), pela Coordinadora de Organizaciones de Agricultores y Ganaderos (COAG), pela Confederación de Cooperativas Agrarias de España (CCAE) que representam 5% das

indústrias lácteas espanholas de transformação e pela Federación Nacional de

Industrias Lácteas (FENIL) que representa os outros 95% das indústrias lácteas

espanholas de transformação.

A Junta Diretora da INLAC é atualmente constituída por presidente (representante da ASAJA), 1o. vice-presidente (representante da FENIL), 2o. vice- presidente (representante da UPA), secretário (representante da COAG), tesoureiro (representante da CCAE) e por cinco conselheiros (outros representantes da ASAJA, FENIL, UPA, COAG e CCAE).

A estrutura das inter-profissionais são menos centralizadas do que outras instituições coordenadoras, como o AGWEST do programa SQF 200031.

Espera-se que as decisões tomadas, por exemplo, pela INLAC, sejam mais representativas e tenham maior efeito coordenador do que aquelas tomadas por instituições mais centralizadores, pelo simples fato das tomadas de decisão serem trabalhadas por representantes de toda os sistema agroalimentar.

Nesse ponto, a figura do agente coordenador introduzido pelo presente trabalho, tende a adotar uma estrutura semelhante à das inter-profissionais, tendo por objetivos principais aqueles descritos anteriormente, ou seja fazer com que as informações relacionadas à qualidade de produto/processo sejam identificadas, transmitidas e controladas ao longo da CPA.

Relembrando, esse agente coordenador poderia ser um segmento da própria cadeia ou um grupo com representantes de cada segmento, uma empresa contratada para exercer tal função, uma instituição governamental ou mesmo uma associação referente a um determinado setor.

Caberá à presente pesquisa visualizar qual seria a melhor estrutura para o agente coordenador para determinadas situações específicas.

A Figura 4.5 resume as principais tarefas que poderiam ser executadas pelo agente coordenador, organizando-as em quatro classes: gestão do sistema de

informações e de comunicação, identificação de problemas e oportunidades de melhoria, análise de causas e planejamento de melhoria, bem como o acompanhamento da implementação dos planos de melhoria e avaliação dos resultados obtidos.

Organizar Reuniões 2 3 4 1 sobre para Gerenciar Sistema de Informações Funções do Agente

Coordenador Identificar Problemas e Oportunidades de Melhoria

- Tratamento de Problemas; - Análise de Causas dos Problemas e - Definição de Plano de Ações de Melhoria.

Acompanhar Implementação e Resultados

- Requisitos da Qualidade do produto final;

- Requisitos da Qualidade do produto para cada segmento; - Requisitos de Gestão da Qualidade;

- Situação atual do atendimento dos Requisitos da Qualidade do Produto; - Situação atual da aplicação das práticas de Gestão da Qualidade; e - Indicadores de Desempenho da cadeia e de cada segmento.

Fonte: Elaboração própria.

FIGURA 4.5 – Ações do Agente Coordenador na Cadeia de Produção