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Os dados tecnológicos e de produção

No documento A flor do campo (páginas 143-149)

FLOR DO CAMPO

2.3. Os dados tecnológicos e de produção

Um dos mais próximos colaboradores de Abílio Ferreira de Oliveira, o fundador do da fábrica referiu nas comemorações destas bodas de prata a propósito das condições tecnológicas desta que as mesmas são as melhores, considerando não haver dúvidas que era "uma das mais modernas e mais bem apetrechadas organizações têxteis do país".

Na verdade, a fábrica representava na altura um extraordinário "empório industrial", na expressão de várias afirmações que nos surgiram na nossa investigação, reafirmando simultaneamente os aspectos de modernidade e de bom apetrechamento da fábrica, fazendo dela um importante símbolo com alcance económico significativo e ao mesmo tempo com projecção técnico-administrativa. Para além de empório industrial com uma natural repercussão a nível nacional, as gentes da terra não se cansam de salientar o facto de a fábrica ser um "ex-libris" da própria freguesia que a elevou ao primeiro plano dos centros industriais do país.

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Para se alcançar tão orgulhoso prestígio, os testemunhos recolhidos sobre esta projecção a nível local e nacional apontam todos para o papel desempenhado por Abílio Ferreira de Oliveira, salientando a sua inteligência (por vezes apelidado de sábio ou génio inventivo) a par de uma linguagem mais popular, mas ilustrativa do seu rasgo para o negócio e para a chefia de pessoas.

Diz-se que era vulgar ouvir da sua boca: " A vaca para engordar não necessita só de pasto, é preciso passar-lhe a mão pelo lombo!". Residirá talvez aqui a visão que Abílio Ferreira de Oliveira tinha do que era possuir um fábrica e do que era ser industrial, na medida em que interpretamos que para se ser de facto um industrial não basta ter reunidos num local alguns teares e trabalhadores e pagar as respectivas contribuições para a mesma poder laborar. A visão que se tem do empreendimento e a atenção dispensada com os trabalhadores são essenciais para que um negócio, neste caso fabril, possa prosperar.

Procedendo agora a uma evolução do que foram estes vinte e cinco anos a nível tecnológico e de produção, começamos por afirmar que o arranque da fábrica e os seus primeiros anos de vida são já um prenúncio de prosperidade.

A fábrica de tecidos iniciou a sua laboração a 25 de Abril de 1934, na freguesia de S. Martinho do Campo, contando apenas com 8 teares simples, acrescidos logo no ano seguinte de mais 12, perfazendo 20 unidades. Dois anos mais tarde esse número era já de 40 teares. Também neste mesmo ano de 1936 e veríficando-se a necessidade de melhorar e intensificar a produção, ao mesmo tempo que se verificava a necessidade de satisfazer as então já exigências de mercado, foi montada uma secção de acabamentos.

Em 1938 verifica-se um novo aumento de maquinaria, recebendo a fábrica mais 40 teares e elevando o seu total para 80, número que seria novamente alterado nos quatro anos seguintes alcançando-se assim os 120 teares em 1942. Os teares mais simples eram entretanto adaptados com a introdução de máquinas acessórias que os modernizavam. Os anos da guerra (2o grande conflito mundial no século XX) levam a

um surto na aquisição de maquinaria e a necessidade de desenvolvimento económico conduz a uma acentuada insuflação de produção, fazendo aumentar a produção nacional na indústria têxtil.

No período pós-guerra os "industrialistas", com Ferreira Dias, ganham posição no interior do aparelho de Estado. Durante a Segunda Guerra Mundial tinha sido possível acumular em Portugal grandes meios financeiros, o que de algum se ficou a dever à

política neutral do nosso país durante o referido conflito militar que, por sua vez, permitiu ser uma espécie de refúgio para capitais estrangeiros. A própria acumulação de reservas vai no seguimento desta conjuntura e também pelo facto de ter aumentado o volume das nossas exportações para os países em guerra (sobretudo de produtos minerais, com o volfrâmio à cabeça).

Os "industrialistas" vão tirar proveito destes momentos para procurarem desenvolver um conjunto de indústrias ligadas à produção de bens intermédios e bens de equipamento (químicas, cimentos, pasta de papel, siderurgia, metalomecânica), para substituir bens importados e satisfazer o mercado interno. Foi igualmente implementado um programa de investimentos público na área das grandes infra- estruturas ao nível das vias de transporte e da rede eléctrica, programa que ajuda a uma procura interna de produtos industriais. Segundo Octávio Figueiredo (2002, p.38) "a política do Estado em matéria de concorrência no mercado interno, o chamado Condicionamento Industrial, vai favorecer a concentração industrial e a criação de empresas de grande envergadura", que será mais notório nos sectores industriais acima mencionados, mas cujos reflexos se fazem sentir noutros sectores da indústria transformadora.

No documento n.°5, do anexo B, podemos verificar alguns dados nacionais de produção e consumo, bem como da importação e exportação do algodão, tendo por base uma separata da "Enciclopédia da vida corrente". Destaque-se nesse documento o facto das importações e exportações relativas às colónias terem aumentado no decorrer das décadas de trinta e quarenta, correspondendo a uma diminuição dos valores relativos ao estrangeiro.

Os resultados deste incremento extraordinário na produção nacional são bem patentes em 1947, quando é montada a Secção de Fiação com um total de 3.500 fusos, número que passaria em 1949 para 7.000. Também nesta altura a já existente Secção de Tecelagem assiste a novo desenvolvimento com a montagem de mais 80 teares com tecnologia idêntica aos adquiridos mais recentemente, perfazendo um total de 200. Estes números são responsáveis por um natural e significativo aumento de produção. Procede-se ainda à montagem de uma tinturaria automática em peça, com 12 moderníssimas máquinas "Ginger".

