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O algodão da fiação à tecelagem

No documento A flor do campo (páginas 37-40)

A INDÚSTRIA ALGODOEIRA EM PERSPECTIVA

PROPRIEDADES TÊXTEIS

1.5. O algodão da fiação à tecelagem

As invenções técnicas apresentam-se como uma peça fundamental no desenvolvimento da indústria têxtil. Desde os tempos mais remotos à actualidade, o homem tem procurado responder a desafios que a sua própria condição de vida coloca, libertando a sua imaginação em prol da comodidade e do melhor aproveitamento dos recursos naturais e dos elementos culturais que o circundam. Muitas invenções surgem como engenhocas, desafios e tentativas de resposta a dificuldades ou ainda para procurar rentabilizar algo que já existe. Transformam-se em progressos que de um modo ou de outro facilitam o dia-a-dia e libertam o homem para outras funções.

Entre os inventos associados à indústria têxtil não poderíamos começar sem uma referência particular ao fuso, à roca e à roda de fiar. A descoberta do fuso, que se julga ter sido há cerca de 5000 a.C, aumentou o rendimento do trabalho e qualidade do fio. O fuso é constituído por uma haste de madeira, com volante fixo na parte inferior, que se faz rodar para torcer as fibras e transformá-las em fio. A roca surge como acompanhante deste elemento, servindo de suporte às fibras a fiar. A roda de fiar tem as suas origens envoltas em mistério (até porque é antecedida pela descoberta da própria roda) e pode ser posta em movimento à mão ou com o pé. Através da adição de alguns dispositivos específicos, pode torcer e enrolar o fio e é hoje um processo totalmente mecanizado.

As inovações num período mais avançado, sobretudo a partir do séc. XVI, assumem um carácter contínuo no progresso da actividade manufactureira, sendo já um prenúncio para inovações futuras, já no âmbito da maquinização.

Leonardo da Vinco (1500) com a roda de fiar, Joahn Jurgen (1530) com a roda de fiar para fibras longas, Abraham Hill (1664) com a tentativa de mecanização da cardagem, Gennes (1678) com o seu tear mecânico, Lewis Paul (1738) com a sua máquina de fiação provida de cilindros de torção, Dubreuil (1742) e a sua máquina de estirar algodão e tantos outros até Arkwright que em 1769 patenteia uma máquina automática de fiação melhorando a de Lewis Paul, de 1738, são exemplos significativos nestes progressos técnicos associados à indústria têxtil. Aliás, o sistema de Arkwright persistiu durante mais de cem anos sem grandes alterações e permitiu introduzir fundamentos modernos na actividade fabril.

Desde essa altura que o processo de fiação tem sofrido constantes inovações. Como se pode constatar:

A Flor do Campo, L. 29 • Fiação por rotor - também conhecido por fiação "open-end", um método não

convencional de sucesso sobretudo na fiação de fibras de comprimento muito curto; • Fiação coverspun - desenvolvido pela Leesona Corporation dos EUA, que consiste

em fazer passar a mecha por um sistema de estiragem e entrar pelo interior de um fuso oco, no qual se encontra montada uma bobina contendo o filamento contínuo que se enrola à volta das fibras dando assim coesão ao fio;

• Fiação por vortex de ar - um processo pneumático de fiação que utiliza energia cinética de um vortex de ar para formar o fio:

• Fiação Axispinner - numa só operação consegue produzir a partir da fita ou mecha um fio retorcido a dois cabos perfeitamente equilibrados;

• Fiação Bobtex - que surgiu em 1973 e foi inventado por Emillean e Andrew Bobkowicz, um processo em que o fio de alimentação é introduzido por uma fieira que extrude uma resina polimérica à sua volta,

• Fiação DREF - sistema desenvolvido pelo Dr. Ernest Feher e em que o fio é produzido por fricção entre dois cilindros que giram em contacto no mesmo sentido. Concluída a fiação, um outro capítulo da indústria têxtil se segue - a tecelagem -, outrora manual e hoje em dia mecânica na quase totalidade dos tecidos fabricados, uma vez que os teares manuais assumem actualmente um carácter artesanal e secundário, muito embora preservem a sua importância cultural e até económica.

Os tecidos são produzidos pelo cruzamento da teia com a trama, usando para isso os teares ou as máquinas de tecer. Por teia devemos entender o sistema de fios paralelos ao comprimento do tecido como ele é produzido. Quanto à trama é o sistema dos fios paralelos à largura do tecido. Os fios da trama são cruzados um a um com os fios da teia que se encontram previamente dispostos no tear.

Outro elemento fundamental na tecelagem tem a ver com a força motriz utilizada. Outrora, quando a tecelagem era manual, a força motriz provinha directamente do esforço que o homem fazia através dos braços e das pernas, com os quais accionava as diferentes partes do tear (pedais, manípulos, batentes, alavancas). Na tecelagem mecanizada os movimentos são accionados por uma fonte de energia mecânica.

A tecelagem passa então por algumas fases, a saber:

• Urdidura - construção de uma teia com fios paralelos, individualizados e com comprimento e tensão iguais. Este sistema é enrolado num eixo chamado "órgão".

• Abertura da Cala - através da maquineta (uma série de alavancas), certos fios levantam e outros baixam, fazendo com que a teia fique dividida em duas partes: a dos fios que sobem e a dos fios que descem. A diferença de nível entre essas partes designa-se "cala".

• Encolagem - é importante para fazer diminuir as quebras e as consequentes paragens do tear. A encolagem faz-se assim pela aplicação de uma substância coloidal adesiva e filmogénea e que aumenta a resistência do fio e a qualidade do tecido produzido.

• Passagem da lançadeira - montada a teia, a lançadeira é transportada de um lado para o outro do tear, através da cala, deixando em cada passagem um fio de trama. A lançadeira possui uma bobina de trama que se chama "canela", previamente enchida noutras bobinadoras especiais chamadas "caneleiras".

• Movimento do batente - o batente é uma peça oscilante que ocupa toda a largura do campo da tecelagem da máquina de tecer e onde está montado o pente. Por sua vez o pente é constituído por uma série de lâminas paralelas colocadas em espaços iguais. As lâminas em si designam-se de "puas" e entre elas há um espaço designado de "casas". É precisamente a passagem dos fios pelas casas na fase de montar a teia que se chama "picar o pente" ou "picado".

• Desencolagem - eliminação dos produtos utilizados na encolagem já depois da tecelagem, que é executada através da lavagem do tecido numa solução aquosa (os produtos utilizados são solúveis).

Para além destas fases fundamentais no processo de tecelagem, MELO E CASTRO (1981, p.67) refere ainda a importância dos seguintes movimentos auxiliares: "a) enrolamento do tecido; b) desenrolamento da teia do órgão; c) regulador do enrolamento do tecido; d) movimento das caixas para seleccionar a lançadeira que deverá ser lançada; e) movimento de "caça trama" para parar o tear quando uma passagem parte ou a trama acaba na lançadeira; f) movimento do "caça teia" ou do "quebra teia" para parar o tear quando parte algum fio da teia; g) movimento do pente móvel, em teares leves, para evitar que a lançadeira fique entalada na cala quando esta, por qualquer motivo, não chega à respectiva caixa; h) movimento do pente fixo, em teares pesados, para parar o tear quando a lançadeira não chega à caixa":

A Flor do Campo, L 31

No documento A flor do campo (páginas 37-40)