Em 1953 assiste-se a novas perspectivas para "A Flor do Campo" com a montagem de uma secção de fiação grossa com 1.500 fusos, na altura com a maquinaria mais moderna.

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Como podemos constatar, estas duas primeiras décadas representaram um período de crescimento e consolidação da fábrica. Após o arranque houve uma constante aquisição de maquinaria, criação de secções específicas que correspondessem a uma eficiência na produção, readaptação do edifício, traduzindo- se inevitavelmente num crescimento de produção e em tentativas de qualificação do trabalho desenvolvido.

Ao aproximarmo-nos dos vinte e cinco anos, as comparações com a fase inicial são contrastantes, pela quantidade e pela qualidade. Em 1957 acontece novo aumento de 8.000 fusos na fiação, perfazendo um total de 15.000, elevando de forma notória a produção. Segundo relatos, a secção de preparação do algodão, onde podia ser admirada uma imponente secção de batedores automáticos, era de facto digna de se ver, uma vez que não só alimentava todo o consumo da fábrica como o excedia. No ano seguinte, 1958, outras máquinas acessórias seriam montadas atendendo a necessidades da própria automatização.

E as alterações eram bem visíveis em 1959, como podemos observar pelas palavras de Custódio Gomes Vieira, mestre do ensino técnico:

A par do desenvolvimento tecnológico, a produção sofre igualmente um aumento significativo, especialmente a partir da década de 50, como podemos verificar nos quadros que se seguem e respectivos gráficos.

ANO 1934 1935 1936 1937 1938 1939 1940 1941 1942 Quadro n.° 18

Produção da Secção de Tecelagem

90 200 500 750 850 1000 1100 1150 1600 A N O 1943 1944 1945 1946 1947 1948 1949 1950 1951 1700 1800 1850 1900 1850 1800 2400 2800 2800 ANO 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 2750 2750 2700 2800 2850 8400 10000 10100 Gráfico n.° 8

Produção da Secção de Tecelagem

12000 10000 8000 6000 4000 ­1 1 1 1 r ­í 1 — i — r

f f f f f f f #* f f f f ff

Quadro n.° 19

Produção da Secção de Fiação

ANO A N O ANO 1947 240 1952 470 1957 1150 1948 240 1953 470 1958 1400 1949 480 1954 460 1959 1440 1950 500 1955 600 1951 480 1956 ■ 610

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Gráfico n.° 9

Gráfico de produção da Secção de Fiação

1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 2.4. Os trabalhadores

Na estrutura fabril moderna a máquina assume um papel preponderante, transformando proficientemente, a nível de produção e economia, a ordem de trabalho. Nesta perspectiva o trabalhador ocupa por sua vez uma nova posição na engrenagem produtiva da fábrica, até porque deixa de ser o obreiro que executa de forma individualizada a sua obra (na oficina caseira e familiar) para fazer parte de uma equipa estruturada e orientada por técnicos especializados em diferentes ramos, quer estejamos a falar das oficinas, escritórios ou armazéns, onde devem obedecer à orientação de mestres, chefes e engenheiros.

Numa abordagem complementar importa focar de algum modo a relação entre capital e trabalho. O trabalhador é uma força em potência, tem em si uma riqueza visível nas tarefas que desempenha e isso representa para o capital uma mais-valia. Há como que uma sinergia que facilita a aliança entre estes dois factores e que fomentadas pelo próprio Estado foram paulatinamente evoluindo até a uma organização de tipo corporativista. O Estado encarregou-se de estruturar as novas bases do Estatuto do Trabalho, basilarmente assente na boa ordem nacional e no fruto daqueles que fomentam a riqueza pelo trabalho. Uma máxima que pode de algum modo espelhar este ideário é: bem hajam os que pela força do seu trabalho produzem a riqueza para bem da comunidade nacional.

Quando destas comemorações e numa entrevista efectuada a um dos funcionários mais antigos, o sr. José Joaquim Martins Pereira, que entrou para a fábrica em 1938 e numa altura em frequentava a escola técnica, o próprio relatava a forma como entrou

para a fábrica, na realidade realizando um percurso usual na época e que muitas vezes se iniciava com o conhecimento e amizade em relação ao proprietário da fábrica e depois de integrado na mesma vai fazendo uma aprendizagem em diversos sectores até alcançar uma certa maturidade e estabilidade profissional. No caso do sr. José Pereira, iniciou a sua aprendizagem pela parte técnica tendo estado quatro anos na tecelagem e quando a secção de acabamentos foi montada quatro anos mais tarde transitou para a mesma e daí trabalhou algum tempo no armazém de recepção e expedição até ser chamado para o escritório. Se uma boa parte dos trabalhadores acabam por se especializar em determinada secção, no caso do sr. Pereira e de acordo com as suas palavras foi a perseverança que o levou à posição que ocupava na altura no escritório, sendo como já referimos um dos mais próximos colaboradores do sr. Abílio Ferreira de Oliveira.

Entre os operários que estão ao serviço na fábrica e que nestas comemorações foram agraciados com um prémio e diploma, por estarem há mais de vinte anos ao serviço de "A Flor do Campo", encontram-se os seguintes nomes:

Conceição Martins de Almeida Emília de Almeida

Emília de Sousa Oliveira Maria Ferreira Maria de Abreu António Ferreira Adelino Ferreira António de Abreu Constantino F.S. Guimarães Joaquim da Costa Pontes Manuel da Costa Pontes

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